Textos de Rogério Santos, com reflexões e atualidade sobre indústrias culturais (imprensa, rádio, televisão, internet, cinema, videojogos, música, livros, centros comerciais) e criativas (museus, exposições, teatro, espetáculos). Na blogosfera desde 2002.
sábado, 30 de junho de 2007
ESPAÇOS COMERCIAIS E CONSUMOS
O texto sobre centros comerciais saiu no Diário de Notícias, de 18 de Junho último; o artigo sobre as novas lojas saiu ontem no Público. Ambos os trabalhos reflectem uma área que eu gosto muito: os consumos.
Há uma mudança nítida dos modelos de consumo em espaços comerciais. Por um lado, os grandes centros comerciais são mais atractivos que os pequenos centros comerciais, levando estes ao desaparecimento ou perda de imporância. Por outro lado, as tradicionais lojas de rua perdem clientes, que vão para os centros comerciais, e dão espaço a outras lojas em que o conceito de vender se transforma em híbrido: por exemplo uma lavandaria a funcionar com uma cafetaria de apoio.
Nos centros comerciais mais pequenos, uma das queixas é o preço de aluguer das lojas. Depois, há um efeito cascata ou de arrastamento: se uma ou duas lojas fecham, os clientes deixam de frequentar esses serviços e não passam pelas outras lojas. Em terceiro lugar, há centros que replicam oferta de serviços ou produtos dentro do mesmo: lojas de roupa, restauração. Em quarto lugar, sendo lojas pequenas, a renovação de stock é mais lenta, por mais difícil escoamento de produtos ou circulação dos mesmos por outros espaços. Em quinto lugar, há uma distinção entre centros de cidade e centros periféricos, ou situados em vias de grande densidade de tráfego automóvel que acompanha o crescimento das periferias habitacionais, prova da desertificação das baixas e transferência de residência para essas periferias.
Quanto a lojas de rua, surge uma nova geração de comerciantes para quem há um programa de modernização, o Modcom, que financia até 40 mil euros de investimento, e um gabinete de apoio em formação e consultadoria, o Ganec. Se a velha geração de comerciantes não se actualiza mas procura o trespasse dos seus negócios como forma de ganhar dinheiro para a reforma, a geração mais recente aposta em nichos de mercado e no estabelecimento de uma relação com os clientes de bairro ou zona que as lojas dos centros comerciais não conseguem. Para além da simpatia e de preços moderados, pode bastar a existência complementar de uma base de dados com elementos pessoais dos clientes, caso da data de anos. Ou seja: estratégia, serviços complementares, conhecimento do cliente consumidor e iniciativa. A que se junta uma maior qualificação académica e de línguas, com comerciantes prontos para receber clientes turistas.
[dados retirados dos textos do Diário de Notícias, escritos por Cátia Almeida, Ilídia Pinto e Rudolfo Rebêlo, e do Público, escrito por Raquel Almeida Correia]
sexta-feira, 29 de junho de 2007
TEATRO RADIOFÓNICO DE EDUARDO STREET
Nos meses de Julho a Setembro, a Antena 2, aos domingos e a partir das 18:00, repõe algumas das peças de teatro realizadas para a rádio por Eduardo Street.
O programa para o mês de Julho é o seguinte: 1 – Auto para Jerusalém, de Mário Cesariny; 8 – A Vida é um Sonho, de Calderón de La Barca; 15 – O amor é urgente, de Luiz Francisco Rebello; 22 – O Fidalgo Aprendiz, de D. Francisco Manuel de Melo; 29 – Auto dos Anfitriões, de Luís de Camões.
Eduardo Street, falecido no final do ano passado, realizou cerca de 400 peças. Infelizmente, diversas obras desse acervo total perderam a qualidade, devido ao suporte físico em que ficaram registadas.
O meu obrigado a Marília Street, que me chamou a atenção para esta programação.
INDÚSTRIAS CRIATIVAS
O Reino Unido tem o sector de indústrias criativas maior em toda a União Europeia e talvez o maior PIB da área em todo o mundo. Para a Work Foundation, que lançou agora um relatório sobre indústrias criativas, o tema é de âmbito nacional em múltiplos aspectos. Para além da criação de ideias, imagens, símbolos, design e expressão cultural, a sua escala chama a atenção para o estudo de uma área tão dinâmica.
As indústrias criativas e culturais atingem 7,3% do total da economia e comparam-se aos serviços financeiros, empregam um milhão de pessoas directamente e 800 mil de modo indirecto. O nível de vida de um número crescente de britânicos depende da trajectória de crescimento do sector.
Partindo do princípio que conhecimento e criatividade desempenham um papel central na economia, os autores do estudo apontam que o iPod da Apple, o vídeo a pedido, as compras pela internet, o automóvel personalizado, o design de vestuário, o turismo temático, a banca online e outras formas de actividade económica respondem a consumidores e cidadãos mais ricos, educados e que sabem o que querem. Isto é, novos produtos inovadores respondem a modelos de procura de uma nova classe de consumidores.
O núcleo criativo pode conceptualizar-se como produção de valor expressivo criativo puro, indo da arte tradicional aos videojogos e ao software. Várias destas actividades são apoiadas pelo Estado, dado o elevado investimento colocado em algumas delas.
O Programa da Economia Criativa começou em Novembro de 2005, envolve a análise e aplicações das indústrias culturais: cinema, televisão, edição, música, artes performativas e videojogos, que constroem os seus modelos de negócio na venda de valor de expressão. Mas as indústrias culturais podem constituir um subsector das indústrias criativas: o produtor de televisão independente, os jogos de computador, o editor ligado à educação têm mercados e audiências diferentes mas produzem valor de expressão. As indústrias criativas são, analiticamente, parentes das indústrias culturais, em que a distinção provém da mesma família de actividades. O que produzem tem um valor funcional mas também de expressão. Arquitectura, moda, design, serviços de computador e publicidade são eminentes indústrias criativas.
Obrigado a Maria João Eloy por me ter indicado o estudo, através do artigo publicado no jornal Guardian.
IPHONE
O iPhone é bonito, escreve Isabel Gorjão Santos (Público), pode tornar-se produto ideal para fãs de marcas e de gadgets, aponta Pedro Fonseca (Diário de Notícias).
Ambos os jornais dão o mesmo espaço ao novo aparelho da Apple, a ser lançado dentro de pouco mais de duas horas em Nova Iorque - duas páginas. Serve para telefonar e enviar mensagens, aceder à internet e ouvir música, é caro (quase € 450) e tem um bom design. O facto de não ter teclado pode ser aproveitado por outras marcas, uma das quais está a desenvolver um ecrã táctil.
VENDAS DOS DIÁRIOS
Público e Diário de Notícias dedicam hoje a sua atenção aos números mais recentes da Associação Portuguesa para o Controlo de Tiragens sobre vendas dos jornais. O Público destaca o aumento do último trimestre relativamente ao quarto trimestre de 2006, mas deixa para o quadro a descida relativamente a trimestre homólogo do ano passado. É mais habitual comparar-se períodos homólogos, admitindo que os consumos se comparam mais em meses semelhantes de anos sucessivos do que períodos sequenciais. O Diário de Notícias diz que foi o jornal que menos desceu em vendas em períodos homólogos (porém, se usassemos a comparação do Público, face ao trimestre anterior, haveria uma queda acentuada).
Infelizmente, os jornais pagos continuam a baixar. As razões encontram-se nas mudanças de hábitos dos leitores de jornais: 1) os gratuitos Destak e Metro distribuem acima de 170 mil jornais por dia, forte razão concorrencial, não estando ainda contabilizados os valores do Meia Hora, 2) o crescente peso da procura de informação na televisão, mas também na internet, 3) a fraca taxa de leitura dos portugueses.
Público e Diário de Notícias tiveram, nos últimos meses, mudanças significativas: novo modelo gráfico no primeiro, pendor híbrido de jornal de qualidade e popular no segundo. O próximo trimestre poderá dar valores mais precisos da influência destas medidas nos hábitos de compra de jornais.
quinta-feira, 28 de junho de 2007
PINTURAS CANTADAS: ARTE E PERFORMANCE DAS MULHERES DE NAYA
Pinturas cantadas: arte e performance das mulheres de Naya é a exposição a inaugurar no dia 5 de Julho, pelas 18:30, no Museu Nacional de Etnologia.
