domingo, 21 de dezembro de 2008

FILMES

A sinopse do filme A Fronteira do Amanhecer (2008) de Philippe Garrel, apresenta-o como o romance entre uma estrela de cinema (Carole) e um fotógrafo (François), até ela morrer. François casaria com outra mulher, mas o fantasma de Carole está sempre presente. A sinopse do filme Paris (2008), de Cédric Klapisch, conta que, enquanto Pierre aguarda um transplante de coração que lhe salve a vida, a sua irmã Élise muda-se para o seu apartamento com os seus três filhos para cuidar dele. Pierre vê o mundo com um novo olhar, em especial através da sua varanda, com encontros e emoções, caso do professor de História que se apaixona por uma aluna.

A crítica foi mais favorável ao filme de Philippe Garrel (imagem a preto e branco de um grande valor estético) que ao filme interpretado por Juliette Binoche. Eu vi os dois no mesmo local (cinemas King), num espaço de poucos dias - e não admirei particularmente nenhum, a contragosto do meu colega C., que apreciara A Fronteira do Amanhecer. Aprofundei a minha opinião: dois filmes franceses intelectuais, longe dos problemas das pessoas, contando histórias inverosímeis e até irritantes pelo modo como filmam as actrizes Laura Smet (1983, filha do cantor pop Johnny Hallyday) e Juliette Binoche (1964 e com dois filhos) - os filmes param enquanto a câmara as olha. Mas recuei na minha apreciação, ao encontrarmos influências de filmes clássicos e de romances do fantástico de finais do século XIX, nomeadamente as inverosimilhanças de A Fronteira do Amanhecer.

Estabeleci iguais comparações com Caos Calmo (2008), de Antonio Luigi Grimaldi, onde Nanni Moretti faz a personagem de um viúvo que leva a filha à escola e se desprende do mundo profissional, passando a receber e reunir no banco do jardim onde passa o dia e estabelecer novas relações e emoções. A uma cena inicial de salvamento de uma mulher na praia corresponde, mais à frente, uma enorme cena de sexo repetindo os movimentos estabelecidos na ajuda à mulher em riscos de afogamento. O realizador concentra-se menos no rosto de Moretti, embora ele esteja sempre presente.

Já não é a paixão de jovens como em A Fronteira do Amanhecer nem sentimentos reprimidos ou culpabilizados como em Paris, mas está-se na ordem da linguagem e da comunicação com os outros. O local de encontro entre indivíduos em Caos Calmo adquire uma dimensão diferente que os outros filmes, pois substitui o tempo e o movimento de vaivém entre uns e outros, reduzindo-o a um espaço necessário à sobrevivência. A amizade, o sentimento e a descoberta de outras realidades são apreendidos nesse espaço vital mínimo.

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