Textos de Rogério Santos, com reflexões e atualidade sobre indústrias culturais (imprensa, rádio, televisão, internet, cinema, videojogos, música, livros, centros comerciais) e criativas (museus, exposições, teatro, espetáculos). Na blogosfera desde 2002.
quarta-feira, 31 de março de 2010
PÁSCOA
O blogueiro vai descansar uns dias das tarefas profissionais e da escrita neste espaço. Desejo uma boa Páscoa a todos os leitores do Indústrias.
FILMES
Por coincidência, vi os filmes Estado de Guerra (The Hurt Locker, de Kathryn Bigelow, 2008) e O Mensageiro (The Messenger, de Oren Moverman, 2009) um a seguir ao outro. Há uma complementaridade de temas - no que me parece ser mais do que acaso. A guerra no Iraque tem tido fortes repercussões na opinião pública americana e mundial em geral e nos realizadores de cinema em particular. Em Estado de Guerra, a história decorre no próprio Iraque, com o olhar dos americanos sobre si mesmos, em especial como um grupo de soldados sapadores procura neutralizar as minas colocadas em solo urbano. É um filme complexo sobre os horrores da guerra e da posição dos soldados em país estrangeiro: valores, solidariedade entre si, o olhar incompreensivo sobre o outro (a outra cultura). Em O Mensageiro, a acção passa-se nos Estados Unidos, com uma equipa de soldados a comunicar directamente a familiares a morte de soldados em combate. Aqui também se forma uma solidariedade entre soldados, com os momentos de intervenção e tempos livres a cruzarem-se, realçando o perfil psicológico dos soldados nessas duas atitudes. Nos dois filmes, o país (Estados Unidos) não aparece retratado de modo positivo, antes nos fica a ideia de país imperialista em que a vida individual pouco conta.
terça-feira, 30 de março de 2010
ENCONTRO DE INDÚSTRIAS CULTURAIS EM BARCELONA
Da esquerda para a direita: Gabriela Canavilhas, Fadila Laanan e Ángeles Gonzalez-Sinde (ministras da cultura de Portugal, Bélgica e Espanha), a jornalista espanhola Milagros Perez, Androulla Vassiliou (comissária da Cultura e da Educação), Bernd Neumann e Marcus Rantalla (ministros da Cultura da Alemanha e da Finlândia) na cerimónia de encerramento do Fórum Europeu de Indústrias Culturais, hoje em Barcelona. O fórum foi a preparação da reunião informal de amanhã, que envolve na mesma cidade de Espanha os ministros europeus da cultura [informação e imagem retirada do sítio Fotoglif]. Para ver uma entrevista com a ministra espanhola, Ángeles González-Sinde, feita ontem, clicar aqui (a Espanha detém no presente semestre a presidência da União Europeia). Nessa entrevista, a ministra fala da publicação ainda em discussão do livro verde da Comissão Europeia para as indústrias culturais e criativas, que atende às especificidades regionais da União. Os dados recolhidos serão úteis para identificar os caminhos da cultura e o emprego criado pelas diferentes indústrias culturais.
NÚMEROS DA REDE SOCIAL LINKEDIN
A rede social LinkedIn tem 60 milhões de membros em todo o mundo, com escritórios nos Estados Unidos (sede na Califórnia), Índia, Holanda e Austrália. Vai abrir um outro escritório, no Canadá, país que viu subir de um para dois milhões de membros nos últimos 12 meses. O canadiano ligado à LinkedIn tem em média 40 anos de idade, com os dois sexos em equilíbrio, um rendimento de 110 mil dólares e muitos trabalham nas 500 empresas colocadas na Fortune.
COMUNIDADES PÚBLICO
"Dos blogues às dúvidas sobre questões de justiça, passando pelas transmissões em directo e sugestão de notícias à redacção, os leitores podem agora entrar em contacto mais facilmente com os jornalistas do Público". Eis a nova forma de fazer o jornal: "leia e comente nos nossos blogues, sugira notícias à redacção, envie-nos fotografias e vídeos, acompanhe as nossas webcams".
CULTURA E COMUNICAÇÃO EM DISCUSSÃO EM SÃO PAULO
Entre ontem e amanhã, decorre o III Simpósio Internacional de Cultura e Comunicação na América Latina: integrar para além do mercado, organizado pelo CELACC (Centro de Estudos Latino Americanos sobre Cultura e Comunicação na América Latina) da ECA USP (Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo). O simpósio reune investigadores, docentes, estudantes e académicos em geral "para a promoção de debates sobre as perspectivas de integração da América Latina no âmbito da cultura e comunicação". O tema remete para as mudanças no "cenário das indústrias culturais continentais, das políticas culturais na região e mesmo à maior visibilidade da temática da diversidade cultural, hoje reconhecida como direito humano pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura)" [Universia].
CULTURA NA GALIZA
"O obxectivo deste informe é ofrecer unha panorámica sobre o impacto da crise económica no ámbito cultural. Aínda que as fontes de 2009 ás que se poden ter acceso son aínda moi limitadas, cremos que o interese que suscita a materia xustificaba un avance de resultados. Pese a todo, cómpre tomar con certa cautela as análises, dada a provisionalidade dalgunhas fontes e a ausencia de datos en operacións estatísticas habitualmente explotadas polo Observatorio da Cultura Galega cando se dispón dunha perspectiva máis ampla" (Consello da Cultura, Primeira avaliación do impacto da crise económica no ámbito cultural de Galicia). Teatro, cinema, livro, emprego e ocupação laboral, empresas culturais, comércio externo e intracomunitário e índice de prços no consumo de produtos culturais são as áreas analisadas. Das conclusões, o relatório indica: "De entrada semella que a edición e o audiovisual son as actividades económicas que máis sofre na crise. Dado o seu gran peso relativo no sector, teñen un perigoso efecto arrastre. Pola contra, observamos un repunte da creación e de outras actividades de carácter cultural, o cal podería levara a pensar que, sobre todo no tecido empresarial máis pequeno, se están atopando nichos de mercado (presumiblemente interno), seguramente tamén aproveitando a capacidade que están tendo os prezos de corrixirse á baixa".
INDÚSTRIAS CRIATIVAS EM AUGUSTO M. SEABRA
"Ora, se o estudo [de Augusto Mateus sobre o sector cultural e criativo em Portugal] é sem dúvida importante, também há que dizer que a vulgarização das ideias de Richard Florida sobre as “cidades criativas” se transformou num tópico do novo capitalismo da sociedade de informação e do conhecimento. Sem dúvida que a cultura engloba as indústrias culturais, aliás de âmbito reduzido em Portugal (uma indústria da edição livreira flagelada pela sua própria sobreprodução, uma indústria discográfica em crise e uma indigente indústria de telenovelas sem perspectivas de exportação), mas já as agora tão na moda “indústrias criativas” são de um âmbito que em boa parte tem mais a ver com a estrita economia" [Augusto M. Seabra, 28.3.2010, em Letra de Forma, inicialmente editado no jornal Público].