Retiro da apresentação do catálogo, a seguinte indicação de Joaquim Pais de Brito, o director do museu:
As exposições nascem muitas vezes por acaso. Assim foi com as Pinturas cantadas que este catálogo dá a conhecer. No seu começo está o encontro com Lina Fruzzetti e Ákos Östör que, numa visita a Portugal em Maio de 2006 para apresentar o filme com o mesmo nome, traziam com eles algumas das pinturas feitas pelas mulheres de Naya, aldeia do Estado de Bengala por eles estudada ao longo de muitos anos.
Abrir aqueles rolos foi para nós uma revelação e um encantamento. São pinturas em folhas de papel justapostas, coladas em tecido, muitas vezes reaproveitadas de outros usos, que as torna mais flexíveis e resistentes à sua continuada manipulação. Ali se encontram representados os mais variados temas, uns retomados da tradição oral, onde divindades e personagens de toda a índole são protagonistas de histórias inúmeras vezes repetidas, outros abordam assuntos da mais próxima actualidade. Pode tratar-se da narração de acontecimentos de grande ressonância mediática e planetária, como o ataque ao World Trade Center de Nova Iorque em 11 de Setembro de 2001, ou o tsunami de Dezembro de 2005. Mas podem também ter o alcance de uma campanha informativa e cívica, como ocorre com a luta contra a Sida ou contra a discriminação de género, que no infanticídio de bebés do sexo feminino encontra uma das suas mais radicais e violentas manifestações.
São rolos pintados, mas que nos dão a perceber "estilos pessoais, variações de linguagem e a profusa diversidade dos temas", continua o mesmo responsável do museu.
Da Cantiga da pintura Tsunami, de Snehalata Chitrakar, extrai-se o seguinte texto:
Ó, mãe do mar, Mãe do Ganges, porque ceifaste tantas vidas. Ó, irmão, a água do mar veio com toda a fúria, com árvores e folhas a flutuar. Morreram tantos homens! O meu coração chora por eles.
Mães foram privadas dos filhos, filhos perderam as mães, mulheres ficaram sem marido. Que dor! Ó, misericordioso Dayal do meu coração, como chora o meu coração! O céu chora, o vento grita, a mãe infeliz chora os filhos perdidos.
É difícil entender o teu jogo Lila, como fazes uns chorar e outros sorrir.
O exército apareceu quando soube da notícia. Salvaram as pessoas, derramando lágrimas.
Sri Lanka, Tailândia, Andaman – pessoas de doze países tiveram mortes prematuras.
Lina Fruzzetti e Ákos Östör estarão em Portugal entre os dias 3 e 5 de Julho.
HÁBITOS DE CONSUMO DE MEDIA EM ANGOLA
Mais de metade da população residente em Luanda costuma ler ou folhear jornais (50,5%) e uma fatia ainda maior recorre às revistas (54,5%). Dos jornais, o Jornal de Angola tem 28,7% das preferências, seguindo-se o Jornal dos Desportos (17,8%) e a Folha 8 (15,1%). A revista mais lida é a Tveja, com 38,1%, a que se seguem A Caras, com 19,2% e a TV24 com 13,9%.
São estes alguns dados mostrados no estudo Angola - All Media & Products Study, da Marktest, agora a operar naquele país africano. O estudo decorreu sobre a população residente em Luanda, com 5000 entrevistas, entre 13 de Fevereiro e 24 de Maio últimos.
A televisão atinge 91,9% da população, dominada pela TPA (primeiro canal: 86%; segundo: 75,2%), vindo depois a Globo (27%) e a Record (22,8%). Já quanto à rádio, o ranking é o seguinte: Luanda (47,4%), Escola e a Ecclésia. 85,5% dos inquiridos costuma ouvir rádio.
Fonte: Meios & Publicidade (Maria João Morais)
quarta-feira, 27 de junho de 2007
NEOREALISMO ITALIANO NA FUNDAÇÃO PORTUGUESA DAS COMUNICAÇÕES
CASA DAS ARTES DE TAVIRA
XVII CURSO DE VERÃO DO INSTITUTO DE HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA
Vai decorrer de 19 a 22 de Setembro o XVII Curso de Verão do Instituto de História Contemporânea, este ano dedicado à Arte e Poder, com coordenação de Raquel Henriques da Silva. Local: auditório 1 (Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa, Av. de Berna, 26, Lisboa).
Conferencistas (artes plásticas; arquitectura; música; fotografia; dança e cinema): Idalina Conde, Manuel Loff, Rui Mário Gonçalves, Sílvia Correia, David Santos, Pedro Lapa, João Leal, Ana Tostões, Marion Steiger, Salwa Castelo-Branco, Manuel Deniz Silva, Paulo Filipe Monteiro, António Pinto Ribeiro, Teresa Siza, Daniel Tércio. Mesa-redonda: António Gomes de Pinho, Luís Campos e Cunha, Fernando Rosas e Raquel Henriques da Silva.
terça-feira, 26 de junho de 2007
CCB (II)
Hoje, foi um dia cheio de novidades. De manhã, Joe Berardo, ao microfone da Antena 1, entendia que António Mega Ferreira se devia demitir da presidência da Fundação do Museu Berardo, porque nunca mostrara interesse pelo museu. Ontem, por exemplo, não tinham sido postas bandeiras com o nome do museu. Logo depois, Mega Ferreira demite-se. Berardo, pelo que li no Público on-line esclareceu que nunca pedira a demissão de Mega Ferreira; mas foi isso, de facto, que ele disse de manhã à rádio.
Neste confronto, vejo duas posições distintas. Mega Ferreira, no lugar que ocupa no CCB, é um servidor do Estado, um alto funcionário do Estado (embora apenas em comissão de serviço). Berardo é o proprietário das obras que estão no museu com o seu nome. Mega Ferreira sairá um dia do cargo, o museu manter-se-á, com aquelas obras e aquela designação. São, assim, posições de desigual peso.
Joe Berardo tem uma simplicidade desarmante. Hoje, à mesma rádio, ele dizia querer que toda a gente fosse ao museu. E deu sugestões: as pessoas do futebol deviam ir. A entrada é gratuita para quem tiver cartões de sócio com quotas em dia. Ou seja: propõe a arte para as massas. E confessou não ser entendido em arte, mas com o dever de adquirir peças de arte para que as pessoas a usufruam.
O homem que fez frente à Sonae na compra da PT e a Jardim Gonçalves na blindagem dos estatutos do banco Millennium BCP e lançou a ideia de uma OPA ao Benfica, é um líder popular. As capas dos jornais e das revistas dos últimos tempos mostram-no, mais a sua história de vida e a sua família. Por isso, pela promoção e pela identificação com Berardo, as pessoas vão deslocar-se ao museu, que deve ser um sucesso nos próximos tempos.
Isto tudo apesar de eu gostar muito do trabalho de Mega Ferreira e o achar uma das pessoas mais lúcidas e cultas do país. Quando tomou posse à frente do CCB, Mega Ferreira falava da construção do terceiro edifício, da Festa da Música, de novos tempos para o Centro Cultural. O primeiro sinal de alarme veio com o corte orçamental. Este seu mau bocado deve ter tudo a ver com as decisões da ministra.
CCB (I)
O CCB é a sigla de Centro Cultural de Belém. Inicialmente, serviu de espaço nobre de acolhimento das reuniões da União Europeia (UE), quando Portugal presidiu à UE logo depois da sua adesão. Agora, que Portugal volta a ser o país que preside à UE, o CCB transforma-se. Deixa de ser um espaço público e torna-se uma área privada, com a inauguração do museu Berardo. Para mim, CCB passa a significar Centro Cultural Berardo.
