Feira dell'Arte é a peça em cena no Teatro Meridional. De Mário Botequilha, com encenação e luzes de Miguel Seabra e interpretação de Emanuel Aranda e Rosinda Costa. O texto, originalmente estreado em 2001, então um espetáculo importante na vida da companhia de teatro, foi adequado à realidade social de hoje. Compõe-se de cinco personagens: Columbina e Zanni, namorados há dez anos mais ainda indecisos quanto ao casamento, criados de Pantalone, um homem que fez fortuna moedinha atrás de moedinha, ou melhor, o representante do egoísmo e do dinheiro, Isabela e Otávio, namorados, ela filha de Pantalone, e regressada de Veneza onde estudou, e ele filho do Dottore. o inimigo de Pantalone.
Pantalone é uma das principais personagens da comédia dell'arte. Como apenas são dois os intérpretes, eles desdobram-se nas personagens, mostrando, algumas vezes, o recurso a disfarces, como o emprego de máscaras por parte do ator e de efeitos (gestos, voz, movimentação) específicos de cada personagem. A esse respeito, os disfarces do ganancioso Pantalone provocam comicidade. A Columbina, outra personagem central da comédia dell'arte do século XVI, surgiu como empregada com características de rapariga atraente, inteligente e com humor, apaixonada por Arlequim. Antes de Arlequim, era Zanni o apaixonado de Columbina, a usar uma máscara preta, e a representar a figura de criado. Os enamorados (Isabela e Otávio) apresentam-se com o vestuário mais elegante, não usam máscaras e cantam ou dançam. A peça decorre numa feira, com a rulote de farturas, a barraca da louça e os restaurantes populares. Pena que esse ambiente de múltiplas experiências não acompanhe a representação.
Por ser comédia dell'arte, é um espetáculo leve mas mordaz, simples mas objetivo, que dispõe bem (juntando o estômago ao cérebro) mas indica pistas sérias. O cenário é despojado, as falas ficam no ouvido, a alegria da representação permanece após esta.
Antes do começo da peça, Miguel Seabra, um dos responsáveis do teatro, descrevia a situação do teatro e das artes performativas em Portugal. A DGArtes, depois de longa polémica na atribuição de apoios, divulgara na véspera (anteontem) os resultados finais dos concursos, no valor de 83 milhões de euros. O Teatro Meridional ia receber incentivos, mas, a caminho do meio do ano, ainda não chegara qualquer valor, com Feira dell'Arte a ser a segunda peça de 2018. No concurso, escrevem os jornais de hoje, ficaram de fora, contudo, algumas companhias de reconhecido valor, como o Teatro Experimental do Porto, a Casa Conveniente de Mónica Calle, os Primeiros Sintomas de Bruno Bravo, a Cão Solteiro de Paula e Mariana Sá Nogueira e o Festival Internacional de Marionetas do Porto. Estas companhias vão solicitar esclarecimentos e entrar numa batalha jurídica.
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