sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Almada Negreiros na Gulbenkian

Luís Trindade, no seu texto no catálogo da exposição (pp. 73-79), fala em três narrativas do século XX (antagonismos, totalitarismos e revoluções tecnológicas e científicas) para tentar enquadrar o percurso de Almada Negreiros. Como o artista criou durante muito tempo (entre as décadas de 1910 e 1960), é ainda difícil encontrar a sua dimensão. Talvez dentro da perspetiva da tensão entre a violência e a ordem. Mas, continua, o modernismo em que Almada se insere - e muitos outros artistas - tornou-se classicismo ou museologismo, paradoxo da classicização da vanguarda. Luís Trindade vai ainda mais longe, ao identificar o atraso da arte portuguesa face à europeia e americana - a falta ("estou atrasado") ou a narrativa do "atraso" - que Almada pretende preencher.

No texto de apresentação do catálogo, revela-se a dimensão da exposição, com curadoria de Mariana Pinto dos Santos: mais de quatrocentas obras, muitas delas pertença da Gulbenkian, onde está a exposição. Almada colaboraria com a Fundação desde 1957, ao participar na I Exposição de Artes Plásticas, recebendo o prémio extraconcurso. Depois, em 1964, pintou uma réplica do Retrato de Fernando Pessoa e, em 1966, interveio na exposição póstuma de Bernardo Marques. Quando a atual sede da Gulbenkian foi inaugurada, o seu mural Começar estava pronto. O artista morreu pouco depois.

A exposição está organizada em oito núcleos, o catálogo em nove. Sem classificar, a exposição (e o catálogo) ilustra a riqueza de trabalhos de José Almada Negreiros (1893-1970). Pintor, artista gráfico, autor de livros, com ligação ao cinema e ao teatro, dele se expõe um património capaz de o colocar como homem do século XX que Luís Trindade procura. A recomendar no catálogo, além dos outros, a leitura do texto da curadora Mariana Pinto dos Santos.



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