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No tópico rádio, há dois textos, assinados por João David Nunes e por António Cartaxo, cada um contando duas histórias ou pontos de vista. João David Nunes reporta-se ao Rádio Clube Português e escreve sobre o programa Onda do Optimismo, à época apresentado por Jorge Alves. Ele chegava habitualmente em cima da hora do programa, sem tempo para passar no gabinete de Jaime da Silva Pinto, outra pessoa excecional e homem exemplar da rádio, cuja função aquela hora era visar previamente os textos. Ambos tinham problemas de locomoção. Jorge Alves, na sua corrida para o estúdio, acenava a Jaime da Silva Pinto, dizendo "os textos já têm visto", a que o colega respondia "falta o carimbo". Jorge Alves abria o microfone e dizia: "Bom dia, senhores ouvintes. Aqui está, como todas as manhãs, a sua Onda do Optimismo". No final do programa, ouvia-se (ou podia ouvir-se?) o som do carimbo em todas as folhas.
Rádio Clube Português tinha um representante da censura, centralizada no SNI (Secretariado Nacional de Informação), que ia à estação com regularidade. Na administração da rádio, o pelouro da fiscalização estava atribuído a um administrador e havia, nos Serviços de Produção, funcionários que analisavam e visavam com o carimbo SP5 os textos a utilizar.
Por seu lado, António Cartaxo escreve sobre a BBC e a secção portuguesa. O primeiro registo remete para dezembro de 1941. Armando Cortesão, tradutor na secção brasileira e colaborador na portuguesa, era refugiado político anti-Salazar. Este e a embaixada portuguesa tanto pressionaram indiretamente a BBC que Cortesão acabou por ser despedido (a tese de doutoramento de Nelson Ribeiro analisa em profundidade a situação).
A segunda história de Cartaxo envolve-o diretamente, embora ele não o explicite. O serviço português da BBC fora encerrado em 1957, mas reaberto no começo da década seguinte, após o rebentar da guerra colonial em África. Em julho de 1973, Marcelo Caetano visitou oficialmente Londres. A imprensa britânica publicou artigos sobre a política colonial portuguesa e o Times deu notícia do massacre de Wiriamu (Moçambique). De nada disto se fez referência na revista de imprensa da secção portuguesa da BBC. Depois, em 1974, a BBC abdicaria do papel independente e instauraria censura sobre o modo de relatar a evolução da política nacional. Por exemplo, não seriam lidos ou comentados os artigos publicados no Guardian. Dois jornalistas seriam demitidos. Cartaxo não descreve o processo que chegou ao tribunal e que opôs a BBC e ele e o seu colega Jorge Ribeiro.
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