Era uma loja de boa imagem, com um nome a condizer pois tinha um y no meio. Hoje, reparei que a montra estava tapada com uma folha a toda a sua dimensão e a mensagem habitual a informar que, para qualquer assunto, devia ser contactado um número de telefone. Não muito longe, no centro comercial, vi que três lojas encerraram nestes últimos dias.
No último sábado, Helmut Kohl, o antigo chanceler alemão, fez 80 anos. Como lembrava Timothy Garton Ash (li o seu texto no El Pais, de 2 de Abril), Kohl foi o chanceler da união europeia económica e, por sorte, da unidade alemã. A Alemanha de Angela Merkel é, agora, um país normal, como o são os outros dois grandes europeus: França e Reino Unido. Por isso, na recente crise grega, e portuguesa e espanhola, tomou uma atitude de menor dinamismo. Primeiro, a Alemanha tem de pensar em si; só depois é que pensa nos outros. Já chega ser o motor da economia e o pagador dos desvarios económicos dos outros. Talvez o melhor seja criar dois níveis da moeda euro: o nordo ou neuro, mais forte para os países do norte, e o sudo ou pseudo, mais frágil para os países do sul. Garton Ash, oriundo de um país que manteve a sua moeda, a libra, o que permitiu uma forte desvalorização o ano transacto e o equilíbrio da balança comercial (com os seus produtos a exportarem mais), é pessimista. Talvez esta Primavera represente o princípio do fim da eurozona, escreveu. E, agora que se anunciam eleições para o Reino Unido, em que os conservadores são os mais que prováveis vencedores, os eurocépticos crescem, mesmo que aquele país não esteja na zona euro. A Alemanha - que renunciou ao seu amado marco - fica com mais razão moral, o que a permite estabelecer acordos com outras partes do mundo, como recentemente com a Rússia, para cobrir as suas necessidades energéticas, sem qualquer crítica dos outros parceiros europeus.
Numa importante entrevista a Teresa de Sousa no Público de ontem, Eduardo Lourenço concluia que a Europa não é ninguém como actor político, pois a Alemanha ou a França são muito mais importantes em si que a União Europeia. Além que o Reino Unido é um país dúplice: por um lado, parece um cavalo de Tróia, pois nunca se pode contar muito com aquele país; por outro lado, é o único país que teve uma visão da globalização quando teve o seu império colonial. Pessimista, Lourenço não percebe o papel da França, paradigma de tanta coisa, como a língua das elites, que desapareceu em 50 anos. Repete que a França tem elites fantásticas, mas elas não sabem o que fazer com a globalização. Sobre Portugal, o velho pensador entende que aceitamos a Europa passivamente, com benefícios e sem responsabilidades.Coloca apenas uma perspectiva optimista: a classe jovem viaja muito, passou a ter as mesmas regalias que a grande burguesia antes das duas guerras mundiais, quando se andava sem passaporte.
Talvez tudo isto explique o encerramento da loja que tinha um y no meio do nome da marca. Numa crescente esquizofrenia nacional, ouvimos dizer que a nossa produtividade é muito baixa, mesmo se comparada com a grega, que tem uma dívida pública maior. Será mais fácil à Grécia sair do precipício em que se enterrou do que o nosso pequeno país.
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