segunda-feira, 20 de fevereiro de 2006

AS PÁGINAS DOS MEDIA DOS DOIS JORNAIS DE REFERÊNCIA DE LISBOA

Uma vez mais, o Público (uma página) perde no confronto com o Diário de Notícias (três páginas). Para mim, custa ver um jornal ter tão pouca informação sobre os media, apesar de recentes alterações na secção.

O que nos oferecem os dois jornais? Do lado do Diário de Notícias, uma página repartida entre um excelente artigo de Miguel Gaspar ("Zero de audiência") a fazer parceria à informação sobre audiências e pequenas mas úteis informações (colóquio no ISCSP, rubrica diária na rádio Radar, outras), mais duas páginas sobre os treze anos da TVI (Paula Brito e Sónia Correia dos Santos, mais Filipe Morais). Já do lado do Público, o principal do noticiário vai para a rádio, por satélite e por DRM, ambos assinados por Ana Machado (AM).

Ora, o texto sobre o DRM (Digital Rádio Mondiale) parece-me ter alguns problemas de construção. Primeiro, AM diz que o Digital Rádio Mondiale promete ser a solução para todos os problemas de emissão digital na Europa, pondo como contraponto o DAB (Digital Audio Broadcasting). E serve-se da explicação de José Faustino, presidente da Associação Portuguesa de Radiodifusão, para quem o DAB não será a melhor tecnologia ("apesar de eu achar que o DAB nunca se vai conseguir impor", diz; "haverá por aí meia dúzia de pessoas com esses aparelhos. E há marcas que até já tiveram mas deixaram de fazer aparelhos DAB porque não vendiam", continua a dizer). A pergunta que apetece colocar é: qual a razão do sucesso do DAB no Reino Unido? Porque o governo e a indústria se uniram no objectivo de o promover, coisa que em Portugal não é assim, como noutros países, aliás. O DAB é uma tecnologia, como o DRM o é; logo, a sua adopção poderá ser política e não de ordem meramente económica.

Segundo, a ideia básica seria abandonar as antigas frequências do espectro radioeléctico em favor de estações digitais. No texto da jornalista, percebe-se que antigas frequências e FM seriam a mesma coisa. Errado, o DRM poderá até revitalizar as frequências de ondas médias, gama de frequências que os nossos pais ouviam mas que desapareceram quase integralmente dos nossos receptores. E ainda a gama de ondas curtas, com frequências mais altas. É como se se voltassem a cultivar terrenos há muito improdutivos mas que sabemos que são ricos.

Terceiro, e apesar de referir o IBOC americano, AM esqueceu-se de nomear o sistema japonês de rádio digital e, especialmente, a rádio pela internet. Agora que se anuncia a 3,5 geração de telefones celulares, a rádio será eventualmente ouvida pela internet dos celulares (ou dos computadores sem fios). O DAB, o DRM e outras tecnologias ficarão fora do futuro. Mas enquanto este não chegar, o DAB ou o DRM farão parte das lutas das empresas para imporem as suas tecnologias.

3 comentários:

Jorge Guimarães Silva disse...
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Jorge Guimarães Silva disse...

O texto do DN, realmente, poderia ter acrescentado algo mais. A principal vantagem do DRM é a qualidade sonora que proporciona, em relação à analógica, o que permitirá a revitalização das emissões em Ondas Médias, Curtas e Longas - cuja emissão analógica é em Amplitude Modulada, com resultados pouco satisfatórios ao nível do áudio – mas a emissão em DRM também pode ser usada em VHF, onde se fazem as emissões em Frequência Modulada.
A história não se repete, mas tem réplicas. Assistimos já à “guerra” VHS / Beta, nos anos 80; actualmente, há a disputa entre o DVD –Audio e o SACD, nos telemóveis também podemos observar a Nokia e a Samsumg a tentarem impor o seu sistema de televisão digital. Esta é mais uma disputa comercial e, como sempre, o consumidor é que paga. Mas voltando ao importante – a rádio – o DAB está bem difundido em Inglaterra, mas também existem muitas queixas dos ouvintes, devido à má qualidade sonora de algumas estações. E podemos comparar o poder de compra dos ingleses e dos portugueses? Parece-me que não.

Anónimo disse...

Também li o artigo em questão e não o comentei no meu blogue por não ter gostado da abordagem, menos ainda da ligeireza de reprodução dos comentários e da pouca profundidade dos próprios comentários. Não só se revela falta de conhecimento dos avanços tecnológicos que estão, no momento, disponíveis para a rádio, como se sintetiza a questão DAB/DRM, sem a contextualizar no cenário português, face ao cenário europeu e mundial.
Faltam, nas secções de media dos jornais de referência de Lisboa, análises mais aprofundadas de questões relacionadas com a tecnologia e suas implicações no futuro dos media e do consumo de media. É igualmente agonizante perceber que a APR se limita a entender o «futuro digital da rádio» na dualidade DAB/DRM, como se percebeu no seminário promovido recentemente por esta associação.