quinta-feira, 10 de novembro de 2005

PODERÃO OS BLOGUES SER JORNALISMO?

Foi o tema do programa do Clube de Jornalistas, ontem à noite, na 2: (segundo canal público, que eu, na mensagem de anteontem chamei pelo antigo nome do canal).

cj1.JPG
cj2.JPG

Retiro do sítio do Clube de Jornalistas o comentário ao programa:

"Todos expressaram a opinião de que não há qualquer possibilidade de confundir o género de informações e comentários publicados nos blogues, em que os autores não estão vinculados a referências culturais, organizacionais, técnicas e deontológicas, e o trabalho jornalístico. No entanto, há ligações entre os dois registos que criam uma espécie de «zona cinzenta» em que as certezas ficam de fora.

"- O que significa ser um «cidadão jornalista»? A blogosfera permite que cada cidadão seja um repórter em potência?
"- Os blogues podem ser encarados, pelos jornalistas, como fontes credíveis de informação? Quais os limites a sua utilização por parte dos ditos media «convencionais»?
"- Os blogues podem desempenhar um importante papel como vigilantes e fiscalizadores da acção dos jornalistas e dos media?

"Para procurar uma resposta a estas questões, o Clube de Jornalistas foi ouvir o depoimento de António Balbino Caldeira, o primeiro blogueiro português a responder em tribunal por alegada violação do segredo de justiça, na sequência da publicação no seu blogue (Do Portugal Profundo) de documentos relativos à investigação no âmbito do processo Casa Pia. Estes dados foram retomados numa edição do semanário Tal & Qual.

"Durante o programa, recorda-se o movimento de cerca de 60 blogues formado com o objectivo de exigir ao Público que demonstrasse a fiabilidade de informações publicadas a propósito do caso Felgueiras desmentidas pela Polícia Judiciária, pela própria Fátima Felgueiras e por dirigentes do PS.

"O programa conta ainda com o depoimento de Miguel Gaspar, chefe de redacção do Diário de Notícias e até há muito pouco tempo editor da secção de Media do jornal".

E extraio também o que Luís António Santos escreveu no seu blogue Atrium, com o título bloggers não são querubins:

"Terminou há instantes mais uma edição do programa Clube de Jornalistas, no canal 2 da RTP. O tema - blogs e jornalismo. Convidados - Rogério Santos (Indústrias Culturais), António Granado (Ponto Media) e João Alferes Gonçalves (editor do site Clube de Jornalistas).

"A discussão rondou tópicos relevantes, como a demarcação de territórios entre a apresentação de informações e o exercício do jornalismo, o papel dos blogs como observadores atentos da actividade jornalística e até, eventualmente, como grupo de pressão crítico, relativamente a uma dada situação.

"Postas assim as coisas, porém, sinto que falta falar do que percebi no tom genérico das intervenções e, sobretudo, no trajecto escolhido pela moderadora.

"Percebi que os blogs são um formato cheio de falhas, que muitos deles são anónimos, que os seus autores podem ter objectivos não expressos quando escrevem («não são nenhuns querubins» disse João Alferes Gonçalves) e que, por tudo isto, estão muito longe de perturbar o jornalismo.

"Mais ainda - e volto a citar João Alferes Gonçalves - «em 99 por cento deles as pessoas escrevem por interesse próprio, coisa que não acontece com os jornalistas».

"Como devo estar incluido nesse tão grande grupo (e como a frase não pode, naturalmente, merecer outro comentário que não uma sonora mas triste gargalhada), permito-me acrescentar o seguinte (em interesse próprio...do que penso): ficou de fora do debate um olhar benigno sobre os blogs, um olhar optimista sobre a maior vontade de interacção dos leitores/ouvintes/telespectadores com os media e, sobretudo, o olhar necessário ao espectro de profundas mudanças que o jornalismo tem que adoptar para sobreviver num mundo em que a auto-edição de conteúdos passa a ser generalizada.

"Porque os conheço (e lá estou eu a agir em interesse próprio) sei que o Rogério e o António gostariam, certamente, de se ter pronunciado sobre isto".

2 comentários:

Luís Bonifácio disse...

Caro Rogério

Permita-me uma correcção. António Caldeira não está, nem nunca esteve acusado de violar o segredo de justiça. Foi acusado sim de "desobediência a uma ordem emitida por um tribunal. O Curioso, para não dizer caricat,é que a referida ordem do tribunal a que António Caldeira desobedeceu,encontra-se, ainda, sob segredo de justiça.
Ou seja António Caldeira foi acusado de ter desrespeitado umadisposição que por lei nao poderia ter tido conhecimento.

Anónimo disse...

O meu amigo Luís Bonifácio antecipou-se - e ainda por cima, modesto como é, não me disse, da defesa.

Peço-lhe que no corpo do blogue seja feito essa correcção dos factos. Custou-me que a jornalista tenha errado ao dizer que estava acusado de violação de segredo de justiça, mas como suponho que o programa já estava gravado, nada a fazer...

No entanto, aqui, podemos emendar erros que parecem pequenos, mas que nestes meandros jurídico-políticos fazem toda a diferença.

Não estou acusado de violação de segredo de justiça, mas de desobediência simples.

Realmente, estou em tribunal - conheço a sentença amanhã - acusado de um crime de desobediência simples por ter publicado peças do processo da Casa Pia que um juiz do processo da Casa Pia teria declarado, em despacho que ainda hoje não conheço, apesar das tentativas, ser proibido. Isto é:
1. Desobedeci a um despacho que não me foi comunicado, nem a ninguém - fundamento do crime de desobediência.
2. Esse despacho estava, e suponho que ainda está, em segredo de justiça... Violaria, portanto, o segredo de justiça, que a lei acautela, se o conhecesse.