quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

ELEMENTOS PARA A HISTÓRIA DOS MEDIA EM PORTUGAL - I

Nos anos mais recentes, que podemos identificar como os últimos 15 anos, ocorreram diversas mutações nos media. Assim, as próximas linhas dão conta de alterações empresariais, sociais-profissionais, tecnológicas e político-económicas, com repercussão ainda na esfera da investigação universitária.

Na imprensa, a década de 1990 foi basilar para determinar o panorama actual deste meio de comunicação. Assim, ao lançamento do Público (1990) seguiu-se uma transformação profunda do Diário de Notícias (1992), dois jornais de qualidade que competem por públicos-alvo próximos. No campo das revistas (newsmagazines), o aparecimento da Visão (com origem no semanário Jornal), em 1993, preparou terreno para outras publicações que operam no mesmo mercado, Focus (1999) e Sábado (2003), embora sem desafiarem a liderança no mercado específico. Na área do jornalismo sensacionalista, coberta até aí pelo semanário Tal e Qual, nasceu um diário, o 24 Horas (1998).

As transformações nos jornais e revistas, meio totalmente privado (após a nacionalização e desnacionalização de publicações como resultado da mudança de regime político em 1974), seriam complementadas com um novo fenómeno, o da imprensa gratuita, que conhece uma grande expansão a partir do lançamento do Metro (2005), mercado anteriormente ocupado pelo jornal Destak. Com um estilo mais leve em termos de conteúdos e distribuído junto a transportes públicos urbanos de grande densidade de ocupação, estes jornais conquistariam rapidamente uma boa quota de mercado, podendo ter sido responsável pela queda contínua de vendas dos jornais pagos.

Contudo, estima-se que os jornais gratuitos atinjam grupos populacionais não habituados a ler jornais mas a obter a informação primordial através da televisão (Faustino, 2006), num momento em que se fala em grupos e concentração dos media (Pinto, 2000; Silva, 2002; Faustino, 2004; Martins, 2006; Correia, 2006) e se anunciam iniciativas parlamentares no sentido de enquadrar essa questão. As alterações quanto a volumes de audiência/tiragem reflectem-se nos investimentos publicitários, muito concentrados na televisão, como demonstram os estudos do Obercom e da Marktest. Nos anos mais recentes, surgiram actividades ligadas a blogues e ao jornalismo-cidadão, que contestam estruturas e rotinas produtivas do jornalismo clássico.

Um marco significativo nos últimos 15 anos foi o nascimento da televisão comercial (SIC em Outubro de 1992 e TVI em Fevereiro de 1993). Em 1995, escassos três anos depois do arranque, a SIC retirava à RTP (canal público) a liderança em termos de audiência, durante o período nobre da emissão, e que se alargaria ao resto do dia nos anos seguintes (Santos, 2002). A esta posição ganhadora da SIC iria responder a TVI, o outro canal comercial, que alcançara a posição de desafiante a partir de 2000 (Cardoso e Mendonça, 2006: 7), reservando-se para a RTP o lugar de resiliente.

O alcandorar-se ao lugar de ganhador por parte dos canais comerciais assentou em quatro vectores: 1) informação (de qualidade na SIC, que foi perdendo ao longo dos anos, tablóide na TVI, com sensacionalismo e muitas notícias sobre crimes), 2) novelas (em português do Brasil na SIC, em português de Portugal na TVI), 3) programação popular (e reality-shows na TVI), 4) “parasitagem” das revistas de televisão e cor-de-rosa às personagens dos programas populares (fofocas sobre vidas sentimentais, casamentos, divórcios e nascimentos de crianças), representando uma segunda narrativa face aos programas e com repercussão positiva na popularidade destes (audiências).

Há um outro ângulo a registar. No relançamento do debate do serviço público de televisão em 2002, Joaquim Fidalgo (2003: 14-15) considera o surgimento da televisão comercial (em Portugal e na Europa) como produto directo de factores políticos, sociais e económicos, em que inclui a desregulação do sector das telecomunicações e a mudança de paradigma quanto à concepção da televisão: da esfera social e cultural para o domínio económico e político.

Ainda na televisão, nasceram novas plataformas de transmissão, da qual a mais poderosa é a televisão por cabo (com redução do impacto da televisão por satélite, além da promessa ainda não cumprida do arranque da televisão digital por via terrestre). Pertencendo ao grupo PT, a TV Cabo apareceu em 1994 e tem exercido uma posição hegemónica, a que se seguem empresas como a Bragatel, Cabovisão, Pluricanal e TVTEL, algumas em situação financeira complicada. A televisão por cabo é responsável já por cerca de 15% da audiência média em televisão. Por seu lado, a televisão por satélite serviu para o nascimento de canais internacionais pertencentes aos grupos de televisão já existentes, casos da RTP e da SIC. Os mesmos operadores generalistas entrariam também na plataforma do cabo: SIC (Notícias, Radical, Comédia) e RTP (RTPN).

[continua]

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