De que falamos quando falamos de POVO? Este é o ponto de partida desta exposição, que propõe uma viagem pelos múltiplos sentidos deste conceito e da palavra que o nomeia. Com uma história milenar, é, contudo, nos últimos três séculos - do advento de liberalismos, nacionalismos e socialismos à actualidade - que se constrói uma ideia contemporânea de POVO. É isso que aqui se mostra.
[do folheto da exposição POVO, patente no Museu da Electricidade, uma das exposições que comemoram os cem anos de República em Portugal, até 19 de Setembro]
José Neves, coordenador da obra Como se Faz um Povo (Tinta da China), integrada na exposição, prefere identificar assim o povo:
"Trata-se, nestes discursos, de elaborar uma biografia - no caso, a biografia de um sujeito colectivo - e de desenvolver narrativas que procuram retratar uma nação ou um povo - no caso, Portugal e o povo português -, presumindo-se um sentido, que será possível ao historiador reconhecer, de modo a apurar uma identidade por entre as atribulações de uma ou mais vidas e dos caminhos astuciosos que estes tomam". (p. 13).
O livro tem quatro partes, com os temas: representação, cidadania e política popular; identidade nacional, cultura popular e revolução; sociedade, economia e quotidiano; arte, espectáculo e dissensão. Nesta última parte, conta com textos de Luís Trindade, João Pinharanda, Emília Tavares, Vítor Pavão dos Santos, Eduardo Cintra Torres, Rui Bebiano e Tiago Baptista.
No caso específico do texto de Cintra Torres, sobre televisão, ele fala de um tempo de televisão pastoral (ou pastoril?) - sobre a vida dos pobres e dos rurais -, correspondente aos anos iniciais da televisão em Portugal e ao tempo do regime do Estado Novo, e de um modelo pequeno-burguês, tipificado nos programas de variedades e em especial no Big Show SIC, com o "apresentador aos gritos, gargalhadas e saltos, um falso macaco como companheiro, povo-público em estúdio, de pé, dançando com os músicos, depois chamados pimba" (p. 436). Para o final da década de 1980, Cintra Torres defende um terceiro modelo, apesar da diversidade de plataformas (cabo, DVD), a televisão de consensualidade graças a programas como talk shows (Oprah Winfrey, Gato Fedorento). Contudo, e neste mesmo tempo, o autor distingue, por um lado, a elite cultural, com recursos a programas diversificados mais de seu agrado e, por outro lado, a perda da premência comunicação televisiva para o povo (p. 437). A meu ver, a consensualidade vai-se perder e o poder da televisão reparte-se com outras plataformas; o povo diversifica gostos. Ou, então, ele dilui-se como povo.
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