PRÁTICAS E POLÍTICAS CULTURAIS
Novos Trilhos Culturais - Práticas e Políticas é o novo livro coordenado por Maria de Lurdes Lima dos Santos, José Machado Pais. Ainda sem o conhecer, retiro a seguinte informação do sítio do ICS:
- Este livro explora possíveis «novos trilhos culturais» num contexto de novos rumos societais. Isto tanto a nível das práticas quanto das políticas. Espera-se que ele possa contribuir para uma reflexão em torno de múltiplos questionamentos que inquietam investigadores e agentes culturais. Por exemplo, quais os mecanismos de promoção ou gestão da diversidade cultural? Qual o lugar das práticas culturais na formação ou sensibilização dos públicos da cultura? Que relações estabelecer entre os públicos e as políticas de cultura? Em que públicos pensamos quando falamos de políticas públicas da cultura? Como evitar que as indústrias culturais se circunscrevam a meras indústrias de entretenimento? Qual o papel da cultura na recuperação do espaço público, nomeadamente nas cidades? Os contributos do livro distribuem-se pelas seguintes partes: «Novas valências da cultura»; «Criação/produção cultural e artística: novos contextos e novas relações»; «A cultura, os media e as novas tecnologias»; «Políticas culturais e desafios actuais»; «Que destaques nos novos trilhos da cultura?».
segunda-feira, 29 de março de 2010
ENTRE A COMUNICAÇÃO E A HISTÓRIA
Explorations in communication and history, editado por Barbie Zelizer (2008), articula comunicação e história e aplica-a ao estudo da tecnologia, audiências e jornalismo. Capítulos de S. Elizabeth Bird, Richard Butsch, James Curran, Susan J. Douglas, Anna McCarthy, Robert McChesney, John Nerone, David Paul Nord, John Durham Peters, Michael Schudson, Peter Stallybrass e Paul Starr.
domingo, 28 de março de 2010
CIDADES INDEPENDENTES/INDEPENDENT CITIES
Neste ano de 2010, em que dezassete países africanos comemoram 50 anos de independência e cinco países da América Latina decidem festejar o Bicentenário da sua formação como nações, a realização de um workshop de investigação e produção teórica, no âmbito de um Programa Cultural cujo foco principal incide sobre estas regiões geográficas e culturais, reveste-se, pensamos, de toda a pertinência. [...] Aparentemente, cidades como Casabalanca ou o Cairo pouco terão em comum com Maputo, S. Paulo, Lima ou Bogotá. E, no entanto, como o confirmaram alguns dos investigadores presentes neste workshop, há problemas e soluções que atravessam o “ar do tempo” e que são comuns a muitas delas: um tráfego rodoviário intenso e tendencialmente caótico, a situação de permanente guerra civil, que tipifica muitas cidades sul-americanas e africanas e que torna reféns os seus habitantes, as novas configurações urbanas modeladas pelo aumento cada vez mais significativo das periferias — que as transformam em mega—cidades -, pela extensão tentacular dos bairros de lata/favelas onde se instalam sucessivas vagas de populações rurais na miragem de melhores condições de vida, pelos vazios que a desindustrialização vai provocando, pela criação de um novo tipo de arquitectura, temporária e frágil, produzido pelos que se deslocam no interior das cidades, etc. [foto de cima: Javier Silva-Meinel; foto de baixo: Avelina Crespo]
In this year of 2010, when seventeen African countries will be commemorating 50 years of independence and five Latin American countries have decided to celebrate the bicentenary of their formation as nations, the holding of a workshop dedicated to research and theoretical production, under the scope of a Cultural Programme whose main focus of attention is on these geographical and cultural regions, is, we believe,a highly pertinent occasion. [...] Apparently, cities such as Casabalanca or Cairo have little in commonwith Maputo, São Paulo, Lima or Bogotá. And yet, as some of the researchers attending this workshop have confirmed, there are problems and solutions that pass through the “mood of the moment” and are common to many of them: an intense and generally chaotic road traffic, the situation of permanent civil war, which typifies many South American and African cities and turns their inhabitants into hostages, the new urban configurations shaped by the increasingly significant growth of the peripheries (which has transformed them into mega-cities), by the tentacular spread of the shanty towns/favelas in which successive wavesof rural populations have settled in the vain hope of obtaining better living conditions, by the empty spaces resulting from deindustrialisation, by the creation of a new type of temporary and fragile architecture, produced by those moving around in the heart of the cities, etc.
Texto de/text by António Pinto Ribeiro [Próximo Futuro/Next Future, nº 3]
In this year of 2010, when seventeen African countries will be commemorating 50 years of independence and five Latin American countries have decided to celebrate the bicentenary of their formation as nations, the holding of a workshop dedicated to research and theoretical production, under the scope of a Cultural Programme whose main focus of attention is on these geographical and cultural regions, is, we believe,a highly pertinent occasion. [...] Apparently, cities such as Casabalanca or Cairo have little in commonwith Maputo, São Paulo, Lima or Bogotá. And yet, as some of the researchers attending this workshop have confirmed, there are problems and solutions that pass through the “mood of the moment” and are common to many of them: an intense and generally chaotic road traffic, the situation of permanent civil war, which typifies many South American and African cities and turns their inhabitants into hostages, the new urban configurations shaped by the increasingly significant growth of the peripheries (which has transformed them into mega-cities), by the tentacular spread of the shanty towns/favelas in which successive wavesof rural populations have settled in the vain hope of obtaining better living conditions, by the empty spaces resulting from deindustrialisation, by the creation of a new type of temporary and fragile architecture, produced by those moving around in the heart of the cities, etc.
Texto de/text by António Pinto Ribeiro [Próximo Futuro/Next Future, nº 3]
A FAMÍLIA PORTUGUESA NO TEATRO ABERTO
António é o ausente sempre presente: foi ele quem pagou a casa onde vive a família, seria ele que poria ordem à desordem da vida da sua família. Isaura (Teresa Faria), a viúva, é a intérprete da sua memória, mas já confunde a fantasia com a realidade. O filho Zé (João Maria Pinto) esteve na guerra colonial, mais propriamente em Moçambique, trazendo ainda hoje os traumas da experiência. Depois do regresso, aderiu ao Partido. Agora, já reformado, é acometido permanentemente por achaques e receios de cancro, que já dizimou um dos pulmões. A vida não lhe correu muito bem, resume. A mulher, Rosa (Luísa Salgueiro), secretária numa escola secundária, vive entre apoiar o Zé e os filhos, tendo ainda que dar conta da sogra Isaura, com quem não se relaciona nada bem. Os filhos são Ricardo (Bruno Simões), que trabalha num banco e é o principal sustentáculo da família, e Rui (Carlos Malvarez), ainda adolescente a acabar o ensino secundário e a pensar em entrar como voluntário para as forças armadas, a que o pai se opõe veementemente.
Uma família portuguesa, de Filomena Oliveira e Miguel Real, mostra uma família a caminho da desestruturação, dadas as dificuldades diárias: a falta de dinheiro, a doença, a desesperança, os pequenos problemas tornados quase impossíveis de resolução. Parece haver uma predisposição inconsciente que marca a vida da família, um destino e um percurso indestrutíveis e sem alternativa [imagem ao lado fornecida pela produção da peça].
A encenação de Cristina Carvalhal é um frenesim do começo ao fim, deixando quase sem respirar os espectadores (além dos actores, claro), entre o coro grego inicial e o teatro de acção, uma espécie de bailado ao largo do palco com exercícios de equilíbrio em cima de móveis ou na cama, além do musical. Gostei do movimento mas também apreciei os silêncios, o centrar da história num dos lados do palco, com temas mais intimistas e introspectivos. Por seu lado, o cenário da arquitecta Ana Vaz vai ao encontro do texto de José Gil, publicado no catálogo da peça: Portugal releva o pequeno, o pequenino, os múltiplos bibelots e fotografias e objectos que enchem uma casa. O lar é um amontoado de coisas que quase obnubilam o pensamento e o diálogo entre as pessoas. As coisas estão acima das pessoas. Daí o movimento quase permanente de mudar os objectos para que as personagens se sentem ou andem de um lado para o outro.
A peça foi premiada pela Sociedade Portuguesa de Autores em 2008. Agora em cena no Teatro Aberto compreendem-se as razões. Mas não projecta um futuro optimista, desanuviador. Afinal: o que foram as guerras coloniais? E a entrada dos partidos políticos no quotidiano das famílias? Como se comporta uma família portuguesa nas relações entre os seus elementos?
Ontem, foi Dia Mundial do Teatro e, antes da peça, foi lida uma mensagem da Sociedade Portuguesa de Autores, assinada pelo actor Rui Mendes.
Uma família portuguesa, de Filomena Oliveira e Miguel Real, mostra uma família a caminho da desestruturação, dadas as dificuldades diárias: a falta de dinheiro, a doença, a desesperança, os pequenos problemas tornados quase impossíveis de resolução. Parece haver uma predisposição inconsciente que marca a vida da família, um destino e um percurso indestrutíveis e sem alternativa [imagem ao lado fornecida pela produção da peça].
