Textos de Rogério Santos, com reflexões e atualidade sobre indústrias culturais (imprensa, rádio, televisão, internet, cinema, videojogos, música, livros, centros comerciais) e criativas (museus, exposições, teatro, espetáculos). Na blogosfera desde 2002.
quinta-feira, 31 de janeiro de 2008
GRAFITEIRO REGICIDA
Vai uma excitação no país, agora que se comemoram os cem anos do regicídio de D. Carlos, o penúltimo rei português. Há fanfarras, estátuas, colóquios, textos a favor e contra - parece que foi o último grande acontecimento do país.
Hoje, num edifício privado, fotografei este graffiti. Trata-se de trabalho profissional. Para memória futura.
OBSCENA
O nº 9 da Obscena, revista independente de artes performativas, em papel, tem os seguintes locais de distribuição na região de Lisboa: Culturgest, CCB, S. Luiz - Teatro Municipal, Café no Chiado, Teatro Nacional D. Maria II, Maria Matos - Teatro Municipal, Livrarias Bulhosa (Entrecampos, Oeiras Parque, Amoreiras, Cascais, Linda a Velha, Campo de Ourique), Teatro Taborda, Teatro Municipal de Almada, Comuna - Teatro de Pesquisa, Fundação Calouste Gulbenkian (edifício-sede e Centro de Arte Moderna).
À Obscena também se pode aceder em formato digital.
Obrigado ao António Quadros Ferro por me ter chamado a atenção para a publicação.
FERNANDA DE CASTRO VISTA PELA BISNETA
Maria Ana Ferro, do blogue segundo - Impacto, deixou um comentário na minha mensagem do blogue cópia do Indústrias (Dragão de Papel) sobre AS MENINAS DOS TELEFONES, por Fernanda de Castro.
Fernanda de Castro viveu 95 anos, morreu em 1995. Adorava falar ao telefone, com as amigas. Combinava chás em sua casa, embora não pudesse levantar-se da cama. Havia sempre bolinhos e doces e chocolates, num cofre, porque de facto tudo aquilo era um tesouro. Havia restos de tecidos velhos que pareciam ter pertencido a príncipes e princesas, havia sempre flores em vaso e havia cheiro a pó-de-arroz.
Hoje, guardo nesse cofre as cartas antigas, fiquei com um dos tecidos velhos, mais do que um tecido, um vestido do menino Jesus de um antigo presépio, fiquei com o amor às plantas e fiquei com todos os cheiros na memória.
Para além de tudo, a admiração e a saudade.
Vivi quase 10 anos naquela magia.
Maria Ana Ferro é bisneta de Fernanda de Castro e António Ferro.
quarta-feira, 30 de janeiro de 2008
O SERVIÇO DA NETCABO
Ao quinto dia, a Netcabo resolveu o meu problema de correio electrónico. Mas após muitas insistências e telefonemas.
Hoje, os passos que me indicaram para recuperar a caixa electrónica foram diferentes dos informados nos dias anteriores. Depois, fiquei a saber que o MyTVCabo esteve inoperante durante dois destes cinco dias, pelo que a recuperação do correio electrónico era impossível. Para culminar, disseram ter-me enviado uma mensagem SMS ontem, o que não aconteceu, mas apenas depois de eu ter telefonado. Isto é, contactei a Netcabo para saber o desenvolvimento do meu processo por volta das 11:00 e recebi o SMS às 11:35:19 (remetente: 965990300). Pelo SMS, é possível perceber o desnorte da Netcabo, pois lê-se: "ultrapassada uma anomalia no portal mytvcabo".
Conclusão: a Netcabo está a funcionar mal, não informa devidamente os clientes, melhor, engana-os. Trata-se de um problema das empresas que cresceram e estão com posição de mercado dominante. Se calhar, os clientes são uma ameaça constante, colocando problemas permanentemente; o melhor é despedir os clientes, fonte dessa ameaça.
RECUPERADAS FOTOGRAFIAS DE ROBERT CAPA
Cerca de 3500 imagens feitas pelo fotógrafo de guerra Robert Capa foram recuperadas pelo International Center of Photography em Nova Iorque. Fotografias da Guerra Civil de Espanha estavam perdidas até serem agora descobertas no México. Entre elas, a fotografia de 1936 do soldado republicano abatido por uma bala. Um vídeo com explicações sobre a descoberta e o tratamento dos negativos pode ser visto no sítio da France 24.
INDICADORES DA RÁDIO SEGUNDO A MARKTEST
Conforme os dados agora divulgados pela Marktest relativos ao ano de 2007, "a audiência acumulada de véspera de rádio foi de 54,6%, percentagem de residentes no Continente com 15 e mais anos que contactaram com o meio na véspera". Com dados estatísticos observados desde 2003, a mesma empresa indica que o indicador atingira o ponto mais baixo no penúltimo trimestre de 2007: 53,4%, de acordo com o quadro seguinte.
Quanto à liderança das audiências de rádio é da RFM, seguida da Rádio Renascença e da Rádio Comercial, como se observa no quadro seguinte, com valores desde 2003, e que tem sido constante nestes anos.
No meu entender, a regularidade em termos de rádios mais escutadas ilustra o conservadorismo dos consumidores dos media, os quais não dão oportunidade a novas ofertas. Ou, então, não há inovação na oferta, o que se repercute no imobilismo do consumo. E, embora de modo muito lento, nota-se alguma erosão relativamente a este indicador, o que pode prenunciar uma migração dos ouvintes para outros media, admitindo que consomem as mesmas horas em termos de media (a minha explicação vem a seguir).
Ainda de acordo com os mesmos dados da Marktest, "Os quadros médios e superiores e os jovens dos 25 aos 34 anos são os targets com maior afinidade com o meio, ao registar audiências superiores, respectivamente 71,9% e 70,9%. Os homens, os residentes no Grande Porto e no Litoral Norte, bem como os indivíduos da classe social alta registam audiências superiores à média do universo, enquanto a menor afinidade com o meio se encontra junto dos idosos, das domésticas e dos indivíduos da classe social baixa".
Na minha leitura, idosos, domésticas e indivíduos de classes sociais mais baixas transferiram-se para a televisão, com programas mais vistosos nos canais populares e orientados exactamente para eles. Possivelmente, a perda de ouvintes da rádio reside nestas classes sociais e etárias.
terça-feira, 29 de janeiro de 2008
REVISTA OS MEUS LIVROS
Os Meus Livros está uma revista mais bonita em termos de design, a começar pelo número de Janeiro e a continuar no número de Fevereiro, que já me chegou hoje.