Ontem, ao fim da tarde, viam-se executivos a correr para não perderem a inauguração formal do museu. Iam acompanhados das esposas ou namoradas. O mais intelectual dos vendedores da revista Cais estava a trabalhar. Hoje, perto da hora do almoço, deambulavam, quase em multidão, grupos de jovens e pessoas de idade. Parece-me que só vi tanta gente no CCB aquando das Festas da Música e da exposição de Frida Khalo.
segunda-feira, 25 de junho de 2007
JORNALISMO E JORNALISTAS
O número 30 da revista Jornalismo & Jornalistas (JJ), do Clube dos Jornalistas, tem como temas de capa o ensino do jornalismo (por J.-M. Nobre Correia) e o cooperativismo de jornalistas (por Helena de Sousa Freitas).
Bill Kovach defende como principal objectivo do jornalismo é "a garantia de que a informação prestada aos cidadãos é verdadeira e essencial para a organização da nossa sociedade" e não o lucro em si. Ainda sobre o jornalismo e o seu ensino, Nobre-Correia entende ser urgente proceder à separação de águas entre o jornalismo e outras áreas que têm os media como núcleo central da aprendizagem.
Mas dentro da publicação, cujo director é Eugénio Alves e director editorial é Fernando Correia, há outros temas: uma entrevista a Bill Kovach (por Patrícia Fonseca), uma análise ao estudo do jornalismo, a partir de jornadas na Universidade Fernando Pessoa (por Manuel Neto), o referendo ao aborto na rádio (por Luís Bonixe) e uma crónica de João Paulo Guerra, além de textos sobre livros e sítios da internet. Deixo ficar para o fim o texto de Andreia Agostinho sobre a revista Modas & Bordados (1912-1977).
Trata-se de um texto baseado no projecto final de Andreia Agostinho no curso de jornalismo na Escola Superior de Comunicação Social (Lisboa). Inicialmente suplemento do jornal O Século, a Modas & Bordados era dirigida a uma elite feminina e tinha como ideia inicial dar conselhos sobre moda e belezas às mulheres. A sugestão de livros, ainda que dedicados à cozinha, e as boas maneiras incluiam-se na oferta da publicação, assim como anúncios de lojas e produtos.
Maria Lamas (em 1930) e Etelvina Lopes de Almeida foram duas das directoras da revista que a marcaram indelevelmente, em especial numa altura de restrição de liberdade de expressão.
domingo, 24 de junho de 2007
TRAJECTOS, Nº 10
Saíu o número 10 da revista Trajectos (ISCTE), correspondente à Primavera de 2007.
O presente número divide-se em quatro áreas: Discursividades, Em análise, Debate, Leituras. Da primeira área, retiro o texto de Vítor Sérgio Ferreira, Sentidos e contextos da corporeidade marcada: "O recente renascimento e hipervisibilidade social de práticas ancestrais de modificação corporal como a tatuagem e o body piercing, fez ressurgir alguns desses estereótipos e pânicos morais associados, nomeadamente por via de uma mediatização frequentemente exotizada e sensacionalista, a qual contribui para a reprodução da imagem social do corpo marcado emquanto corpo iconoclasta" (p. 22).
Toda a secção Em análise merece, quanto a mim, uma leitura atenta, com textos de Vítor Matias Ferreira, Paula Figueiredo, José Luís Garcia e Filipa Subtil. A fotografia ocupa a reflexão de dois destes autores (Paula Figueiredo e José Luís Garcia).
sábado, 23 de junho de 2007
TEATRO
O Encore é um grupo de teatro amador dos antigos alunos da Escola Básica 2,3 Gaspar Correia (Portela, Sacavém).
A peça que hoje esse grupo levou à cena no auditório da Biblioteca Municipal Orlando Ribeiro, às Telheiras (Lisboa), merece elogios. Escrita por André Maia e Cristina Fialho e com o título O amor fala mais alto, conta histórias de adolescentes quase adultos, os seus temas e problemas. Procura-se o Amor, mas estão presentes o Orgulho, a Paixão, o Ciúme, a Paciência/Impaciência, a Raiva, o Bom Senso, a Razão, a Simpatia, a Estupidez, a Ironia, a Ambição, o Gozo, a Sensibilidade. Isto é, cada um destes sentimentos é interpretado por um(a) jovem.
O ambiente das histórias é, claro, alegre e musical. O espaço onde decorre a peça é um bar - há ali uma influência da série Morangos com açúcar, onde também o bar funciona como espaço de convívio e onde cada jovem se sente à vontade para para falar dos seus problemas. Mas aqui há mais profundidade sobre o mundo e as suas questões. Os autores são dois muito jovens adultos mas o modo como reflectem o mundo mostra-os com uma grande maturidade conquanto a brincadeira e a leveza atravessem toda a peça. Daí a importância do Urso, o empregado do bar que serve a todos com igual correcção, e o embriagado (Roma), que se irá revelar o Amor que todas procuram. De indesejado (o bêbado) a bem-vindo - afinal o que acontece muitas vezes na nossa interpretação sobre os outros.
No fim, os jovens actores agradeceram aos antigos professores da escola básica, que subiram ao palco e mostraram a sua alegria por estarem naquela festa. Eles puderam testemunhar o quanto valeu o esforço de vários anos atrás, o sonho que esses professores tinham e que os seus antigos alunos realizaram.
Obrigado à Cristina Fialho pelo convite para assistir. Dela, que também foi minha aluna no primeiro semestre deste ano lectivo, eu não fazia ideia destas suas capacidades. Boa sorte!
ESTUDOS COMPARATIVOS
1) "Nos anos 60, era normal os matutinos «fecharem» às três, quatro ou mesmo cinco da manhã do próprio dia de saída, permitindo, por exemplo, que em jornais como o Diário de Notícias e O Século aparecessem críticas de espectáculos ou outro tipo de textos noticiosos relativos a acontecimentos ocorridos na véspera à noite ou mesmo de madrugada" (Fernando Correia e Carla Baptista, 2007, Jornalistas. Do ofício à profissão, Lisboa, Caminho, p. 250).
2) Na exposição dos 50 anos de arte portuguesa na Gulbenkian, onde se faz o levantamento de artistas plásticos que têm beneficiado de bolsas de estudo da fundação no estrangeiro, há uma marca que me impressionou. Os artistas plásticos no século XX deixaram de representar a realidade - as cenas do real - e passaram a experimentar materiais e formas. Algumas dessas formas aplicadas a esses novos materiais resultam de uma impressionante nova estética.
3) No jornalismo, e como Fernando Correia e Carla Baptista escrevem à frente (p. 259), os tipógrafos teriam nos anos 60 a última década de grande peso na produção dos jornais. O offset e a informática destruiram o seu poder de décadas.
4) Nunca pensara em correlacionar estas duas áreas tão distintas. A mudança foi tão grande que quase nada ficou para o futuro.
Será que hoje o Second Life, a internet, os videojogos e os telemóveis vão, cada qual à sua medida, acabar com o conhecimento analógico - e as notícias em papel? Começo a pensar que sim.
sexta-feira, 22 de junho de 2007
A SOPHIA
CICLO MEG STUART
DESCANSO DO ALMOÇO
Um come uma sanduiche. Ao lado, duas latas de refrigerantes e mais pães. O outro lê um jornal (título incompleto da notícia: Contrabandistas). Uma garrafa de cerveja espreita pelo saco de plástico. Depois, vi-o fumar.
Eles estão entre dois aparelhos de ar condicionado e um caixote de lixo. A companhia não é a melhor do mundo mas estão sossegados, sem ninguém à volta. Ambos têm cabelos compridos e vestem uma pólo identificadora de empresa de limpezas e jardinagem.
É o momento de repouso do almoço.
