sábado, 15 de abril de 2017

Natércia Freire

Da Memória, do Amor e do Génio. Fotobiografia de Natércia Freire é um livro escrito por Isabel Corte-Real, filha daquela, agora editado pela Aletheia. Não se trata de um livro de análise científica da produção de uma escritora e poeta (1919-2004), mas de uma longa recordação da vida e obra por alguém muito perto dela. Nos anos mais recentes, a sua obra poética foi toda (re)publicada pela Quasi.

A principal motivação para o livro foi revisitar a poesia de Natércia Freire e traçar o percurso desde Benavente, onde ela nasceu, até à direção da página "Artes e Letras" do Diário de Notícias, exercida entre 1954 e 1974. Aqui, publicou textos de Jacinto Prado Coelho, João Gaspar Simões e David Mourão-Ferreira, entre outros, o que a tornou uma das primeiras jornalistas culturais do país. Fez traduções de peças para a companhia de teatro de Amélia Rey Colaço e Robles Monteiro. Natércia Freire foi premiada diversas vezes. Um dos maiores galardões foi o Prémio Nacional da Poesia de 1971, ganho ex-aequo com David Mourão-Ferreira. Antes, ganhara o prémio Antero de Quental (1947, 1952) e o prémio Ricardo Malheiros (1956).

Além da poesia e da escrita regular em jornais, a biografada tem outro interesse: a sua colaboração com a Emissora Nacional. Ela iniciou a ligação à estação de rádio em 1940, com palestras mensais. Aí conheceu Luís Forjaz Trigueiros. Foi vogal do Conselho de Programas da Emissora Nacional e, depois, da RTP (e do conselho de leitura da Gulbenkian). Para exercer bem a sua função na rádio, ela escutava os programas através de um pequeno transístor.

Por o livro ser escrito pela filha, a personalidade de Natércia Freire aparece afetiva, clara e compreensiva na sua relação com a família, a Igreja Católica e os colegas escritores. Da ligação aos escritores e gente de letras, Isabel Corte-Real destaca a relação sempre positiva da sua mãe, independentemente das tendências estéticas e políticas dos autores. A página do Diário de Notícias, que ultrapassou o número mil pouquíssimo antes de 25 de abril de 1974, quando foi saneada pelo novo regime político, será a demonstração dessa abertura intelectual.

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