No número de Janeiro, o meu destaque foi para o Kindle, o aparelho da Amazon que se propõe substituir o livro em papel, e a entrevista de Sandra Silva, da editora 101 noites, que publicou recentemente vários audiolivros e que eu aqui fiz referência recente de uma conferência sua.
No número de Fevereiro, destaco as publicações de banda desenhada projectadas para este ano, os livros sobre cozinha e o perfil de Isaías Gomes Teixeira, do novo grupo livreiro Leya, e que tem acompanhado Miguel Paes do Amaral há vários anos nos seus projectos empresariais.
Parabéns ao director, João Morales, pela revista!
PROGRAMAS JUVENIS DE TELEVISÃO
Recolho da edição em papel do Público a informação que três investigadores de Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS) da Universidade do Minho vão fazer um estudo sobre as séries juvenis e de desenhos animados que passam nos canais de televisão - Estudo da programação para a infância dos canais generalistas portugueses - uma encomenda da ERC, Entidade Reguladora para a Comunicação Social.
A coordenadora desse grupo é Sara Pereira, que disse ao jornal que "apesar da internet e dos videojogos, a televisão continua a ser central na vida das crianças".
DECISÃO DE TRIBUNAL FACE A ARTIGO DE CINTRA TORRES
Ontem, o Tribunal de Instrução Criminal (TIC) decidiu-se pela não-pronúncia dos arguidos Eduardo Cintra Torres e José Manuel Fernandes (respectivamente articulista e director do jornal Público).
Em causa, estava o artigo que o primeiro daqueles escrevera no Público, a 20 de Agosto de 2006, intitulado "Como se Faz Censura em Portugal", e que levou a uma queixa-crime apresentada pela RTP e pelos então membros da Direcção de Informação, assim como a uma deliberação da ERC.
Cintra Torres considera esta "decisão um alento para a liberdade de imprensa em Portugal, para a liberdade em concreto dos jornalistas e dos comentadores dos media em Portugal".
Observação: eu comentara aqui sobre esse assunto (7 de Dezembro de 2006).
REMODELAÇÕES NO GOVERNO
- O primeiro-ministro, José Sócrates, já tem em curso a remodelação do Governo. Estão de saída pelo menos o ministro da Saúde, Correia de Campos, e a ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, avançou a Rádio Renascença, que cita fonte governamental (fonte: Público, 15:15).
O MAU SERVIÇO DA NETCABO
A NETCABO ESTÁ A FUNCIONAR MAL!
Sábado passado, a Netcabo colocou-me um novo modem. O antigo estava a provocar-me problemas de acesso, nomeadamente se pretendia guardar imagens num servidor.
Após a instalação fiquei sem poder ler as mensagens do correio electrónico, o endereço que está no cabeçalho do blogue. Desde o final da manhã de sábado, venho insistindo com o fornecedor do serviço. Os assistentes e supervisores que me atendem indicam ir resolver a avaria rapidamente, embora oscilem entre duas e 24 horas nas suas previsões.
Estou muito zangado. O serviço da Netcabo não está a funcionar convenientemente. Tenho estado toda a manhã em casa à espera de um contacto, como ficou combinado - mas nada. E tenho mais que fazer do que estar em casa para receber um telefonema.
A NETCABO ESTÁ A PRESTAR UM MUITO, MUITO MESMO, MAU SERVIÇO. É UMA EMPRESA MAGESTÁTICA, MUITO PODEROSA E QUE ESMAGA QUALQUER CLIENTE, O QUAL TEM APENAS UM NÚMERO DE TELEFONE E UM EMAIL, QUE NÃO PASSAM DE GUARDIÕES DO TEMPLO.
A Netcabo ignora a importância do correio electrónico como instrumento de trabalho e de profissão. E, com o corte do endereço, uma coisa simples como comprar livros na Amazon fica inibida.
O que mais posso fazer? Queixo-me a um eventual provedor do cliente da Netcabo? Mudo de fornecedor e tenho de escrever a todos os meus contactos que mudei de endereço electrónico?
segunda-feira, 28 de janeiro de 2008
FESTIVAL EUROPEU DE RÁDIO ARTE ON-LINE
Melhoro a informação, dada no dia 24, sobre um evento que diz respeito à rádio a decorrer no Goethe-Institut:
No dia 31 de Janeiro terá lugar no auditório do Goethe-Institut em Lisboa uma conferência sobre o Festival Europeu de Rádio Arte Online. Foram 16 países europeus que participaram neste evento de carácter inovador apresentando um largo espectro de concepções artísticas sonoras que testemunharam a elevada qualidade e diversidade que actualmente existe no campo de Arte Acústica de cada país.
Certamente que o teatro radiofónico se inclui neste repertório.
COMUNICAÇÃO E CULTURA
Para os interessados, informa-se que estão disponíveis gratuitamente os dois primeiros números da revista Comunicação e Cultura, do Centro de Estudos de Comunicação e Cultura (Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa), a partir do sítio da Quimera, a editora da revista.
NÚMERO DE REVISTA SOBRE NOTICIÁRIOS TELEVISIVOS
Investigadores do Centro de Estudos Comunicação e Sociedade da Universidade do Minho (CECS) vão editar um número da revista Comunicação e Sociedade (nº 15) dedicado aos noticiários televisivos (a RTP fez 50 anos no final do ano passado), mas convidam igualmente investigadores fora daquela universidade para escrever sobre o tema.
Os temas são os seguintes: 1) lugar do telejornal na programação dos canais generalistas ao longo de 50 anos, 2) alinhamentos dos noticiários (em período de monopólio e/ou pós-privadas), 3) informação e serviço público de televisão, 4) telejornal enquanto género em mutação, 5) tendências de evolução da informação televisiva no contexto do digital, 6) estado da arte sobre a investigação académica da informação televisiva, 7) linhas de estudo/análise da informação televisiva.
Os autores que desejem submeter artigos devem enviar os originais em formato electrónico até 30 de Abril para cecs@ics.uminho.pt e/ou felisbela@ics.uminho.pt. Igualmente, solicita-se que enviem duas cópias em papel para CECS - Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade, Instituto de Ciências Sociais, Campus de Gualtar, Universidade do Minho, 4710-057 Braga. Os organizadores do número indicam ainda que os trabalhos, objecto de arbitragem, precisam de seguir o formato de acordo com as normas de publicação da revista (ver o sítio do CECS).
domingo, 27 de janeiro de 2008
MANUAIS SOBRE MEDIA
Eu gosto de manuais sobre os media - eles são uma espécie de dicionários ou enciclopédias. Em Portugal não há tradição, apesar de haver muitos estudantes em cursos universitários de comunicação (diz-se que eles fotocopiam livros ou, como revela o destaque do Público de hoje, recolhem informação na wikipédia, o que não é nada agradável).
