A Emissora Nacional e as Mudanças Políticas (1968-1975), uma edição da MinervaCoimbra, em apresentação no Porto no dia 24 de maio próximo.
Textos de Rogério Santos, com reflexões e atualidade sobre indústrias culturais (imprensa, rádio, televisão, internet, cinema, videojogos, música, livros, centros comerciais) e criativas (museus, exposições, teatro, espetáculos). Na blogosfera desde 2002.
sexta-feira, 27 de abril de 2018
sábado, 21 de abril de 2018
A rádio no livro "Café Central" de Álvaro Guerra
A primeira vez que o livro de Álvaro Guerra (Café Central) se refere à rádio é quando chega a televisão a Vila Velha. O Clube Vila-Velhense decidira adquirir um recetor e a montagem da antena exigiu uma reunião da direção para aprovar a despesa suplementar e confiar no engenheiro Silvério a sua instalação. O referido engenheiro, sócio da coletividade, era funcionário da Emissora Nacional e oferecera-se como voluntário para o desempenho da função, apoiado por dois eletricistas (p. 118). Estaríamos em 1957.
Depois, Vicente Mourão, de uma família de esquerda de Vila Velha, foi o primeiro habitante dali a saber do desaparecimento do paquete Santa Maria. Ele ficaria de orelha atenta a todos os sons mais ou menos inteligíveis das ondas curtas da velha telefonia, pois continuava fiel aos noticiários da BBC (p. 169). Por aquela estação, acompanhou o relato do debate na Câmara dos Comuns e ouviu a oposição trabalhista criticar "the dictatorship of Dr. Salazar". A BBC desmentia o Diário de Notícias. Contudo, "semanas depois, os situacionistas de Vila Velha seguiam aliviados a reportagem radiofónica da chegada do Santa Maria a Lisboa, empolgados pelo nacionalismo inflamado do versátil locutor Artur Agostinho, ao microfone da Emissora, o qual viria a ser condecorado por tanto zelo" (pp. 170-171). O ano de 1961, cheio de vicissitudes para o regime de Salazar, estava no começo.
O autor refere Barradas de Oliveira na sua tribuna "Rádio Moscovo não Fala Verdade" (p. 207), indica que não se arroga, por definição, a alterar o enredo ao folhetinista (p. 285) e chega à notícia de Salazar caído na cadeira. Ao passar pela porta da taberna do Belezas, uma das personagens ouvira, na rádio, a voz solene de Pedro Moutinho a dar a notícia (p. 299). Corria o ano de 1968.
Por último, a personagem David Castro procurava sintonizar a frequência dos Emissores Associados de Lisboa, com a pergunta: "onde é que são os «minhocas»"? (p. 422). O mesmo David, às 00:15, foi ouvir a Rádio Renascença. Reagiam a David: "Não te conhecia essa paixão radiofónica". David justificou-se: "É recente... Este programa O Limite é feito por uns rapazes amigos" (p. 425). Vivia-se a madrugada de 25 de abril de 1974.
Álvaro Guerra (1936-2002) foi jornalista, diplomata (embaixador de Portugal em Estocolmo) e escritor. Licenciado pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, foi fundador do jornal A Luta. Oposicionista ao Estado Novo, poderia ter subido a ministro no pós 25 de abril de 1974 mas ficou-se pela direção de informação da RTP. Na sua biografia, que consultei na wikipédia, evoca-se o ter sido um dos fundadores do Partido Socialista e gostar de touradas, em especial na sua terra, Vila Franca de Xira. Da sua bibliografia, destaque para a trilogia dos cafés: Café República, Café Central e Café 25 de Abril.
Leitura: Álvaro Guerra (1984). Café Central. Folhetim do Mundo Vivido em Vila Velha (1945-1974). Lisboa: O Jornal
Depois, Vicente Mourão, de uma família de esquerda de Vila Velha, foi o primeiro habitante dali a saber do desaparecimento do paquete Santa Maria. Ele ficaria de orelha atenta a todos os sons mais ou menos inteligíveis das ondas curtas da velha telefonia, pois continuava fiel aos noticiários da BBC (p. 169). Por aquela estação, acompanhou o relato do debate na Câmara dos Comuns e ouviu a oposição trabalhista criticar "the dictatorship of Dr. Salazar". A BBC desmentia o Diário de Notícias. Contudo, "semanas depois, os situacionistas de Vila Velha seguiam aliviados a reportagem radiofónica da chegada do Santa Maria a Lisboa, empolgados pelo nacionalismo inflamado do versátil locutor Artur Agostinho, ao microfone da Emissora, o qual viria a ser condecorado por tanto zelo" (pp. 170-171). O ano de 1961, cheio de vicissitudes para o regime de Salazar, estava no começo.
O autor refere Barradas de Oliveira na sua tribuna "Rádio Moscovo não Fala Verdade" (p. 207), indica que não se arroga, por definição, a alterar o enredo ao folhetinista (p. 285) e chega à notícia de Salazar caído na cadeira. Ao passar pela porta da taberna do Belezas, uma das personagens ouvira, na rádio, a voz solene de Pedro Moutinho a dar a notícia (p. 299). Corria o ano de 1968.
Por último, a personagem David Castro procurava sintonizar a frequência dos Emissores Associados de Lisboa, com a pergunta: "onde é que são os «minhocas»"? (p. 422). O mesmo David, às 00:15, foi ouvir a Rádio Renascença. Reagiam a David: "Não te conhecia essa paixão radiofónica". David justificou-se: "É recente... Este programa O Limite é feito por uns rapazes amigos" (p. 425). Vivia-se a madrugada de 25 de abril de 1974.