A encenação de Cristina Carvalhal é um frenesim do começo ao fim, deixando quase sem respirar os espectadores (além dos actores, claro), entre o coro grego inicial e o teatro de acção, uma espécie de bailado ao largo do palco com exercícios de equilíbrio em cima de móveis ou na cama, além do musical. Gostei do movimento mas também apreciei os silêncios, o centrar da história num dos lados do palco, com temas mais intimistas e introspectivos. Por seu lado, o cenário da arquitecta Ana Vaz vai ao encontro do texto de José Gil, publicado no catálogo da peça: Portugal releva o pequeno, o pequenino, os múltiplos bibelots e fotografias e objectos que enchem uma casa. O lar é um amontoado de coisas que quase obnubilam o pensamento e o diálogo entre as pessoas. As coisas estão acima das pessoas. Daí o movimento quase permanente de mudar os objectos para que as personagens se sentem ou andem de um lado para o outro.
A peça foi premiada pela Sociedade Portuguesa de Autores em 2008. Agora em cena no Teatro Aberto compreendem-se as razões. Mas não projecta um futuro optimista, desanuviador. Afinal: o que foram as guerras coloniais? E a entrada dos partidos políticos no quotidiano das famílias? Como se comporta uma família portuguesa nas relações entre os seus elementos?
Ontem, foi Dia Mundial do Teatro e, antes da peça, foi lida uma mensagem da Sociedade Portuguesa de Autores, assinada pelo actor Rui Mendes.
sábado, 27 de março de 2010
SECOND EUROPEAN FORUM ON CULTURAL INDUSTRIES
- Barcelona to host Second European Forum on Cultural Industries over two days (29 and 30 March) as prologue to Informal Meeting of Ministers of Culture on 31 March More than 500 representatives of European culture seek new strategies to boost the sector.
The main point of interest during the first day of the event will be the unveiling of the preliminary version of the Green paper on cultural and creative industries, produced by the European Commission on the basis of prior discussions between the cultural industries platform and the ad hoc governmental working party. The data and statistics in this report are highly revealing, since they provide a real map of European culture and its habits and trends.
The work agenda planned for Monday 29 March will also involve making progress on and looking in greater depth at the five areas for discussion to be covered during this event: (1) the financing of cultural industries (financial intervention mechanisms, SME sustainability, etc.), (2) raising professional standards in cultural industries (new skills arising from the move to digitisation, mobility of talent, etc.), (3) internationalisation of cultural products (local production in global markets, internationalisation and cooperation strategies, etc.), (4) intellectual property and copyright management, (5) regional and local development (culture and regional development, European programmes for local and regional development).
sexta-feira, 26 de março de 2010
PEDRO OLIVER
Expõe Kallabash, Les Paradis Artificiels na galeria "Por Amor à Arte Galeria" (rua Miguel Bombarda, 572, Porto), até 10 de Abril.
Nas lendas africanas, Kallabash é usado como equivalente ao mundo e à terra onde convivem as sociedades. A obra de Oliver fala-nos do respeito pela terra, dos valores da sociedade e da cultura. Os paraísos artificiais, que lembram Baudelaire, são impossíveis por si só mas procuram uma fórmula para completar uma falha ou gosto ou necessidade ou respeito.
Nas lendas africanas, Kallabash é usado como equivalente ao mundo e à terra onde convivem as sociedades. A obra de Oliver fala-nos do respeito pela terra, dos valores da sociedade e da cultura. Os paraísos artificiais, que lembram Baudelaire, são impossíveis por si só mas procuram uma fórmula para completar uma falha ou gosto ou necessidade ou respeito.
quinta-feira, 25 de março de 2010
INDIELISBOA
Leio no Público que o IndieLisboa deste ano é aquele em que há mais cinema português. Apesar da crise, e do manifesto assinado por cineastas e produtores muito recentemente, o facto de João Salaviza ter ganho o prémio do ano passado - e logo a seguir a Palma de Ouro em Cannes - pode ter sido um grande impulso, como o fora a presença de Edgar Pêra na edição de 2006.
O IndieLisboa vai decorrer de 22 de Abril a 2 de Maio. Retiro do Público os nomes dos filmes de competição: Fantasia Lusitana, de João Canijo (olhar sobre Portugal a partir de material de arquivo), Pelas sombras, de Catarina Mourão (documentário sobre a artista plástica Lourdes Castro), Traces of a diary, de Marco Martins e André Príncipe, Sem companhia além do medo, de João Trabulo (prisão masculina de Penafiel), e Guerra civil, de Pedro Caldas. Há também 14 curtas.
O IndieLisboa vai decorrer de 22 de Abril a 2 de Maio. Retiro do Público os nomes dos filmes de competição: Fantasia Lusitana, de João Canijo (olhar sobre Portugal a partir de material de arquivo), Pelas sombras, de Catarina Mourão (documentário sobre a artista plástica Lourdes Castro), Traces of a diary, de Marco Martins e André Príncipe, Sem companhia além do medo, de João Trabulo (prisão masculina de Penafiel), e Guerra civil, de Pedro Caldas. Há também 14 curtas.
UMA FAMÍLIA PORTUGUESA
De Filomena Oliveira e Miguel Real, com encenação de Cristina Carvalhal, na Sala Vermelha do Teatro Aberto, de quarta-feira a sábado (21:30) e domingo (16:00), em cena até 2 de Maio. Com Bruno Simões, Carlos Malvarez, João Maria Pinto, Luísa Salgueiro e Teresa Faria.
MILLY POSSOZ
Milly (Emília) Possoz (1888-1968) integrou o primeiro modernismo português e é autora de uma vasta obra de ilustração, desenho, gravura e pintura. Nas décadas de 1920 e 1930, dedicou-se nomeadamente à ilustração na imprensa e participou em salões independentes e nas exposições da SNBA (Sociedade Nacional de Belas Artes). De ascendência belga, fez parte da sua formação artística em Paris, Bruxelas e Düsseldorf. A sua obra, agora patente na Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva, mostra uma artista de grande sensibilidade e fineza nos seus traços, quando observa momentos populares ou urbanos. Parte significativa da sua obra pertence à Gulbenkian e ao grupo hoteleiro Tivoli. A feliz imagem do cartaz reproduz uma fotografia com a artista em Paris em 1924, acompanhada do seu gato Fuji. Quando andei na escola primária, não imaginei que as ilustrações dela estivessem num livro que acompanhei durante o ano inteiro, o livro da segunda classe.
quarta-feira, 24 de março de 2010
LIPOVETSKY EM LISBOA
O autor de A era do vazio, O império do efémero, A felicidade paradoxal e A cultura-mundo, entre outros livros, deu hoje de manhã uma conferência na Universidade Católica Portuguesa, com o título A Cultura Planetária na Era Hipermoderna. Carlos Capucho, docente daquela universidade, foi o moderador da mesa. Lipovetsky (à esquerda na imagem) encontra-se em Portugal onde lançou o livro O ecrã global, escrito em parceria com o crítico de cinema Jean Serroy (Edições 70) [em baixo, capas de alguns dos livros já editados em Portugal].
CARTAS DO JAPÃO IV - GASTRONOMIA
[textos e imagens de Rita Botelho]
A comida japonesa e a forma como é confeccionada e apresentada é muito peculiar e diversificada. Nestas imagens mostro quatro situações distintas.
No Japão, os menus são quase sempre apresentados nas montras com modelos à escala real feitos em plástico ou cera. Esta é talvez uma forma rápida e eficaz de cativar o cliente e de comunicar de forma universal o menu. Confesso que é uma ideia brilhante, pois são raros os menus traduzidos no Japão e é um pecado viajar no Japão e não saber o que poder comer nos várias restaurantes. Os modelos de plástico nas montras podem também ter o efeito contrário quando os donos dos restaurantes se esquecem de limpar o pó aos noodles e ao sushi.
Em Portugal as provas de vinho são comuns mas no Japão são as provas de sake que têm mais popularidade. A fotografia foi tirada num estabelecimento da especialidade em Fushimi (zona a sul de Kyoto conhecida pela produção de sake) onde existem centenas de variedades de sake. Cada prova inclui três tipos de sake que são acompanhados com um cubo de tofu fresco e pickles de Kyoto.
Restaurante típico japonês em que o cliente se senta ao balcão de madeira e o chefe prepara os pratos à vista. É uma experiência fantástica observar a habilidade de um chefe japonês a manusear as facas e a velocidade e perícia como trata o peixe fresco. Há pratos que quase saem directamente do aquário para a mesa... mais fresco não há.