Mas, no Reino Unido, o esforço editorial é grande, o que leva, por outro lado, a que os docentes escrevam textos e publiquem antologias de textos. Estes últimos, embora não tragam trabalhos completos dos autores, incluem parcelas fundamentais de textos que, de outro modo, podem ser de difícil acesso.
Os livros, cujas capas publico a seguir, vão servir-me nos próximos meses. Detecto três tipos: 1) antologias, 2) textos originais de vários autores que escrevem sobre um grande tópico, 3) textos de um só autor.
Destaco duas tendências: 1) se Eoin Devereux trabalha no seu livro temas como globalização dos media, propriedade e concentração, produção e profissionais dos media, ideologia dos media, análise de conteúdo e audiências e recepção, os cinco livros organizados pela Open University desenvolvem esses temas em cada um dos livros, notando-se, se quisermos, uma fileira de pensamento (Understanding media. Inside celebrity; Media audiences; Media production; Analysing media texts; Media technologies, markets and regulation), 2) o livro de Paddy Scannell, Media and communication, o primeiro de uma trilogia ainda em publicação, segue uma forma elegante de escrever sobre de teorias da comunicação, falando destas e dos seus principais actores.
Todos eles - se quisermos ver melhor - associam jornalismo, media e indústrias culturais.
Espero escrever sobre eles durante os próximos tempos...
sábado, 26 de janeiro de 2008
O SERVIÇO DO PRESTADOR DE INTERNET
O técnico do servidor de internet que veio a casa demorou pouco tempo. Foi muito eficiente. Voltei a poder colocar imagens fixas e em movimento no blogue, sem restrições.
Mas fiquei sem acesso ao correio electrónico via Outlook. Reclamei para o serviço, responderam-me rapidamente. Prometeram resolver com a mesma velocidade. Mas continuo à espera de um contacto que me confirme que vão reparar a avaria.
Ou seja: eliminou-se um problema, surgiu outro. No final do mês, pago o mesmo valor? Ou a empresa que me fornece o serviço vai descontar no preço?
PÂNICO MORAL
Diz-se, com frequência, que os media são responsáveis pelos males que acontecem à sociedade. Espalham dúvidas, amplificam medos, repetem vezes sem conta desastres naturais ou provocados pela acção humana. Por vezes, os próprios media reconhecem isso, e fazem declarações, fixam restrições - auto-regulam-se. Lembro-me, em 2001, da queda da ponte de Entre-os-Rios. Em 2007, foi o caso Maddie, a menina inglesa desaparecida.
Há muitos anos atrás, um sociólogo britânico, Stan Cohen, qualificou essa amplificação dos media como a de pânico moral - cada notícia desperta em nós um medo: o da morte, o do desemprego, o do assalto, o da simples falta de água na torneira. Ao repetir à exaustão um acontecimento, ele transforma-se em pesadelo e nós ficámos esgotados, querendo fugir ou desligar da realidade mediática. É que a imagem repetida produz efeitos, pode afectar a nossa vida.
Não quero tomar partido, até porque não possuo uma informação precisa e distanciada, mas a audição das gravações de chamadas telefónicas ligadas a pedidos de ambulâncias, como as que se ouviram ontem e hoje, visa ir além dos agentes sociais directamente envolvidos. Porque se trata de um tópico que interessa a todos os cidadãos, o do serviço nacional de saúde, convém ter-se sentido dessa importância. Se alguém está a lesar esse serviço, o melhor é impedi-lo de continuar a fazê-lo. Mas, parece-me, começa a entrar-se na gritaria, na confusão, na falta de discernimento.
Observação: no final do ano passado, passou pelos ecrãs do cinema um filme sobre os hospitais de Bucareste, capital da Roménia, onde foi desarticulado o serviço nacional de saúde do país. A personagem principal do filme, um homem velho, acabaria por morrer porque os paramédicos andaram com ele de hospital em hospital em busca de uma vaga em cama. Não queremos que Portugal se atrase igualmente.
CANAIS PARA DIVERSOS GOSTOS
O pai descansa ao observar o bilhar transmitido pelo canal da televisão. Uma tela quase toda verde, com a bola a percorrer um conjunto de linhas geométricas. O homem ajusta o taco com uma precisão como se fosse o relógio ou a máquina mais exacta do universo. Há uma longa filosofia por detrás da tacada, a qual pode decidir um jogo. E muita elasticidade.
Já o filho prefere ver o canal do ténis. É mais frenético, mais musculado. Não tem a elegância do bailado, mas aproxima-se, e é um igual esforço suado. O ténis tem vedetas, que aparecem nas capas das revistas. Muitas dessas vedetas vêm da luminosa Europa de leste. Como no bilhar, aprecia-se a elasticidade. E, como naquele, o tempo está sincopado.
No Japão, há canais temáticos que apenas transmitem programas sobre água, flores, peixes, cores. São feitos para recuperar a harmonia intrapessoal. Trata-se, pois, de um consumo privado: o lar como espaço de repouso e de aconchego. Aqui, o espaço ganha sobre o tempo - que não é preciso para nada.
O saudoso Eduardo Prado Coelho escreveu, um dia, sobre o prazer que obtinha de passar uns minutos a ver o canal de moda. Modelos esguios, diria anoréticos, mostram-se pelas passarelas enquanto uma música dance acompanha esses movimentos. O ritmo volta a adquirir força, com igual sentido de harmonia, equilíbrio e elasticidade.
Falta um canal sobre escultura: da grega até à de Brancusi. Nesse canal temático inexistente, o ritmo nada deveria ao tempo mas sim à forma e à harmonia. Seria igualmente um canal íntimo, colorido, doce. A precisar de música. Eis uma proposta séria para a televisão digital terrestre.
AS INDÚSTRIAS CULTURAIS SEGUNDO A MINISTRA DA CULTURA
Na cerimónia de apresentação de resultados preliminares no Inquérito ao Sector do Livro (ver mensagem abaixo), Isabel Pires de Lima falou da importância das indústrias culturais e das indústrias criativas no PIB dos países.
Segundo ela, em Novembro passado, durante a presidência portuguesa da UE, os países membros acordaram a cooperação política no sector, tendo em conta a sua importância. A ministra da Cultura referiu valer o sector das indústrias culturais e das indústrias criativas perto de 2,6% do PIB.
A ministra salientou ainda a importância dos estudos sobre a cultura no nosso país, tendo destacado quatro em curso (ou já concluídos): plano nacional da leitura, a cultura em Portugal, estatísticas da cultura e estudo do livro (apresentado exactamente ontem).