ISTO NÃO É PUBLICIDADE, É (BOM) CINEMA
UM ANO DE CINEMA(S) [os melhores filmes estreados entre Junho 2006 e Junho 2007], de 21 de Junho a 29 de Agosto, no Cinema Nimas (Av. 5 de Outubro, 42B, Lisboa), com preços únicos a 3,50€, eis uma boa proposta. Os filmes são os que se seguem:
Junho
22- A lula e a baleia, Noa Baumbach
23 - Klimt, Raoul Ruiz
24 - Profissão: repórter, Michelangelo Antonioni
25 - O tempo que resta, François Ozon
26 - A vida secreta das palavras, Isabel Coixet
27 e 28 - Uma verdade inconveniente, Davis Guggenheim
29 - Brisa de mudança, Kean Loach
30 - Sonhar com Xangai, Wang Xiaoshuai
Julho
1 - Os amantes regulares*, Philippe Garrel
2 - 98 octanas, Fernando Lopes
3 - Paraíso agora, Hany Abu-Assad
4 e 5 - Uma família à beira de um ataque de nervos, Jonathan Dayton e Valerie Faris
6 - Romance & cigarros, John Turturro
7 - Voo 93, Paul Greengrass
8 - Faça favor, Pierre Salvadori
9 - Alguns dias em Setembro, Santiago Amigorena
10 - Marie Antoinette, Sofia Coppola
11 e 12 - Volver - Voltar, Pedro Almodóvar
13 - Transe, Teresa Villaverde
14 - A dália negra, Brian De Palma
15 - Os filhos do homem, Alfonso Cuarón
16 - Manual do amor, Giovanni Veronesi
17 - A senhora da água, M. Night Shyamalan
18 e 19 - A raínha, Stephen Frears
20 - Paris je t'aime, Olivier Assayas, Isabel Coixet, Gus Van Sant, Alfonso Cuaron e etc.
21 - A Prairie Home Companion – Bastidores da rádio, Robert Altman
22 - Obrigado por fumar, Jason Reitman
23 - A ciência dos sonhos, Michel Gondry
24 - Viúva rica solteira não fica, José Fonseca e Costa
25 e 26 - Babel*, Alejandro González Inárritu
27 - Borat, Larry Charles
28 - Juventude em marcha*, Pedro Costa
29 - O grande silêncio*, Philip Groning
30 - Em Paris, Christophe Honoré
31 - The departed – Entre inimigos*, Martin Scorsese
Agosto
1 e 2 - Scoop, Woody Allen
3 - Flags of our fathers – As bandeiras dos nossos pais, Clint Eastwood
4 - Odor do sangue, Mario Martone
5 - A maldição da flor dourada, Zhang Yimou
6 - Pecados íntimos, Todd Field
7 - Body Rice, Hugo Vieira da Silva
8 e 9 - As vidas dos outros, Florian Henckel Von Donnersmarck
10 - Cartas de Iwo Jima, Clint Eastwood
11 - Livro negro*, Paul Verhoeven
12 - Anjos exterminadores, Jean-Claude Brisseau
13 - O bom pastor*, Robert De Niro
14 - O último rei da Escócia, Kevin MacDonald
15 e 16 - O caimão, Nanni Moretti
17 - O bom alemão, Steven Soderbergh
18 - O véu pintado, John Curran
19 - O meu tio, Jacques Tati
20 - Diário de um escândalo, Richard Eyre
21 - O labirinto do Fauno, Guillermo Del Toro
22 e 23 - Climas, Nuri Bilge Ceylan
24 - Shortbus, John Cameron Mitchell
25 - Não digas a ninguém, Guillaume Canet
26 - Still life – natureza morta, Jia Zhang-Ke
27 - Honra de cavalaria, Albert Serra
28 e 29 - Inland empire*, David Lynch
As sessões são às 14:00, 16:30, 19:00 e 21:30, excepto quando assinalado com * - 14:00, 17:45, 21:30.
quinta-feira, 21 de junho de 2007
BOCC
Paulo Serra (pserra@ubi.pt), presidente do departamento de comunicação e artes da Universidade da Beira Interior e investigador do LabCom do mesmo departamento, é o novo responsável pela BOCC - Biblioteca Online de Ciências da Comunicação (sucedendo a António Fidalgo).
A BOCC conta com uma média diária de 3000 visitas e a média mensal de downloads é de 8 GB. Segundo a BOCC, a utilização é de 47% do Brasil, 23% de origem não apurada e 17% de Portugal. O que quer dizer que quem quiser ver as suas publicações editadas no Brasil, o melhor é publicar na BOCC.
ACONTECIMENTOS PÚBLICOS
A colecção Minerva Ciências da Comunicação é, segundo a minha interpretação, a melhor colecção da MinervaCoimbra e de todas as colecções de livros de comunicação em Portugal. Mário Mesquita, o director da colecção, e os editores, Isabel e José Alberto Garcia, desenharam um bom modelo de embalagem para livros de maior densidade teórica dentro da área da comunicação, diferenciando-se da colecção Comunicação. Entre outros da colecção Minerva Ciências da Comunicação refiro os livros de João Maria Mendes (Por quê tantas histórias. O lugar do ficcional na aventura humana) e Mário Mesquita (O quarto equívoco. O poder dos media na sociedade contemporânea). São obras de um grande fôlego conceptual e pertencentes a dois dos melhores pensadores destas coisas da comunicação.
Agora, aparece outro livro da mesma colecção, pertencente a Isabel Babo-Lança, A configuração dos acontecimentos públicos. O caso República e as manifestações nos Açores em 1975. Docente na Universidade Lusíada (professora associada) e com doutoramento em sociologia na École des Hautes Études en Sciences Sociales de Paris, o texto agora publicado por Isabel Babo-Lança trabalha o acontecimento enquanto "qualquer coisa que acontece, aquilo que ocorre (facto, evento ou ocorrência), que é fortuito ou imprevisto" (p. 25). Os dois acontecimentos que a autora escolhe são o caso República (disputa entre jornalistas e tipógrafos, encerramento do jornal) e as manifestações separatistas nos Açores.
Retiro ideias que a autora escreve nas páginas 175 e 176: as interpretações do caso República por dois conceituados académicos (e então jornalistas), José Rebelo e Mário Mesquita. Para o primeiro, a ocupação do jornal foi da responsabilidade da extrema-esquerda (Rebelo era, à altura, correspondente do Le Monde); para o segundo, o Partido Comunista teria responsabilidades, mesmo que indirectas (Mesquita trabalhou no República).
Para Isabel Babo-Lança, o tema do jornal suscitou muita adesão em termos de opinião pública (a partir de 19 de Maio de 1975). É que surgiria o Jornal do Caso República (em 29 de Maio de 1975) a publicitar uma outra versão do conflito que não a dos comunicados surgidos no próprio jornal. Era a tribuna pública dos jornalistas e direcção substituídos dez dias antes (um jornal República sairia em França, dentro do Quotidien de Paris, elaborado pelos jornalistas do jornal português, em 23 de Junho, ultrapassando o espaço público nacional). Conclui a autora que foi "um tipo específico de jornalismo, na medida em que, sendo «o jornal do caso», o seu assunto e objecto eram a própria imprensa e os princípios da informação" (p. 177). Duas páginas à frente, escreve que os dois casos se constituiram como problemas públicos pois um era um atentado à liberdade de imprensa (jornal) e o outro uma reacção ao processo político iniciado no ano anterior (manifestações nos Açores).
Com uma forte opção teórica, o capítulo II da quarta parte é uma parcela a ler com atenção (e que o olhar em diagonal ao livro por parte do blogueiro o inibe de tecer comentários mais ajuizados). Nele, Isabel Babo-Lança escreve sobre tempo, narrativa e acontecimento. Um dos autores preferidos: Paul Ricoeur. A temporalidade aparece dividida em duas partes: 1) a das acções e das ocorrências que se desenrolam no tempo, 2) a da actividade de configuração. À cronologia acrescentam-se as recepções e redescrições. Mas também a intriga e a narrativa.
JORNALISMO E DEMOCRACIA
Jornalismo e democracia é o título de um livro lançado hoje ao fim da tarde, coordenado por Isabel Ferin, e que conta com capítulos escritos por Isabel Ferin, Estrela Serrano, Albino Rubim e Leandro Colling, Rita Figueiras e Vanda Calado. A edição pertence à Paulus, na sua nova colecção Comunicação, coordenada por Rita Figueiras. A apresentação coube a Nelson Traquina, docente da Universidade Nova de Lisboa.
O livro aborda quatro temáticas ligadas às notícias publicadas nos jornais: finais de mandatos de primeiros-ministros, eleições presidenciais (aqui também com análise às notícias televisivas), comentadores de imprensa, congressos e convenções partidárias.