Fotografia tirada em Kurama, a norte de Kyoto, uma zona especialmente popular durante o Verão pela natureza luxuriante e o rio refrescante. Ao longo do rio, vários restaurantes montam plataformas de madeira onde os clientes podem comer ao som da água fresca a correr. Passar uma tarde quente de Verão num destes restaurantes é uma experiência única.
Observação: foram publicadas outras Cartas do Japão, com textos e imagens de Rita Botelho, nos dias 23 de Fevereiro, 6 e 14 de Março de 2010. Do novo, os meus agradecimentos por ela ter permitido que publicasse no blogue as suas impressões daquele país.
A comida japonesa e a forma como é confeccionada e apresentada é muito peculiar e diversificada. Nestas imagens mostro quatro situações distintas.
No Japão, os menus são quase sempre apresentados nas montras com modelos à escala real feitos em plástico ou cera. Esta é talvez uma forma rápida e eficaz de cativar o cliente e de comunicar de forma universal o menu. Confesso que é uma ideia brilhante, pois são raros os menus traduzidos no Japão e é um pecado viajar no Japão e não saber o que poder comer nos várias restaurantes. Os modelos de plástico nas montras podem também ter o efeito contrário quando os donos dos restaurantes se esquecem de limpar o pó aos noodles e ao sushi.
Em Portugal as provas de vinho são comuns mas no Japão são as provas de sake que têm mais popularidade. A fotografia foi tirada num estabelecimento da especialidade em Fushimi (zona a sul de Kyoto conhecida pela produção de sake) onde existem centenas de variedades de sake. Cada prova inclui três tipos de sake que são acompanhados com um cubo de tofu fresco e pickles de Kyoto.
Restaurante típico japonês em que o cliente se senta ao balcão de madeira e o chefe prepara os pratos à vista. É uma experiência fantástica observar a habilidade de um chefe japonês a manusear as facas e a velocidade e perícia como trata o peixe fresco. Há pratos que quase saem directamente do aquário para a mesa... mais fresco não há.
Fotografia tirada em Kurama, a norte de Kyoto, uma zona especialmente popular durante o Verão pela natureza luxuriante e o rio refrescante. Ao longo do rio, vários restaurantes montam plataformas de madeira onde os clientes podem comer ao som da água fresca a correr. Passar uma tarde quente de Verão num destes restaurantes é uma experiência única.
Observação: foram publicadas outras Cartas do Japão, com textos e imagens de Rita Botelho, nos dias 23 de Fevereiro, 6 e 14 de Março de 2010. Do novo, os meus agradecimentos por ela ter permitido que publicasse no blogue as suas impressões daquele país.
terça-feira, 23 de março de 2010
GRUPO LENA: CONTINUA OU SAI DOS MEDIA?
- "O grupo Lena está a repensar a sua estratégia na área da comunicação social, admitindo fazer crescer a sua subholding Lena Comunicação através da aquisição de novos projectos e constituição de parcerias ou vir a sair do sector da comunicação social, alienando este activo que tem a maior rede de jornais regionais do país e o diário nacional i", lê-se no documento. O grupo Lena refere ainda que esta decisão está a ser "analisada pela administração e accionistas, no quadro de vários cenários de reestruturação do próprio portfólio de empresas e áreas de negócio", adiantando que "existem vários cenários quer para o reforço quer para a alienação da área da comunicação social, envolvendo grupos nacionais e estrangeiros" (Público).
A notícia indica que tanto pode haver sim como haver não, o que é uma fórmula de difícil compreensão para um leitor. A haver alienação, isso significa que o negócio do grupo Lena está a ter problemas. O que é péssimo, num dia em que a Impala, grupo de Jacques Rodrigues, suspendeu a publicação das revistas Crescer e Boa Forma, atingindo 49 trabalhadores.
segunda-feira, 22 de março de 2010
100 ANOS DE IMPRENSA NA BATALHA
Na exposição 1909-2009 - 100 Anos de Imprensa no Concelho da Batalha, podem ver-se as capas dos primeiros números de jornais ao longo de um século como Batalha Nova, A Voz do Lena, Jornal da Golpilheira e Jornal da Batalha, este a celebrar o seu vigésimo aniversário. Há também máquinas fotográficas e de escrever antigas, para além de uma breve cronologia com os principais momentos da história do jornalismo, contributos para a compreensão da história local. Local do evento: Galeria de Exposições Mouzinho de Albuquerque (Batalha, mesmo ao lado do mosteiro), patente até 28 de Março, das 14:00 às 17:30.
[obrigado a Francisco Vicente pela informação]
[obrigado a Francisco Vicente pela informação]
HOMENAGEM A HORÁCIO ARAÚJO
Recordara-o aqui, aquando da sua morte, em 8 de Junho de 2008. Hoje, ao fim da tarde, a Faculdade de Ciências Humanas da UCP prestou-lhe uma homenagem com o lançamento do livro Partíamos como se não fôssemos, com 44 textos (ensaios, memórias) sobre Horácio Araújo, durante muitos anos o coordenador do curso de Comunicação Social e Cultural daquela Faculdade.
domingo, 21 de março de 2010
DIA MUNDIAL DA POESIA
Hoje, na Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva, com Graça Lobo e Jorge Silva Melo lendo poemas de Mário Cesariny (desculpas pela má qualidade da imagem).
O JORNALISTA COMO PROFISSIONAL EM JOAQUIM FIDALGO
Além de definir o conceito e a profissão de jornalista, Joaquim Fidalgo traça uma história do jornalismo em cinco períodos: 1) primórdios da actividade, a partir de meados do século XIX, 2) industrialização, com aparecimento da imprensa popular, durante o século XIX, 3) entre guerras mundiais, ou mais precisamente entre 1918 e 1935 (!), quando se estabelece um quadro legal e institucional da profissão, 4) desde a 2ª Guerra Mundial até final do século, 5) advento e expansão da internet, e digitalização.
Joaquim Fidalgo segue vários autores franceses; para Portugal segue José Manuel Tengarrinha, Rosa Sobreira, José Carlos Valente. Tem, como pontos fortes, a alusão à diferenciação entre o jornalista diletante e escritor e o repórter, o inicial estatuto elevado do jornalista (por volta de 1850-1860, 44% dos jornalistas franceses eram oriundos da aristocracia e da alta burguesia), o crescimento dos jornais na segunda metade do século XIX, com o cruzamento de factores de ordem política, económica e tecnológica, laboral e cultural, a liberdade de imprensa (lei de Julho de 1881 em França), a redução do preço dos jornais (cinco cêntimos em França, um penny em Inglaterra), a imprensa popular pioneira nos Estados Unidos (com referências ao trabalho de Michael Schudson), a trilogia preço-notícia-anúncio e o surgimento das agências noticiosas com acompanhamento noticioso da actualidade. Equaciona igualmente a desprofissionalização e a proletarização trazidas com a digitalização dos media.
O autor tem doutoramento em Ciências da Comunicação na Universidade do Minho, onde é docente. Foi um dos fundadores do jornal Público, depois de ter trabalhado no Jornal de Notícias e Expresso. Foi provedor do leitor no Público. A sua obra já é vasta e incide nomeadamente sobre deontologia dos jornalistas. Aqui no blogue escrevi algumas vezes sobre ele (para procurar, digitar o seu nome na caixa horizontal no topo esquerdo do blogue).
Leitura: Joaquim Fidalgo (2008). O jornalista em construção. Porto: Porto Editora
MICHAEL SCHUDSON EM LISBOA
Michael Schudson esteve anteontem, sexta-feira, na Universidade Católica Portuguesa, integrado no congresso Arts of Mediation. O vídeo é um resumo de alguns tópicos do sociólogo americano a que eu já fizera alusão em mensagem aqui. O texto de Schudson teve o título de News as a Blurred Genre: The Contemporary Transformation of Journalism. Para melhor compreender as ideias do sociólogo, ver o relatório que escreveu conjuntamente com Leonard Downie, Jr e intitulado The Reconstruction of American Journalism.
sábado, 20 de março de 2010
BECKETT SEGUNDO GABRIELA BORGES
No seu livro A poética visual de Samuel Beckett (2009), Gabriela Borges levanta o fazer constitutivo da estética televisivo do autor.
