domingo, 12 de agosto de 2007

300


No ano de 480 a. C., Leónidas, o rei de Esparta, enfrentou Xerxes, o imperador da Pérsia. Leónidas tinha um pequeno exército, constituido por apenas quatro mil soldados; do outro lado, muitas dezenas ou centenas de milhar de soldados. O rei espartano recebeu as tropas inimigas no estreito das Termópilas, junto ao mar. A estratégia urdida por ele foi desmontada por um traidor, que revelou a Xerxes um atalho, encurralando os espartanos. Léonidas preferiu morrer com a sua guarda de elite, os 300, a render-se.

O filme 300, de Zack Snyder - com Gerard Butler a fazer o papel de Leónidas, o brasileiro Rodrigo Santoro a fazer de Xerxes e Lena Headey no desempenho da rainha Gorgo - adaptou a história de Frank Miller (em banda desenhada; ver artigo sobre ele na
Wikipedia).

Há cinco elementos que quero destacar. Primeiro, não se trata de uma reconstrução histórica perfeita. Fica a narrativa dos 300 heróis junto do rei. Até a reconstituição da cidade de Esparta ou o vestuário dos guerreiros tem muitos elementos ficcionais.

Depois, existe uma estilização grande por causa do trabalho digital do filme. Na realidade, a maioria dos planos (perto de 1500) sofreu tratamento digital, o que torna o filme de um forte impacto visual, com cores vivas mas artificiais. As cenas de combate foram travadas, na realidade, sob um fundo azul do estúdio, a que se acrescentariam imagens do fundo da cena por computador - no campo, junto ao mar, na cidade.

Em terceiro lugar, devido à história ter sido retirada de uma banda desenhada, há uma aproximação a esta indústria cultural. Mas também ao universo dos videojogos. Na parte final dos combates, há dois espartanos que lutam contra os persas tomando posições como se fossem as de um videojogo. E ao mundo dos filmes de ficção científica, embora aqui o tempo seja o passado. Detecta-se a mesma construção de herói quase da grandeza de um deus, mas igualmente humano e com sentimentos e emoções. O filme, aliás, destinou-se a um grupo etário jovem, identificado com as narrativas do cinema do fantástico.

Uma outra ideia tem a ver com o trabalho de produção. As filmagens decorreram em 60 dias, ignorando eu o tempo de pós-produção, certamente muito mais demorado. Para dar um aspecto mais real às personagens, houve necessidade dos actores treinarem de modo físico para as cenas das lutas impressionarem muito. Depois, devido ao ecrã azul de fundo usado nas filmagens, actores e actrizes foram bastante maquilhados para acentuarem gestos e atitudes; no produto final, não há neles uma ruga, um sinal, um problema de pele.

Finalmente: em 300, Leónidas defende a liberdade e a democracia contra o ditador e opressor imperador da Pérsia. Na actualidade, os Estados Unidos reclamam esses valores da liberdade contra a ditadura do Irão. Será que os Estados Unidos se sentem o herdeiro universal da Grécia? Isto porque a sociedade militarizada de Esparta tinha regras distintas da democracia como hoje a entendemos. No filme, a mulher tinha um lado participativo que a democracia ateniense não possuía: às mulheres, como aos estrangeiros, escravos e crianças, estava vedado o direito de votar. Aqui, a rainha tem um papel activo e de negociação. O Irão actual é, afinal, a Pérsia antiga, embora as fronteiras não coincidam totalmente. E Leónidas é um homem valente, que olha de frente os desafios, com todo o corpo preparado para a luta, ao passo que Xerxes é um indivíduo afectado, barroco nos seus piercings e forma de expressão, duvidoso na sua estratégia. George W. Bush, o actual presidente americano, não é propriamente semelhante a Leónidas.


[imagens recolhidas do sítio Allocine.com]

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