domingo, 17 de maio de 2009

POLÍTICA


Tenho muito apreço pelo trabalho de Joaquim Vieira, provedor do leitor do jornal Público desde Janeiro do ano passado. Director do Observatório da Imprensa, foi antes director-adjunto do Expresso e director da revista Grande Reportagem, partilhou com Joaquim Furtado a responsabilidade dos destinos da televisão pública numa altura não muito longínqua e trabalhou na revista Visão, é autor de livros como Jornalismo Contemporâneo. Os media entre a era Gutenberg e o paradigma digital (2007) e fotobiografias de Amélia Rey Colaço (2009), Vasco Santana (2009) e Cardeal Cerejeira (2009), entre outras.

Vieira sucedeu, no cargo do Público, a Rui Araújo. Se este observou criticamente o trabalho dos jornalistas enquanto profissionais individuais (como no caso do plágio, em Janeiro de 2007), o presente provedor analisa o jornal como um todo. Embora com uma linguagem mais sóbria (menos agressiva) que Araújo, o objectivo continua a ser o mesmo: a crítica ao que está mal. Como Araújo, que dedicou muito espaço à necessidade de identificação das fontes de informação e ao modo de escrever em bom português, Vieira tem também um olhar atento sobre estes temas.

Mas entra num domínio que creio não ter sido feito por Rui Araújo: a crítica à orientação política do jornal. Ao analisar a coluna "Sobe e Desce", ele encara "a possibilidade de a secção assumir encapotadamente um espírito de campanha, o qual não está previsto no estatuto editorial do jornal". Mais à frente, escreve: "Não viria daqui mal ao mundo [se o jornal preferisse um governo liderado por Manuela Ferreira Leite, do PSD, em vez do actual do PS, liderado por José Sócrates], não fora o facto de o Público nunca se ter assumido editorialmente como oposição ao Governo, contrariando assim o princípio da «relação rigorosa e transparente» com os leitores que é enunciado no seu estatuto editorial".

Quase no fim do seu texto, Joaquim Vieira refere dez aspectos que não abonam a favor da secção "Sobe e Desce", conforme registo de jornalista do Público que lhe chegou ao conhecimento: "diversidade de critérios, maniqueísmo e simplificação de factos, personalização de temas, enganadoras relações causa-efeito, análise parcial da actualidade, incidência constante nas mesmas figuras, diferentes gradações de apreciação, obrigatoriedade de manter o mesmo número de tópicos por edição, simplificação na escolha de protagonistas, desproporção do impacto da opinião pública". Pelo contrário, apenas um aspecto favorável: os leitores gostam.

Conclui o provedor com os seguintes parâmetros: "coerência de critérios, ponderação, equilíbrio, objectividade, isenção e distanciamento".

Perdoe-me, caro provedor, mas penso que há um melhor caminho. Preferia que o jornal tomasse partido nas próximas eleições. Por que não - e por uma vez - o jornal identificar-se com uma causa ideológica? No mundo ocidental, como nos Estados Unidos e no Reino Unido, isso acontece com alguma frequência. No caso português, ficaria tudo muito mais claro para os leitores e fácil para os responsáveis do jornal.

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