APRESENTADOS RESULTADOS PRELIMINARES DO INQUÉRITO AO SECTOR DO LIVRO
Ontem, na Biblioteca Nacional de Portugal, o OAC (Observatório de Actividades Culturais) apresentou os resultados preliminares ao Inquérito ao Sector do Livro, pela voz do coordenador do projecto, José Soares Neves.
Organismo fundado em Setembro de 1996 como parceria do Ministério da Cultura, Instituto de Ciências Sociais e Instituto Nacional de Estatística, o OAC tem desenvolvido meritórios estudos, nomeadamente sobre públicos de cultura, museus e bibliotecas, como aqui tenho vindo a destacar ao longo dos anos.
Neste momento, o OAC está a desenvolver um projecto de caracterização do sector do livro, pelo que trabalha na criação de uma base de dados e na implementação de um inquérito aos elementos da cadeia de valor da indústria do livro, após realizar 36 entrevistas a agentes do sector (e cujas apreciações o vídeo anexo fornece). Dos tópicos que entram no projecto, destacam-se: emprego e formação académica, produção de livros, estatísticas, modelos de produção, comércio do livro, direitos de propriedade intelectual, indicadores físicos e financeiros e panorama editorial.
LIVRO de Rogério Santos no Vimeo.
Alguns números que retirei da apresentação de José Soares Neves: 10102 títulos publicados em 2005, distintos por áreas como língua e literatura (34,6%), ciências sociais (25,3%) e generalidades (17,8%), entre outros, e 418 empresas em 2005, 86,2% das quais tinha 20 ou mais empregados.
MÁSCARAS EM LISBOA
FESTIVAL DE LOULÉ
O festivalmed (Festival do Mediterrâneo de Loulé) vai decorrer de 25 a 29 de Junho, em 5ª edição.
Mais informações em www.festivalmed.com.pt.
FEIRA ALTERNATIVA
Nos dias 26 e 27, o Centro Cultural Dr. Magalhães Lima (Alfama, Lisboa) promove a 11ª edição do Ladralternativa. Vão-se encontrar artigos de bijutaria, cerâmica, roupa e acessórios de moda, utensílios para a casa. Para saber informações suplementares, enviar email para ladralternativa@gmail.com.
ESTUDOS OEIRENSES
Até 15 de Maio, às quintas-feiras, decorre o V Ciclo de Estudos Oeirenses, este ano dedicado ao tema Viagens. Procurar mais informações no sítio da Câmara Municipal de Oeiras.
ENCONTRO DE CULTURA
De 20 a 23 de Fevereiro, Guimarães vai ser palco de encontro(s) de culturas(s).
Promotor: alcultur.
Para saber mais, procurar em www.alcultur.org.
sexta-feira, 25 de janeiro de 2008
NOVA ESCOLA DE BERLIM
De 31 de Janeiro a 6 de Fevereiro, no cinema São Jorge (Lisboa), projectam-se filmes de jovens realizadores alemães ligados à Nova Escola de Berlim, movimento cinematográfico com origem na dffb, uma academia independente de cinema em Berlim. Os seus filmes têm-se destacado em vários festivais com um cinema fluído e narrativo, baseado numa fotografia límpida e em argumentos que espelham o mal-estar social e pessoal das sociedades em que vivemos.
Segundo a organização, destaque para a presença de Christian Petzold, que apresentará WOLFSBURG e GESPENSTER a 6 de Fevereiro, e para os filmes de Angela Schanelec, nomeadamente NACHMITTAG , adaptação de A Gaivota, de Tchékhov.
quinta-feira, 24 de janeiro de 2008
TEATRO RADIOFÓNICO EM DISCUSSÃO NO INSTITUTO ALEMÃO
A rádio - ou melhor, um dos seus mais dedicados géneros, o teatro radiofónico - estará em análise no Instituto Alemão (Goethe-Institut Portugal, Campo dos Mártires da Pátria, Lisboa) na próxima quinta-feira, dia 31, das 17:00 às 18:00. A rádio pública portuguesa e a rádio alemã marcarão presença. Pelo que me disseram, Carmen Dolores estará entre os participantes.
OS VÍDEOS DE MÁRIO PIRES EM RETORTA
Mário Pires tem um conjunto de vídeos muito interessantes no endereço Retorta.
Ver, por exemplo, estes dois vídeos, um projecto a solo de Vasco Casais (OMIRI), no Teatro Ibérico:
OMIRI - Teatro Ibérico from retorta on Vimeo.
OMIRI - Teatro Ibérico from retorta on Vimeo.
Para mim, são trabalhos de muito profissionalismo mas com uma grande dose de experimentalidade, dentro do conceito de videoarte. Imagens desfocadas, arrastadas ou com maior velocidade (slow versus fast), impressas em cima de outras, com uma janela dentro da imagem maior, cores vivas, denotação da iluminação (feixe luminoso incidindo directamente na máquina), são algumas das características destes vídeos.
Dos outros, o melhor é ver!
COMENTÁRIO POLÍTICO EM RITA FIGUEIRAS
Anteontem, foi lançado o livro de Rita Figueiras, docente da Universidade Católica, O Comentário Político e a Política do Comentário. Na imagem, para além de Rita Figueiras, vêem-se o reitor da Universidade, Manuel Braga da Cruz, a apresentar a autora, e José Pacheco Pereira, que comentaria a obra (o blogueiro espera colocar um resumo da comunicação de Pacheco Pereira num dos próximos dias, após resolução da dificuldade de colocação de imagens no blogue via computador pessoal).
ESTUDO DO LIVRO
Amanhã, 25 de Janeiro, pelas 11:00, vai decorrer, no auditório da Biblioteca Nacional de Portugal, a sessão pública de apresentação de resultados preliminares do projecto Inquérito ao Sector do Livro, desenvolvido pelo Observatório das Actividades Culturais (OAC). Para ver o programa da sessão clicar duplamente na imagem abaixo.
EMPREGO
João Giovani é operador de câmara e operador de steadicam, trabalhando com o seu próprio equipamento. Vive em Belo Horizonte, no estado de Minas Gerais, Brasil, e tem 23 anos. Procura alargar o seu mercado de trabalho, fazendo novas parcerias. O currículo pode ser encontrado aqui.
Uma forma fácil de o contactar é através do email: viktorgiovani@hotmail.com.
quarta-feira, 23 de janeiro de 2008
VOLTANDO AO DIGITAL VERSUS ANALÓGICO
1. Os rapazinhos que me servem de observação em análise de videojogos e cultura karaoke foram vistos a jogar o Monopólio, um velho jogo da Majora onde alugar um terreno custa 180 escudos e comprar um hotel no Rossio talvez uns dois contos. Eles lançavam os dados, servidos pela irmã pequena de um deles. Creio que não dominavam bem o jogo, pois não havia grande empreendedorismo. As casinhas vermelhas e os hotéis verdes continuavam dentro da caixa. Fiquei perplexo. Os jogos de computador ou de consola portátil, ficavam, por largos minutos, sem uso. Vá lá, o computador estava ligado e um dos jovens colocou um ficheiro musical do YouTube, embora nenhum deles conhecesse a banda e um ainda solicitou para "pôr" o Titanic. Porquê esta pausa? Alguém lhes ofereceu um jogo quase pré-televisão? Descobriram que há mundo para além do digital? Concluiram que o brincar passa pelos modos analógicos? Viva o analógico!