Retiro uma parcela do capítulo escrito por Estrela Serrano:
A investigação realizada mostra que no DN e na RTP os padrões jornalísticos na cobertura de eleições mudaram significativamente ao longo dos 25 anos abrangidos pelo estudo, apesar da persistência de determinados padrões no Diário de Notícias e nos canais de televisão. Por outro lado, apesar das diferenças decorrentes da natureza do meio, a cobertura de campanhas eleitorais baseia-se em fórmulas e modelos rotinizados e estandardizados, comummente aceites pela comunidade jornalística qualquer que seja o meio em que trabalha, o regime político vigente e o regime de propriedade das respectivas empresas. Esse modelo assenta num estilo de cobertura que privilegia o jogo eleitoral e as acusações entre candidatos, menorizando o debate de ideias (p. 53).
O livro resultou de um projecto criado no seio do Centro de Investigação Media e Jornalismo (CIMJ), entidade criada em 1997 e que tem agregado investigadores provenientes de várias universidades. O seu presidente é Nelson Traquina. Desse projecto, financiado pela Fundação Ciência e Tecnologia, o CIMJ realizou no final do ano passado um seminário internacional dedicado exactamente ao jornalismo e à democracia.
Ainda não li o livro. Mas conheço-o muito bem. Foi um projecto muito discutido e envolvendo muita gente - à distância, foi um dos projectos mais interessantes em que também me envolvi (organização do seminário e apresentação de uma comunicação ao mesmo seminário). Pelo que representa em termos de equipa de trabalho - dando relevo à investigação empírica quantitativa - e pelas perspectivas e convite a novas investigações, o livro merece ser estudado e comentado nos cursos de comunicação e jornalismo.
EDUARDO STREET
Fiquei muito contente em saber que o teatro radiofónico realizado por Eduardo Street vai voltar a ser ouvido nas ondas da Antena 2, proximamente. Em sabendo mais informações, escreverei aqui.
Entretanto, podem ler-se Histórias com o som da telefonia, do mesmo Eduardo Street, infelizmente já desaparecido, na Antena 2.
quarta-feira, 20 de junho de 2007
MOSTRA DOCUMENTAL E BIBLIOGRÁFICA DEDICADA AO JORNAL 57
Até 30 de Junho, a Hemeroteca de Municipal de Lisboa expõe uma mostra bibliográfica e documental dedicada ao jornal 57: folha independente de cultura e ao Movimento 57 na Cultura Portuguesa. Pelas 18:00 do próximo dia 28, Álvaro Costa de Matos vai falar sobre a história e a memória do 57.
Em Maio de 1957 aparecia em Lisboa um novo jornal, o 57: folha independente de cultura, com direcção de António Quadros. O 57 apresentava-se como órgão de um movimento de cultura portuguesa, radicado no magistério filosófico de Leonardo Coimbra e dos seus discípulos, herdeiro de movimentos anteriores, como a Renascença Portuguesa, o Orpheu e a Renovação Democrática, crítico em relação ao statu quo cultural e defensor de teses originais. Nos 50 anos do seu nascimento, a Hemeroteca Digital de Lisboa publicou no ciberespaço, os textos programáticos do movimento 57, a saber: Manifesto de 57, Manifesto sobre a Pátria, 12 Teoremas do 57, 12 Problemas Concretos da Cultura Portuguesa e O Movimento da Cultura Portuguesa no ano de 1961 (fonte: Leonardo, Revista de Filosofia Portuguesa).
Imagens e informações retiradas do blogue cadernos, de António Ferro. O meu obrigado a ele pela chamada de atenção ao evento.
CULTURA VISUAL
Na sexta-feira, dia 22, pelas 18:30, inaugura em Coimbra, na Casa Museu Bissaya Barreto (Rua da Infantaria, 23), a exposição AMAR PORTUGAL - Em torno da Cultura Visual Portuguesa.
A exposição estará patente até 8 de Julho. Para saber mais detalhes, procurar no sítio http://www.fbb.pt/.
MOSTRALÍNGUA
Em Coimbra, vai decorrer em 27 e 28 de Outubro de 2007 o MOSTRALÍNGUA, um novo festival de cinema cujo tema é a língua portuguesa, de forma a potenciar o diálogo cultural entre os países de língua portuguesa (e conforme mensagem já aqui colocada).
A organização, a cargo da associação Eufaria, pretende dar grande visibilidade cultural a este grande espaço linguístico.
Os géneros que podem concorrer ao MOSTRALÍNGUA são o cinema experimental, vídeos musicais, animações, ficções e documentários, com uma duração máxima de 60 minutos e produzidos após Janeiro de 2005. Serão atribuídos prémios nas categorias de: melhor curta-metragem, melhor actor/actriz, melhor videoclip, melhor fotografia, melhor montagem e melhor banda sonora.
A data limite para concorrer é 12 de Outubro. O regulamento encontra-se disponível na página oficial do festival Eufaria.
GUILHERMINA SUGGIA
No dia 27, pelas 18:30, será colocada uma placa evocativa na casa onde viveu e morreu a violoncelista Guilhermina Suggia, à Rua da Alegria, 665, no Porto. A placa é da autoria da escultora Irene Vilar.
Para saber mais, procurar no blogue de Guilhermina Suggia.
TELEVISÃO PAGA
Na terça-feira, dia 26 de Junho, pelas 18:00, na FNAC do Norte Shopping (Porto), vai ser lançado o livro A televisão paga: dinâmicas de mercado em Portugal e na Europa, de Luísa Coelho Ribeiro. A apresentação estará a cargo de Elísio Oliveira (ERC), Helder Valente (FEP), Jaime Quesado (POS_Conhecimento), Paulo Faustino (Formalpress), Pedro Luiz de Castro (Discovery Channel), Francisco Rui Cádima (UNL) e António Lobo Xavier (Sonaecom).
Da promoção do evento, retiro a seguinte informação:
Por cabo, satélite ou, mais recentemente, por linha telefónica, os canais internacionais e os canais premium já chegam a quase metade dos lares portugueses e conquistaram um lugar incontornável na nossa sociedade e nas nossas vidas. Este livro analisa o mercado da televisão paga em Portugal no contexto das dinâmicas internacionais, com especial enfoque nos aspectos de concorrência, produtos e serviços, caracterização do consumidor tipo, modelos de negócio, performance e estratégias. Qual o futuro que se adivinha para a televisão paga em Portugal? Quais os desafios colocados pelos avanços tecnológicos e nomeadamente, o impacto que terá a televisão digital terrestre cujo concurso para atribuição de licenças está em preparação? O que podem esperar os operadores (carriers, canais de televisão paga, produtores de conteúdos) e os consumidores finais nos próximos anos? Estas e outras questões são analisadas neste livro que estuda o mercado português sob uma perspectiva internacional e inovadora.
CONSOLAS DE JOGOS EM PORTUGAL
Mais de 2,2 milhões de indivíduos que residem em lares nacionais possuem consola de jogos, o que representa 26,9% do universo composto pelos residentes em Portugal.
A informação é avançada pela Marktest, na sua newsletter de ontem.
Em termos de penetração deste equipamento, a idade é a variável de maior diferenciação. 57,2% dos que têm consola de jogos em casa está nos jovens dos 15 aos 17 anos. Ao invés, 4,7% é o valor apresentado por pessoas com mais de 64 anos. A informação agora disponibilizada nada nos diz sobre o tipo de consolas nem os tipos de jogos mais usados.
terça-feira, 19 de junho de 2007
COMUNICAÇÃO DIGITAL
A rápida expansão dos meios digitais apanhou de surpresa as instituições onde se ensina comunicação. Nascidas há duas ou três décadas, as licenciaturas foram pensadas para um tipo de profissional e de mercado em vias de extinção (da introdução ao importante documento Comunicação digital: competências e profissionais e desafios académicos, editado em 2006 pela Rede ICOD, Rede Ibero-Americana de Comunicação Digital, e escrita pelo coordenador do projecto, Carlos A. Scolari).
