João Gaspar Simões conclui que, possivelmente, no romance a história serve as personagens e no folhetim as personagens servem a história. Com a rádio e a possibilidade de as personagens encarnarem em vozes próprias, o que alarga a verosimilhança, o folhetinista cerze uma manta de retalhos de episódios anódinos para encontrar no ouvinte o eco que não encontraria no leitor.
Embora o passo não seja muito bem explicado no texto jornalístico, para o crítico literário, na audição, aceitam-se mais facilmente as incongruências. Grande parte do texto está dedicado à literatura e apenas uma pequena parte do texto mergulha no folhetim radiofónico. Era o tempo do rescaldo do folhetim da coxinha do Tide na Rádio Graça e do programa de ficção científica de H. G. Welles (A Guerra dos Mundos), que José Matos Maia adaptara para a Rádio Renascença e provocou pânico e escândalo e a interrupção forçada do programa. Não esquecer ainda que, em junho de 1958, Humberto Delgado ameaçara o regime ao concorrer às eleições presidenciais. Logo depois, foi demitido do cargo de diretor-geral da Aeronáutica Civil, a que se seguiu o pedido de asilo na embaixada do Brasil e a saída forçada para o exílio naquele país (abril de 1959).
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