quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Rádio em Angola (Diamang)

A investigação sobre a rádio obriga-me a ler muitos textos e documentos. Um dos meios impressos que sigo é o "Diário do Governo", III Série. Já me tinha cruzado com o relatório e contas da Diamang, empresa privada de exploração de diamantes em Angola. Li com atenção o relatório publicado na folha do governo a 13 de julho de 1954, de que ficam aqui cópias digitalizadas (pp.1600-1625).

A estação radiofónica do Dundo emitia programas diários com música gravada, palestras e teatro radiofónico (p. 1618). Diz o relatório: "Vários sócios e senhoras das suas famílias asseguraram o serviço de locução". A discoteca tinha 2662 discos, certamente em 78 rpm, de música clássica, concerto, regional e dança. Um concurso literário teria incluído as modalidades de peça radiofónica e programa radiofónico.

O meu interesse no relatório acaba aqui. Contudo, as 26 páginas impressas dão uma ideia antropológica geral do que era uma empresa numa colónia rica como Angola. Os diamantes significavam muito dinheiro e despertavam muita cobiça, o que levaria a administração a ponderar razões e sensibilidades. Por vezes, há críticas veladas ao funcionamento da política colonial. Mas múltiplos elementos, parecendo objetivos, mostram a brutal realidade em 1954 de uma exploração mineira. Por exemplo, a distinção entre pessoal branco (287, dos quais apenas 8 não eram portugueses), comparativamente com 17 mil indivíduos indígenas, ainda por cima divididos em assimilados e diferenciados. E uma experiência que não correu bem ou como diz o relatório: "infeliz experiência da introdução de mão de obra cabo-verdiana na Lunda" (p. 1606). Do pessoal branco, havia 9 engenheiros, sem contar com os da direção, 12 médicos e 16 enfermeiros. No ano a que reporta o relatório, tinham nascido 28 crianças brancas. Do conjunto de empregados brancos, 92 tinham até três anos de serviço.

Numa Festa Desportiva dedicada à população indígena, participariam nas eliminatórias: 396 quiocos, 34 songos, 27 minungos, 23 lundas, 22 balubas, 7 cafias, 8 luluas, 3 matapas, 3 quimbundos, 8 camaxilos, 2 luenas, 2 caquetes, 1 bângala, 1 bieno, 1 tucongo e 1 bailundo. Estes números indicam uma precisão diria que científica.

O relatório destacaria a visita do subsecretário de Estado do Ultramar, cujo avião aterraria no aeródromo do Dundo. A outra personalidade importante seria oferecido um jantar seguido de baile, com números de teatro e teatro radiofónico e um "vistoso" fogo de artifício.

Atente-se ainda nos subcapítulos como relações com as autoridades, visitas, exploração e prospeção, pessoal branco e indígena, serviços agrícolas e pecuários, assistência material e moral (como serviços de saúde, ensino primário, museu e realizações culturais, caso da rádio do Dundo), transportes e vias de comunicação e roubo de diamantes.


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