A Rede ICOD nasceu em 2003; a universidade portuguesa presente no projecto é a da Beira Interior (António Fidalgo e João Canavilhas).
Os objectivos específicos do projecto são: 1) definir competências ligadas ao sector digital que um licenciado em comunicação deve ter, 2) delinear percursos formativos no campo da comunicação digital, 3) discutir metodologias pedagógicas para optimizar o ensino das competências digitais nos cursos a nível de graduação e pós-graduação, 4) trabalhar numa prática que inclua os novos meios, 5) efectuar intercâmbio de experiências entre universidades e empresas.
O documento está escrito em quatro línguas, de 83 páginas (duplas, porque agrupadas duas a duas línguas: castelhano, português, catalão e inglês). A justificação do catalão é porque a edição foi feita pela Generalitat de Catalunya, pois a universidade de Espanha naquele projecto, a UVIC, está situada na Catalunha.
segunda-feira, 18 de junho de 2007
A MORTE DE LOPES DA SILVA
Li, agora, na lista da SOPCOM (informação de António Fidalgo), a informação da morte de Manuel José Lopes da Silva, professor catedrático jubilado da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e sócio fundador daquela associação.
Faço minhas as palavras de António Fidalgo: "Ao dar a triste notícia na lista da Sopcom, rendo-lhe aqui publicamente homenagem. Era um grande senhor, um excelente amigo e colega, e considero que fará muita falta à nossa Associação e à área das Ciências da Comunicação em Portugal. O funeral realiza-se amanhã em Donas, Fundão".
Recordo Lopes da Silva como docente do mestrado em Ciências da Comunicação da Nova, em que fui seu aluno. Sempre que me via, falávamos muito. Ele sabia da minha paixão antiga pela história das telecomunicações e fazia constantes perguntas.
Engenheiro de raiz, e antes da docência universitária, Lopes da Silva passou pela RTP, sendo um funcionário muito antigo da televisão pública (fundador e director de investigação da estação até 1987). Aliás, ele escreveu abundantemente sobre televisão, em especial sobre a parte técnica, como num pequeno livro que partilhou a autoria com Vasco Hogan Teves e editado na Verbo. Na Universidade Católica Portuguesa, foi presidente da direcção do Curso de Ciências da Informação, de 1980 a 1982 (curso prévio à licenciatura). De outros cargos, foi membro da direcção da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações (APDC), de 1985 a 1988, e presidente da Comissão Externa de Avaliação dos Cursos de Ciências da Comunicação da Fundação das Universidades Portuguesas em 2000. Esteve sempre ligado à APET - Associação Portuguesa dos Espectadores de Televisão enquanto seu presidente, até 2001. Agora, era presidente emérito da ACMedia. Tinha 80 anos de idade.
BLOGUES COMO ESPAÇO DE ESCRITA E REFLEXÃO
A Biblioteca Municipal de Redondo leva a cabo mais um Prémio Literário Hernâni Cidade/2007, este ano sob o tema O blogue como espaço de escrita e reflexão.
O regulamento está disponível em Prémio Literário Hernâni Cidade.
Do regulamento, indica-se que cada participante só poderá concorrer com um único trabalho, o qual não deverá exceder três páginas. O prazo acaba em 31 de Julho.
domingo, 17 de junho de 2007
TEATRO NA BIBLIOTECA MUNICIPAL ORLANDO RIBEIRO
Nos dias 23 e 30 de Junho, pelas 21:30 e no auditório da biblioteca municipal Orlando Ribeiro, em Telheiras (Lisboa), vai ser apresentada a peça O amor fala mais alto, do grupo Encore, escrita e encenada por Cristina Fialho.
Da peça: "Quando nos esquecemos do Amor que é que acontece às nossas vidas? Será que podemos substitui-lo por outro sentimento e viver uma vida sem o arrebatamento que ele provoca, sem as surpresas, sem os desgostos…ou teremos que nos esforçar para voltar a encontrá-lo? Assista à disputa dos sentimentos que querem tomar o lugar do Amor mas que não o podem fazer, pois só o Amor fala mais alto".
MOBILIÁRIO
A Escola Superior de Artes Decorativas (ESAD) da Fundação Ricardo do Espírito Santo Silva (FRESS) vai promover a realização do I Colóquio de Artes Decorativas - Mobiliário Português, que terá lugar na Sala dos Chavões do Palácio Azurara, no Museu de Artes Decorativas da FRESS, às Portas do Sol, em Lisboa, nos próximos dias 27 e 28 de Setembro de 2007.
O colóquio pretende ampliar o interesse pelo estudo do mobiliário nacional e fomentar o desenvolvimento de metodologia de investigação e sensibilizar para as boas práticas preventivas e de conservação. A coordenação científica pertence a Isabel Mayer Godinho Mendonça e Sandra Costa Saldanha.
O colóquio pretende ampliar o interesse pelo estudo do mobiliário nacional e fomentar o desenvolvimento de metodologia de investigação e sensibilizar para as boas práticas preventivas e de conservação. A coordenação científica pertence a Isabel Mayer Godinho Mendonça e Sandra Costa Saldanha.
sábado, 16 de junho de 2007
LANÇAMENTO DE LIVROS
No próximo dia 21, pelas 19:00, são lançados dois livros, na Universidade Católica Portuguesa (Sala das Exposições).
O primeiro pertence a Carla Ganito e tem o título O telemóvel como entretenimento. O segundo é coordenado por Isabel Ferin e chama-se Jornalismo e democracia. Os livros pertencem à Paulus Editora.
AINDA ENTRE OS PÚBLICOS E AS AUDIÊNCIAS
Na relação entre público e audiência, Sonia Livingstone tem uma posição menos radical que Dayan (quase-público) e Esquenazi (não-público). Ela é contra a polarização redutora de público e audiência, argumentando que as pessoas vivem em contexto mediático na vida quotidiana. Os media fornecem uma janela sobre o mundo, moldam a identidade e a diferença, a participação e a cultura. A questão está no modo como definimos público enquanto participação. Hoje, público significa também media, em especial numa sociedade global. Ora, os media medeiam, mediatizam: seleccionam, atribuem prioridades, moldam, conforme as instituições, as tecnologias, as convenções discursivas da indústria dos media. E acrescenta: os que preferem público a audiência dizem que aquele é normativo (serviço público, esfera pública) e esta é descritiva.
Compreende-se que a mediação do público seja vista com pessimismo, continua Livingstone – a refeudalização da esfera pública em que a discussão pública se torna publicidade, como indicou Habermas. O que nos leva a Horkheimer e Adorno, que indicaram que interesses concorrenciais influenciam as instituições mediáticas (economia, política, estética, profissional), guiam a produção de conteúdos, servem o carácter polissémico dos textos mediáticos.
Fiel à linha inglesa dos estudos culturais, Sonia Livingstone defende que as audiências não são totalmente passivas. É que as audiências atingem um patamar, ainda que ambíguo, de interpretação crítica. Por isso, apresenta um domínio intermédio entre público e audiência, um terceiro termo – a palavra cidadania. Esta é mais plural e abrangente que quase-público ou não-público, conceitos que tendem a menosprezar os telespectadores. Na senda de Dahlgren, sustenta que o cívico pode ser o pré-requisito para a política, o reservatório para a política. É uma espécie de público retirado na privacidade do lar, fora das actividades de uma comunidade, mas capaz de gerar o capital social necessário de envolvência política, com valores e formas culturais de identidade.
Leitura: Sonia Livingstone (2005). "On the relation between audiences and publics". In Sonia Livingstone (ed.) Audiences and publics: when cultural engagement matters for the public sphere. Bristol e Portland, OR: Intellect, pp. 17-41
sexta-feira, 15 de junho de 2007
Entre os públicos e as audiências
Aos meus alunos da disciplina de Públicos e Audiências (no dia em que as notas foram afixadas).
Este semestre foi, para mim, muito produtivo. O sucesso deveu-se, também, ao entusiasmo dos alunos. Elenco aqui as razões principais:
1. Os momentos mais intensos foram os das análises dos textos de Daniel Dayan (tipos de quase-públicos) e de Lawrence Grossberg (mapas de interesse, sensibilidade, afecto).