Álvaro Guerra (1936-2002) foi jornalista, diplomata (embaixador de Portugal em Estocolmo) e escritor. Licenciado pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, foi fundador do jornal A Luta. Oposicionista ao Estado Novo, poderia ter subido a ministro no pós 25 de abril de 1974 mas ficou-se pela direção de informação da RTP. Na sua biografia, que consultei na wikipédia, evoca-se o ter sido um dos fundadores do Partido Socialista e gostar de touradas, em especial na sua terra, Vila Franca de Xira. Da sua bibliografia, destaque para a trilogia dos cafés: Café República, Café Central e Café 25 de Abril.
Leitura: Álvaro Guerra (1984). Café Central. Folhetim do Mundo Vivido em Vila Velha (1945-1974). Lisboa: O Jornal
sexta-feira, 20 de abril de 2018
Locução e propaganda em 1940
Em 1940, o regime instalou na Emissora Nacional um serviço de propaganda das comemorações dos centenários (independência e restauração), em francês, inglês, alemão, espanhol e italiano. Na imagem, Hilde Mattauch e Hermínia Ferreira, locutoras de língua alemã e italiana (Rádio Nacional, 11 de fevereiro de 1940).
segunda-feira, 16 de abril de 2018
A guerra na rádio
Os historiadores gostam de falar da guerra do éter. No final de 1940, a Alemanha bombardeava diariamente Londres e a Grã-Bretanha bombardeava diariamente Berlim. A guerra corria favoravelmente aos alemães, que tinham invadido a Holanda, a Bélgica e, quase num ápice, a França. A Itália entrava em guerra com a Grécia e invadia o corno de África. O Canadá enviava aviões para a Grã-Bretanha e os Estados Unidos ainda estavam meio indecisos sobre o que fazer.
Se a guerra era violenta, a rádio entrou também no conflito. Creio que as estações alemãs começaram a publicitar as suas emissões em ondas curtas apenas em dois de novembro de 1940, conforme o exemplar saído no Jornal de Notícias (Porto). Apesar de já publicitar as suas emissões há mais tempo, o anúncio da BBC (A Voz de Londres) aqui inserido (3 de novembro e no mesmo jornal) tem a particularidade de englobar as emissões em português e em francês.
Se a guerra era violenta, a rádio entrou também no conflito. Creio que as estações alemãs começaram a publicitar as suas emissões em ondas curtas apenas em dois de novembro de 1940, conforme o exemplar saído no Jornal de Notícias (Porto). Apesar de já publicitar as suas emissões há mais tempo, o anúncio da BBC (A Voz de Londres) aqui inserido (3 de novembro e no mesmo jornal) tem a particularidade de englobar as emissões em português e em francês.
sábado, 14 de abril de 2018
Vedetas dos programas infantis de rádio (final da década de 1930)
Na década de 1930, a programação infantil na rádio tinha um conjunto de pequenas vedetas, reconhecidas por nomes diminutivos. O Século Ilustrado (17 de dezembro de 1938) dedicou algumas páginas a revelar ao público essas vedetas, de onde retiro as imagens. Na época, havia revistas em papel destinadas a um público juvenil e infantil e associadas a programas de rádio. Pela amostra das estações de Lisboa, parecia haver mais vedetas meninas do que rapazes.
Um grupo era constituído por Mimi, Odete Passos de Saint-Maurice (autora de programas juvenis até cerca de 1974) e Julieta Marques Cardoso, para Rádio Clube Português, então a emitir da Parede. Além da fotografia em grupo, Mimi aparece sozinha, sorridente, quase irreverente e de cabelo de franjas.
Outra pequena vedeta era a Esterinha das emissões Papagaio ( Rádio Renascença), na fotografia em cima de uma cadeira. Ester de Lemos (1929-), depois licenciada em Filologia Românica, seria assistente de programas literários da Emissora Nacional (1956-1959), deputada em 1965 e docente universitária (1957-1963 e 1971-1974), professora do ensino secundário e docente no Instituto de Novas Profissões, de onde se reformou em 1990.
Além da Esterinha, a Rádio Renascença contava com Manon, Misette e, na fotografia de grupo e atrás, da esquerda para a direita, José Fernandes (pai Paulino), Carlos Santos (coelho), Adolfo Madeira (gato), Manuel Campos (pombo), Arnaldo Silva (tenor) e José Castelo (diretor). Pela designação dos papéis, adivinha-se o teor habitual do programa, o do tempo em que os animais falavam. Além de música e diálogos, havia ainda leitura de poemas e historietas.
A antepenúltima imagem diz respeito a Rádio Hertz, uma estação que desapareceria pouco depois, a contar com algumas Marias no elenco da programação infantil. Chamo a atenção para o design do microfone. Aliás, em todas as fotografias, o microfone é um elemento central. A penúltima imagem, da Rádio Luso, fechada no final da II Guerra Mundial, por ligação a interesses alemães, mostra outras particularidades, a do acompanhamento musical - piano e acordeão. Na imagem inicial (Rádio Clube Português), também se observa a existência de um piano de cauda e de suporte de pautas musicais. As emissões eram em direto. Certamente que haveria um tempo para ensaio antes da emissão.
Deixo para o fim uma imagem do grupo inteiro a colaborar em Rádio Graça, conjunto compacto e sorridente (O Século Ilustrado, 24 de dezembro de 1938). Às crianças, em primeiro plano, sucediam-se os outros participantes. À maneira da pintura renascentista, em que o doador (o que pagava a obra) aparecia ao canto, aqui o senhor à direita seria Américo Santos, o dono da estação. Talvez ao lado esteja Lili Santos, a filha, e intérprete de folhetim como escrevo a seguir. Pelo menos, se comparar esta à fotografia incluída no livro de Matos Maia, Telefonia, há muitas parecenças.
