O livro organizado por José Ricardo Carvalheiro, As Caixas Mudaram o Mundo? Usos Femininos dos Media no Estado Novo, resulta da investigação inserida num projecto da Universidade da Beira Interior financiado pela FCT. Objectivo: saber os consumos dos media e a sua recepção pelo género feminino a partir da década de 1940, ou, como o livro diz mais acertadamente: "trabalhar com memórias acerca da recepção mediática na ditadura" (p. 10).
O meu ponto de descoberta foi o texto do organizador do livro "História oral, memória e recepção mediática". Nele, o autor procura "reconstituir e compreender o passado" (p. 45), o que o leva a captar as práticas e os contextos de uso dos media e os compreender na dimensão diacrónica (histórica). No texto, também se fala de memória e identidade, biografias e apreensão da recepção no passado e da interpretação dos textos às práticas significativas. Como corpo de observação empírica, a equipa de investigação conduziu 57 entrevistas a mulheres nascidas antes da Segunda Guerra Mundial e o início das emissões de televisão (1939-1957) em associações na Covilhã e em Coimbra em núcleos fabris e de serviços das duas cidades (p. 134). A partir das entrevistas, a equipa procurou reconstituir histórias de vida. Aqui, reside a riqueza da investigação agora publicada e que, além de José Ricardo Carvalheiro, inclui os nomes de João Carlos Correia, Maria João Silveirinha, Sara Portovedo, Diana Tomás e Catarina Valdigem.
Um dos outros capítulos que gostei de ler foi o dedicado às narrativas de vida de quatro lisboetas sobre a recepção da rádio, igualmente escrito pelo organizador do volume. Carvalheiro destaca as estruturas de relevância e as práticas criativas de recepção (p. 160). O livro insere-se na colecção "Comunicação, História e Memória", da MinervaCoimbra, dirigida por Isabel Vargues. Da colecção, já fiz aqui comentários do livro de Carolina Ferreira Os Media na Guerra Colonial.
Leitura: José Ricardo Carvalheiro (2014). As Caixas Mudaram o Mundo? Usos Femininos dos Media no Estado Novo. Coimbra: MinervaCoimbra, 284 páginas, 21 euros
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