quarta-feira, 12 de junho de 2019

Bernardino Pires (12)



Salina e traçado telefónico aéreo, Aveiro (fotografia de Bernardino Pires, espólio de Daniel Pires, originalmente publicado em https://www.facebook.com/groups/1628946184001729/).
A fotografia poderia ser abstrata, pois a geometria é o seu elemento principal. Mas, analisando melhor, é o trabalho humano que preside à sua organização. O sal não se edifica em modo de cone (quase regular a partir da forma de pirâmide). A sua alvura representa o lado da natureza.
Os postes telefónicos remetem para um ponto de fuga, com interseção de fios e da linha de terra. O trabalho industrial (madeira dos postes, metais dos fios, cerâmica dos isoladores) integra-se na natureza. Aliás, os isoladores parecem pássaros. Se fossem alvo-pretos lembrariam a andorinha que andou a passaretar aqui há pouco perto da janela.
O trabalho - a salina e os postes telefónicos - estão prontos. Parece que os dois elementos existem desde o começo dos tempos. A minha hipótese é que a natureza é geométrica, mesmo quando há caos. As formas matemáticas nasceram, julgo eu, da natureza. Melhor: da observação da natureza. O fotógrafo, munido da sua máquina, agarrou o pedaço da natureza e mostrou-o.
O sal é alimento, conservante (antes do frigorífico elétrico) e entra na indústria química. O poste telefónico e os seus fios transporta(m) comunicações humanas. Natureza dominada e tecnologia útil - eis o conteúdo da fotografia.
Volto à ideia de arte abstrata. A fotografia indica a realidade (social) mas também é arte. Bernardino Pires, aqui, juntou os dois elementos.
Para finalizar, socorro-me de ideias técnicas sobre a tecnologia de comunicação e de que me apropriei no sítio onde a fotografia foi originalmente colocada. Traçado dos CTT com travessas metálicas e cruzeta de travagem do mesmo material. Na empresa APT/TLP (áreas metropolitanas de Lisboa e Porto), as travessas eram de madeira e em vez da cruzeta para travar a estrutura usava-se uma escora metálica do extremo da travessa inferior para o poste a fazer um ângulo de 45º. Cada poste tinha "26" circuitos físicos, mas, nalguns traçados aéreos, um par de circuitos físicos podia ser usado para transportar circuitos conhecidos por "circuitos fantasma". Entre Azeitão e Palmela e Azeitão e Setúbal funcionaram circuitos destes. E dois circuitos fantasma podiam ainda transportar um superfantasma. Circuitos fantasma ou de altas frequências, que faziam a interligação entre centrais telefónicas. No Porto, fora da cidade, existiram desses traçados, depois substituídos por cabos de cobre.


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