
Tenho muito apreço pelo trabalho de Joaquim Vieira, provedor do leitor do jornal Público desde Janeiro do ano passado. Director do Observatório da Imprensa, foi antes director-adjunto do Expresso e director da revista Grande Reportagem, partilhou com Joaquim Furtado a responsabilidade dos destinos da televisão pública numa altura não muito longínqua e trabalhou na revista Visão, é autor de livros como Jornalismo Contemporâneo. Os media entre a era Gutenberg e o paradigma digital (2007) e fotobiografias de Amélia Rey Colaço (2009), Vasco Santana (2009) e Cardeal Cerejeira (2009), entre outras.
Vieira sucedeu, no cargo do Público, a Rui Araújo. Se este observou criticamente o trabalho dos jornalistas enquanto profissionais individuais (como no caso do plágio, em Janeiro de 2007), o presente provedor analisa o jornal como um todo. Embora com uma linguagem mais sóbria (menos agressiva) que Araújo, o objectivo continua a ser o mesmo: a crítica ao que está mal. Como Araújo, que dedicou muito espaço à necessidade de identificação das fontes de informação e ao modo de escrever em bom português, Vieira tem também um olhar atento sobre estes temas.
Mas entra num domínio que creio não ter sido feito por Rui Araújo: a crítica à orientação política do jornal. Ao analisar a coluna "Sobe e Desce", ele encara "a possibilidade de a secção assumir encapotadamente um espírito de campanha, o qual não está previsto no estatuto editorial do jornal". Mais à frente, escreve: "Não viria daqui mal ao mundo [se o jornal preferisse um governo liderado por Manuela Ferreira Leite, do PSD, em vez do actual do PS, liderado por José Sócrates], não fora o facto de o Público nunca se ter assumido editorialmente como oposição ao Governo, contrariando assim o princípio da «relação rigorosa e transparente» com os leitores que é enunciado no seu estatuto editorial".
Quase no fim do seu texto, Joaquim Vieira refere dez aspectos que não abonam a favor da secção "Sobe e Desce", conforme registo de jornalista do Público que lhe chegou ao conhecimento: "diversidade de critérios, maniqueísmo e simplificação de factos, personalização de temas, enganadoras relações causa-efeito, análise parcial da actualidade, incidência constante nas mesmas figuras, diferentes gradações de apreciação, obrigatoriedade de manter o mesmo número de tópicos por edição, simplificação na escolha de protagonistas, desproporção do impacto da opinião pública". Pelo contrário, apenas um aspecto favorável: os leitores gostam.
Conclui o provedor com os seguintes parâmetros: "coerência de critérios, ponderação, equilíbrio, objectividade, isenção e distanciamento".
Perdoe-me, caro provedor, mas penso que há um melhor caminho. Preferia que o jornal tomasse partido nas próximas eleições. Por que não - e por uma vez - o jornal identificar-se com uma causa ideológica? No mundo ocidental, como nos Estados Unidos e no Reino Unido, isso acontece com alguma frequência. No caso português, ficaria tudo muito mais claro para os leitores e fácil para os responsáveis do jornal.
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