terça-feira, 21 de julho de 2015

O táxi de Jafar Panahi

O dissidente iraniano Jafar Panahi (1960-) ganhou o Urso de Ouro da Berlinale, o festival de cinema de Berlim, com Taxi. Dias antes, o mesmo filme recebera o prémio Fipresci (Federação Internacional de Críticos de Cinema).

O filme conta a história de um taxista que monta dissimulada uma câmara de filmar e segue as conversas dos seus clientes. Nunca vimos a ação senão dentro do táxi. É como se estivéssemos presos dentro de uma caixa. Aliás, Panahi não pode sair do Irão para receber o prémio mas a própria sobrinha, que entra no filme como sobrinha. Para o júri do festival de Berlim, o realizador criou "uma carta de amor ao cinema". Se as primeiras personagens do filme revelam pessoas comuns com problemas aparentemente vulgares, há um crescendo de densidade, visível no diálogo entre o "profissional" de assaltos (à falta de uma melhor definição minha) e a professora, com o primeiro a acusar a segunda de não usar o véu a tapar o cabelo. A entrada da "senhora das flores", uma advogada que ia ficar sem carteira profissional por defender dissidentes, enquadra melhor a história. Com dissidências e muitas prisões.

Curiosamente, aquilo que é proibido - filmar livremente - aparece de modo intenso na vontade de um estudante querer seguir cinema e da jovem sobrinha preparar na escola um filme "distribuível", passando o tempo todo a usar uma máquina de fotografia e imagem em movimento. Também outra personagem forte do filme é vendedor de cópias pirateadas de filmes proibidos de exibição no país e comenta que o realizador estava a filmar usando atores e atrizes para figurarem no filme. No final, dois homens saem de uma motocicleta e arrombam o carro de Panahi, roubando a câmara de filmar. O ecrã fica totalmente escuro.


Retiro do jornal Público a informação seguinte: Taxi é a "continuação da série de «filmes escondidos» do iraniano, que começou com This Is Not a Film e Behind the Curtain. São filmes realizados depois de Panahi ter sido preso em 2010 e proibido de trabalhar (ou viajar) durante 20 anos por alegadamente fazer «filmes críticos do regime»". Em 2009, Panahi apoiou o candidato Mir Hussein Mussav à presidência da República. Cineastas como Martin Scorsese, Steven Spielberg, Oliver Stone, Steven Soderbergh, Paul Thomas Anderson, Joel Coen e Ethan Coen e Francis Ford Coppola, atores como Robert De Niro, Robert Redford, Brian Cox, Pierre Richard e Mehdi Hashemi e atrizes como Isabelle Huppert e Anouk Aimée e instituições como a Amnistia Internacional e a Human Rights Watch condenaram a prisão do cineasta e a proibição de sair do país, sem que se conheçam as razões da sua condenação.

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