Gabriela Borges, no texto que constitui a base da sua tese de doutoramento, parte de Beckett como artista multimedia, das peças teatrais às peças radiofónicas e à colaboração com a BBC e direcção da emissora alemã Süddeutscher Rundfunk - SDR (1965) e ao cinema. Escreve ela: "Beckett experimenta com os códigos televisuais na criação de uma poética que se articula na montagem de imagens visuais e sonoras. A sua poética cria imagens televisuais abstractas, que se comunicam por meio de elementos estéticos mínimos, e imagens sonoras que distendem a narrativa, fazendo assim com que o visível e o invisível se desvelem no domínio tecnológico" (p. 124). A autora enfatiza a relação quase antagónica entre a economia de meios e o minimalismo radical de Beckett com o entretenimento frenético e interpelativo da televisão (p. 15).
Gabriela Borges tem doutoramento em Comunicação e Semiótica pela Universidade de S. Paulo e é docente na Universidade do Algarve. Em co-organização com Vítor Reia-Baptista, publicou Discursos e práticas de qualidade na televisão (Livros Horizonte).
Gabriela Borges, no texto que constitui a base da sua tese de doutoramento, parte de Beckett como artista multimedia, das peças teatrais às peças radiofónicas e à colaboração com a BBC e direcção da emissora alemã Süddeutscher Rundfunk - SDR (1965) e ao cinema. Escreve ela: "Beckett experimenta com os códigos televisuais na criação de uma poética que se articula na montagem de imagens visuais e sonoras. A sua poética cria imagens televisuais abstractas, que se comunicam por meio de elementos estéticos mínimos, e imagens sonoras que distendem a narrativa, fazendo assim com que o visível e o invisível se desvelem no domínio tecnológico" (p. 124). A autora enfatiza a relação quase antagónica entre a economia de meios e o minimalismo radical de Beckett com o entretenimento frenético e interpelativo da televisão (p. 15).
Gabriela Borges tem doutoramento em Comunicação e Semiótica pela Universidade de S. Paulo e é docente na Universidade do Algarve. Em co-organização com Vítor Reia-Baptista, publicou Discursos e práticas de qualidade na televisão (Livros Horizonte).
A RÁDIO SEGUNDO PAULA CORDEIRO
O livro de Paula Cordeiro, A rádio e as indústrias culturais. Estratégias de programação na transição para o digital, a ser lançado na próxima semana durante o congresso Pós Rádio: R@dio como media social? e que constitui o essencial da sua tese de doutoramento, defendida em finais de 2007, como indico aqui, é um contributo para o estudo da rádio. Inovações tecnológicas, transição para o digital, estratégias de marketing da música em Portugal, tendências internacionais, publicidade e fontes de financiamento, relação entre entretenimento e marcas são alguns dos temas do livro (406 páginas, três partes e sete capítulos, 17 euros de preço).
Paula Cordeiro é docente do ISCSP, tem doutoramento em Ciências da Comunicação pela Universidade Nova de Lisboa, investiga a rádio desde 2000 e tem um blogue dedicado ao meio (NetFm).
Paula Cordeiro é docente do ISCSP, tem doutoramento em Ciências da Comunicação pela Universidade Nova de Lisboa, investiga a rádio desde 2000 e tem um blogue dedicado ao meio (NetFm).
sexta-feira, 19 de março de 2010
MICHAEL SCHUDSON E O FUTURO DO JORNALISMO
Na conferência realizada hoje de manhã, Michael Schudson falou de cinco desafios colocados ao jornalismo na actualidade, que fazem desaparecer barreiras anteriores. Assim, em primeiro lugar, indicou a indistinção entre escritor e leitor, entre jornalista e leitor. Qualquer leitor pode escrever, como nos blogues. Em segundo lugar, perde-se a diferença de géneros, com a análise a encontrar-se com o comentário e a interpretação. Como terceiro foco, Schudson falou da indiferença crescente entre profissional e amador. Estamos numa cultura pro-am, em que os conhecimentos do amador são tão consideráveis como os do profissional. Em quarto lugar, o sociólogo e historiador do jornalismo reflectiu na perda de importância distintiva entre empresa lucrativa e não lucrativa, ou, por outras palavras, entre Estado e empresas privadas no tocante a apoios (falou da rádio pública americana e nos apoios do Estado aos media tradicionais, algo impensável há 20 anos). Finalmente, há uma perda de distinção entre a redacção (notícias) e a empresa comercial (publicidade).
LEIPZIG
Lembrei-me de Leipzig e da igreja onde Bach tantas vezes tocou. O vídeo tem pouca qualidade e nem sequer foi montado (Setembro de 2007). Parece arte bruta (não me lembro de já o ter colocado aqui no blogue). Bach nasceu em 21 de Março de 1685, há 325 anos.
quinta-feira, 18 de março de 2010
TRABALHO NAS INDÚSTRIAS CULTURAIS EM MURDOCK
Graham Murdock (2003: 15) começa o seu texto por destacar o papel das indústrias culturais e as profissões a si associadas. Cita Roland Barthes quando declarou a morte do autor e indicou o leitor como o fornecedor dos significados gerados pelos artefactos culturais, criando uma audiência pronta a ser analisada em termos de consumo. A ênfase passou a ser colocada no trabalho simbólico da vida quotidiana através da leitura, visionamento, compra e cultura "faça você mesmo", numa crescente valorização do consumo como local central da formação da identidade.
Nota Murdock que, nos anos mais recentes, tem havido uma alteração nos estudos culturais e dos media com o foco no trabalho e nas profissões (2003: 16), nas instituições, indústrias e políticas, em especial o jornalismo, a televisão e a música. O estudo do trabalho cultural significa observar o centro da empresa, com a relação entre a criatividade e as pressões estruturais, as estratégias organizacionais e as profissões. Além da análise cultural, há investigação em economia política, sociologia, economia, geografia cultural e económica e antropologia. Murdock distingue elementos precisos na investigação e debate, incluindo o mapeamento das estruturas e operações das indústrias culturais no todo ou em sectores específicos. Aqui cabem análises de oportunidades de investimento, distribuição da produção, relações entre a organização industrial e a diversidade cultural. Além disso, propõe-se estudar as estruturas organizacionais e as estratégias de marketing das principais organizações dentro da produção cultural, as ocupações culturais e as suas segmentações usando entrevistas ou questionários para construir quadros de grupos particulares de trabalhadores num momento particular. Finalmente, Murdock indica estudos etnográficos que empregam observação directa de específicos projectos culturais e locais de produção (redacções ou estúdios de gravação), de modo a examinar como as pressões externas e internas se relacionam com a criatividade e moldam a diversidade e o estilo de expressão pública em circunstâncias particulares.
Murdock elenca algumas das principais mudanças dos sectores das indústrias culturais desde a década de 1980: privatização, liberalização, reorientação dos regimes de regulação, empresarialização, concentração, "comodificação". São categorias que encontramos no texto dos dois volumes organizados por Helena Sousa, mais acima, embora neste texto haja mais desenvolvimento, em especial quando ele se propõe fazer um mapeamento dos campos das indústrias culturais (2003: 23-27): artefactos e fluxos, centros e periferias, redes e localização, empresas comerciais e serviço público.