Rádio Graça, a estação da rua da Verónica, quase em frente a uma escola secundária, ganharia muita fama quando em 1955 começou a emitir um programa para o público jovem adulto, a radionovela A Força do Destino, título muito à Verdi mas popularizado pela Coxinha do Tide. O patrocinador era o detergente Tide, que irrompera no consumo nacional um ano antes e a coxinha era a personagem principal: Margarida, doente de uma perna, seria operada pelo Dr. Humberto Figueirola. Eles apaixonaram-se, mas havia um problema: Figueirola era casado com Raquel, prima de Margarida. O argumentista resolveu o imbróglio: matou Raquel e deixou caminho livre para Humberto. Conta quem ouviu que a morte de Raquel foi dolorosa, com a agonia prolongada em sucessivos episódios. Depois da boda do casal "bom", veio um descendente. Antes do nascimento, a Rádio Graça viu-se invadida por roupa de bebé. Quem ouvia, julgava tratar-se de coisa verdadeira.
As fotografias denotam outros elementos. Um deles é o vestuário das crianças vedetas, especialmente em dois rapazinhos (calção e meias enroladas). Um segundo é o da assistência. Na fotografia de Esterinha, há um grupo de senhoras sentadas atrás, como formando a assistência ao programa (podemos comparar à assistência e palco nos atuais programas televisivos à tarde).
Direito à discordância
Ao ler notícias sobre o jornalismo na Hungria e o modo como o governo da Síria mata jornalistas, recupero o cartune do El Pais (12 de fevereiro de 2006). A crítica é um direito.
sexta-feira, 13 de abril de 2018
A rádio na Seara Nova
O portal Revistas de Ideias e Cultura (RIC), dirigido por Luís Andrade e desenvolvido pelo Seminário de História das Ideias (SLHI), do Centro de Humanidades da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, em parceria com a Biblioteca Nacional e a Fundação Mário Soares, tem resgatado muitas revistas em papel tornadas agora digitais, como A Sementeira (1908-1919), Germinal (1916-1917), suplemento de A Batalha (1923-1927), Renovação (1925-1926), A Águia, Seara Nova ou Atlântida.
Para este texto, parti de notícia editada no jornal Público. Aí, o jornalista Luís Miguel Queirós citou o responsável pelo portal: "«Enquanto os jornais fizeram a política, as revistas criaram a cultura com que o século passado interpretou e sentiu o mundo», diz Luís Andrade, recordando que quase tudo o que Fernando Pessoa publicou em vida saiu nestas publicações periódicas, e que foi também nelas que António Sérgio começou por divulgar os seus ensaios". A pesquisa pode fazer-se a partir de critérios como índice de autores, conceitos, assuntos, obras citadas ou nomes geográficos.
Procurei a revista Seara Nova e os textos publicados sobre rádio. Descobri 15, quatro dos quais de A. E. da Silva Neves, de 1938. Escolhi o editado em 18 de junho de 1938 (As Intimidades da Rádio). Em época em que o mundo estava mergulhado nas atrocidades da II Guerra Mundial e Portugal tinha uma ditadura que iria durar muitas décadas, parecia que a rádio não era um objeto de inovação e da civilização, dados os problemas que se levantavam: a rádio como meio de interesses económicos ou opiniões pessoais, a rádio em perigo de se tornar monopólio e dos que sonham em obter glória através dela. A. E. da Silva Neves questionava as taxas pagas por recetor e os dirigentes das estações que não suportavam críticas à programação, mas apelava também aos críticos que condenavam levianamente a ação artística e mental das estações. O colaborador da Seara Nova apresentava-se no seu primeiro texto como alguém a contribuir para a formação da opinião pública construtiva.
Para este texto, parti de notícia editada no jornal Público. Aí, o jornalista Luís Miguel Queirós citou o responsável pelo portal: "«Enquanto os jornais fizeram a política, as revistas criaram a cultura com que o século passado interpretou e sentiu o mundo», diz Luís Andrade, recordando que quase tudo o que Fernando Pessoa publicou em vida saiu nestas publicações periódicas, e que foi também nelas que António Sérgio começou por divulgar os seus ensaios". A pesquisa pode fazer-se a partir de critérios como índice de autores, conceitos, assuntos, obras citadas ou nomes geográficos.
Procurei a revista Seara Nova e os textos publicados sobre rádio. Descobri 15, quatro dos quais de A. E. da Silva Neves, de 1938. Escolhi o editado em 18 de junho de 1938 (As Intimidades da Rádio). Em época em que o mundo estava mergulhado nas atrocidades da II Guerra Mundial e Portugal tinha uma ditadura que iria durar muitas décadas, parecia que a rádio não era um objeto de inovação e da civilização, dados os problemas que se levantavam: a rádio como meio de interesses económicos ou opiniões pessoais, a rádio em perigo de se tornar monopólio e dos que sonham em obter glória através dela. A. E. da Silva Neves questionava as taxas pagas por recetor e os dirigentes das estações que não suportavam críticas à programação, mas apelava também aos críticos que condenavam levianamente a ação artística e mental das estações. O colaborador da Seara Nova apresentava-se no seu primeiro texto como alguém a contribuir para a formação da opinião pública construtiva.
quinta-feira, 12 de abril de 2018
Folhetim da rádio e a sua canção: Fernando Rocha
Eça de Deus (pseudónimo de Moisés Santos) foi folhetinista de rádio ao longo das décadas de 1950 e 1960. Eu não conheço o paradeiro dos seus textos de teatro radiofónico, pelo que apenas posso traçar dele um perfil pobre. Mas sei que um dos folhetins se chamava O Impostor, transmitido numa estação de rádio portuense. Como hoje na telenovela, houve necessidade de criar uma canção que marcasse o folhetim. Fernando Rocha, locutor e realizador de rádio não era cantor mas deu a sua voz a Sonho de Amor (pode ser ouvido em https://www.youtube.com/watch?v=_J96bvgbOgQ). Afinal, ele era o protagonista do sucesso radiofónico. Pelo que se depreende do texto da capa do disco, a radionovela já estava no ar quando foi pensada e concretizada a música.