As múltiplas dúvidas sobre o texto de Dayan acabaram (quase todas) dissipadas, com a percepção da riqueza do trabalho do sociólogo francês. O texto de Dayan esquematiza-se em dois níveis: a) públicos, b) quase-públicos. Do primeiro, ele separa: a1) político, a2) de identidade, a3) de gosto. Do segundo, divide-o em: b1) fãs, b2) de televisão cerimonial, b3) das elites dos media europeus, b4) dos media de imigração.
Mas também a construção dos públicos de consumo – consumidores –, com origem na tipologia dos públicos de cultura do Observatório de Actividades Culturais. Eu partira dos textos de George Ritzer, pessimistas, criticando a McDonald’s e a sociedade de consumo, a quem ele designa de mcdonaldizada. Acresce-se que eu não tivera tempo de trabalhar a proposta optimista de Alan Bryman (The disneyzation of society, 2004). A sociedade de consumo, assente na previsibilidade e na calculabilidade em Ritzer, torna-se temática e híbrida em Bryman. Com Ritzer a admitir esta versão benigna, conforme o escreve na capa do livro de Bryman. Este semestre, os alunos interiorizaram melhor conceitos do Observatório de Actividades Culturais como o capital escolar familiar: consolidado, recente, precário. E aplicaram nos seus inquéritos aos grupos de consumo: séries de televisão, centros comerciais, cultura.
2. Uma outra linha de análise foi a dos textos do Obercom, saídos entre finais de 2006 e a actualidade. Gustavo Cardoso e as(os) investigadoras(es) do Obercom traçam duas gerações de televisão – a iniciática (nascida entre 1950 e meados dos anos 1960) e a multimedia (nascida após 1985) [há ainda a geração intermédia entre as duas]. O ecrã, a sua multiplicidade ao longo de 50 anos, permite um contacto e um conhecimento diferente com os media, em termos de recepção activa. A geração iniciática tem na cultura impressa o seu modo principal de obtenção do conhecimento; a geração multimedia recebe o conhecimento através dos ecrãs, o que altera profundamente a estrutura da literacia.
Foi quando falámos da geração de electrodomésticos e dos consumidores regulares (dos que vão frequentemente ao McDonald’s). O que me levou, logo após a conclusão das aulas, a reformular e a assentar melhor as ideias ali discutidas. A geração iniciática do Obercom é a geração de electrodomésticos nas minhas aulas. A geração multimedia é a geração dos centros comerciais nas minhas aulas. Estava Portugal a aderir à CEE (actual UE) e inaugurava-se o centro comercial das Amoreiras (1985). Os meus alunos pertencem à geração dos centros comerciais (e dos gadgets electrónicos como o iPod e o MSN); eu pertenço à geração de electrodomésticos (massificação da televisão, do frigorífico, do automóvel). Nas duas gerações, há um sentido comum – o movimento, a velocidade, o cosmopolitismo. Mas há distinções: gostos, consumos, locais de permanência.
Os mapas de interesse, como Grossberg apresenta, são marcas que ficam com cada geração. Escreve ele que um mesmo objecto, com um significado e prazer semelhante, é diferente quando a relação afectiva muda. O afecto completa, é o que dá cor ou textura à experiência individual (durante o semestre não consegui introduzir os textos de Henry Jenkins, acabando agora por fazer uma recensão aos textos mais recentes, ambos de 2006: Fans, bloggers and gamers. Exploring participatory culture; Convergence culture. Where old and new media collide).
3. Dos públicos consumidores, refaço igualmente o que foi sendo traçado ao longo de uma aula: 1) consumidores regulares, a geração de 20-35 anos, urbana, que desde sempre entrou no McDonald’s, inicialmente para festas de colegas de escola, à espera do brinde merchandising do filme em exibição, e que aspira ou já está no mercado de trabalho, 2) consumidores irregulares ou ocasionais, a geração dos 35 anos em diante, urbana, com profissões estabilizadas e com mais dinheiro, que acompanha os filhos às refeições do McDonald’s, parte dela com lembranças de idas durante a adolescência mas já sinalizando os excessos dessa alimentação (gordura, nutrientes), 3) consumidores recentes, a geração das crianças até à adolescência, que começa a fomentar a ida a estes restaurantes, por causa de práticas de socialização, e que frequenta o número de vezes de acordo com a mesada que disponibiliza. Estas gerações – mais alargadas que as designações de gerações de electrodomésticos e de centro comercial – acompanham outros consumos visíveis nos centros comerciais, a ligação entre consumos de socialização e práticas culturais de saída, da refeição à compra e à ida ao cinema multiplex.
O postal também é dedicado a Catarina Burnay, minha colega da disciplina de Públicos e Audiências, pela partilha de programa, discussão de metodologias comuns de avaliação em turmas distintas e aulas com matérias diferentes dadas nas turmas do outro docente, no que foi uma experiência pedagógica muito significativa.
Este semestre foi, para mim, muito produtivo. O sucesso deveu-se, também, ao entusiasmo dos alunos. Elenco aqui as razões principais:
1. Os momentos mais intensos foram os das análises dos textos de Daniel Dayan (tipos de quase-públicos) e de Lawrence Grossberg (mapas de interesse, sensibilidade, afecto).
As múltiplas dúvidas sobre o texto de Dayan acabaram (quase todas) dissipadas, com a percepção da riqueza do trabalho do sociólogo francês. O texto de Dayan esquematiza-se em dois níveis: a) públicos, b) quase-públicos. Do primeiro, ele separa: a1) político, a2) de identidade, a3) de gosto. Do segundo, divide-o em: b1) fãs, b2) de televisão cerimonial, b3) das elites dos media europeus, b4) dos media de imigração.
Mas também a construção dos públicos de consumo – consumidores –, com origem na tipologia dos públicos de cultura do Observatório de Actividades Culturais. Eu partira dos textos de George Ritzer, pessimistas, criticando a McDonald’s e a sociedade de consumo, a quem ele designa de mcdonaldizada. Acresce-se que eu não tivera tempo de trabalhar a proposta optimista de Alan Bryman (The disneyzation of society, 2004). A sociedade de consumo, assente na previsibilidade e na calculabilidade em Ritzer, torna-se temática e híbrida em Bryman. Com Ritzer a admitir esta versão benigna, conforme o escreve na capa do livro de Bryman. Este semestre, os alunos interiorizaram melhor conceitos do Observatório de Actividades Culturais como o capital escolar familiar: consolidado, recente, precário. E aplicaram nos seus inquéritos aos grupos de consumo: séries de televisão, centros comerciais, cultura.
2. Uma outra linha de análise foi a dos textos do Obercom, saídos entre finais de 2006 e a actualidade. Gustavo Cardoso e as(os) investigadoras(es) do Obercom traçam duas gerações de televisão – a iniciática (nascida entre 1950 e meados dos anos 1960) e a multimedia (nascida após 1985) [há ainda a geração intermédia entre as duas]. O ecrã, a sua multiplicidade ao longo de 50 anos, permite um contacto e um conhecimento diferente com os media, em termos de recepção activa. A geração iniciática tem na cultura impressa o seu modo principal de obtenção do conhecimento; a geração multimedia recebe o conhecimento através dos ecrãs, o que altera profundamente a estrutura da literacia.
Foi quando falámos da geração de electrodomésticos e dos consumidores regulares (dos que vão frequentemente ao McDonald’s). O que me levou, logo após a conclusão das aulas, a reformular e a assentar melhor as ideias ali discutidas. A geração iniciática do Obercom é a geração de electrodomésticos nas minhas aulas. A geração multimedia é a geração dos centros comerciais nas minhas aulas. Estava Portugal a aderir à CEE (actual UE) e inaugurava-se o centro comercial das Amoreiras (1985). Os meus alunos pertencem à geração dos centros comerciais (e dos gadgets electrónicos como o iPod e o MSN); eu pertenço à geração de electrodomésticos (massificação da televisão, do frigorífico, do automóvel). Nas duas gerações, há um sentido comum – o movimento, a velocidade, o cosmopolitismo. Mas há distinções: gostos, consumos, locais de permanência.
