Hoje é o dia derradeiro da representação da peça O rei está a morrer de Eugène Ionesco no teatro Comuna, numa encenação de João Mota.
Logo no começo da peça se anuncia que o rei Bérenger (Carlos Paulo) vai morrer no final do espectáculo (90 minutos depois). Quem o diz é Margarida (Tânia Alves), primeira mulher do rei, enquanto Maria (Ana Lúcia Palminha), segunda mulher do rei, procura manter vivo o seu amor. Margarida é apoiada pelo médico e carrasco (Rui Neto), enquanto a empregada (Mia Farr) e o sentinela (Alexandre Lopes) manifestam sentimentos contraditórios.
No texto que acompanha a apresentação da peça, lê-se: "Uma comédia que mostra o quão ridículos podemos ser quando nos confrontamos com a efemeridade da vida e o inútil apego que temos às coisas materiais". Ionesco, um dos principais nomes do teatro do absurdo, reflecte sobre o poder e a perda de poder e o modo como cada indivíduo olha a realidade e a morte que se aproxima cada dia ou cada hora. O rei Bérenger julgava ter o poder de fazer chuva ou mudar a orientação e movimento dos astros, mas o seu reino já se afundava no abismo, ou as fronteiras reduziam porque os países vizinhos aproveitavam a sua falta de força para imporem novas fronteiras, e os cidadãos morriam (afogados, assassinados, por desleixo ou falta de convicções). O poder já estava noutras mãos, nas da primeira mulher (e também no físico e médico e carrasco), enquanto se assiste à lenta e pouco digna agonia do rei.
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