A editora Valentim de Carvalho, através da Vadeca (Porto), convidou Fernando Rocha a gravar um single. Eça de Deus teve de "inventar" o lado B, o bolero Desilusão. O maestro Resende Dias passou as músicas para a pauta, fez os arranjos e reuniu um grupo de músicos, quase todos da Orquestra Sinfónica do Porto. Não havendo na cidade um verdadeiro estúdio, a gravação decorreu em armazém da Vadeca, na avenida Camilo. O espaço não tinha qualquer tratamento acústico ou isolamento. Iniciada a gravação, houve uma paragem, devido ao cantar de um galo. A equipa técnica e o material de gravação iriam de Lisboa. A gravação foi orientada pelo Hugo Ribeiro, competente engenheiro de som. A master foi para Londres e o disco publicou-se na marca Parlophone (dados fornecidos por Fernando Rocha, a quem agradeço).
Sobre o folhetim, embora focado no publicado na imprensa, Ernesto Rodrigues desenvolveu a sua tese de doutoramento, depois publicada (Mágico Folhetim. Literatura e Jornalismo em Portugal). Aqui, defende a existência de práticas culturais que decorrem da relação entre jornalismo e literatura, reproduzido ou noticiado em folhetins (fascículos, banda desenhada, cinema-folhetim, seriais, fotonovela, folhetim radiofónico e telenovela). O folhetim, escreve, faz um país inteiro parar todos os dias, sempre à mesma hora, para saber a continuação da história.
A produção do interesse romanesco, continua Ernesto Rodrigues, assenta no desenvolvimento da intriga, com picos de interesse e de audiência. Cada episódio joga com múltiplas peripécias, inesperadas ou comoventes, doseadas para se manter a curiosidade e a expectativa. O professor de Letras indica o procedimento narratológico do folhetim: descontinuidade acional, rutura temporal, alternância de espaços, dentro de espírito acumulatório e reiterativo, em que a intriga se complica, o texto se deslineariza, os cenários mudam e as personagens multiplicam-se, com relevo até para as secundárias. O discurso é rememorativo, anunciador, antecipador, apelativo, explicativo. Tudo justifica, seja o acaso ou a inverosimilhança. Uma última ideia que capto do livro de Ernesto Rodrigues: o folhetim criou, desde os primeiros passos (e hoje à volta das séries e telenovelas) uma autoconsciência do género, que faz a sua vitalidade e tradição.
Leitura: Ernesto Rodrigues (1998). Mágico Folhetim. Literatura e Jornalismo em Portugal. Lisboa: Editorial Notícias
A editora Valentim de Carvalho, através da Vadeca (Porto), convidou Fernando Rocha a gravar um single. Eça de Deus teve de "inventar" o lado B, o bolero Desilusão. O maestro Resende Dias passou as músicas para a pauta, fez os arranjos e reuniu um grupo de músicos, quase todos da Orquestra Sinfónica do Porto. Não havendo na cidade um verdadeiro estúdio, a gravação decorreu em armazém da Vadeca, na avenida Camilo. O espaço não tinha qualquer tratamento acústico ou isolamento. Iniciada a gravação, houve uma paragem, devido ao cantar de um galo. A equipa técnica e o material de gravação iriam de Lisboa. A gravação foi orientada pelo Hugo Ribeiro, competente engenheiro de som. A master foi para Londres e o disco publicou-se na marca Parlophone (dados fornecidos por Fernando Rocha, a quem agradeço).
Sobre o folhetim, embora focado no publicado na imprensa, Ernesto Rodrigues desenvolveu a sua tese de doutoramento, depois publicada (Mágico Folhetim. Literatura e Jornalismo em Portugal). Aqui, defende a existência de práticas culturais que decorrem da relação entre jornalismo e literatura, reproduzido ou noticiado em folhetins (fascículos, banda desenhada, cinema-folhetim, seriais, fotonovela, folhetim radiofónico e telenovela). O folhetim, escreve, faz um país inteiro parar todos os dias, sempre à mesma hora, para saber a continuação da história.
A produção do interesse romanesco, continua Ernesto Rodrigues, assenta no desenvolvimento da intriga, com picos de interesse e de audiência. Cada episódio joga com múltiplas peripécias, inesperadas ou comoventes, doseadas para se manter a curiosidade e a expectativa. O professor de Letras indica o procedimento narratológico do folhetim: descontinuidade acional, rutura temporal, alternância de espaços, dentro de espírito acumulatório e reiterativo, em que a intriga se complica, o texto se deslineariza, os cenários mudam e as personagens multiplicam-se, com relevo até para as secundárias. O discurso é rememorativo, anunciador, antecipador, apelativo, explicativo. Tudo justifica, seja o acaso ou a inverosimilhança. Uma última ideia que capto do livro de Ernesto Rodrigues: o folhetim criou, desde os primeiros passos (e hoje à volta das séries e telenovelas) uma autoconsciência do género, que faz a sua vitalidade e tradição.
Leitura: Ernesto Rodrigues (1998). Mágico Folhetim. Literatura e Jornalismo em Portugal. Lisboa: Editorial Notícias
quarta-feira, 11 de abril de 2018
António Mafra
Esta semana, veio a notícia da morte de um elemento do conjunto António Mafra.
A notícia falava de "José Mafra, de 83 anos, um dos fundadores do Conjunto António Mafra". António Mafra, compositor, letrista do conjunto e intérprete de guitarra portuguesa, morrera em 1977. O vocalista Manuel Barros morrera em julho de 2016. O grupo tinha sido reativado em 1986, com a entrada de Manuel da Campanhã, com viola braguesa e cavaquinho. Rui Guerra seria o agente do grupo.
