domingo, 21 de junho de 2009

TEMAS QUE O BLOGUEIRO DEIXA PASSAR

Não é que o blogueiro ande distraído, mas a verdade é que há temas de momento e de muito interesse em que não produzo uma linha de reflexão. Eles seduzem-me mas acho que toda a gente fala deles e algumas pessoas melhor do que eu. Assim, do caso Maddie McCann escrevi raramente e depois de sair da agenda (13 de Abril de 2008, 12 de Março e 2 de Maio de 2009), de Susan Boyle é a primeira vez que aqui escrevo o nome, das eleições europeias recentes apenas coloquei cartazes partidários e da gravíssima situação actual do Irão também não dei nota.

Mas esta semana ocorreu um tema interessante para análise em termos de media e das indústrias culturais, o caso José Eduardo Moniz, director-geral da TVI e que apareceu como putativo candidato a presidente do Benfica, um dos mais importantes clubes de Portugal e, possivelmente, a melhor marca desportiva do país.

O clube de futebol, com falta de sucessos nos anos mais recentes, resolveu nas últimas semanas ser campo de notícia. Assim, foi despedido o treinador e contratado um novo, e o presidente do clube decidiu marcar eleições antecipadas. Formou-se uma oposição, liderada por um antigo director do departamento de futebol, o qual não se podia candidatar visto não ter anos suficientes de sócio do clube, o que acontecerá mais para o final do ano. Este opositor terá convidado José Eduardo Moniz a ser o seu candidato. A televisão mostrou Moniz a sair de uma reunião e a prometer falar mais tarde. O dia dessas imagens foi quinta-feira. No dia seguinte, Moniz marca uma conferência de imprensa onde diz que não se candidata pois não tem tempo para trabalhar um programa adequado. O Expresso de ontem indica que a administração deste último canal, pertença da Prisa, gostaria de ver Moniz sair do canal, pelo preço que ele custa em termos de remuneração e porque a sua mulher, Manuela Moura Guedes, lidera o noticiário das sextas-feiras onde critica regularmente o governo. O próprio governo gostaria de afastar o casal, exactamente pelas posições que têm tomado.

Não conheço mais pormenores do que o que vi e li, mas o desenrolar de episódios origina interpretações várias e ricas de pormenor. Moniz está há dez anos na TVI, tendo ganho tudo o que poderia ter ganho, suponho. A TVI era um canal com fraca audiência e tornou-se o maior, desde meados da década, além de ter uma máquina de produção de ficção como o país nunca teve. Por isso, com objectivos mais que alcançados, é admissível que ele queira experimentar outro desafio. O Benfica pode ser um desafio ainda maior. Além de que ele tira vantagens desta exposição. Prova internamente que pode sair da TVI para abraçar um novo projecto, com mensagem para os patrões espanhóis que teriam dificuldade em arranjar um gestor tão capaz, e eleva a autoconfiança dos benfiquistas, descrentes do passado recente e do actual presidente, mas sem alternativa na oposição.

Segundo as notícias recentes, a Prisa está com maus resultados nos seus media, com prejuízos nos jornais e nas rádios em Espanha. Em Portugal, as rádios da Media Capital (Comercial, M80, Rádio Clube) têm sido noticiadas estar à venda, surgindo potenciais compradores como Luís Montez (Radar, Oxigénio), mas não passando a informações mais concretas. Vender a TVI, a actual geradora de muita riqueza, a acontecer, é uma vantagem para amortecer os prejuízos mas um erro pois se perde a fonte de receita.

A notícia mais bombástica é a que saiu no Expresso, do grupo da SIC, canal privado concorrente da TVI, o que tem um significado específico. Se Moniz sair da TVI certamente que os resultados deste canal baixam. Para a SIC isso seria uma muito boa notícia, carente de aumentar audiências. Aliás, esta semana, a Impresa, grupo da SIC e do Expresso, teve uma significativa (e estranha) recuperação na bolsa.

Do mesmo modo que a recandidatura do presidente do Benfica e a contratação de novo treinador trouxeram ânimo aos adeptos do clube, a revalorização das acções da Impresa e a possibilidade do principal gestor do canal concorrente sair foram boas notícias para a Impresa. Esperemos os próximos dias, que podem incluir uma impugnação judicial à antecipação de eleições no clube desportivo, e que leve Moniz a repensar a situação ou surgir um novo quadro no Benfica.

Uma coisa me parece certa: com a atitude de Moniz, reafirma-se uma relação muito próxima entre televisão e futebol. Não sei se isto é bom para a televisão. Sem esquecer as ligações sempre complexas com a política.

1 comentário:

Anónimo disse...

O que mais me chamou a atenção não foi seu texto - por, sinceramente, desconhecer sobre o assunto -, mas sim as diferentes grafias e a ordem das palavras que acontecem entre Brasil e Portugal.