A ouvir o capítulo de David Ferreira sobre a censura no seu programa
David Ferreira a Contar (7 de fevereiro de 2017). Ele mostra três exemplos, o primeiro de uma canção cantada por Amália Rodrigues (1962), onde ela expressa a perda do livre pensamento do amante longe e preso, a lembrar a prisão de Peniche onde estavam os presos políticos. A censura contactou a Valentim de Carvalho, respondendo Maria Eulália, a mãe do próprio David Ferreira, que indicou que o poema, de David Mourão-Ferreira, o pai do mesmo David Ferreira, retomava a poesia medieval portuguesa.
Dez anos depois, em 1972, José Niza, produtor de disco de José Afonso, almoçara com o censor Pedro Feytor Pinto para apresentar o disco que se preparava e que incluía uma poesia sobre um pintor assassinado. Perguntou o censor: isso é sobre o pintor Dias Coelho? Resposta do produtor: mas quem é que conhece a história dele?
A terceira história decorreu na mesma época e em Angola, onde havia uma malha menos apertada da censura. Uma música dos Cabinda Ritmo fazia grande sucesso em Luanda, com influências da música do Congo. Logo depois, os Kiezos lançaram a música Milhoró (corruptela de melhoria), já antiga mas apenas editada então e com uma mensagem explícita: os que não dançam a mesma dança devem voltar à sua terra. A censura pediu explicações e veio uma resposta quase parva: a letra destinava-se aos Cabinda Ritmo, que tinham roubado contratos musicais e namoradas. Houve quem acreditasse.
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