quarta-feira, 22 de junho de 2005

ESCOLA CANADIANA DE COMUNICAÇÃO (III)

Marshall McLuhan

[continuação das mensagens de 19 e 20 de Junho e adaptado de Rogério Santos (1998). Os novos media e o espaço público. Lisboa: Gradiva]

Na era das auto-estradas da informação, um dos mais famosos sociólogos dos anos 60, Herbert Marshall McLuhan, converteu-se em profeta dos tempos vindouros. Antigo professor de literatura inglesa, McLuhan notabilizou-se por livros como A galáxia Gutenberg e Understanding media.

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Em A galáxia de Gutenberg, examina a tecnologia mecânica que resultou do alfabeto e da máquina impressora (McLuhan, 1977: 371). O autor considera que a invenção da imprensa trouxe a fragmentação ao universo sensorial, com a estrutura visual a substituir a primitiva galáxia acústica e táctil. A imprensa multiplicou as informações visuais e submeteu o homem à organização linear de elementos discretos e uniformes. Estávamos na era de Gutenberg: os caracteres impressos no livro produzido em série originariam profundas transformações no homem e na sociedade saídas do séc. XVI, tais como o nacionalismo em política, a perspectiva na pintura renascentista, a substituição da poesia pela prosa na literatura, o individualismo no usufruto da cultura, a uniformidade e repetitibilidade (McLuhan, 1977: 161; McLuhan, 1979: 197).

Projectava-se a ideia de cadeia de montagem, mesmo antes da revolução industrial. McLuhan regista a dissolução da galáxia Gutenberg em 1905, com a descoberta da curvatura do espaço (1977: 340). Aparece uma nova galáxia, a de Marconi, e vislumbra-se a hipótese de fim da hipertrofia visual em benefício de um novo equilíbrio sensorial. Se as sociedades fechadas dependiam da palavra, do tambor e de outros media auditivos, a idade da electrónica anunciava a nova forma de tribo, a aldeia global.

mcluhan2.jpgNo outro dos seus livros, Understanding media, McLuhan considera que os media são extensões dos sentidos do homem e das suas funções: a roda como extensão do pé, a escrita como extensão da vista, o vestuário como extensão da pele, os circuitos eléctricos como extensão do sistema nervoso central (1979: 390). Ainda não era o computador, mas ele estava próximo de se tornar um elemento massificado.

Media quentes e media frios

McLuhan defendia que os media alteram a relação do homem com o seu meio envolvente. Na televisão, por exemplo, não interessa tanto o programa em si mas o modo de recepção, totalmente diferente de outros modos (como o livro, a escola ou o museu). Daí a sua metáfora: o meio é a mensagem, a relação do receptor com o referente.

Para ele, os media electrónicos dividem-se em quentes e frios – quanto maior for o número de elementos de informação numa mensagem e mais densa a substância informacional, mais quente é a mensagem. Assim, um retrato é quente e uma caricatura é fria; uma fotografia e um filme são quentes e a imagem televisiva é fria (constituída de um número limitado de pontos). A "temperatura" da mensagem liga-se à participação do receptor: numa mensagem quente, o sentido é dado pelo emissor; numa mensagem fria, o sentido é dado pelo receptor que está implicado na comunicação.

O livro Understanding media construiu-se em torno da electricidade, tecnologia não centralizada, mas descentralizada [há, aqui, uma forte influência de Harold Innis, que trabalhei recentemente], garantindo a flexibilidade de múltiplos centros (como seria, nos nossos tempos, a internet). A iluminação enquanto extensão da energia é um exemplo de como as extensões alteram a percepção. Com a tecnologia eléctrica, o homem prolonga, ou projecta para fora de si mesmo, um modelo do próprio sistema nervoso central. Devido à sua acção de prolongar o sistema nervoso central, a tecnologia eléctrica parece favorecer a palavra falada e participativa, e promover os usos do telefone, da rádio e da televisão.

A filosofia de McLuhan é optimista. Escritos nos anos 60, uma época de expansão e afirmação da cultura de origem anglo-saxónica, os seus livros marcariam uma geração mas caíram no limbo do esquecimento nos anos seguintes. Com o crescimento das tecnologias de informação, o seu nome era recuperado e a sua leitura procurada de novo.

Leituras: McLuhan, Marshall (1977). A galáxia Gutenberg. S. Paulo: Companhia Editora Nacional
McLuhan, Marshall (1979). Os meios de comunicação como extensões do homem. S. Paulo: Cultrix

1 comentário:

Anónimo disse...

No capítulo ‘A formação do espaço público moderno’ do livro “Os novos media e o espaço público”, 1998, Gradiva, [http://www.gradiva.pt/capitulo.asp?L=3042], Rogério Santos, autor deste blog, reconhece que, na actualidade, ”o Estado, na tentativa de resolver as contradições económicas, políticas e sociais, torna-se intervencionista e atenua a nitidez da fronteira entre público e privado. Grandes organizações e grupos de interesses privados tornam-se parceiros políticos privilegiados do Estado, impondo perspectivas, que resultam numa «refeudalização» social. Através da tomada de uma forte lógica dos negócios, os meios de comunicação de massas, tornados predominantes, transformam a comunicação pública em relações públicas, publicidade e entertainment, assegurando a promoção das entidades que organizam os eventos, num permanente registo laudativos, o que desgasta a actividade crítica do público.”

Embora essa tendência pareça inexorável, alguns observadores visionários admitem que isso possa ser alterado, dadas as novas configurações que a esfera pública hoje assume, num fórum acessível ao maior número possível de pessoas, como é, entre outros, o dos blogs.

A questão que coloco é: que podemos fazer, em particular, com este 'brilhante' fórum?

Sugiro, para já, mais participação.