2. Na insónia que tive, revi o sonho que acabara pouco antes. Não tinha lógica, como costuma acontecer aos sonhos, mas era divertido. Recordei amigos antigos - muito activos e cheios de imaginação. De repente, prolongando a insónia, dei-me conta que o cérebro é digital durante o sono. Explico-me melhor: as ideias fluem dispersas, efémeras e fragmentárias, sem grandes narrativas a suportá-las. Há conexões (os links), imagens, silhuetas, clarões. Por vezes, os sonhos são coloridos, outras vezes, são a preto e cinzentos e brancos, algumas vezes, as figuras são descarnadas e a uma dimensão, outras ainda, têm massa e forma volumétrica. Os impulsos do cérebro são, conclui-se, digitais. Viva o digital!
3. Os franceses e os espanhóis falam de numérico quando se referem ao digital. Numérico diz respeito aos zeros e uns da mensagem informática, no que parece mais preciso. Nós seguimos a palavra inglesa e mais universal - digital. Se quisermos, numérico é mais maquínico e digital, parece contacto superficial. Habituamo-nos a opor digital a analógico, sendo este um equivalente eléctrico de uma actividade humana, algo de cópia homem-máquina, com a máquina a ter uma comportamento antropomórfico. Digital (ou numérico) é a desmaterialização da máquina, a perda da inocência da cópia e a autonomia do mundo da máquina.
4. Talvez, partindo desta última observação, os rapazinhos tenham amadurecido e reflectido na dupla condição do analógico e do numérico - a máquina tem ou não constituição própria? Nesse instante, abandonaram a superfície do ecrã, numérica e fria, pelo mundo sensorialmente mais rico num dispositivo físico a três ou quatro, um verdadeiro espaço acústico e visual, gozando o vagar analógico do tempo. Por um momento, McLuhan triunfou sobre Baudrillard.
Observação: o jogo Monopólio existia num tempo em que não se falava muito dele(s). Ou era uma palavra reservada no Estado Novo?
terça-feira, 22 de janeiro de 2008
AINDA O TRABALHO DO OBERCOM SOBRE A IMPRENSA (ONTEM DIVULGADO)
Imprensa sob pressão. As dinâmicas competitivas no mercado da imprensa escrita portuguesa entre 1985 e 2007 é, como escrevi ontem, o research report mais recente do OberCom, assinado por Sandro Mendonça, David Castro, Pedro Cavaco e Gonçalo Lopes.
Pela sua leitura percebe-se quais os pontos mais importantes na vida das empresas de imprensa no período em análise: 1) processo de privatizações na imprensa (segunda metade dos anos 1980), 2) aparecimento dos jornais on-line (década de 1990), e 3) fenómeno dos jornais gratuitos (presente década).
A meu ver, há outras marcas significativas, tais como a digitalização das redacções, a concorrência das televisões privadas, a entrada de novos jornalistas e técnicos de várias profissões com nível de licenciatura, o peso dos jornais regionais, o aparecimento das rádios locais e a sua venda posterior para grupos de rádio, o recente fenómeno YouTube que faz com que jornais e rádios nacionais coloquem vídeo-notícias nos seus sítios, a separação da redacção clássica face à sua congénere on-line nos anos 1990 e junção já na actual década. Nos jornais gratuitos (como nas televisões privadas), os autores não fazem qualquer comentário sobre os conteúdos (por volta da página 50, falam em conteúdos mas a partir de estatísticas do INE, cujos dados não têm o perfil adequado para se falar em conteúdos, trabalho que tem sido feito nas universidades usando fundamentalmente a análise de conteúdo, ferramenta que os autores não empregam neste estudo).
Já no tocante à dimensão económica, o estudo destaca a concentração (nos jornais mais visível a partir de 2005) e os ciclos económicos (com menor influência, apesar da importância da publicidade). A envolvente ecológica (com um modelo traçado na página 21) merece ser lida no original e na sua totalidade. Destaco o ponto de partida, a análise de Porter: 1) potenciais entrantes, 2) fornecedores, 3) rivais, 4) clientes, e 5) produtos substitutos. Aqui, a equipa liderada por Sandro Mendonça sinaliza os canais de televisão de carácter noticioso, a internet e os jornais gratuitos, acabando por evidenciar estes últimos, pois são os que mais pressionam a imprensa paga.
Da leitura deste estudo fica a impressão de uma má prestação da imprensa escrita paga, pois as vendas têm vindo a baixar: de 300 milhões de exemplares em 1999 para 210,6 milhões em 2005 (nas revistas não há esta tendência negativa mas um equilíbrio). Em especial a passagem de 2004 para 2005 marca de modo muito forte esta quebra. Os autores olham o Público e o Diário de Notícias como aqueles onde há maior fragilidade, questionando mesmo a sua existência no curto-médio prazo. Aliás, o texto em análise acaba deste modo:
O sector da Imprensa já conheceu melhores momentos mas, no entanto, é prematuro afirmar que estamos a presenciar o início do fim do jornal tradicional tal como o conhecemos. É verdade que as ameaças ao sector são mais reais que nunca e que este actualmente não é tão rentável como outrora, contudo isso não quer dizer que o sector não possa sobreviver na nova era digital assentando, porventura, noutro modelo de negócio. E quanto mais pensamos no sucesso dos jornais gratuitos mais nos questionamos se não passará por aí o futuro desta indústria.
De inegável interesse, o estudo enferma, a meu ver, de algumas deficiências. A bibliografia é escassa, atendendo a trabalhos de inegável valor que têm saído nos anos mais recentes. Estou a pensar nos textos de Paulo Faustino, por exemplo (que é um optimista, se oposto ao texto agora presente). Depois, o modelo em anexo (influência do preço na procura de jornais) está pouco explícito e pode originar leituras diferentes, dada a ambiguidade de definição dos conceitos. O facto de concluir pela ideia de possível desaparecimento dos jornais não traz nada de novo. O modelo económico dos media tradicionais como a imprensa pode estar em queda mas não se sabe muito se o modelo de negócio da internet vai ter êxito. A questão da publicidade parece-me de muito importante discussão. Sabemos que a maior fatia de publicidade vai para a televisão; contudo, se os preços reais estiverem 90% ou mais ainda abaixo do tabelado, o que conta na realidade? O estudo segue cegamente dados da Marktest, mas convém afiná-los, olhando, por exemplo, os relatórios das empresas cotadas na bolsa, pois aí consegue-se saber o que não se infere de dados fornecidos sem tratamento.