Leitura: Graham Murdock (2003). "Back to work. Cultural labor in altered times". In Andrew Beck (ed.) Cultural work. Understanding the cultural industries. Londres e Nova Iorque: Routledge, pp. 15-36
Nota Murdock que, nos anos mais recentes, tem havido uma alteração nos estudos culturais e dos media com o foco no trabalho e nas profissões (2003: 16), nas instituições, indústrias e políticas, em especial o jornalismo, a televisão e a música. O estudo do trabalho cultural significa observar o centro da empresa, com a relação entre a criatividade e as pressões estruturais, as estratégias organizacionais e as profissões. Além da análise cultural, há investigação em economia política, sociologia, economia, geografia cultural e económica e antropologia. Murdock distingue elementos precisos na investigação e debate, incluindo o mapeamento das estruturas e operações das indústrias culturais no todo ou em sectores específicos. Aqui cabem análises de oportunidades de investimento, distribuição da produção, relações entre a organização industrial e a diversidade cultural. Além disso, propõe-se estudar as estruturas organizacionais e as estratégias de marketing das principais organizações dentro da produção cultural, as ocupações culturais e as suas segmentações usando entrevistas ou questionários para construir quadros de grupos particulares de trabalhadores num momento particular. Finalmente, Murdock indica estudos etnográficos que empregam observação directa de específicos projectos culturais e locais de produção (redacções ou estúdios de gravação), de modo a examinar como as pressões externas e internas se relacionam com a criatividade e moldam a diversidade e o estilo de expressão pública em circunstâncias particulares.
Murdock elenca algumas das principais mudanças dos sectores das indústrias culturais desde a década de 1980: privatização, liberalização, reorientação dos regimes de regulação, empresarialização, concentração, "comodificação". São categorias que encontramos no texto dos dois volumes organizados por Helena Sousa, mais acima, embora neste texto haja mais desenvolvimento, em especial quando ele se propõe fazer um mapeamento dos campos das indústrias culturais (2003: 23-27): artefactos e fluxos, centros e periferias, redes e localização, empresas comerciais e serviço público.
Leitura: Graham Murdock (2003). "Back to work. Cultural labor in altered times". In Andrew Beck (ed.) Cultural work. Understanding the cultural industries. Londres e Nova Iorque: Routledge, pp. 15-36
THE INDEPENDENT
Após muitas negociações para a venda dos jornais The Independent e The Independent on Sunday, sabe-se que estes títulos irão pertencer a Alexander Lebedev, um milionário russo. Ontem, a secretaria de Estado para os Assuntos Comerciais do Reino Unido indicou não ser necessário investigar se havia matéria de concorrência, o que significa luz verde para o negócio.
O jornal vai custar uma libra a Lebedev, mas ele tem de fazer face a perdas de 10 milhões de libras anuais num jornal lançado em 1986. As negociações começaram em Dezembro último (fonte: editorsweblog.org).
O jornal vai custar uma libra a Lebedev, mas ele tem de fazer face a perdas de 10 milhões de libras anuais num jornal lançado em 1986. As negociações começaram em Dezembro último (fonte: editorsweblog.org).
O REAPARECIMENTO DO FRANCE-SOIR
O jornal France-Soir, um título histórico dos media franceses, foi relançado ontem por Alexander Pugachyov, filho do mais rico oligarca da Rússia. Além de um investimento forte em publicidade, foram publicados 500 mil exemplares a um valor de capa de 50 cêntimos, metade do preço dos concorrentes Le Parisien, Le Monde e Le Figaro (fonte: European Journalism Centre).
MEDIA E INTERFERÊNCIAS POLÍTICAS
No seu relatório anual, o provedor do telespectador da RTP, Paquete de Oliveira, observa a hipótese de interferências do Governo ou de grupos de interesse na informação da estação pública: "Como provedor, não tenho quaisquer elementos internos para constatar a interferência directa do Governo ou de outros grupos de interesse na informação produzida pela RTP" (fonte: Meios & Publicidade) (revisão do texto às 19:47).
quarta-feira, 17 de março de 2010
LIPOVETSKY EM LISBOA
O Ecrã Global é o novo livro de Gilles Lipovetsky, filósofo francês e docente da universidade de Grenoble, a ser apresentado na próxima semana. Ele estará na Universidade Católica, em Lisboa, no próximo dia 24, ao fim da manhã, onde falará desse livro. Lógicas do hipercinema, neomitologias e todos os ecrãs do mundo (do grande ao pequeno ecrã, do ecrã publicitário ao ecrã-mundo) são alguns dos temas da nova obra de Lipovetsky, certamente interessante. Dele, já foram publicados outros livros em tradução portuguesa, como A era do vazio, O império do efémero e A cultura-mundo. Resposta a uma sociedade desorientada.
QUEIMA DO JUDAS EM VILA DO CONDE
A Queima do Judas 2010 em Vila do Conde vai ocorrer no dia 3, em espectáculo deambulante em frente à Câmara Municipal.
Segundo o blogue Núvem Voadora (de onde retiro a informação e a imagem), a vida e obra do casal de artistas plásticos Sonia e Robert Delaunay, que estiveram em Vila do Conde no início do século XX, constituem o tema central da edição deste ano. Intervenções da pintora Isabel Lhano e de Paulo Vasques, director da CIRCULAR Associação Cultural, já no dia 20 de Março, pelas 21:30, no Centro de Memória de Vila do Conde, e apresentação do documentário Bab Sebta no dia 21 de Março, às 17:00, no café O Pátio, também naquela cidade. No dia da Queima há mais actividades, que pode conhecer ao visitar o blogue Núvem Voadora.
Segundo o blogue Núvem Voadora (de onde retiro a informação e a imagem), a vida e obra do casal de artistas plásticos Sonia e Robert Delaunay, que estiveram em Vila do Conde no início do século XX, constituem o tema central da edição deste ano. Intervenções da pintora Isabel Lhano e de Paulo Vasques, director da CIRCULAR Associação Cultural, já no dia 20 de Março, pelas 21:30, no Centro de Memória de Vila do Conde, e apresentação do documentário Bab Sebta no dia 21 de Março, às 17:00, no café O Pátio, também naquela cidade. No dia da Queima há mais actividades, que pode conhecer ao visitar o blogue Núvem Voadora.
TELENOVELAS
Mar de Paixão, a nova telenovela da TVI, foi o programa mais visto no dia de estreia, com 18,4% de audiência e 47,2% de share. A novela, que conta com Paula Lobo Antunes e José Carlos Pereira nos principais papéis, foi vista por público feminino (60%), classe C2 (38%) e dos 25 aos 54 anos (39%) (fonte: Meios & Publicidade).
SETE ANOS DO INDÚSTRIAS
Faz hoje sete anos que o blogue Indústrias Culturais começou a ser escrito (17.3.2003). Já escrevi 5862 mensagens e houve quase 1112000 visitantes. Obrigado a todos pelo apoio, esperando que façam boa leitura dos conteúdos.
terça-feira, 16 de março de 2010
DEFESA DO SERVIÇO PÚBLICO DE TELEVISÃO
Petros Iosifidis é docente na área de media e comunicação do departamento de sociologia da Universidade de Londres e editor do livro Reinventing public service communication - European broacasters and beyond, agora publicado.
Defensor do serviço público de televisão - o que quer dizer serviço de alta qualidade, com conteúdo de acesso universal e livre no ponto de consumo -, Iosifidis identifica os principais desafios que se colocam ao serviço público de televisão: rápida mudança tecnológica, dilema entre a obrigação de servir os cidadãos e os princípios do mercado, legitimidade e capacidade de realização numa ecologia mediática caracterizada pela convergência e fragmentação, transição para um serviço público de media (em inglês: passagem do PSB para o PSM). O livro avalia o serviço público em diversos países europeus: Reino Unido, França, Alemanha, Itália, Espanha, Áustria, Suíça, Grécia, Polónia e Hungria. E também os Estados Unidos, o Canadá, a Austrália e a Nova Zelândia. Sobre Portugal, há duas referências e dois textos: um de Gustavo Cardoso (2006) e outro de Fernando Correia e Carla Martins (2007), o que é muito pouco. Isto é, os investigadores portugueses têm de escrever mais em inglês.
segunda-feira, 15 de março de 2010
A ARTE NA FUNDAÇÃO EDP
António Soares defendeu hoje na Universidade Católica a sua dissertação de mestrado intitulada Fundação EDP: motivações e estratégias no apoio às artes. No vídeo, ele resume o seu trabalho.
INDIELISBOA
A 7ª edição do festival IndieLisboa vai decorrer de 22 de Abril a 2 de Maio de 2010. O festival, que apresenta longas e curtas-metragens, obras de ficção, filmes de animação, experimentais e documentários, tem como objectivo principal a promoção e divulgação de obras e autores nacionais e estrangeiros ao público em geral e aos profissionais do sector.
