quarta-feira, 22 de julho de 2015

Pocilga

Há um jogo inicial de palavras, trocando a ordem de duas letras: corpos e porcos. Ambos são objeto de prazer - os corpos feitos para amar, os porcos para comer. Mas a peça de Pier Paolo Pasolini (1922-1975) é muito mais complexa do que isso, o que provoca o riso, por vezes, e a preocupação, noutras. Pocilga, já tornado filme pelo autor, conta a história de Julian, um rapaz que oculta a sua linha sexual, afastando-se da rapariga que o ama e não compreende o seu comportamento, escondendo-se junto aos porcos. Estes acabam por comer aquele, sem que os camponeses, habitantes para além da horta, tenham tido tempo para socorrer o rapaz. O pai deste era um homem com poder, um industrial com aspirações políticas, com um adversário igualmente poderoso e também industrial, que procura esmagá-lo com a sua capacidade intelectual e económica. Este último tinha um passado nazi e pode ser denunciado. Ida, a rapariga que se apaixonara por Julian, participaria numa manifestação alemã pela paz em Berlim e acabaria a casar-se com um reformista.

Subtil é o jogo conversacional de Julian com o filósofo Espinosa na pocilga. Em fundo, a situação política alemã da época, onde se conciliavam o passado nazi e a burguesia no poder, (o texto foi escrito em 1966). Pergunta Julian se o recém-chegado à pocilga é o novo médico, ao que o interpelado responde ser Espinosa, o que causa muito espanto no jovem.

John Romão foi tradutor e encenador da peça, com música de José Álvaro Correia e figurinos de Carolina Queirós Machado. Na interpretação, destaco Ana Bustorff, João Lagarto, Albano Jerónimo e Mariana Tengner Barros.

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