Sobre os jornais gratuitos deixo as seguintes dúvidas: há controlo de tiragens face à sua distribuição? Dito de outro modo: as pessoas que recebem o jornal, lêem ou deixam-no no caixote do lixo mais próximo, como já vi algumas vezes? Depois: que impacto têm os jornais gratuitos na formação de cidadania, pois os textos são, muitas vezes, "takes" da agência noticiosa? Faltam análises de conteúdo, pois, senão, ficamos no mundo das aparências. E o impacto publicitário, será que os anúncios estão posicionados para os leitores do metro e dos autocarros? Já se fizeram inquéritos cientificos? Por outro lado, os jornais gratuitos têm publicidade porque não falam de casos que afrontam qualquer poder ou, se o fazem, são dados depois dos media influentes o fazerem. E por que é que as empresas dos jornais como o Público e o Diário de Notícias criaram jornais gratuitos? Haverá tempo suficiente para sabermos se o jornal gratuito é algo que veio para ficar ou a publicidade, depois da novidade, volta a fixar-se na televisão? A meu ver, há uma problema de focagem: quem garantia sucesso publicitário na internet antes de 2000-2001, deslumbra-se agora com os jornais gratuitos. Parece existir uma divisão etária: os jornais em papel e pagos para os mais velhos, a internet e os jornais gratuitos para os mais novos. Valeria a pena estudar estas questões.
segunda-feira, 21 de janeiro de 2008
O SOM DOS DISCOS
O ponto de partida é o último disco dos Radiohead. Vítor Belanciano (Público de hoje) considera que o som do mp3 é pior que o do CD e este pior do que o vinil. A compressão elimina frequências.
O texto faz um pouco da história da gravação musical, dos discos em cilindro ao vinil, da cassete ao CD e ao mp3. E aponta a discussão sempre que há um novo formato, com os conservadores a elogiarem o som antigo. Mas, com o mp3, chegada definitiva e irreversível ao digital, há uma unanimidade de perda de qualidade. Fala-se mesmo da morte da alta fidelidade, com o jornalista a recorrer à opinião de diversos especialistas.
Aconselho a leitura completa do artigo.
ESTUDO DO OBERCOM SOBRE IMPRENSA
Saiu agora, em publicação pelo OberCom, a investigação Imprensa sob pressão. As dinâmicas competitivas no mercado da imprensa escrita portuguesa entre 1985 e 2007, de Sandro Mendonça, David Castro, Pedro Cavaco e Gonçalo Lopes.
Trata-se de um texto que ocupa 120 páginas. Dada a sua extensão, não tive ainda oportunidade de o ler, pelo que ficam aqui os pontos destacados no começo do trabalho como se fosse um sumário executivo (pp. 2-4):
1) O estudo faz a anatomia das grandes variáveis gerais que têm influenciado o contexto em que a imprensa opera (isto é, as macroenvolventes, as quais moldam o ambiente de negócios do sector) e mostra como a política de media e a regulação foram variáveis progressivamente ultrapassadas em influência pelas variáveis de natureza económica, tecnológica e sociológica,
2) O contexto próximo do sistema sectorial da imprensa escrita é definido neste trabalho pela interacção recíproca de um conjunto de forças estruturantes para o todo dos operadores (ou seja, as microenvolventes), e é argumentado que as forças que vêm exercendo a pressão mais determinante para a sobrevivência e para o desempenho das empresas têm sido a emergência de produtos substitutos (os jornais gratuitos, curiosamente não tanto os jornais online) e o aumento da rivalidade (não tanto por manipulações muito radicais da política de preços, embora já existam jornais generalistas que se estão a disponibilizar gratuitamente em certos canais de distribuição como hipermercados ou estações de serviço, mas sim através de iniciativas de tipo qualitativo que vão desde a multiplicação de suplementos, passando por ofertas de brindes, e indo até ao redesenho do próprio produto jornalístico e editorial),
3) O estudo dá conta da diversidade do sector e analisa as tendências na imprensa generalista e de especialidade (desportiva, económica, etc.), diária e semanal, jornais e revistas, etc.,
4) O estudo faz uma análise dos acontecimentos vitais (entradas, saídas, re-estruturações) que re-definem a todo o momento a vida económica da população de projectos editoriais e desta análise, baseada em dados originais produzidos pela primeira vez para o presente estudo, surgem dois factos estilizados básicos para compreender o sector (ver os dois pontos seguintes),
5) O perfil temporal dos nascimentos e mortes de jornais parece sugerir que as entradas e saídas tendem a ocorrer em momentos delimitados no tempo, ou seja, existem vários momentos distintos de reconfiguração da população de projectos em jogo (viragem dos anos 80 para os 90 do século passado, segunda metade da década de 1990; desde 2001 ou 2002 até ao presente momento, inclusive),
6) A esta turbulência de mercado (isto é, entradas e saídas aglutinadas cronologicamente e muitas vezes simultâneas, com vários lançamentos de novos jornais e falências de antigos no mesmo ano, como recentemente em 2006 e 2007) soma-se um aumento do número de turbulência interna dos projectos editoriais existentes, patente no boom de remodelações dos jornais que se verificou na presente década (os anos de 2006 e 2007 sendo novamente um bom exemplo),
7) Estes reajustamentos têm convivido com uma estagnação generalizada da circulação paga dos jornais nos últimos anos (embora no segmento da imprensa económica hajam sinais contraditórios, ao que não são alheias as diferenças observadas nos sub-segmentos diário e semanal), algo que contrasta com o aparecimento em força e o vibrante crescimento da imprensa gratuita,
8) A conjunção de todos estes factores, assim como as características deste sector, ao nível da diferenciação dos títulos e da proliferação de segmentos, não permitem, infelizmente, extrair ilações claras da aplicação de indicadores de concentração e de instabilidade (novas tentativas neste sentido serão de privilegiar em futuros estudos sobre o andamento da coexistência estratégica entre as empresas),
9) É tentada uma primeira abordagem ao fenómeno da auto-promoção na imprensa escrita, uma perspectiva que sem dúvida será útil aprofundar no futuro (em particular, como meio para identificar oscilações na pressão competitiva sentida neste meio como um todo, e para identificar diferenciais entre os vários segmentos),
10) Uma análise econométrica da relação entre os preços e as vendas é ensaiada e, embora dificultada pelos sérios problemas que advêm da escassa quantidade e diversidade dos dados disponíveis (o que faz que a análise tenha apenas valor exploratório, e não confirmatório), consegue, no entanto, fornecer pistas sobre as diversas trajectórias do binómio valor-volume nos vários segmentos jornalísticos.
domingo, 20 de janeiro de 2008
OS BLOGUES VISTOS POR EOIN DEVEREUX
Para Eoin Devereux, os blogues permitem que pessoas comuns se tornem produtores dos media, isto é, produzam conteúdos para consumo de outras pessoas. A tecnologia é gratuita (ou pouco dispendiosa) e fácil de usar. Os blogues permitem a criação de conteúdos, comentários e reacções a entradas (mensagens) anteriores ou de outros blogues. Cada blogue tem um âmbito alargado de tópicos e possui uma etiqueta.
