segunda-feira, 28 de maio de 2018

The King's Face (왕의 얼굴)

A série The King's Face (왕의 얼굴), com 23 episódios, foi exibida na televisão sul-coreana KBS (Korean Broadcasting System) em 2014-2015, agora em reposição no canal de cabo KBS World. Normalmente, as séries históricas coreanas têm 60 episódios, o que tornam esta série mais ágil.



A história da série baseia-se no começo de vida de um dos reis mais populares da Coreia, Gwanghae (1575-1641), que governou de 1608 a 1623. A série, porque seguiu de perto o filme The Face Reader, causou um processo judicial por violação de direitos de autor, mas o canal de televisão não foi condenado. No conjunto, a série seguiu muitos dos factos reais da vida do príncipe herdeiro, tornado rei quando o pai faleceu. Além da história do príncipe Gwanghae (Seo In Guk), o enredo assenta na leitura facial como base de intrigas, ciúmes e superstições que existiam no reino de Joseon, então governado por Seonjo (Lee Sung Jae).

Um livro sobre arte da leitura facial era considerado essencial para determinar qual o melhor candidato a rei. Da cartomância ao uso da leitura da fisionomia - eis armas e meios antigos para obter poder. Alguns indivíduos treinados desta forma posicionaram-se para a função, também empregue na concorrência entre os filhos do rei Seonjo. Gwanghae era filho de uma concubina. O irmão mais velho era o príncipe Imhae (Park Joo Hyung), violento nos sentimentos e quase sempre alcoolizado. A mãe de Imhae, Gwi In Kim (Kim Gyu Ri), quis promover seu filho a príncipe herdeiro, e, mesmo que Gwanghae tenha salvo a vida de Imhae, prisioneiro dos japoneses, Gwi In Kim manteve a sua aspiração. O modo como o príncipe Gwanghae atua (e fala) ao longo dos episódios denota um lado rígido e assumido de predestinado. O rosto quase não tem expressão. Ele toma iniciativa, distribui pelouros, está sempre junto ao povo, enfrenta as dificuldades e os inimigos.

No início da série, Gwanghae surgiu como criança com uma paixão romântica por Ga Hee Kim (Yoon Hee Jo). Mais tarde, reencontraram-se num mercado, mas ela vestia-se de rapaz, proteção aconselhada pelo pai. Gwanghae ficou intrigado com o "rapaz"; ele não esquecera Ga Hee e ainda a amava. Entretanto, Baek Kyung (Lee Soon Jae), leitor de rostos, anteviu que ela estava destinada a ser uma esposa do rei Seonjo. O seu rosto combinava com o dele. Além disso, a tragédia atingiu a sua família: os seus pais foram mortos após acusação de traição. Ga Hee aderiu a um grupo de idealistas que queriam livrar-se do rei Seonjo, liderado pelo revolucionário Do Chi Kim (Shin Sung Rok), que a ensinou a tornar-se especialista em arco e flecha. Do Chi apaixonou-se por Ga Hee, supondo serem almas gémeas políticas, mas o tempo provou ser errada essa convicção.

O rei Seonjo tinha, além da decisão do príncipe herdeiro, a grande preocupação da invasão por países estrangeiros: Japão e China. Um dos episódios mostra o saque e o morticínio em Pyongyang. Gwanghae adquiriu competências na defesa do país e expulsou os inimigos, o que impressionou o pai, mas sem este o expressar. O revolucionário secreto Do Chi apresentou-se como perito leitor de rosto e defendeu a vida do rei (mesmo que o odiasse), conquistando assim a sua confiança. A verdadeira ambição, mas secreta, de Chi era derrubar o rei Seonjo e o príncipe herdeiro Gwanghae e tornar-se ele próprio rei.

A série, que me traz o conhecimento de uma cultura que não domino, e, por isso, me impede de aquilatar a veracidade de costumes, relata dispositivos de poder e normas estranhas ao nosso modo atual de pensar e agir. A relação entre rei e subordinados é marcada por formas vincadas, muito hierarquizadas, como se houvesse o sol e pequenos planetas, estes dispondo quase em subserviência diante daquele. O papel dos subordinados, da mulher (no caso, a rainha e as concubinas), as trocas existentes, o equilíbrio instável nessas relações (como a punição por pena de morte), o começo do armamento com recurso a pólvora, embora coexistisse com o arco e a flecha, o medo estampado (e exagerado) dos aldeões e dos cidadãos perante a ameaça da invasão estrangeira e os artifícios teatrais nas danças e nas entoações verbais permitem concluir estar-se perante uma boa construção narrativa.

Seo In Guk, no papel de Gwanghae, ganhou o Prémio KBS em 2014 de melhor novo ator, e, no papel de idealista mas vilão, Shin Sung Rok ganhou em 2014 o prémio KBS de melhor ator secundário pela sua interpretação na série.

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