CHÃO: NIMAS
O projecto CHÃO: Nimas (Av. 5 de Outubro, 42B, Lisboa) leva a efeito, de 18 a 26 de Março de 2010, um programa dedicado ao cinema, reocupando o desígnio do cinema Nimas recentemente encerrado. Das sessões, destaco: Cinema, alguns cortes: Censura, filme de Manuel Mozos, 1999; Catembe, filme de Manuel Faria de Almeida, 1965; As Horas de Maria, filme de António Macedo, 1979; Kino Xtrem, projecção tripla com edição e som ao vivo, de Peter Sempel; Uma História de Vento, filme de Joris Ivens, 1988; O Vento, filme mudo de Victor Sjöström, 1928, acompanhado por sessão de sonoplastia ao vivo por Vasco Pimentel, Peter Bastien e Rui Viana Pereira; outros [ver informação mais detalhada aqui e aqui].
O Cinema Nimas foi instalado na década de 1970. À semelhança das salas-estúdio, apresentava filmes de diversos distribuidores e destinados a um público muito fiel, como a cinematografia francesa. Em Agosto de 2009, a sala deixou de funcionar como cinema e tem vindo a dedicar-se às artes performativas (música, dança, teatro).
O projecto Chão consiste na ocupação temporária de edifícios devolutos previstos para demolição ou remodelação, escolhidos de acordo com localização, estado de conservação e interesse arquitectónico. Assegurada a infra-estrutura mínima para o seu funcionamento, cada edifício é temporariamente ocupado por um programa de actividades definido a partir da especificidade do local. O programa é organizado por uma rede de colaboradores que coordenam as diversas áreas de intervenção e programação segundo uma estrutura flexível, adaptável a cada novo contexto.
O Cinema Nimas foi instalado na década de 1970. À semelhança das salas-estúdio, apresentava filmes de diversos distribuidores e destinados a um público muito fiel, como a cinematografia francesa. Em Agosto de 2009, a sala deixou de funcionar como cinema e tem vindo a dedicar-se às artes performativas (música, dança, teatro).
O projecto Chão consiste na ocupação temporária de edifícios devolutos previstos para demolição ou remodelação, escolhidos de acordo com localização, estado de conservação e interesse arquitectónico. Assegurada a infra-estrutura mínima para o seu funcionamento, cada edifício é temporariamente ocupado por um programa de actividades definido a partir da especificidade do local. O programa é organizado por uma rede de colaboradores que coordenam as diversas áreas de intervenção e programação segundo uma estrutura flexível, adaptável a cada novo contexto.
ENCERRAMENTO DA REVISTA OS MEUS LIVROS
A revista Os Meus Livros tem em circulação o último número, após cinco anos de existência. Novidades, entrevistas e números temáticos eram razões positivas para a revista. Razões negativas: quebra na publicidade e estagnação de vendas.
PORTUGAL SEGUNDO AGUSTINA
Agustina Bessa Luís é uma mulher já velha (nasceu em 1922), li que está doente. Mas o seu livro Fama e segredo na história de Portugal, agora publicado pela editora Guerra e Paz, é dos textos mais lúcidos que li sobre o nosso país e a sua história.
O livro atraiu-me primeiro enquanto objecto gráfico, que é muito belo. Depois, li-o num só tempo, não do começo para o fim mas saltitando de capítulo em capítulo, procurando confirmar o que sabia da História do país.
Nem tudo o que ela escreve se considera exacto. Isso explica-se pelo facto de ser romancista e, assim, ser uma historiadora ocasional que mistura o facto com a ficção, como o confessa na página 61: "Não é do meu entendimento e obrigação adiantar alguma coisa à História de Portugal, já escrita e comentada por pessoas doutoradas para isso. No que me aparento com os cronistas é na tentação de romancear e meter diálogos fictícios onde só se ajustam secos relatos".
Divide o livro em doze capítulos, a que chama óperas, designação que vale muito. A ópera tem dramatismo, música, teatralidade, personagens verdadeiras e fictícias, vencedores e trabalhadores com pouca produtividade, fado e aparências. Escreve sobre homens de que se conhece pouco, como Viriato, que ela afirma não ser oriundo da Serra da Estrela mas de Zamora ou mesmo celta e que os guerreiros romanos enalteceram como militar para justificar o prolongamento de guerras e as recompensas financeiras do esforço, e Afonso Henriques, nascido malformado das pernas e reabilitado talvez porque trocado por outra criança pelo que se compreende a sua luta contra a mãe.
Fala também da homossexualidade de D. Sebastião e do infante D. Henrique, e do distinto investimento de um e de outro, o primeiro embarcando numa aventura desastrosa e dramática para o país, o segundo contribuindo quer para o desenvolvimento do país quer para a sua riqueza pessoal. Não manifesta paixão pela Ínclita Geração, mas chama a atenção para o papel de duas mulheres: Filipa de Lencastre e Isabel, a filha de tipo meridional (p. 66), ao invés dos quatro filhos, mais próximos da matriz fisionómica da mãe inglesa. Outras mulheres analisadas por Agustina são Leonor Telles, com capítulo próprio, e Carlota Joaquina, mulher de D. João VI. Dela, define a escritora: "Carlota Joaquina é desses exemplos de mulheres feias que se virilizam pelas decepções do seu sexo" (p. 134). Logo depois, escreve que a rainha "moía o juízo" a D. João VI, não louco mas frágil, que fugiu de Portugal para o Brasil temendo o exército francês de Junot e regressando aqui, deixando o grande país do outro lado do Atlântico pronto para a independência.
De Salazar não se comove nada, ela que é uma mulher do norte e de ideias conservadoras. Chama-lhe o "senhor Esteves", porque os jornais noticiavam a ida a variados locais após a sua presença: "Salazar esteve..." (p. 187). E surpreende quando fala da sua família e confessa a aproximação desta a Afonso Costa: "Desde criança que eu ouvia o nome de Afonso Costa pronunciado com emoção e louvor. E a república pairava como um lábaro por cima do candelabro da sala de jantar" (p. 166). Mas mostra-nos a resolução do pai dela: "No meio do seu silencioso e quase fanático afonsismo, meu pai teve uma ideia genial: mandou-me educar pelas doroteias". No capítulo sobre Afonso Costa, a escritora opõe-no a Sidónio Pais, num dos melhores capítulos do livro. Afonso Costa e Sidónio Pais encarnam, se quisermos, dois tipos de sociedade populista, do mesmo modo que D. Carlos e o seu primeiro-ministro João Franco, que haviam feito um pacto: se um abdicar ou pedir a demissão, o outro também se afastaria. Após o regicídio de 1908, João Franco disse e cumpriu: "Acaba-se tudo e eu também" (p. 159).
As figuras públicas retratadas, alguns dos mais proeminentes dirigentes do país desde Afonso Henriques - ou mesmo antes, com Viriato -, são despidas de preconceitos, de ideias formadas à priori, e julgadas na sua condição de humanos, fracos na carne, hábeis nas traições, na cobiça e nos objectivos comerciais. São retratos como a pintura realista nos habituou séculos atrás, mostrando os defeitos, as tendências, os vícios e algumas virtudes, sem o actual photoshop que abrilhanta as faces e os contornos. É, se quisermos, um livro impiedoso e mordaz. Mas é também um texto sobre o delírio e a melancolia, características genéticas dos portugueses, segundo o pensamento dessa nascida em Vila Meã, em Amarante, onde as mulheres costumam falar e observar os detalhes com sentido pragmático mas menos elegância. Além de chamar a atenção para a nossa proverbial desatenção (o habitual não ver longe, ao contrário de Duarte Pacheco, ministro de Salazar, homem de grande visão, e que se repercute hoje nas indecisões quanto ao novo aeroporto a servir Lisboa, por exemplo) (p. 185), para o espírito solitário e não de comunidade do país (a decisão na solidão e sem amigos e o desconhecimento do que pensavam intimamente D. Sebastião, Salazar, João Franco, no que resultou em grandes tragédias) e para o aceitar preconceitos (Salazar teve um berço humilde, o que não se perdoa, como se faz hoje a Cavaco Silva) (p. 182).