O conjunto António Mafra despontara em 1955, como dois recortes a seguir indicam (Jornal de Notícias, 18 de fevereiro e 11 de setembro de 1955), a partir de concurso do melhor cantador das freguesias do Porto, patrocinado pelo Grupo Dramático Beneficente Mocidade d'Arrábida. Os irmãos António e José Mafra moravam nessa zona da cidade e faziam parte do grupo de músicos que acompanhava os candidatos ao prémio. O vencedor seria Manuel Barros, da freguesia de Nevogilde. Estava construído o esqueleto do conjunto Caixinha de Surpresas, a tocar ritmos sul-americanos, depois mudado para Conjunto António Mafra, após sucesso em peça encenada por António Pedro (Teatro Experimental do Porto), e com música escrita e cantada em português. O grupo era constituído por António Mafra (empregado comercial), José Mafra (empregado de modas de senhora), Alberto Pereira (mecânico especializado), Manuel Barros Ribeiro (técnico de refrigeração), Mário João Leite (técnico da Emissora Nacional), Manuel Pinto (vendedor da indústria têxtil) e Venâncio Castro (não consegui apurar a profissão).
Os sucessos em disco surgiram de imediato. O primeiro datou logo de 1958, Arrebita, Arrebita, Arrebita, a que se seguiram Centopeia, O Vinho da Clarinha, Sete e Pico, Oito e Coisa, Nove e Tal, Carrapito da Dona Aurora e Oh Zé, Olha o Balão. Os Mafras editariam mais de 30 discos, quatro deles em formato LP, e atuariam nos Estados Unidos (1963, 1964 e 1968), Inglaterra, França e Canadá. A rádio foi a grande promotora desse reconhecimento. Os elementos do conjunto nunca ambicionaram profissionalizar-se e fazer carreira musical nacional e, em especial, internacional.
Do êxito dos Mafras, não posso esquecer o contributo de três homens das indústrias culturais. O primeiro é José Fortes, reputadíssimo técnico de som, que gravou os Mafras no seu espaço de ensaio, à rua dos Clérigos, no Porto. José Fortes foi falar com Carlos Silva, produtor e locutor do programa Última Hora, de Rádio Porto, nos Emissores do Norte Reunidos, para passar música dos conjuntos que ele gravava, embora Carlos Silva já conhecesse os membros do conjunto, pois fora o locutor apresentador do concurso de 1955. Os estúdios de Rádio Porto ficavam precisamente no edifício onde os músicos ensaiavam. O terceiro nome aqui trazido é o de Arnaldo Trindade, que gravou na sua etiqueta Orfeu muitos dos sucessos de António Mafra. Aliás, os Mafras foram aos Estados Unidos através de Arnaldo Trindade, com Carlos Silva a apresentá-los nos espetáculos nos Estados Unidos e no Canadá.
A notícia falava de "José Mafra, de 83 anos, um dos fundadores do Conjunto António Mafra". António Mafra, compositor, letrista do conjunto e intérprete de guitarra portuguesa, morrera em 1977. O vocalista Manuel Barros morrera em julho de 2016. O grupo tinha sido reativado em 1986, com a entrada de Manuel da Campanhã, com viola braguesa e cavaquinho. Rui Guerra seria o agente do grupo.
O conjunto António Mafra despontara em 1955, como dois recortes a seguir indicam (Jornal de Notícias, 18 de fevereiro e 11 de setembro de 1955), a partir de concurso do melhor cantador das freguesias do Porto, patrocinado pelo Grupo Dramático Beneficente Mocidade d'Arrábida. Os irmãos António e José Mafra moravam nessa zona da cidade e faziam parte do grupo de músicos que acompanhava os candidatos ao prémio. O vencedor seria Manuel Barros, da freguesia de Nevogilde. Estava construído o esqueleto do conjunto Caixinha de Surpresas, a tocar ritmos sul-americanos, depois mudado para Conjunto António Mafra, após sucesso em peça encenada por António Pedro (Teatro Experimental do Porto), e com música escrita e cantada em português. O grupo era constituído por António Mafra (empregado comercial), José Mafra (empregado de modas de senhora), Alberto Pereira (mecânico especializado), Manuel Barros Ribeiro (técnico de refrigeração), Mário João Leite (técnico da Emissora Nacional), Manuel Pinto (vendedor da indústria têxtil) e Venâncio Castro (não consegui apurar a profissão).
Os sucessos em disco surgiram de imediato. O primeiro datou logo de 1958, Arrebita, Arrebita, Arrebita, a que se seguiram Centopeia, O Vinho da Clarinha, Sete e Pico, Oito e Coisa, Nove e Tal, Carrapito da Dona Aurora e Oh Zé, Olha o Balão. Os Mafras editariam mais de 30 discos, quatro deles em formato LP, e atuariam nos Estados Unidos (1963, 1964 e 1968), Inglaterra, França e Canadá. A rádio foi a grande promotora desse reconhecimento. Os elementos do conjunto nunca ambicionaram profissionalizar-se e fazer carreira musical nacional e, em especial, internacional.
Do êxito dos Mafras, não posso esquecer o contributo de três homens das indústrias culturais. O primeiro é José Fortes, reputadíssimo técnico de som, que gravou os Mafras no seu espaço de ensaio, à rua dos Clérigos, no Porto. José Fortes foi falar com Carlos Silva, produtor e locutor do programa Última Hora, de Rádio Porto, nos Emissores do Norte Reunidos, para passar música dos conjuntos que ele gravava, embora Carlos Silva já conhecesse os membros do conjunto, pois fora o locutor apresentador do concurso de 1955. Os estúdios de Rádio Porto ficavam precisamente no edifício onde os músicos ensaiavam. O terceiro nome aqui trazido é o de Arnaldo Trindade, que gravou na sua etiqueta Orfeu muitos dos sucessos de António Mafra. Aliás, os Mafras foram aos Estados Unidos através de Arnaldo Trindade, com Carlos Silva a apresentá-los nos espetáculos nos Estados Unidos e no Canadá.
