Textos de Rogério Santos, com reflexões e atualidade sobre indústrias culturais (imprensa, rádio, televisão, internet, cinema, videojogos, música, livros, centros comerciais) e criativas (museus, exposições, teatro, espetáculos). Na blogosfera desde 2002.
quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007
REDE OU REDES DE TEATROS
A lógica de funcionamento em rede aplicada aos teatros foi o título da dissertação de mestrado de Carla Luís Duarte defendida hoje na Universidade Católica (Comunicação, Novas Tecnologias e Indústrias Culturais).
Como pano de fundo, as redes de teatro e de operadores culturais (redes RNTC, Rede Nacional de Teatros e Cineteatros, e RMEC, Rede Municipal de Espaços Culturais), seu enquadramento sócio-cultural e elemento de reconfiguração e reabilitação urbana, criação artística, descentralização da cultura e aumento da procura cultural. Para além da componente teórica, a investigadora fez o estudo de dois casos: teatro Aveirense e Centro de Artes e Espectáculos de Sever do Vouga.
A estrutura do seu trabalho é composta por três partes: 1) novas práticas e representações sócio-culturais (globalização cultural, dinâmica das cidades, formas e agentes de qualificação do ambiente urbano), 2) lógica do funcionamento em rede (conceito e cultura de rede), e 3) funcionamento em rede aplicado aos teatros (políticas culturais para o teatro desde o Estado Novo, estado das artes, proximidade ou afastamento da lógica das indústrias culturais). Carla Luís Duarte comparou a existência das redes de teatros com outras redes (bibliotecas públicas, arquivos, teatros e cineteatros, museus) e referiu-se aos públicos de cultura e práticas de consumo dos públicos da cultura, e desenvolvimento de estudos de públicos.
Enquanto realçou a importância da existência dos recintos culturais em todas as cidades do país, frisou a igual importância a dar à criação e divulgação das actividades artísticas e a manutenção e gestão culturais. Carla Luís Duarte falaria de um processo ainda em curso e com insuficiente definição conceptual, sem fundamentação jurídica capaz (a realidade anda à frente do aparato jurídico). E comentou criticamente os projectos de construção de recintos sem o simultâneo estudo de viabilização económica. Isto para além de defender a necessidade de fazer acções de parceria e garantia de regularidade de espectáculos.
O arguente foi o sociólogo João Teixeira Lopes, da Universidade do Porto, que destacou a qualidade do trabalho e falou das soft cities, cidades pós-industriais, imateriais e simbólicas, de novos estilos de vida e estética, apostando na regeneração urbana. A leitura do trabalho despertou nele outras três ideias, a primeira das quais é o conceito de rede, que surge hoje como metáfora, forma de organização do nosso imaginário, conceito ícone, organização dos próprios discursos. Verificou a existência de públicos consistentes e diversificados - para além do espectáculo, os públicos participam em ateliês, visitam os espaços culturais, apoiam novas profissões. E questionou se não se está a assistir a um fontismo cultural, em que os espaços culturais são elementos formadores de novas práticas culturais, com uma simbologia do edificado, de capital cultural, de edifícios que querem ser ícones ou mapas da cidade - mas sem cuidar do futuro (gestão, modelo cultural).
Por razões profissionais, não assisti até ao fim das provas da Carla Luís Duarte, mas, pelo que conheço dela (foi uma brilhante aluna de mestrado) e pelos elogios do arguente, certamente agregou uma boa nota. Os meus parabéns a ela, por isso, esperando que consiga publicar o trabalho.
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