terça-feira, 2 de junho de 2015

Omar Shariff

Há dias, os media anunciaram que Omar Shariff estava doente com Alzheimer, incapaz já de conhecer o próprio filho. Ele representou uma geração de cinema e de público de cinema.

Aqui, recordo a sua vinda a Portugal em 1969, a primeira vez que tirava férias em vários anos e em que aproveitou para jogar bridge, a sua paixão pelas cartas (Diário Popular, 18 de abril de 1969). No mesmo jornal, no dia seguinte, outro texto faz-se acompanhar de uma fotografia em que se vê ele a jogar, absorto do que se passava à sua volta. Ele perdeu mas sentiu-se feliz. E avisava que não queria ser importunado antes das treze horas de cada dia.

Nessa época, a vinda de estrelas a Portugal (a rodagem de uma parte de um filme em que O Santo se casa foi também muito badalada em notícias) era uma janela para o mundo além da rotina do regime político. Marcelo Caetano fez uma viagem pelas principais colónias mantidas por Portugal em África. Na chegada a Bissau, a legenda da fotografia indicava que ele "acena para a multidão". As únicas pessoas que se veem é a sua própria comitiva (Diário Popular, 14 de abril de 1969). Logo depois, em Moçambique, ele disse: "Deve ser cada vez mais larga e importante a participação dos povos no governo local" (Diário Popular, 18 de abril de 1969). Por essa altura, anunciava-se que um importante chefe do norte de Moçambique tinha abandonado a Frelimo.

O II Congresso Republicano arrancava em Aveiro, com algumas páginas do Diário Popular sobre o assunto (caso da edição de 16 de maio de 1969), logo depois da quase enigmática nota do gabinete do ministério da Educação sobre o encerramento das aulas na Universidade de Coimbra (Diário Popular, 6 de maio): "Não haverá, assim, qualquer atividade escolar até ao início dos exames". Quem não tivesse outros canais de informação, ignoraria o que se passou. Um pouco mais clara era a notícia de desacatos na Faculdade de Medicina, com a Polícia Judiciária a instaurar inquérito a 50 estudantes (Diário Popular, 27 de maio de 1969). E mais claro ainda o regresso do bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes. Diria este: "Não é o exílio que custa. O que custa é ser bispo" (Diário Popular, 21 de junho de 1969). O regresso do bispo seria apreciado pelo New York Times, pois isso se integraria "na política de liberalização" de Caetano.

As eleições de 1969 aproximavam-se e Caetano ia revelando as suas ideias: "Não tenciono fazer uma revolução - as alterações virão a seu tempo" (declarações ao New York TimesDiário Popular, 19 de maio de 1969), "O Chefe do Giverno quer andar depressa mas não iludir ou mentir aos seus concidadãos" (dito no Porto, Diário Popular, 21 de maio de 1969), "As revoluções mais fáceis e baratas são as revoluções verbais: deixam-se ficar as coisas e mudam-se-lhe os nomes" (dito ainda no Porto, Diário Popular, 22 de maio de 1969).

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