quinta-feira, 3 de maio de 2018

Sobre o Festival da RTP, livro de Callixto e Mangorrinha

João Carlos Callixto e Jorge Mangorrinha publicaram agora o livro Portugal 12 pts, da editora Âncora, com apresentação de Júlio Isidro na última segunda-feira na livraria Férin (Lisboa).

De Jorge Mangorrinha, já escrevi aqui sobre o seu pequeno livro Portugal e a Eurovisão. 50 Anos de Canções (1964-2014), não o chegando a fazer relativamente ao livro Festival RTP da Canção: uma História de 50 Anos: 1964-2014 (exemplar existente na biblioteca João Paulo II da Universidade Católica). Ambos sairiam em 2014. De João Carlos Callixto, escrevi recentemente sobre o seu livro Canta, Amigo, Canta. Nova Canção Portuguesa (1960-1974).


O livro, ou melhor um livro-álbum de 453 páginas, a obra que mais trabalho de construção deu ao editor na sua atividade de mais de 30 anos, tem três partes distintas: uma, mais pequena, assinada pelos dois autores, a explicar a obra, a segunda assinada por Jorge Mangorrinha (Ser ou não Festivaleiro) e a terceira por João Carlos Callixto (Playlist). Se a parte desenvolvida por Mangorrinha narra e interpreta os sucessivos festivais da RTP, o texto de Callixto contém a lista de todas as canções concorrentes ao festival por ordem alfabética (o leitor preferia por cantor ou artista, mas aceita a opção do autor), desde A Boca do Lobo, de 1975, a Zero Zero, de 2018.


Jorge Mangorrinha justificou a origem da investigação: estudo dos níveis de promoção turística na representação de Portugal, tema de um dos livros de 2014, chegando à possibilidade de afirmação do país através do festival da Eurovisão, o que aconteceu o ano passado com a vitória de Salvador Sobral. O livro agora editado vale, além do texto, pela riqueza iconográfica. João Carlos Callixto, em apresentação que aparece aqui em vídeo, faz uma análise temporal e encontra grandes marcos na história do festival da canção, de Maria Fátima Bravo (Vocês Sabem Lá, 1958), do grupo de artistas da rádio em que a Emissora Nacional teve muita importância, a Madalena Iglésias, cujo Sei Quem Ele É, de ritmo já pop, cantores de grupos de rock como Eduardo Nascimento e Carlos Mendes, cantautores, em que incluiu Simone de Oliveira (Desfolhada), época da Aryvisão (referência ao poeta Ary dos Santos), novo modelo com a revolução de 1974 (Carlos do Carmo a cantar oito canções), até chegar à década de 1990, com cantoras como Lúcia Moniz, Anabela, Sara Tavares e Dulce Pontes a conseguirem melhores classificações, e o acima referido Salvador Sobral, vencedor do festival da Eurovisão o ano passado.

No texto inicial, os dois autores lembram que Portugal canta na Eurovisão há mais de cinco décadas (p. 13) O primeiro em que participou, 1964, seria uma novidade estimulante no pequeno panorama cultural do país. À televisão a preto e branco passada para cores, foi-se exigindo mais da produção anual em representação na Eurovisão. Nos primeiros festivais apareciam os cantores mais conhecidos da música ligeira e as suas canções geravam êxitos comerciais. Com a entrada do rock da década de 1980, verificou-se um certo afastamento do modelo do festival, mas a atual década permitiu relançar o festival com uma nova estrutura e que culminou com a canção Amar pelos Dois (2017). Recupero ainda o primeiro parágrafo do texto assinado apenas por Jorge Mangorrinha, cheio de analogias com os títulos das canções vencedoras nos festivais da canção: "Em meio século de história, a canção portuguesa criada para Festival já jogou em diferentes palcos: na fé, no amor, no mar, na política, na arena taurina. Já se vestiu de menina, já largou balões e papagaios de papel. Já fez filhos por gosto, como as canções que têm sido o que fomos e o que somos. E amámos por dois" (p. 17).

Para acabar, uma referência ao apresentador: Júlio Isidro. Foram cerca de 25 minutos de uma quase conferência a entusiasmar a assistência. Os cerca de seis minutos do vídeo abaixo mostram a parte inicial dessa boa exposição.

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