Para além de reflectir perspectivas e interesses de pessoas comuns, os blogues estão a ser crescentemente empregues por grupos de interesse e com poder, caso dos políticos e partidos políticos, que os usam em concorrência com o acesso aos media tradicionais. Com podcasts e vídeos, os blogues podem ser um exemplo interessante de como os membros de uma audiência podem exercer o seu direito à cidadania e expressar os seus pontos de vista a um público mais geral.
Os blogues têm sido erradamente caracterizados como o equivalente em linha a um diário pessoal, repleto de confissões de natureza pessoal. Mas há muitas ligações com os media e outros blogues, o que extravasa esse campo delimitado. Os blogues exercem, se quisermos ver de um outro ângulo, uma actividade social, pois podem mudar como resultado da relação entre autores e a sua audiência. Os blogues funcionam a meio caminho entre as mensagens de correio electrónico e os media, cujo alcance social e cultural pode ser a família e os amigos ou uma comunidade mais vasta de conhecidos e desconhecidos que se tornam lentamente conhecidos e onde se podem gerar influências em áreas como a política ou os direitos humanos. Ou seja, embora tenham uma base pessoal, os blogues tornam-se um novo e potente meio de comunicação social e cultural.
Leitura: Eoin Devereux (2007). Understanding the media. Los Angeles, Londres, Nova Deli e Singapura: Sage, pp. 31-33
Eoin Devereux é professor de Sociologia na Universidade de Limerick (Irlanda).
COPYRIGHT?
sábado, 19 de janeiro de 2008
PIRATARIA
O caderno "Digital" do Público de hoje traz textos sobre imagens (colocadas na internet), reprodução e pirataria das mesmas (caso de imagens feitas por indivíduos e usadas, sem autorização, por empresas para actividades comerciais). A ler, nomeadamente o texto de José Vítor Malheiros, que estabelece a distinção entre copyright e fair use (conceito legal americano onde, a par dos direitos de autor, se diz que qualquer um tem o direito de usar uma imagem em termos de liberdade de expressão, investigação científica ou criatividade artística).
ANALÓGICO E DIGITAL
Não percebi, na sua totalidade, a mensagem veiculada no artigo de José Pacheco Pereira de hoje, no Público. Ele escreve sobre a natureza e a técnica (desenvolvida pelos homens nos últimos decénios). Enquanto a natureza continua a usar o tempo (para uma árvore crescer, por exemplo), num ciclo contínuo e sem saltos, o analógico, o homem usa e descarta tecnologias, em especial no momento em que se elogia o digital - não há tempo, não há espaço, existe o virtual. Contudo, o mesmo homem tem um tempo, de 24 horas por dia, que não aumenta. A grande oferta de imagens e informação - a abundância digital - esbarra com o tempo disponível de cada um de nós aceder a essa oferta - a escassez analógica.
Há uma coisa que Pacheco Pereira precisaria de acrescentar: a ideia de consumo, de sociedade que necessita de comprar sempre, incessantemente, como forma de se reproduzir. A maior parte dos equipamentos que compramos não são aproveitados em toda as suas potencialidades. Compra-se um novo portátil ou uma máquina de registar som ou imagem para estar na moda, porque ela(s) traz(em) funcionalidades que nos dizem ser fundamentais. Mas, se calhar, poderíamos ficar ainda mais algum tempo com a máquina antiga. Até por uma questão de revivalismo, como os discos de vinil.
DIETA DE IMAGENS
Pelo menos durante uma semana a colocação de imagens neste blogue está muito circunscrita. Desde ontem, fiquei sem capacidade para alocar imagens fixas ou em movimento em diversos servidores.
Razões invocadas pelo fornecedor de cabo: modem antigo ou problemas na rede pessoal. Como o técnico só virá resolver o problema no próximo sábado, o blogue será mais clássico, apenas de palavras e frases.
sexta-feira, 18 de janeiro de 2008
APCE
A APCE (Associação Portuguesa de Comunicação de Empresa) voltou a editar a sua revista Comunicação Empresarial, que eu saúdo. Trata-se de uma publicação já no seu 12º ano de actividade, e que tinha sido suspensa há algum tempo atrás.
Movendo-se nas áreas da comunicação interna e externa, relações públicas e institucionais, entre outras, a associação e a revista têm tido uma importância considerável no mundo da comunicação. O número agora editado, com um novo figurino, apresenta assuntos como o grande prémio da APCE (diversas modalidades dentro do âmbito da associação) e um dossiê sobre o livro branco da política de comunicação europeia, instrumento útil para estudar.
Ao mesmo tempo, a APCE lança o próximo grande prémio 2007 em várias categorias, como aqui pode verificar (campanhas, eventos, relatórios de gestão, publicações internas e externas, webletter, intranet, blogue de comunicação, vídeo de empresa, imagem, entre outras). Podem candidatar-se trabalhos realizados (produzidos, difundidos, impressos, publicados, emitidos ou editados) em 2007. As inscrições decorrem até 15 de Fevereiro de 2008 (ficha de inscrição disponível aqui).
O meu obrigado pela referência a este blogue nas páginas da revista Comunicação Empresarial.
quinta-feira, 17 de janeiro de 2008
DADOS SOBRE A INDÚSTRIA DOS VIDEOJOGOS
A aula de ontem teve a colaboração de Paulo Gomes, com doutoramento na área da animação e jogos electrónicos e dirigente da empresa Gameinvest. O que se segue são apontamentos meus tirados nessa ocasião, sendo eu o responsável por eventuais erros ou imprecisões.
Como noutras áreas de actividade, o mundo industrial e comercial dos videojogos – ou jogos electrónicos, como prefere Paulo Gomes; neste texto, usaremos as duas expressões – divide-se em três grandes blocos: América (inclui Estados Unidos e Canadá), Ásia (Japão em especial, mas em que aparecem como parceiros novos a China, a Índia e a Coreia) e EMEA (Europa, Médio Oriente e África).