Deixo para o fim um excerto de entrevista que o radialista Carlos Silva (programa Última Hora) me concedeu, onde ele, entre outras memórias (Domingos Lança Moreira, Maria Adalgisa Costa, Maria Amélia Canossa, Olga Cardoso e Marino Marini), falou do conjunto António Mafra (minuto 5:57). Uma leitura particular da cultura da rádio e da música ligeira portuense, agora em desaparecimento e à espera do labor dos historiadores.
terça-feira, 10 de abril de 2018
Artistas e concursos
Em encontro de artistas, no passado dia 31 de Março, constituiu-se uma comissão informal, de onde saiu um grupo de trabalho informal e voluntário com a missão de redigir uma carta com as posições consensuais apuradas no encontro e de solicitar uma audiência ao Primeiro-Ministro, agendada para o dia 12 de abril. Está a ser definida a comitiva que apresentará as conclusões expressas na carta e que incluirá pessoas do grupo de trabalho e outras que representem estruturas que foram a concurso, de forma a assegurar uma maior representatividade. Na audiência, serão abordados apenas os pontos referidos na carta aberta: revisão do modelo de apoio às artes e dotação orçamental para a cultura. A expectativa é que se criem condições para um diálogo franco e regular entre o Estado e os artistas.
quinta-feira, 5 de abril de 2018
Arquivo de Memórias Orais (12 de abril de 2018)
No dia 12 de abril próximo, a partir das 10:00, na Biblioteca Nacional, Júlia Leitão de Barros, apresenta o projeto Arquivo de Memórias Orais das Profissões da Comunicação (AMOPC), de que é coordenadora. Oradores convidados: Paula Godinho e José Luís Garcia. Moderação: Francisco Sena Santos (programa da sessão abaixo). Mais informações: e-mail jbarros@escs.ipl.pt.
quarta-feira, 4 de abril de 2018
Future past: will archives survive digitisation?
By Theo Degranges February 27, 2018
"The evolution of preserving analogue through digital means is a recurrent subject and of great importance to the future of archiving. Do the people working in the archives have the relevant skills required for the future, especially in long term data storage solutions, metadata management? This is one of the challenges which British audiovisual institutions have progressively addressed over the last decades. Sue Malden (chair of FOCAL) highlighted a few of these challenges in her introduction speech during the FOCAL conference on February 21st 2018. Set in the London Studios in ITV headquarters, the conference reflected on the future challenges audiovisual archives face. This was brought by professionals and members of British broadcasting and cinematographic institutions. It’s time to gain a wider insight in the uncertainty of the future of audiovisual archiving. The main speakers of the conference were Steve Daly (Head of Technology at the BBC Archive), Dale Grayson (Director of Content Management at ITV), Charles Fairall (Head of Conservation at the BFI National Archive) and finally Tom Blake(Director of Imagen). All of them spoke about the changes and challenges their institutions face" (EU Screen Blog).Diário de Notícias em 1939
O título do livro Diário de Notícias. Da sua Fundação às suas Bodas de Diamante. Escorço da sua História e das suas Efemérides é muito comprido. Escrito por João Paulo Freire em 1939, destinado a comemorar uma data precisa da vida do jornal, a instalar na avenida da Liberdade, aqui em Lisboa. A capa remete para um tempo de modernidade: avião, automóveis, holofotes irradiando luz de uma torre do edifício. É certo que o mundo estava a presenciar o começo de uma feroz guerra que abalou a Europa e em que esses elementos modernos faziam parte da linguagem visual do dia-a-dia.
Para além de tudo, o livro (492 páginas) é uma bela peça para compreender o espírito da época. Lê-se: "Vê-se, porém, que num País onde há uma percentagem formidável de analfabetos não é possível levar um jornal a uma grande tiragem. Lança-se então a Campanha do analfabetismo nas colunas do Diário de Notícias. O movimento interessa o País inteiro e os poderes constituídos. Todas as associações literárias e económicas dão a sua adesão à campanha. Nos quartéis intensifica-se o ensino. Criam-se escolas e várias empresas e companhias estabelecem cursos para os seus operários. Outras iniciativas partem ainda da secção de Propaganda e Expansão. Em todas as exposições e feiras realizadas no País e em muitas do estrangeiro, aparecem stands do Diário de Notícias mostrando, através de gráficos e fotografias, o valor deste grande jornal. Uma noite, Lisboa assiste entusiasmada, em pleno Rossio, ao perpassar do Notícias Luminoso. Foi mais uma iniciativa da Secção de Propaganda que durante anos faria lembrar a todos quantos passavam no Rossio o nome do nosso jornal. O futebol passa a ser o desporto das multidões. Portugal inteiro vibra de entusiasmo com os desafios entre as equipas nacionais e muito principalmente quando os grupos representativos de Portugal se defrontam com os estrangeiros. A secção de Propaganda sempre atenta ao interesse do público começa a dar-lhe, através dos seus placards, cuja rede foi notavelmente desenvolvida, uma informação completa dos desafios. Chega, porém, o ponto culminante da informação, batendo o Diário de Notícias todos os records. Em Maio de 1928 realizam-se em Amsterdão os Jogos Olímpicos e Portugal faz-se representar por uma equipa de futebol" (p. 52).
Da contabilidade comercial ficamos a saber qual o portfólio da empresa: "Esta secção tem a seu cargo a escrita comercial de todos os serviços da Empresa, tais como: exploração das publicações Diário de Notícias, Os Sports, Notícias Agrícola, Arquivo Nacional e o Mosquito; das edições da Empresa; das edições alheias consignadas, entre as quais a Enciclopédia; da exploração da tipografia, da gravura e da fotografia; das contas de devedores e credores, contas de agentes, angariadores de publicidade, consignatários e consignantes de edições e outros clientes, e a escrita de assinantes. Era chefe desta secção o sr. dr. António Filomena Lourenço, que em fins de 1936 passou a chefiar a Secção de Controlo e Organização, sendo substituído pelo actual chefe, sr. José António Costa Barros (pp. 27 e 30). Sobre a tesouraria: "Em 1926, existia a secção de Tesouraria e Valores Selados, exercendo o cargo de tesoureiro o sr. José Maria Carvalhosa, que deixou de ser empregado da Empresa em 1927 e foi substituído pelo sr. Luís da Graça Reis, que saiu em 1930. Em 1928, desta secção organizaram-se duas: Tesouraria uma e Valores Selados a outra. Em 1930, pela saída do sr. Graça Reis, ficou interinamente a exercer a chefia da Tesouraria o sr. Carlos Robalo dos Santos, que foi definitivamente provido neste cargo em 1932. A Tesouraria tem actualmente (1939), além do chefe, os seguintes empregados: Manuel Teixeira, ajudante do tesoureiro, e Joaquim da Silva, caixa" (p. 24).
