Bárbara Reis deixa em novembro o cargo de diretora do jornal Público, por ela ocupado em 2009. No seu comunicado, a administração informa que "as especulações sobre conflitos ou simples desentendimentos tornar-se-iam fortemente desestabilizadoras do jornal e, em acréscimo, seriam particularmente injustas para com a sua diretora".
Lembro-me dela como jornalista, assessora em Timor-Leste e substituta de José Manuel Fernandes à frente do jornal. Quando escrevia a minha tese de doutoramento, foi uma das jornalistas que entrevistei sobre as notícias acerca da saúde, ela que se especializara em parte nessa área. O jornal ultrapassou as posições conservadoras do anterior diretor e trouxe uma agenda mais voltada para questões do género e de minorias, entre outros tópicos, numa retoma de alguns princípios do jornal nascido em 1990. Mas trocou as instalações das Picoas pela zona de Santos junto ao rio, lugares geográficos simbólicos da maior e da menor influência de um meio que marcou o jornalismo de final do século XX, nomeadamente nos campos político, económico e cultural. A quebra de vendas, de igual modo que em todos os jornais de papel, os largos despedimentos de jornalistas e o desaparecimento da revista dominical, cujos conteúdos (textos de sociedade e de interesse humano, como entrevistas e reportagens) migraram para o jornal diário, marcaram o seu período. O crescimento de acessos à internet não conseguiu ser alternativa para atenuar as perdas financeiras.
Este aparente falhanço esconde a realidade crua da posição atual dos media de qualidade. Ser responsável de um jornal em papel hoje não é uma tarefa empolgante porque nada reconhecida. A notícia da substituição de Bárbara Reis deu-se na mesma altura em que o presidente do sindicato dos magistrados afirma haver meios de comunicação social controlados por arguidos poderosos, o que eleva a pressão sobre um jornal que faz opinião. Numa recentíssima polémica, o Público de domingo deu grande visibilidade à fã número milhão no Facebook, tema aparentemente pouco importante e que provocou violentas e talvez exageradas posições no Facebook quanto a essa opção.
Não sei se a mudança prevista vai estancar o posicionamento do jornal como meio de fazer opinião pública e garante de uma democracia com meios de comunicação fortes.
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