sábado, 26 de janeiro de 2008

PÂNICO MORAL


Diz-se, com frequência, que os media são responsáveis pelos males que acontecem à sociedade. Espalham dúvidas, amplificam medos, repetem vezes sem conta desastres naturais ou provocados pela acção humana. Por vezes, os próprios media reconhecem isso, e fazem declarações, fixam restrições - auto-regulam-se. Lembro-me, em 2001, da queda da ponte de Entre-os-Rios. Em 2007, foi o caso Maddie, a menina inglesa desaparecida.

Há muitos anos atrás, um sociólogo britânico, Stan Cohen, qualificou essa amplificação dos media como a de pânico moral - cada notícia desperta em nós um medo: o da morte, o do desemprego, o do assalto, o da simples falta de água na torneira. Ao repetir à exaustão um acontecimento, ele transforma-se em pesadelo e nós ficámos esgotados, querendo fugir ou desligar da realidade mediática. É que a imagem repetida produz efeitos, pode afectar a nossa vida.

Não quero tomar partido, até porque não possuo uma informação precisa e distanciada, mas a audição das gravações de chamadas telefónicas ligadas a pedidos de ambulâncias, como as que se ouviram ontem e hoje, visa ir além dos agentes sociais directamente envolvidos. Porque se trata de um tópico que interessa a todos os cidadãos, o do serviço nacional de saúde, convém ter-se sentido dessa importância. Se alguém está a lesar esse serviço, o melhor é impedi-lo de continuar a fazê-lo. Mas, parece-me, começa a entrar-se na gritaria, na confusão, na falta de discernimento.

Observação: no final do ano passado, passou pelos ecrãs do cinema um filme sobre os hospitais de Bucareste, capital da Roménia, onde foi desarticulado o serviço nacional de saúde do país. A personagem principal do filme, um homem velho, acabaria por morrer porque os paramédicos andaram com ele de hospital em hospital em busca de uma vaga em cama. Não queremos que Portugal se atrase igualmente.

1 comentário:

Fernando Vasconcelos disse...

A comunicação social não é culpada do atraso económico ou organizacional de um país. Porém a comunicação social e vamos chamar as coisas pelos nomes os directores de programas, os chefe de redacção, os jornalistas são responsáveis isso sim pela escolha das noticias que passam e pela consequente imagem que resolvem passar do país. Nestes últimos anos o critério tem sido apenas um: Qualquer coisa desde que venda, desde que produza audiência é válido quer se trate de informação quer se trate de entretenimento. Auto-regulação? Desculpe-me mas tenho visto muito pouca. Tenho visto isso sim uma total permeabilidade ao espectáculo e não sei se pior do que isso uma total permeabilidade ao poder económico.