Adalberto Silva Silva, uma interpretação de Ivo Alexandre a partir de monólogo de Jacinto Lucas Pires, esteve em cena no teatro Carlos Alberto, no Porto, na série Solos (de que já fiz aqui referência). É a história de um homem comum que conta a sua história de paixão por uma rapariga, uma deusa, como ele diz ao começo.
[imagem à esquerda retirada do sítio do Teatro Municipal Joaquim Benite]
Ele viu-a a primeira vez na saída do supermercado, estava carregada com sacos pesados. Ia para uma festa. Ele ofereceu-se para a ajudar até ao carro dela. Ela, Miriam, já não sabia onde o deixara. No final, ele deixou cair os ovos, ela zangou-se. Voltaram a encontrar-se num outro dia, no mesmo sítio, pois ele passara a escrutinar diariamente o local à procura dela. Trocaram os números de telefone. Um dia, ela pediu-lhe outra ajuda: a mudar as coisas da sua casa, pois ia deixá-la. Ele era tão grande amigo dela, ele acreditava que ela também estava apaixonada por ela. Pura ilusão: ela ia casar e convidou-o para padrinho.
A história é interessante, mas o melhor é o modo como ela é construida, contada e interpretada. O homem normal fala do seu sonho, procura ser um apresentador de televisão, um pivot de telejornal, e até narra qualquer coisa parecida com publicidade (tipo: Paranóia, à venda em parafarmácias). Tem um microfone e um brinquedo de sons, este a funcionar como separador musical. Em vez de notícias, há a história dele, Adalberto. Diversas interrupções ajudam a resituar e a recontar a história, até que ela fica mais clara para os espectadores.
Jacinto Lucas Pires diz que o seu interesse em trabalhar com Ivo Alexandre também resultou do estado actual de crise económica, pois a peça é barata: um escritor e um actor. Não há produtor ou encenador, não há teatro que produz [ver aqui no link uma curta apresentação da peça].
Um dia, os dois encontraram-se numa sala de ensaios do CCB: Jacinto Lucas Pires trazia algumas páginas e um nome, Adalberto Silva Silva, e Ivo Alexandre trazia-se a ele próprio. A ideia de fazer teatro pobre, mínimo, foi-se desenvolvendo: um anti-herói começou a germinar. No dia seguinte, o escritor acrescentou palavras e o actor deu-lhe alma e corpo, acrescentando-se na história umas quebras tipo anúncios-parêntesis-canções. Ao fim de uma semana ou duas de ensaios tinham construído uma peça. Depois, houve um intervalo, com cada um a ir à sua vida, até que se reencontraram numa sala de ensaios do teatro de Almada, uma sala de café-concerto, passaram pelo Teatro Académico Gil Vicente e agora passaram também pelo Porto.
Diz Adalberto em Adalberto Silva Silva: "Claro que dá muito trabalho isto de ser artista e de querer ser cada vez mais e mais e mais artista. Sim, sim. Temos aulas de leitura rápida com exercícios de teleponto e karaoke, temos trabalho intensivo de ginásio (musculação e massagem) e também introdução à telegenia, que é uma das cadeiras mais difíceis e exigentes [...]. E ainda temos treino de microfone. Aprendemos a colocar a voz lá em baixo, lá no fundo. «U-a-u-a-u-a-u». [...] E depois também temos, naturalmente, o «persônal cáutchim" que nos dá umas técnicas de como falar com números".
Ele viu-a a primeira vez na saída do supermercado, estava carregada com sacos pesados. Ia para uma festa. Ele ofereceu-se para a ajudar até ao carro dela. Ela, Miriam, já não sabia onde o deixara. No final, ele deixou cair os ovos, ela zangou-se. Voltaram a encontrar-se num outro dia, no mesmo sítio, pois ele passara a escrutinar diariamente o local à procura dela. Trocaram os números de telefone. Um dia, ela pediu-lhe outra ajuda: a mudar as coisas da sua casa, pois ia deixá-la. Ele era tão grande amigo dela, ele acreditava que ela também estava apaixonada por ela. Pura ilusão: ela ia casar e convidou-o para padrinho.
A história é interessante, mas o melhor é o modo como ela é construida, contada e interpretada. O homem normal fala do seu sonho, procura ser um apresentador de televisão, um pivot de telejornal, e até narra qualquer coisa parecida com publicidade (tipo: Paranóia, à venda em parafarmácias). Tem um microfone e um brinquedo de sons, este a funcionar como separador musical. Em vez de notícias, há a história dele, Adalberto. Diversas interrupções ajudam a resituar e a recontar a história, até que ela fica mais clara para os espectadores.
Jacinto Lucas Pires diz que o seu interesse em trabalhar com Ivo Alexandre também resultou do estado actual de crise económica, pois a peça é barata: um escritor e um actor. Não há produtor ou encenador, não há teatro que produz [ver aqui no link uma curta apresentação da peça].
Um dia, os dois encontraram-se numa sala de ensaios do CCB: Jacinto Lucas Pires trazia algumas páginas e um nome, Adalberto Silva Silva, e Ivo Alexandre trazia-se a ele próprio. A ideia de fazer teatro pobre, mínimo, foi-se desenvolvendo: um anti-herói começou a germinar. No dia seguinte, o escritor acrescentou palavras e o actor deu-lhe alma e corpo, acrescentando-se na história umas quebras tipo anúncios-parêntesis-canções. Ao fim de uma semana ou duas de ensaios tinham construído uma peça. Depois, houve um intervalo, com cada um a ir à sua vida, até que se reencontraram numa sala de ensaios do teatro de Almada, uma sala de café-concerto, passaram pelo Teatro Académico Gil Vicente e agora passaram também pelo Porto.
Diz Adalberto em Adalberto Silva Silva: "Claro que dá muito trabalho isto de ser artista e de querer ser cada vez mais e mais e mais artista. Sim, sim. Temos aulas de leitura rápida com exercícios de teleponto e karaoke, temos trabalho intensivo de ginásio (musculação e massagem) e também introdução à telegenia, que é uma das cadeiras mais difíceis e exigentes [...]. E ainda temos treino de microfone. Aprendemos a colocar a voz lá em baixo, lá no fundo. «U-a-u-a-u-a-u». [...] E depois também temos, naturalmente, o «persônal cáutchim" que nos dá umas técnicas de como falar com números".