De modo simples, um videojogo implica a interacção entre uma interface que gera informação visual num aparelho de vídeo e um jogador. Uma rápida história dos videojogos (retirada da Wikipedia) mostra o seu aparecimento em 1947, com um aparelho ligado a um televisor, concebido por Thomas T. Goldsmith Jr. e Estle Ray Mann, inspirado nos aparelhos de radar. Entre outros exemplos surgiria, em 1971, o Computer Space, a primeira máquina comercial e que tinha um princípio semelhante aos das slots-machines (com ranhura para pôr moeda e jogar), criado por Nolan Bushnell e Ted Dabney.
Há na indústria de jogos electrónicos semelhanças com o tipo de produção e de cadeia de valor do cinema (box office e DVD) e da televisão (produtos de fluxo e produtos de stock), pois o mercado distingue-se pela produção de consolas, jogos e acesso on-line.
Esta divisão do mercado de videojogos pode ser vista de um ângulo mais fino: 1) consolas enquanto área privada (cada indivíduo possui a sua máquina) ou mercado fechado (cada jogo é exclusivo de uma marca), e 2) jogos por computador como mercado livre, com distribuição gratuita ou com diversos sistemas de pagamento (como na televisão por cabo tipo pay TV; no sistema try and buy, com sessenta ou mais minutos de experiência gratuita após o que se é “convidado” a adquirir; como micro-pagamento, não comprando o jogo mas comprando um carregamento de impulsos que permite jogar diversos jogos). Um terceiro tipo, emergente, é o dos jogos em telefone celular.
[gráficos retirados do sítio V G CHARTZ]
Neste momento, em que se produzem já consolas de sétima geração, a Wii (Nintendo) tem-se destacado em termos de vendas, pois é uma máquina mais barata que a concorrência, apesar de usar uma tecnologia mais simples que máquinas como a Playstation (Sony) e a X360 (Microsoft). Portugal é um case study, pois a Sony tinha, em 2006, 95% do mercado das consolas, embora a Nintendo procure ganhar quota de mercado (DS, Wii).
Numa empresa produtora de jogos electrónicos, há necessidade de autorizações técnicas (software e hardware), recursos financeiros e recursos humanos (aqui são necessárias competências de software, design multimedia e gestão). Um jogo (para a DS, por exemplo) pode demorar a fazer entre meio ano e ano e meio e custar €200 mil ou mais, o que quer dizer que envolve investimentos avultados. Além disso, trata-se de um mercado de grande rotatividade, isto é, de colocação no mercado de novos jogos continuamente.
Na aula, houve ainda tempo para falar de jogos casuais, de jogadores que não se assumem enquanto tal mas possuem jogos (no computador, no telemóvel) – mas espero que isso ocupe uma outra mensagem dedicada ao tópico dos jogos electrónicos.
Observação: o conferencista entende haver, na Europa, maiores dificuldades na recolha de dados – pela pulverização de distribuidores ao nível de cada país, ao passo que nos Estados Unidos há uma maior facilidade de recolha de informação como se pode observar nas informações dos sítios ESA e V G CHARTZ. Contudo, o OberCom tem um capítulo sobre consolas e videojogos no seu anuário. Nos Estados Unidos, por exemplo, cerca de 40% da distribuição e vendas de jogos electrónicos é feita pela Walmart, importante cadeia de distribuição em todo o país, o que facilita a relação entre produtor e distribuidor.
quarta-feira, 16 de janeiro de 2008
EU ADERI AO VIMEO
Ao não inserir continuamente a informação da entidade alojadora, como o faz o YouTube ou o Sapo, há a ideia de produção independente (ignoro ainda as contrapartidas; para já noto alguma instabilidade na fixação das mensagens, o que obriga a Blogger a fechar frequentemente o programa, por encontrar problemas técnicos).
Por isso, decidi tornar público um vídeo demo de uma pós-graduação de televisão e cinema a ser criada na UCP, através da voz de Carlos Capucho, um dos seus coordenadores (a experimentalidade do vídeo será substituida por imagem de qualidade profissional). Mais informações em aqui.
8ª CONFERÊNCIA MUNDIAL DE ECONOMIA E GESTÃO DOS MEDIA
Vai realizar-se, nos dias 19 e 20 de Maio, a 8ª Conferência Mundial de Economia e Gestão dos Media, na Universidade Católica Portuguesa (Lisboa), uma co-organização que envolve o Centro de Estudos de Comunicação e Cultura da Faculdade de Ciências Humanas daquela universidade, o Journal of Media Economics e a revista MediaXXI.
Para além do programa em inglês, vai decorrer paralelamente um painel ibero lationo-americano, no dia 20. Estão abertas inscrições para call for papers para os seguintes temas: 1) Economia dos Novos Media, 2) Economia dos Media Tradicionais, 3) Impacto das Estratégias e Estrutura de Mercado das Novas Tecnnologias, 4) Os Produtos dos Media e o Comércio Internacional, 5) Política de Competitividade na Indústria dos Media, 6) Estrutura/Política dos Media e a Diversidade de Conteúdos e 7) Propriedade Intelectual - Gestão dos Direitos na Era Digital.
Todas as comunicações deverão ser submetidas on-line (cburnay@fch.ucp.pt) até o dia 15 de Março. As comunicações para este painel podem ser apresentadas em português ou espanhol. Dimensão: Comunicação completa com titulo, resumo (250 palavras), máximo de 25 páginas mais tabelas, imagens, referencias e/ouíndice remissivo. Folha de Rosto: Deve indicar o titulo da comunicação, autor(es), Universidade, e-mail, morada e telefone. Formato: MS Word para Windows.
A Conferência Mundial de Economia e Gestão dos Media (WMEMC) é um evento bienal que convida investigadores e profissionais a reflectir sobre aspectos relacionados com a economia dos media. Para mais informações, entrar em www.mediaxxi.com/8wmemc.
OS MCCANNS E OS MEDIA: INFORMAÇÃO VERSUS ENTRETENIMENTO
É o tema do debate a realizar no Hong Kong Theatre, na London School of politics and economics (LSE, Londres WC2A 2AE), no dia 30 de Janeiro, das 18.00 às 20.00.
Conduzido pelo colunista do Guardian Steve Hewlett. o debate focar-se-á nas representações dos McCanns nos media face ao desaparecimento da sua filha Madeleine. Oradores confirmados: Justine McGuiness (especialista em relações públicas), Clarence Mitchell (porta-voz dos McCanns), Roy Greenslade (comentador dos media), David Mills (realizador do documentário sobre os McCanns) e Kelvin MacKenzie (anterior editor do jornal Sun).
Ver ainda aqui.