O artigo de João de Freitas Branco na Arte Musical, com o título "O Problema da Música em Portugal", saiu a 25 de maio de 1942. Ele era filho do compositor Luís de Freitas Branco, também diretor da revista, e possuía o curso do Conservatório Nacional de Lisboa. Escreveu diversos livros sobre a música. Neste artigo, pouco tempo antes de assumir funções de assistente de programas musicais na Emissora Nacional (1944, estação para a qual criou ainda o programa O Gosto pela Música, em 1956), o autor discorreu sobre a música no nosso país.
Qual o diagnóstico traçado por João de Freitas Branco ao olhar uma sociedade em grave crise causada pela II Guerra Mundial? Mais do que encontrar razões de mudança, ele traçaria a situação da época e consideraria quatro elementos, o primeiro dos quais as sociedades de concertos, com sócios amadores de música, profissionais como médicos, engenheiros ou militares do quadro, que frequentavam aulas de piano para melhor compreender os concertos. As sociedades de concertos contribuíam para elevar o nível cultural das elites. O segundo elemento concernia às sociedades corais, que, com os seus dois ensaios semanais, serviam de passatempo e sabor artístico. O terceiro elemento, no domínio da formação, era o Instituto de Alta Cultura, que atribuía bolsas de estudo no estrangeiro. Um beneficiado seria José Vianna Motta.
Mas o alvo principal do artigo de João de Freitas Branco era a Emissora Nacional, então com cerca de oito anos de radiodifusão. O autor viu duas razões para destacar a importância da rádio. Por um lado, a Emissora Nacional dava "de comer à quase totalidade dos nossos melhores executantes", pelo que alertava para as condições económicas dos estudantes de música. Teriam emprego após a conclusão da sua formação musical? A outra razão era a da receção, pois a Emissora Nacional servia a instrução musical em pleno, com a boa música a chegar a todos por intermédio de um "pequeno aparelho de TSF". A rádio, no período negro da II Guerra Mundial e nas décadas seguintes, foi o ponto de arranque e de chegada da cultura popular e da alta cultura, divertindo e formando a opinião. À rádio de Estado, que teve ainda a função menos útil de ideóloga do regime político, não se pode negar a sua grande importância.
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