Numa recente comunicação que fiz em congresso, referi a distinção entre música séria e música ligeira. Chamaram-me a atenção para a primeira designação. Sim, eu não actualizara a designação para música clássica ou erudita. Recupero uma história sobre a música séria, a partir de um texto de José Manuel Serra Formigal (25 de Novembro de 1963). Ignoro se ele publicou o magnífico texto sobre a relação entre música clássica e música ligeira, de que publico aqui um pequeno excerto:
“Não negamos portanto à música ligeira a possibilidade do bom gosto, da originalidade, do encanto. Há exemplos dela no passado e no presente. Apenas reconhecemos que por um lado ficará, mesmo essa, sempre música ligeira pelas razões apontadas e também que a grande massa da música assim designada atualmente tocada e adorada pelas massas não é desse cariz mas do que atrás apontamos. Tal estado de coisas produz uma equivalência e até inversão de valores de que o cinema, a rádio, as revistas de atualidades, etc., nos evidenciam diariamente. São raras, por exemplo, nas nossas revistas de actualidades da rádio, as referências a celebridades da música séria que também actuam na rádio, enquanto que abundam as fotografias, os artigos e os títulos na glorificação de qualquer pseudo-vedeta da música ligeira. Fizeram escola os filmes americanos em que se estabelece o diálogo entre a música séria e a ligeira quase sempre em proveito desta. Como corolário verifica-se que os honorários dos artistas ligeiros são fabulosos. Por exemplo, entre nós, o Francisco José ou o Rui Mascarenhas são milionários ao pé de um Vasco Barbosa ou de um Álvaro Malta quanto aos seus rendimentos artísticos; um [Johnny] Halliday deixa a perder de vista um [Ernest] Ansermet” [1883-1969].
José Manuel Serra Formigal (1925-2011), jurista, diretor do Teatro da Trindade e da Companhia Portuguesa de Ópera que ali foi residente, e presidente do conselho de administração do Teatro Nacional de São Carlos. Foi grande cultor da música clássica e entusiasta da ópera em Portugal. Na Emissora Nacional (actual RDP, do grupo RTP), ocupou o lugar de Chefe de Repartição de Programas Musicais.
“Não negamos portanto à música ligeira a possibilidade do bom gosto, da originalidade, do encanto. Há exemplos dela no passado e no presente. Apenas reconhecemos que por um lado ficará, mesmo essa, sempre música ligeira pelas razões apontadas e também que a grande massa da música assim designada atualmente tocada e adorada pelas massas não é desse cariz mas do que atrás apontamos. Tal estado de coisas produz uma equivalência e até inversão de valores de que o cinema, a rádio, as revistas de atualidades, etc., nos evidenciam diariamente. São raras, por exemplo, nas nossas revistas de actualidades da rádio, as referências a celebridades da música séria que também actuam na rádio, enquanto que abundam as fotografias, os artigos e os títulos na glorificação de qualquer pseudo-vedeta da música ligeira. Fizeram escola os filmes americanos em que se estabelece o diálogo entre a música séria e a ligeira quase sempre em proveito desta. Como corolário verifica-se que os honorários dos artistas ligeiros são fabulosos. Por exemplo, entre nós, o Francisco José ou o Rui Mascarenhas são milionários ao pé de um Vasco Barbosa ou de um Álvaro Malta quanto aos seus rendimentos artísticos; um [Johnny] Halliday deixa a perder de vista um [Ernest] Ansermet” [1883-1969].
José Manuel Serra Formigal (1925-2011), jurista, diretor do Teatro da Trindade e da Companhia Portuguesa de Ópera que ali foi residente, e presidente do conselho de administração do Teatro Nacional de São Carlos. Foi grande cultor da música clássica e entusiasta da ópera em Portugal. Na Emissora Nacional (actual RDP, do grupo RTP), ocupou o lugar de Chefe de Repartição de Programas Musicais.
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