Os mapas de interesse, como Grossberg apresenta, são marcas que ficam com cada geração. Escreve ele que um mesmo objecto, com um significado e prazer semelhante, é diferente quando a relação afectiva muda. O afecto completa, é o que dá cor ou textura à experiência individual (durante o semestre não consegui introduzir os textos de Henry Jenkins, acabando agora por fazer uma recensão aos textos mais recentes, ambos de 2006: Fans, bloggers and gamers. Exploring participatory culture; Convergence culture. Where old and new media collide).
3. Dos públicos consumidores, refaço igualmente o que foi sendo traçado ao longo de uma aula: 1) consumidores regulares, a geração de 20-35 anos, urbana, que desde sempre entrou no McDonald’s, inicialmente para festas de colegas de escola, à espera do brinde merchandising do filme em exibição, e que aspira ou já está no mercado de trabalho, 2) consumidores irregulares ou ocasionais, a geração dos 35 anos em diante, urbana, com profissões estabilizadas e com mais dinheiro, que acompanha os filhos às refeições do McDonald’s, parte dela com lembranças de idas durante a adolescência mas já sinalizando os excessos dessa alimentação (gordura, nutrientes), 3) consumidores recentes, a geração das crianças até à adolescência, que começa a fomentar a ida a estes restaurantes, por causa de práticas de socialização, e que frequenta o número de vezes de acordo com a mesada que disponibiliza. Estas gerações – mais alargadas que as designações de gerações de electrodomésticos e de centro comercial – acompanham outros consumos visíveis nos centros comerciais, a ligação entre consumos de socialização e práticas culturais de saída, da refeição à compra e à ida ao cinema multiplex.
O postal também é dedicado a Catarina Burnay, minha colega da disciplina de Públicos e Audiências, pela partilha de programa, discussão de metodologias comuns de avaliação em turmas distintas e aulas com matérias diferentes dadas nas turmas do outro docente, no que foi uma experiência pedagógica muito significativa.
NOVO PROVEDOR DO DIÁRIO DE NOTÍCIAS
Mário Bettencourt Resendes é o novo provedor do leitor do Diário de Notícias, segundo informa o próprio jornal na sua edição de hoje. Começa as suas funções em 7 de Julho próximo.
Trata-se de uma muito boa escolha, na minha perspectiva. Bettencourt Resendes foi director do jornal entre 1992 e 2004 e, nessa qualidade, transformou o Diário de Notícias, continuando, aliás, o trabalho dos seus antecessores. Desde a saída da direcção do jornal, tem uma coluna de opinião no mesmo.
O blogueiro, que continuará a ser um seu leitor atento, deseja muitas felicidades ao provedor.
quinta-feira, 14 de junho de 2007
COMUNICAÇÃO POLÍTICA
O volume (um reader) engloba diversos excertos de textos de comunicação política, pertencentes a autores conhecidos, incluindo Walter Lippmann, James Curran, David Swanson, a dupla Jay Blumler e Michael Gurevitch, Daniel Hallin, Oscar Gandy, Kathleen Hall Jamieson, Paolo Mancini, Pippa Norris, Paul Lazarsfeld, a dupla Maxwell McCombs e Donald Shaw, Shanto Yegar, a dupla Elihu Katz e Daniel Dayan, John B. Thmpson, Thomas Patterson.
Escrevem os organizadores do reader: "O reader aparece numa ocasião em que a comunicação política nas democracias industriais avançadas está num momento de fluxo. O que podia ser chamado modelo tradicional de comunicação política, baseado em canais limitados e regulados de comunicação electrónica, imprensa estável e audiências de massa com lealdades partidárias identificáveis, dá lugar a uma estrutura nova, mais descentralizada e pluralista - caracterizada pela fragmentação e incerteza" (p. 1).
No livro, o campo da comunicação política inclui o exercício do poder, a comunicação de campanhas, a evolução da comunicação de campanhas, a globalização, as relações com os media, os efeitos dos media, o envolvimento político, a personalização e os novos media.
A crítica que se pode fazer a este tipo de antologias é a dimensão de alguns textos; por exemplo, Lippmann aparece em apenas 12 linhas.
Ralph Negrine é director de investigação no departamento de estudos jornalísticos da Universidade de Sheffield e James Stanyer é docente em comunicação e estudo dos media na Universidade de Loughborough. Stanyer esteve em Portugal em Novembro último, em congresso de media e jornalismo, como aqui destaquei.
Leitura: Ralph Negrine e James Stanyer (2007). The political communication reader. Oxon e Nova Iorque: Routledge, 318 páginas
VILA FAIA
O Diário de Notícias de hoje lembra os 25 anos da telenovela Vila Faia (peças de Inês David Bastos e Nuno Cardoso, comentário de Nuno Azinheira e texto de Eurico de Barros).
Sigo Nuno Azinheira: "Hoje, quando revemos Vila Faia, há um quê de saudosismo. Percebe-se porquê, embora tudo aquilo pareça ultrapassado. Aquela realidade, aquela forma de filmar, aquela cor, aquela forma de interpretar, ainda muito presa à revista e ao teatro clássico".
A RTP arriscava, estava-se em Maio de 1982, já com cinco anos de novelas brasileiras. Nascia um novo formato que atingiu os 80% da audiência (ainda não havia televisão privada), sendo mesmo o programa mais visto da televisão pública. Agora é a TVI a atingir grandes audiências com as novelas faladas em português deste lado do Atlântico.
Sigo Nuno Azinheira: "Hoje, quando revemos Vila Faia, há um quê de saudosismo. Percebe-se porquê, embora tudo aquilo pareça ultrapassado. Aquela realidade, aquela forma de filmar, aquela cor, aquela forma de interpretar, ainda muito presa à revista e ao teatro clássico".
A RTP arriscava, estava-se em Maio de 1982, já com cinco anos de novelas brasileiras. Nascia um novo formato que atingiu os 80% da audiência (ainda não havia televisão privada), sendo mesmo o programa mais visto da televisão pública. Agora é a TVI a atingir grandes audiências com as novelas faladas em português deste lado do Atlântico.
EM SINTONIA COM ANTÓNIO CARTAXO
O programa acabou agora mesmo.
António Cartaxo dizia que Portugal não tem uma escola de música como tem em literatura, arquitectura ou pintura.
Mas foi desfiando música, de Vianna da Mota a Luís de Freitas Branco e Carlos Seixas. Mas também José Afonso e um arranjo para música clássica de peça de Carlos Paredes.
Lá fora, a atmosfera está carregada; as nuvens parecem querer, a todo o momento, descarregar água.
Resta a música. Pode não haver uma escola, no sentido habitual, mas é música de qualidade.
quarta-feira, 13 de junho de 2007
FONTES DE INFORMAÇÃO E CORRUPÇÃO
Um artigo hoje publicado no Diário de Notícias (assinado por Inês David Bastos) dá conta da próxima votação na especialidade da proposta governamental do Estatuto dos Jornalistas, em especial do ponto em que se prevê a revelação das fontes de informação a ordenar "por um tribunal quando tal seja necessário para a investigação". Embora não o diga explicitamente, a proposta (segundo a jornalista) abre "a porta aos juízes para poderem obrigar um jornalista a denunciar a sua fonte de notícias sobre crimes de corrupção".
Por não conhecer o articulado em questão, a prudência obriga-me a ser meramente reflexivo. Mas, em princípio, parece-me um erro. Se a vontade política (PS e PSD) é combater a corrupção, esta proposta não inibirá os jornalistas de fazerem o que se lhes pede, a de revelar informação útil para a investigação? E qual será a fonte com coragem para denunciar o que quer que seja se o seu nome pode ser revelado no futuro?
Da leitura da notícia, ressalta outra questão, associada à primeira, a da aplicação de sanções pecuniárias aos jornalistas violadores das regras, a ser atribuida à Comissão da Carteira Profissional dos Jornalistas. Em pequena entrevista, o presidente desta comissão, Pedro Mourão, diria: "Pessoalmente, não me repugna que passe a existir a tutela disciplinar dos jornalistas". Sem querer descontextualizar, a frase é, em si, muito desagradável.
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