sábado, 2 de outubro de 2004

CENTRAL DE COMUNICAÇÃO DO GOVERNO - I

Nos jornais de ontem e de hoje foi dada a notícia da criação de uma central de comunicação do Governo. O texto saído no Público é mais completo que o do Diário de Notícias, além daquele ser assinado (Helena Pereira) e este não, enquanto o do Expresso traz a assinatura de Ângela Silva.

A referida central chama-se Gabinete de Informação e Comunicação (GIC) e irá “elaborar planos de comunicação relativos às políticas públicas aprovadas e à acção governativa; estabelecer as relações com os meios de comunicação social; apoiar assessorias e outras estruturas de imprensa; planear e apoiar campanhas de informação a promover; organizar e apoiar conferências de imprensa dos membros do Governo”. Isto prova a importância da comunicação e da organização da comunicação política e governamental. Aliás, uma das notícias destaca a importância desse gabinete na organização de campanhas e no tratamento da imagem do Governo e coordenação de agendas. Serão sete direcções de serviços, incluindo uma de marketing, com liderança atribuída a José Augusto Fernandes, antigo jornalista do Euronotícias. Haverá ainda a possibilidade da criação de cursos de media training para os membros do governo.

Por norma, este tipo de iniciativas provoca duas posições: elogio, por parte dos elementos do arco político do Governo; crítica, do lado da oposição político-partidária. No texto, procuro ir além dessa dicotomia e referir as vantagens e desvantagens da criação de uma central de comunicação governamental, socorrendo-me de um pequeno texto que produzi em Fevereiro de 2001.

Nessa altura, tinham saído duas notícias sobre mudanças dos jornalistas em Washington creditados na Casa Branca (alteração do Governo de Clinton para o de Bush Júnior) e sobre um memorando interno do governo trabalhista inglês, descrevendo as ligações e inclinações políticas de jornalistas e comentadores. A primeira peça dava conta do acompanhamento da mudança de partido na Presidência e de jornalistas correspondentes dos principais meios de comunicação, com substituição de jornalistas conotados com o partido democrático por republicanos, na esperança de um maior entendimento noticioso e obtenção de exclusivos.

O texto saído no Público em Fevereiro de 2001 refere um documento, elaborado por responsáveis políticos do gabinete de imprensa do Governo inglês, sobre ambições, influência e confiança dos jornalistas que reúnem diariamente com o executivo. O documento ordenava os jornalistas segundo uma graduação política, indo da direita à esquerda. Um comentador de direita deve ser incluído nos encontros e conferências de imprensa porque é levado a sério. Outro, obcecado com a Europa e a liberdade de informação, é muito influente junto dos eleitores trabalhistas. Um terceiro é descrito também como influente, pois as suas crónicas aparecem em lugares destacados no seu jornal. Um quarto jornalista é apontado como mestre das fugas de informação e um influente repórter político junto do parlamento, sem nunca aparecer na televisão e revistas.

[continua]

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