Só mais uma parcela, a do estabelecimento de filial no Porto, mais vista da perspetiva comercial do que jornalística: "Em 1919, Agosto, foi criada, no Porto, a Inspeção do Norte, sendo nomeado inspector o sr. João Duque, funcionário dos Correios e jornalista do Primeiro de Janeiro, que tinha como informador noticioso António Loureiro Dias e colaborador Júlio de Oliveira, do mesmo jornal portuense. Em Dezembro de 1924, foi admitido o redator José de Miranda, tendo a colaboração de Júlio de Oliveira cessado em Dezembro de 1925. Esta inspeção organizou os serviços de propaganda, venda e expansão, aproveitando todas as oportunidades para lançar o jornal no Porto e no Norte. Foram notáveis as suas propagandas especiais nas «Feira do Porto» e «Feira de Guimarães». Ao mesmo tempo estabeleceu um serviço especial de publicidade e aperfeiçoou a rede de correspondentes e agentes na sua área" (p. 60).
Para além de tudo, o livro (492 páginas) é uma bela peça para compreender o espírito da época. Lê-se: "Vê-se, porém, que num País onde há uma percentagem formidável de analfabetos não é possível levar um jornal a uma grande tiragem. Lança-se então a Campanha do analfabetismo nas colunas do Diário de Notícias. O movimento interessa o País inteiro e os poderes constituídos. Todas as associações literárias e económicas dão a sua adesão à campanha. Nos quartéis intensifica-se o ensino. Criam-se escolas e várias empresas e companhias estabelecem cursos para os seus operários. Outras iniciativas partem ainda da secção de Propaganda e Expansão. Em todas as exposições e feiras realizadas no País e em muitas do estrangeiro, aparecem stands do Diário de Notícias mostrando, através de gráficos e fotografias, o valor deste grande jornal. Uma noite, Lisboa assiste entusiasmada, em pleno Rossio, ao perpassar do Notícias Luminoso. Foi mais uma iniciativa da Secção de Propaganda que durante anos faria lembrar a todos quantos passavam no Rossio o nome do nosso jornal. O futebol passa a ser o desporto das multidões. Portugal inteiro vibra de entusiasmo com os desafios entre as equipas nacionais e muito principalmente quando os grupos representativos de Portugal se defrontam com os estrangeiros. A secção de Propaganda sempre atenta ao interesse do público começa a dar-lhe, através dos seus placards, cuja rede foi notavelmente desenvolvida, uma informação completa dos desafios. Chega, porém, o ponto culminante da informação, batendo o Diário de Notícias todos os records. Em Maio de 1928 realizam-se em Amsterdão os Jogos Olímpicos e Portugal faz-se representar por uma equipa de futebol" (p. 52).
Da contabilidade comercial ficamos a saber qual o portfólio da empresa: "Esta secção tem a seu cargo a escrita comercial de todos os serviços da Empresa, tais como: exploração das publicações Diário de Notícias, Os Sports, Notícias Agrícola, Arquivo Nacional e o Mosquito; das edições da Empresa; das edições alheias consignadas, entre as quais a Enciclopédia; da exploração da tipografia, da gravura e da fotografia; das contas de devedores e credores, contas de agentes, angariadores de publicidade, consignatários e consignantes de edições e outros clientes, e a escrita de assinantes. Era chefe desta secção o sr. dr. António Filomena Lourenço, que em fins de 1936 passou a chefiar a Secção de Controlo e Organização, sendo substituído pelo actual chefe, sr. José António Costa Barros (pp. 27 e 30). Sobre a tesouraria: "Em 1926, existia a secção de Tesouraria e Valores Selados, exercendo o cargo de tesoureiro o sr. José Maria Carvalhosa, que deixou de ser empregado da Empresa em 1927 e foi substituído pelo sr. Luís da Graça Reis, que saiu em 1930. Em 1928, desta secção organizaram-se duas: Tesouraria uma e Valores Selados a outra. Em 1930, pela saída do sr. Graça Reis, ficou interinamente a exercer a chefia da Tesouraria o sr. Carlos Robalo dos Santos, que foi definitivamente provido neste cargo em 1932. A Tesouraria tem actualmente (1939), além do chefe, os seguintes empregados: Manuel Teixeira, ajudante do tesoureiro, e Joaquim da Silva, caixa" (p. 24).
Só mais uma parcela, a do estabelecimento de filial no Porto, mais vista da perspetiva comercial do que jornalística: "Em 1919, Agosto, foi criada, no Porto, a Inspeção do Norte, sendo nomeado inspector o sr. João Duque, funcionário dos Correios e jornalista do Primeiro de Janeiro, que tinha como informador noticioso António Loureiro Dias e colaborador Júlio de Oliveira, do mesmo jornal portuense. Em Dezembro de 1924, foi admitido o redator José de Miranda, tendo a colaboração de Júlio de Oliveira cessado em Dezembro de 1925. Esta inspeção organizou os serviços de propaganda, venda e expansão, aproveitando todas as oportunidades para lançar o jornal no Porto e no Norte. Foram notáveis as suas propagandas especiais nas «Feira do Porto» e «Feira de Guimarães». Ao mesmo tempo estabeleceu um serviço especial de publicidade e aperfeiçoou a rede de correspondentes e agentes na sua área" (p. 60).
