sábado, 6 de julho de 2013

Eldorado

eldoradoCamila, Tânia e Maria da Luz são jovens com cerca de 25 à procura de emprego. Respondem a um anúncio que prometia o emprego da vida. Encontram-se na sala de espera da empresa. Como concorrentes, a relação entre elas é fria. Mas fica-se a conhecer rapidamente a personalidade de cada uma. A primeira é mais extrovertida, a segunda é mais tímida, a terceira parece dissimulada. O entrevistador chega contente e reforça a ideia de um emprego de sonho, o Eldorado do título da peça.

Perguntas de perfil psicológico, provas de dramatização pessoal (para ver as capacidades individuais), algumas delas violentas. Mas o objetivo é conseguir o lugar. Mais peripécia menos peripécia, há lugar para as três. Só nessa altura perguntam o salário e o tipo de trabalho. O entrevistador e empregador é ambíguo mas continua a dizer que elas vão gostar de trabalhar no novo emprego. Elas vão para fora da cidade preparar kits alimentares de sobrevivência (ou outra coisa parecida). As habilitações literárias, as performances desempenhadas nas entrevistas e, até, a insinuação sensual já não parecem contar.

No ar paira a incerteza e a dúvida. Quando uma ameaça ir-se embora buscar uma coisa a casa, o empregador aponta o dedo ameaçador. As jovens ficam à espera do autocarro que as vai levar ao posto de trabalho. Além da precariedade evidente, a relação entre empregador e empregado é violenta, a lembrar o tempo da longa espera, na praça principal da aldeia, do camião que leva os candidatos a trabalhador para a plantação ou fábrica. Os mais ágeis saltam para cima do camião, os outros só lá entram com a ajuda e solidariedade dos já instalados.

Da parca sinopse que acompanha o programa lê-se “As personagens agarram-se de forma desesperada a uma esperança que pensam ser a solução dos seus problemas. Eldorado reflete (de forma irónica?) o panorama atual”. Eldorado tem direção artística, criação e construção do texto de Joana Moraes, com Ana Vargas, Gilberto Oliveira, Joana Carvalho e Sara Costa. Cartaz de Pascal Ferreira. Encenação minimalista, uma espécie de teatro pobre e direto ao espectador, boa condução dos atores. Os risos dos espectadores na representação de estreia (que não compreendi a maior parte das vezes) perturbou o trabalho dos atores. A sala, improvisada no Campo Mártires da Pátria, junto à antiga prisão central do Porto, mostra uma casa portentosa. Século XVIII? Um improvisado espaço, por generoso que seja, encobre dificuldades de organização dos eventos e das estruturas. Assim, o trabalho daquele grupo de jovens que ama o teatro, no coletivo chamado Musgo, tem uma mais árdua tarefa de continuidade.