sexta-feira, 8 de agosto de 2008

ASSALTO EM DIRECTO NA TELEVISÃO


As imagens do vídeo amador do Público (ver o vídeo aqui), e que eu retirei quatro fotogramas do noticiário da SIC de hoje às 13:00, dão conta da tragédia que ontem se abateu sobre um balcão bancário em Campolide, Lisboa. Dois assaltantes mantiveram-se entrincheirados no banco com dois reféns, a gerente do banco e outro colaborador, durante oito horas. Quando os assaltantes se aproximaram da porta e houve um ligeiro afastamento dos reféns e dos assaltantes, um tiro da polícia acertou num destes, que desfalece imediatamente (terceira imagem). Logo depois, a polícia entrava dentro do balcão e libertava os reféns. Um dos assaltantes morreu e o outro foi em estado grave para o hospital. As televisões transmitiram em directo.


Hoje, fiquei com mais pormenores. Os assaltantes tinham idades entre 25 e 35 anos, imigrantes não legais, mas a nacionalidade não foi inicialmente revelada. A notícia do Público online indicava que os assaltantes se recusaram a negociar com as autoridades e ameaçaram executar as duas pessoas que mantinham sob sequestro. Mais tarde, no noticiário das 20:00, a televisão pública RTP afirmava tratarem-se de brasileiros, trabalhadores da construção civil e a residirem há poucos meses na margem sul do rio Tejo.

Após os violentos desacatos das últimas semanas, que opuseram duas comunidades diferentes nos arredores de Lisboa, com forte exposição mediática, este caso chama de novo a atenção da televisão (e do vídeo de um jornal). As imagens agora mostradas são expressivas - no vídeo colocado no sítio do jornal Público, as vozes off dão conta do impacto do que ia acontecendo. Uma das vozes regozija-se quando o tiro da polícia atinge um dos assaltantes, pormenor não reproduzido quando o vídeo passa na SIC. No sítio do jornal, os comentários à notícia por leitores colocam a questão da origem geográfica dos assaltantes.

Na azáfama de relatar tudo, a televisão e o jornal Público situam o país na pós-modernidade. Temos polícias eficazes e televisões a filmarem em directo a morte dos bandidos. Um dos pormenores que mais me impressionou no relato do episódio do assalto foi saber a principal preocupação da gerente do banco: ela não queria que os seus filhos estivessem a ver televisão. Sobre o assunto, já escrevera Eduardo Cintra Torres no Público online (às 16:58): "Quanto ao directo televisivo, é mesmo assim: o poder enorme do directo é romper com as convenções de toda a gente e de não estar sujeito a censuras, autocensuras, convenções e tabus. A realidade em bruto. Por vezes é brutal. A liberdade também".

Ou, nas minhas palavras: a morte deve estar presente, mesmo a mais violenta, do mesmo modo que a vida. A televisão - e também a internet - é o meio mais propício para nos dar esses momentos em directo da vida e da morte, fluxo de acontecimentos de ruptura (as breaking news dos americanos), não programados (mas também programados, como nos disseram Daniel Dayan e Elihu Katz em A História em Directo). Isso obriga-nos a estar sempre conectado à televisão e esperar o imprevisto, ou inédito, ou espectacular, ou dramático, o que tem valor-notícia, como falam os sociólogos dos media.

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