segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Byung-Chul Han

Descobri agora Byung-Chul Han. A editora Relógio d'Água editou de uma só assentada três livros do filósofo coreano mas a trabalhar e investigar na Alemanha: A Sociedade do Cansaço, A Sociedade da Transparência, A Agonia de Eros. Li os livros numa frenética sequência. Eles também não são grandes e dividem-se em capítulos pequenos. Li-os, compreendo e não compreendendo tudo o que escreveu. Certamente uma segunda leitura é-me recomendada.



 Primeira surpresa, o seu currículo. Ele estudou metalurgia no seu país de origem. Como queria estudar filosofia e a família e o meio cultural da Coreia do Sul não facilitavam, ele foi para a Alemanha, primeiro para aprender a língua e depois para aprender filosofia. Tornou-se familiar das leituras de Nietzsche e de Heidegger. Sobre o último, escreveu a sua tese de doutoramento. Nos livros agora editados em português, o autor evidencia um longo conhecimento daqueles dois filósofos mas também de Freud, Barthes, Benjamin, Agamben, Foucault, Baudrillard, Deleuze.

Nos capítulos, há uma espécie de técnica de apresentação do tema. Ele cita um autor, enaltece o seu ponto de vista mas depois faz uma crítica quase impiedosa. Assim, Han cria polémica, o que estimula a leitura, não tenho dúvidas. No primeiro livro, por exemplo, refere e critica Esposito, Foucault, Arendt. Mas cria um pensamento novo e provocador. Retiro algumas ideias: imunologia e negatividade, tédio e cansaço (que leva ao burnout, ou cansaço permanente), vida activa e incapacidade contemplativa, positividade da presente sociedade, sociedade disciplinar versus sociedade produtiva, sociedade da exposição e sociedade porno, obscenidade, perda do amor em detrimento da depressão do sucesso e do narcisismo.

Voltando às críticas que faz a outros autores e à sua arrumação posterior, retenho a análise feita a Agamben (A Agonia de Eros, pp. 35-39). Para Agamben, o museu substitui o templo, e seculariza o que é sagrado, na medida em que os objectos dentro do museu não têm uso livre. Antes, os peregrinos andavam de santuário em santuário, para rezar; agora, os turistas viajam pelo mundo tornado museu. Sacralização e profanação opõem-se, diz Han de Agamben. Ora, para Han, a musealização aniquila o valor dos objectos, em benefício da exposição. Já em A Sociedade da Transparência, Byung-Chul Han tratara o tema a partir de Benjamin (pp. 21-27). Na sociedade positiva, as coisas transformam-se em mercadorias e um objecto cultual desaparece em benefício do seu valor de exposição.

O tema central dos textos agora publicados por Han relaciona-se com o tempo. Para ele, vive-se numa época em que não há tempo. O indivíduo, preocupado com a produção, perde a dimensão de pensar e refletir. Uma sociedade de tarefas múltiplas em simultâneo (multitasking) não tem tempo senão para a repetição, para reproduzir o já existente. Em última instância, o filósofo coreano entende haver direito à reflexão e até à preguiça como modo de escutar e atentar à sua volta. A liberdade reside aqui, conclui.

De Han se diz evitar dar entrevistas e referir o seu currículo. De uma entrevista dada ao El Pais (22 de Março de 2014), percebe-se melhor o seu pensamento:

"No hay, sin embargo, que confundir la seducción con la compra. “Creo que no solo Grecia, también España, se encuentran en un estado de shock tras la crisis financiera. En Corea ocurrió lo mismo, tras la crisis de Asia. El régimen neoliberal instrumentaliza radicalmente este estado de shock. Y ahí viene el diablo, que se llama liberalismo o Fondo Monetario Internacional, y da dinero o crédito a cambio de almas humanas. Mientras uno se encuentra aún en estado de shock, se produce una neoliberalización más dura de la sociedad caracterizada por la flexibilización laboral, la competencia descarnada, la desregularización, los despidos”. Todo queda sometido al criterio de una supuesta eficiencia, al rendimiento. Y, al final, explica, “estamos todos agotados y deprimidos. Ahora la sociedad del cansancio de Corea del Sur se encuentra en un estadio final mortal”. En realidad, el conjunto de la vida social se convierte en mercancía, en espectáculo. La existencia de cualquier cosa depende de que sea previamente “expuesta”, de “su valor de exposición” en el mercado. Y con ello “la sociedad expuesta se convierte también en pornográfica. La exposición hasta el exceso lo convierte todo en mercancía. Lo invisible no existe, de modo que todo es entregado desnudo, sin secreto, para ser devorado de inmediato, como decía Baudrillard”. Y lo más grave: “La pornografía aniquila al eros y al propio sexo”. La transparencia exigida a todo es enemiga directa del placer que exige un cierto ocultamiento, al menos un tenue velo. La mercantilización es un proceso inherente al capitalismo que solo conoce un uso de la sexualidad: su valor de exposición como mercancia." (texto acedido hoje).

1 comentário:

capitu disse...

Eu também gostei muito de ler este autor e descobri-lo nos últimos tempos.Será que virá ao Brasil também?