terça-feira, 1 de abril de 2008

REFLEXÕES SOBRE O "JORNALISMO POSITIVO" - A RESPOSTA DE EDUARDO CINTRA TORRES


A partir da mensagem aqui publicada no dia 30 de Março, Eduardo Cintra Torres respondeu-me. Eis o seu texto:

Caro Rogério,

Obrigado pela atenção. É bom saber que espicacei um leitor exigente!

Respondo-lhe à pressa, pelo que será uma resposta longa e decerto atabalhoada.

É claro que discordo de muito do que escreve. Em especial, o comentário ao meu último parágrafo, em que o Rogério deduz exageradamente a partir do que escrevi. Mas é habitual, pois quando se escreve Salazar ou fascismo torna-se muitas vezes impossível racionalizar o debate. O que lá está é o que lá está: os regimes políticos preferem o jornalismo positivo; eu vivi sob o fascismo e via o Telejornal todos os dias quando era rapaz; os telejornais eram 'jornalismo positivo'; achei que era um bom remate para o artigo, artigo de jornal, mas fundamentado com diversas citações, experiência de dezenas de anos de jornalismo, e artigo que comecei a escrever há um par de meses. Assim, o meu remate não é nada perigoso, é factual. Só teria sido preocupante ou perigoso se incluísse alguma mentira.

Não defendi que a questão se aplicasse apenas a Portugal. Está logo no primeiro parágrafo uma referência a que 'a questão é antiga e é geral'. E no segundo parágrafo cito diversas publicações estrangeiras de 'jornalismo positivo'. Mas há uma especificidade portuguesa: há centenas de referências em Portugal relacionando o eventual jornalismo 'negativo' ao carácter nacional português. Eu já tinha escrito essa parte do artigo quando surgiu o artigo de Vital Moreira, referindo-a também. Não podemos descartar esta especificidade.

O que escrevi confirma os estudos de que há mais notícias negativas. Parte do meu artigo é precisamente a explicar porquê. No seu comentário parece que eu digo o contrário.

Também não concordo com a ideia de que tenho 'uma agenda'. Acontece que me parece não haver mais ninguém fazendo na imprensa o tipo de abordagem em profundidade que eu faço a noticiários da RTP-SIC-TVI ou, já que a refere, a documentos da ERC. Se aparecerem outros a fazê-lo, óptimo. Liberta-me do fardo que sinto de prestar um serviço público aos meus leitores. O Rogério também poderia ter referido a minha 'agenda' de análise de documentários da RTP2 (quem mais a faz?), de reportagens televisivas, etc. Sendo crítico de TV e media é natural que tenha uma 'agenda' que implica matérias relacionadas com... a televisão, os media, as reportagens, a ERC, etc.

Sobre M. Schudson: não conheço o estudo; poderemos perguntar-lhe quando ele vier à Universidade Católica em breve se entre 1960-1992 aumentou apenas o tom negativista ou se aumentaram também - já agora - os acontecimentos negativos. É o período da guerra do Vietname, lutas pelos direitos civis, caso Watergate, etc. É muito importante não esquecer que o tom se aplica... a referentes do mundo real.

A dieta que me recomenda é óptima... mas eu tenho a minha 'agenda' de estudos académicos já cheia... A recomendação não calha com a minha actividade de crítico. Mas, de qualquer forma, sou muito atento a estas questões, e baseei-me em observações empíricas, certamente não científicas. Aliás, quando refutei todos os casos empíricos citados por Vital Moreira foi porque tenho a certeza absoluta do que escrevi.

Referi que o jornalismo 'positivo' resulta em parte do papel natural que os governos e outras autoridades assumem no realce do positivo e que isso contribui para um equilíbrio salutar em democracia. Não se pode inferir que eu ache que o jornalismo positivo é todo... negativo.

O facto de o P2 ser um caderno optimista, positivo, etc não serviria para mitigar o interesse do tema do jornalismo positivo, tema permanente da 'agenda' metajornalística em Portugal. Citei a propósito um debate do Clube de Jornalistas que vi com a máxima atenção. E citei um exemplo russo, a partir dum artigo de José Vítor Malheiros.

Uhf! Que mais poderia fazer num artigo de jornal?

Um abraço e mais uma vez obrigado pela sua reflexão partilhada.

Eduardo

1 comentário:

Anónimo disse...

REFLEXOES PARTILHADAS
O dialogo é uma boa coisa. é agradavel esta conversa civilizada e nos, leitores, a partilha-la.
Eu, confesso, li em primeiro lugar Rogério Santos: sim, os blogues promovem a leitura da imprensa!
Bom dia
MF