segunda-feira, 10 de abril de 2017

A rádio em 25 de abril de 1974


Em 2014, Raquel Varela publicou um extenso volume sobre História do Povo na Revolução Portuguesa 1974-1975, onde escreve sobre a vitória da revolução de 25 de abril de 1974 em Portugal e a derrota em 25 de novembro de 1975. Agora, em 2017, com dois outros autores, José Mateus e Susana Gaudêncio, em 25 de Abril. Roteiro da Revolução, faz um guia sobre os locais principais onde se concentrou o movimento dos capitães vencedores. Se, no livro de 2014, se debruça com muita intensidade nos derrotados de 25 de novembro de 1975, que tinham saído vencedores dezoito meses antes, no novo livro, a geografia é a dos vencedores. As imagens de capa dos dois livros é elucidativa, a dos ganhadores.

O livro de 2017 foi comprado por mim para compreender melhor os movimentos em 25 de abril de 1974 no que tangeu às estações de rádio. Não posso falar em desilusão mas em ausência de melhor explicação. Das estações de rádio em Lisboa fala apenas da Emissora Nacional e de Rádio Clube Português. Desta última estação, o texto dedica 19 linhas e um mapa tipo Google Maps. Escreve entre o facto e o fait-divers: a sopinha quente para os militares ali deslocados. À ocupação da Emissora Nacional dedica cinco páginas e um mapa. O testemunho de Luís Pimentel, então militar comandante da tropa que tomou a estação, conta uma história que eu não conhecia: ao invés de Salgueiro Maia, que informou previamente os soldados do que ia acontecer, Luís Pimentel não comunicou o envolvimento no golpe de Estado.

Mais à frente no livro, há um capítulo dedicado à ocupação da rádio e televisão no Porto, com igualmente cinco páginas de texto e um mapa Google Maps. Nuno Catarino Anselmo foi um dos militares responsáveis pela tomada da rádio, televisão e polícia política. Ele também conta uma história que não conhecia: a atuação a partir do primeiro sinal de rádio com a canção E Depois do Adeus nos Emissores Associados de Lisboa. O então capitão ouviu no quartel da Serra do Pilar esse sinal. À primeira vista, eu duvidei: a frequência dos Emissores Associados de Lisboa, a emitir desta cidade, ficava muito próxima da dos Emissores do Norte Reunidos, a emitir do Porto. Além disso, a potência de emissão do programa de Lisboa dificilmente chegaria ao Porto. Consultei um especialista na matéria que me falou da plausibilidade de audição da emissão lisboeta no quartel de Vila Nova de Gaia.

O texto fala da ocupação do emissor de Rádio Clube Português e da RTP mas é omisso quanto aos Emissores do Norte Reunidos, do mesmo modo que o testemunho de Luís Pimentel nada diz sobre os Emissores Associados de Lisboa e Rádio Renascença.

1 comentário:

PNLima disse...

Há histórias que faltam escrever... E fazem falta!