[imagens de Zamora com a estátua e a praça de Viriato inseridas na mensagem em 10.4.2010]
O livro atraiu-me primeiro enquanto objecto gráfico, que é muito belo. Depois, li-o num só tempo, não do começo para o fim mas saltitando de capítulo em capítulo, procurando confirmar o que sabia da História do país.
Nem tudo o que ela escreve se considera exacto. Isso explica-se pelo facto de ser romancista e, assim, ser uma historiadora ocasional que mistura o facto com a ficção, como o confessa na página 61: "Não é do meu entendimento e obrigação adiantar alguma coisa à História de Portugal, já escrita e comentada por pessoas doutoradas para isso. No que me aparento com os cronistas é na tentação de romancear e meter diálogos fictícios onde só se ajustam secos relatos".
Divide o livro em doze capítulos, a que chama óperas, designação que vale muito. A ópera tem dramatismo, música, teatralidade, personagens verdadeiras e fictícias, vencedores e trabalhadores com pouca produtividade, fado e aparências. Escreve sobre homens de que se conhece pouco, como Viriato, que ela afirma não ser oriundo da Serra da Estrela mas de Zamora ou mesmo celta e que os guerreiros romanos enalteceram como militar para justificar o prolongamento de guerras e as recompensas financeiras do esforço, e Afonso Henriques, nascido malformado das pernas e reabilitado talvez porque trocado por outra criança pelo que se compreende a sua luta contra a mãe.
Fala também da homossexualidade de D. Sebastião e do infante D. Henrique, e do distinto investimento de um e de outro, o primeiro embarcando numa aventura desastrosa e dramática para o país, o segundo contribuindo quer para o desenvolvimento do país quer para a sua riqueza pessoal. Não manifesta paixão pela Ínclita Geração, mas chama a atenção para o papel de duas mulheres: Filipa de Lencastre e Isabel, a filha de tipo meridional (p. 66), ao invés dos quatro filhos, mais próximos da matriz fisionómica da mãe inglesa. Outras mulheres analisadas por Agustina são Leonor Telles, com capítulo próprio, e Carlota Joaquina, mulher de D. João VI. Dela, define a escritora: "Carlota Joaquina é desses exemplos de mulheres feias que se virilizam pelas decepções do seu sexo" (p. 134). Logo depois, escreve que a rainha "moía o juízo" a D. João VI, não louco mas frágil, que fugiu de Portugal para o Brasil temendo o exército francês de Junot e regressando aqui, deixando o grande país do outro lado do Atlântico pronto para a independência.
De Salazar não se comove nada, ela que é uma mulher do norte e de ideias conservadoras. Chama-lhe o "senhor Esteves", porque os jornais noticiavam a ida a variados locais após a sua presença: "Salazar esteve..." (p. 187). E surpreende quando fala da sua família e confessa a aproximação desta a Afonso Costa: "Desde criança que eu ouvia o nome de Afonso Costa pronunciado com emoção e louvor. E a república pairava como um lábaro por cima do candelabro da sala de jantar" (p. 166). Mas mostra-nos a resolução do pai dela: "No meio do seu silencioso e quase fanático afonsismo, meu pai teve uma ideia genial: mandou-me educar pelas doroteias". No capítulo sobre Afonso Costa, a escritora opõe-no a Sidónio Pais, num dos melhores capítulos do livro. Afonso Costa e Sidónio Pais encarnam, se quisermos, dois tipos de sociedade populista, do mesmo modo que D. Carlos e o seu primeiro-ministro João Franco, que haviam feito um pacto: se um abdicar ou pedir a demissão, o outro também se afastaria. Após o regicídio de 1908, João Franco disse e cumpriu: "Acaba-se tudo e eu também" (p. 159).
As figuras públicas retratadas, alguns dos mais proeminentes dirigentes do país desde Afonso Henriques - ou mesmo antes, com Viriato -, são despidas de preconceitos, de ideias formadas à priori, e julgadas na sua condição de humanos, fracos na carne, hábeis nas traições, na cobiça e nos objectivos comerciais. São retratos como a pintura realista nos habituou séculos atrás, mostrando os defeitos, as tendências, os vícios e algumas virtudes, sem o actual photoshop que abrilhanta as faces e os contornos. É, se quisermos, um livro impiedoso e mordaz. Mas é também um texto sobre o delírio e a melancolia, características genéticas dos portugueses, segundo o pensamento dessa nascida em Vila Meã, em Amarante, onde as mulheres costumam falar e observar os detalhes com sentido pragmático mas menos elegância. Além de chamar a atenção para a nossa proverbial desatenção (o habitual não ver longe, ao contrário de Duarte Pacheco, ministro de Salazar, homem de grande visão, e que se repercute hoje nas indecisões quanto ao novo aeroporto a servir Lisboa, por exemplo) (p. 185), para o espírito solitário e não de comunidade do país (a decisão na solidão e sem amigos e o desconhecimento do que pensavam intimamente D. Sebastião, Salazar, João Franco, no que resultou em grandes tragédias) e para o aceitar preconceitos (Salazar teve um berço humilde, o que não se perdoa, como se faz hoje a Cavaco Silva) (p. 182).
[imagens de Zamora com a estátua e a praça de Viriato inseridas na mensagem em 10.4.2010]
domingo, 14 de março de 2010
ALICE
Realidade e fantasia, juventude e velhice, crescimento e maturação, múltiplas cores - eis algumas palavras para escrever sobre o filme de Tim Burton, Alice no País das Maravilhas (a partir dos livros de Lewis Carrol).
Na sala de cinema onde vi o filme não havia 3D, mas a maravilha é semelhante, creio. As melhores pessoas são meio loucas, diz Alice (Mia Wasikowska), repetindo o que o pai lhe respondia quando ela descrevia os pesadelos que tinha. O seu universo incluía coelhos com colete, um chapeleiro meio louco (Johnny Depp), as irmãs inimigas rainha vermelha (Helena Bonham Carter) e rainha branca (Anne Hathaway), o escudeiro da rainha vermelha ou Valete de Copas (Crispin Hellion Glover), os gémeos gordinhos Tweedle-Dee e Tweedle-Dum (Matt Lucas), o gato de Cheshire, o arganaz e a lagarta (Alan Rickman), com música composta por Danny Elfman.
O País das Maravilhas que Alice conhece é um lugar habitado por seres mágicos e dominado pela maléfica Rainha Vermelha ou de Copas, guardada por um exército poderoso e por cortesãos que a bajulam temendo ser mortos caso não a agradem. A história, que segue um percurso diferente do escrito por Carrol e tem apoio das tecnologias de programação digital, produzindo muitos efeitos, acaba com a derrota da rainha pérfida e o regresso de Alice ao mundo real, onde recusa um pedido de casamento e inicia uma vida de aventura comercial, numa época em que a Inglaterra vitoriana dominava o mundo graças à sua frota marítima.
Na sala de cinema onde vi o filme não havia 3D, mas a maravilha é semelhante, creio. As melhores pessoas são meio loucas, diz Alice (Mia Wasikowska), repetindo o que o pai lhe respondia quando ela descrevia os pesadelos que tinha. O seu universo incluía coelhos com colete, um chapeleiro meio louco (Johnny Depp), as irmãs inimigas rainha vermelha (Helena Bonham Carter) e rainha branca (Anne Hathaway), o escudeiro da rainha vermelha ou Valete de Copas (Crispin Hellion Glover), os gémeos gordinhos Tweedle-Dee e Tweedle-Dum (Matt Lucas), o gato de Cheshire, o arganaz e a lagarta (Alan Rickman), com música composta por Danny Elfman.
O País das Maravilhas que Alice conhece é um lugar habitado por seres mágicos e dominado pela maléfica Rainha Vermelha ou de Copas, guardada por um exército poderoso e por cortesãos que a bajulam temendo ser mortos caso não a agradem. A história, que segue um percurso diferente do escrito por Carrol e tem apoio das tecnologias de programação digital, produzindo muitos efeitos, acaba com a derrota da rainha pérfida e o regresso de Alice ao mundo real, onde recusa um pedido de casamento e inicia uma vida de aventura comercial, numa época em que a Inglaterra vitoriana dominava o mundo graças à sua frota marítima.
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