quinta-feira, 16 de abril de 2015

Da História em Luís Reis Torgal

Luís Reis Torgal tem tido um percurso dedicado à História moderna e contemporânea, aqui com trabalhos sobre o Estado Novo e o cinema neste período, além da sua marca em centros de investigação e revistas. O novo livro, História. Que História? é uma espécie de balanço. Não se trata de um texto sobre teoria da história mas possui um conjunto de reflexões sobre historiadores, ensino, relação da história e do jornalismo, ideologia e participação cívica.

O título remete para outro, de Diogo Ramada Curto, que Torgal elogia chamando-lhe estrangeirado, mas onde se nota ainda uma crítica. Ramada Curto diz estar a historiografia portuguesa atrasada, Reis Torgal considera-a actual. Da discussão entre história circular e linear, o autor recupera e integra a longa genealogia dos historiadores portugueses desde o século XIX. As diferenças de pontos de vista são menores (de ofício, de olhar político) quando comparadas com a alegria da produção do historiador. Os comentários mais críticos vão para a presente visão governamental e para a ideia de jornalistas serem historiadores, confundindo a superficialidade e a procura de celebridades e espectáculos, no que designa de império de divulgação e opinião, e esquecendo que a história precisa de heurística e hermenêutica.

Um capítulo interessante deste novo livro é aquele sobre ideologia e memória. Quando há mudança de regime político ou até de uma simples alteração de partido no governo, existe a tentação de alterar a realidade e as imagens. As páginas dedicadas ao tema são deliciosas porque mostram essas pequenas ou grandes manipulações. Um exemplo apenas: depois de 1974, em Coimbra, a avenida Arantes e Oliveira, ministro de Salazar, deu origem à avenida general Humberto Delgado, oposicionista de Salazar.

O leitor espera sempre mais de uma obra, o que é uma exigência despropositada. A obra é aquela e não uma outra. Mas não deixo de sublinhar que em História. Que História? falta a discussão (ou tem muito pouco espaço) da História na pós-modernidade, com as suas múltiplas correntes - história social, história cultural, micro-história.

Luís Reis Torgal é professor catedrático jubilado da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.

Leitura: Luís Reis Torgal (2015). História. Que História? Lisboa: Temas e Debates / Círculo de Leitores, 221 p., 16,60 euros

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