A ler com atenção a dissertação de mestrado de João Francisco Vasconcelos e Sousa, O Mundo da Canção: percursos da primeira
publicação portuguesa sobre música popular entre o Estado Novo e a Revolução (1969-1976), defendida em dezembro de 2016 (ver aqui). Retiro do resumo:
"Esta dissertação debruça-se sobre o Mundo da Canção (MC), a primeira revista portuguesa de música popular, no período entre o fim do Estado Novo e a transição para a democracia (1969-1976). Editado mensalmente, o MC teve um papel importante na divulgação da "música de protesto", personificada por José Afonso, José Mário Branco ou Sérgio Godinho. Ao mesmo tempo, foi uma voz crítica do fado e do nacional-cançonetismo, dois estilos que conotava com o regime. Orientado para os jovens e fustigado pela Censura, o MC aliou a oposição à ditadura com uma opção estética versátil, que abarcava as sonoridades pop anglo-saxónicas (do folk de Bob Dylan ao heavy sound dos Led Zeppelin, passando pelo prog rock dos Pink Floyd e pela divulgação do jazz) e a promoção de músicos francófonos e de língua
castelhana. A revista publicava também letras de canções e fazia críticas a discos, tendo ainda dado destaque aos festivais de Woodstock, Vilar de Mouros e Cascais. Através da análise cuidada de 45 números do MC, e recorrendo a uma abordagem que combina estudos históricos, culturais e dos media, a principal conclusão que se retira é que a revista constituiu, em plena ditadura, um palco de resistência cultural e de luta pela liberdade, contribuindo para dinamizar a esfera pública e abrir caminho ao jornalismo musical português. A partir de 1974, com a queda do regime e a súbita politização da sociedade, o MC aproximou-se da vertente maoísta da luta política".
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