terça-feira, 3 de abril de 2018
Ao balcão da Valentim de Carvalho
Maria Luísa Sequeira foi profissional da editora Valentim de Carvalho ao longo de décadas. Ao balcão de uma loja, ela acompanhou e viu mudar géneros musicais, atendeu muitos clientes e contactou com artistas. Também fã, ela assistiu a concertos de alguns desses artistas e grupos, nomes marcantes na cultura da música popular. As vendas, as montras e a estrutura da empresa foram alguns outros tópicos da conversa, tornada uma memória dessa época.
segunda-feira, 2 de abril de 2018
O ensino da música e a Emissora Nacional em João de Freitas Branco (1942)
O artigo de João de Freitas Branco na Arte Musical, com o título "O Problema da Música em Portugal", saiu a 25 de maio de 1942. Ele era filho do compositor Luís de Freitas Branco, também diretor da revista, e possuía o curso do Conservatório Nacional de Lisboa. Escreveu diversos livros sobre a música. Neste artigo, pouco tempo antes de assumir funções de assistente de programas musicais na Emissora Nacional (1944, estação para a qual criou ainda o programa O Gosto pela Música, em 1956), o autor discorreu sobre a música no nosso país.
Qual o diagnóstico traçado por João de Freitas Branco ao olhar uma sociedade em grave crise causada pela II Guerra Mundial? Mais do que encontrar razões de mudança, ele traçaria a situação da época e consideraria quatro elementos, o primeiro dos quais as sociedades de concertos, com sócios amadores de música, profissionais como médicos, engenheiros ou militares do quadro, que frequentavam aulas de piano para melhor compreender os concertos. As sociedades de concertos contribuíam para elevar o nível cultural das elites. O segundo elemento concernia às sociedades corais, que, com os seus dois ensaios semanais, serviam de passatempo e sabor artístico. O terceiro elemento, no domínio da formação, era o Instituto de Alta Cultura, que atribuía bolsas de estudo no estrangeiro. Um beneficiado seria José Vianna Motta.
Mas o alvo principal do artigo de João de Freitas Branco era a Emissora Nacional, então com cerca de oito anos de radiodifusão. O autor viu duas razões para destacar a importância da rádio. Por um lado, a Emissora Nacional dava "de comer à quase totalidade dos nossos melhores executantes", pelo que alertava para as condições económicas dos estudantes de música. Teriam emprego após a conclusão da sua formação musical? A outra razão era a da receção, pois a Emissora Nacional servia a instrução musical em pleno, com a boa música a chegar a todos por intermédio de um "pequeno aparelho de TSF". A rádio, no período negro da II Guerra Mundial e nas décadas seguintes, foi o ponto de arranque e de chegada da cultura popular e da alta cultura, divertindo e formando a opinião. À rádio de Estado, que teve ainda a função menos útil de ideóloga do regime político, não se pode negar a sua grande importância.
Qual o diagnóstico traçado por João de Freitas Branco ao olhar uma sociedade em grave crise causada pela II Guerra Mundial? Mais do que encontrar razões de mudança, ele traçaria a situação da época e consideraria quatro elementos, o primeiro dos quais as sociedades de concertos, com sócios amadores de música, profissionais como médicos, engenheiros ou militares do quadro, que frequentavam aulas de piano para melhor compreender os concertos. As sociedades de concertos contribuíam para elevar o nível cultural das elites. O segundo elemento concernia às sociedades corais, que, com os seus dois ensaios semanais, serviam de passatempo e sabor artístico. O terceiro elemento, no domínio da formação, era o Instituto de Alta Cultura, que atribuía bolsas de estudo no estrangeiro. Um beneficiado seria José Vianna Motta.
Mas o alvo principal do artigo de João de Freitas Branco era a Emissora Nacional, então com cerca de oito anos de radiodifusão. O autor viu duas razões para destacar a importância da rádio. Por um lado, a Emissora Nacional dava "de comer à quase totalidade dos nossos melhores executantes", pelo que alertava para as condições económicas dos estudantes de música. Teriam emprego após a conclusão da sua formação musical? A outra razão era a da receção, pois a Emissora Nacional servia a instrução musical em pleno, com a boa música a chegar a todos por intermédio de um "pequeno aparelho de TSF". A rádio, no período negro da II Guerra Mundial e nas décadas seguintes, foi o ponto de arranque e de chegada da cultura popular e da alta cultura, divertindo e formando a opinião. À rádio de Estado, que teve ainda a função menos útil de ideóloga do regime político, não se pode negar a sua grande importância.
Exposição fotográfica "Trago em Mim Todas as Feridas"
Obra coletiva de fotografia composta de conjunto de imagens realizadas durante ação de formação de Narrativas fotográficas em laboratório a preto e branco, promovido pelo Movimento de Expressão Fotográfica. Partiu da análise da obra Nuez, livro feito de poemas (Rui Baião) e de fotografias (Paulo Nozolino). Segundo a organização do evento, "as narrativas presentes são reflexo da viagem de cada uma das autoras na busca de uma identidade própria, que em algum momento se cruzaram com o trabalho do fotógrafo".
Dos ensaios fotográficos resultou um conjunto de 43 imagens de sete autoras. 7 de abril, 15:30-22:00, no Espaço MEF, Palácio de Laguares, rua Professor Sousa da Câmara, 156, Lisboa.
Dos ensaios fotográficos resultou um conjunto de 43 imagens de sete autoras. 7 de abril, 15:30-22:00, no Espaço MEF, Palácio de Laguares, rua Professor Sousa da Câmara, 156, Lisboa.
domingo, 1 de abril de 2018
Rádio Triunfo - a gravação do disco
Em 1973, a Fábrica de Discos Rádio Triunfo editava um folheto comemorativo da inauguração do seu estúdio de gravação em Lisboa. O folheto apresenta os diferentes passos da gravação do disco, da conceção musical à aquisição, usando textos curtos, desenhos e fotografias. A fábrica da Rádio Triunfo ficava em S. Mamede de Infesta (Matosinhos). A empresa abriu em 1946 e foi comprada pela Movieplay em 1983 [a reprodução do folheto não tem boa qualidade].
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