quinta-feira, 18 de março de 2004

TEXTO DE ARMANDO TEIXEIRA CARNEIRO [A CULTURA E OS MEDIA EM PORTUGAL (UMA ANÁLISE INTERPRETATIVA)] NA REVISTA PENSAR IBEROAMÉRICA

No último número da revista electrónica Pensar Iberoamérica (Janeiro/Abril de 2004), Armando Teixeira Carneiro publica um texto pedagógico sobre os media e a cultura em Portugal. Destaco um trecho:

"Uma actividade que é encarada com atenção e rigor por parte dos dois principais diários de referência é a actividade de media literacy em termos de educação pelos meios. O que tem as suas origens nos anos 50 nos espaços a isso dedicados pelos Diário de Notícias, Diário Popular e Diário de Lisboa. Actualmente, o Público desenvolve, desde 1990, um programa muito bem estruturado, denominado Público na Escola, que pretende promover a utilização dos meios de comunicação, sobretudo os jornais enquanto materiais de trabalho escolar, estimulando a inovação pedagógica e a reflexão crítica – outro aspecto do media literacy: a educação para os meios – acompanhando os seus suplementos mensais com outras publicações – textos de apoio, dossiers temáticos e manuais de apoio aos docentes. Além do mais, lança anualmente um concurso entre os jornais escolares e mantém, desde 2002, na cidade do Porto, o CLIP – Laboratório de Imprensa do Público onde os jovens estudantes podem simular toda a actividade de uma redacção de um grande jornal. Por sua parte, o Diário de Notícias, ainda que desde há anos tivesse alguma actividade relacionada com a educação, só em 2002 lançou o seu novo programa de media literacy que se chama Projecto DN Educação. Tem um passatempo educativo mensal intitulado Ler o DN na Escola destinado aos alunos do ensino primário e secundário, incentivando o trabalho colaborativo e as relações entre aluno e professor e tem uma página interactiva de apoio aos alunos, no campo da língua portuguesa e da matemática, com o título Cábulas DN".

Armando Teixeira Carneiro é membro fundador e professor do ISCIA (Instituto Superior de Ciências da Informação e Administração), de Aveiro, e director do IED (Instituto de Educação a Distância), também em Aveiro.

SEGUNDO VOLUME DO LIVRO DE HELENA MATOS: SALAZAR - A PROPAGANDA

Já saiu o segundo volume do livro de Helena Matos, jornalista do Público, sobre Salazar. Este volume tem o título de A propaganda, e é editado pelo Círculo de Leitores. Enquanto o primeiro volume abarcava os anos de 1928 a 1933 - o surgimento e afirmação de Salazar - este volume retrata Salazar no período de concretização (1934-1938).

Ainda não tive a oportunidade de o ler em toda a sua extensão. Mas deixo aqui duas referências:

"Por outro lado, a própria evolução do cinema e das artes gráficas permite montagens e soluções, elas mesmo portadoras de conteúdos. Estreado em Junho deste ano [1937], o filme A revolução de Maio [de António Lopes Ribeiro] combina, habilmente, imagens documentais e cenas filmadas. Exemplar do domínio das artes gráficas e das suas potencialidades, em termos de propaganda, é o álbum Salazar, Revolução Nacional (1926-1937), editado este ano" (p. 213). O álbum seria da responsabilidade de Américo de Faria, Ernesto Antunes e Manuel Ribeiro.

"A própria actividade do SPN privilegia este ano [1938] a criação duma imagem de Portugal passível de ser rapidamente sintetizável: o concurso da Aldeia mais Portuguesa de Portugal, cujo galardão só será entregue em 1939, mobiliza, durante todo este ano, o SPN" (p. 268). Simultaneamente, o SPN (Secretariado da Propaganda Nacional) passaria a realizar "o Jornal Português, um repositório cinematográfico que tanto retratava acontecimentos como paisagens ou costumes". Mais à frente, escreve Helena Matos: "Os documentários articulavam-se agora com as fotografias na linguagem da propaganda e é a linguagem da narrativa cinematográfica que encontramos numa das mais importantes reportagens feitas com Salazar nestes dez anos". Leitão de Barros e Salazar Diniz (fotógrafo) publicariam a reportagem sobre o ditador em 21 de Maio no Século e no Século Ilustrado. O título na primeira página do Século não podia ser mais objectivo: "Como vive e trabalha o sr. dr. Salazar. Quinze horas da vida do cidadão". Numa das fotografias podia ler-se a seguinte legenda: "É o sr. dr. Oliveira Salazar quem, sempre depois das 22 horas, ensina a tabuada à pequena Maria da Conceição, sua protegida".

Conquanto o primeiro volume seja um importante retrato de Salazar, a partir da leitura da imprensa da época, parece-me que este volume agora saido tem muito mais importância para a área que trabalho: as indústrias culturais: o cinema, as publicações (nomeadamente as revistas ilustradas), a rádio. Se, no primeiro volume, Helena Matos trabalhou a elaboração do mito de Salazar, aqui ela destaca o modo como a propaganda construiu o elogio do homem e da sua obra.

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