Texto publicado na revista da Universidade do Minho Comunicação e Sociedade, vol. 7, 2005, pp. 137-152.
[original em Comunicação e Sociedade]
Textos de Rogério Santos, com reflexões e atualidade sobre indústrias culturais (imprensa, rádio, televisão, internet, cinema, videojogos, música, livros, centros comerciais) e criativas (museus, exposições, teatro, espetáculos). Na blogosfera desde 2002.
sábado, 16 de dezembro de 2017
Federação de rádios locais (maio de 1988)
No Jornal de Notícias de 20 de maio de 1988, há quase há 30 anos, noticiava-se a vontade de criar uma federação a englobar o movimento das rádios livres (ou locais ou piratas). Era um tempo de reuniões e encontros.
O comentário de Fernando Moura no Facebook seria o seguinte: "Grande luta pela legalização das rádios locais. Encontro no Teatro Paulo Quintela. Ainda me lembro que a UC levou uma data de contos de réis para alugar a sala. O poder politico acabou por ceder e as frequência foram a concurso. Coimbra teve direito a 3. Contra tudo e contra todos, o projecto dos mentores da então Rádio Actividade ficou em 1º lugar no concelho de Coimbra.Trata-se da frequência que foi da 90 FM e agora transmite a Mega Hits. Sai logo de seguida porque o patrão estava a entregar aquilo a um partido. Fui para o segundo classificado, a Rádio Jornal do Centro. A Rádio Universidade de Coimbra ficou com a 3ª frequência. Deu que falar a estrondosa derrota do Diário de Coimbra relegado para um 6º ou 7º lugar. Boa altura para enviar um abraço ao meu amigo Alfredo Nunes Silva, que, guiando uma potente Renault 4L, me levou aos 4 cantos do Portugal que queria mais liberdade radiofónica".
O comentário de Fernando Moura no Facebook seria o seguinte: "Grande luta pela legalização das rádios locais. Encontro no Teatro Paulo Quintela. Ainda me lembro que a UC levou uma data de contos de réis para alugar a sala. O poder politico acabou por ceder e as frequência foram a concurso. Coimbra teve direito a 3. Contra tudo e contra todos, o projecto dos mentores da então Rádio Actividade ficou em 1º lugar no concelho de Coimbra.Trata-se da frequência que foi da 90 FM e agora transmite a Mega Hits. Sai logo de seguida porque o patrão estava a entregar aquilo a um partido. Fui para o segundo classificado, a Rádio Jornal do Centro. A Rádio Universidade de Coimbra ficou com a 3ª frequência. Deu que falar a estrondosa derrota do Diário de Coimbra relegado para um 6º ou 7º lugar. Boa altura para enviar um abraço ao meu amigo Alfredo Nunes Silva, que, guiando uma potente Renault 4L, me levou aos 4 cantos do Portugal que queria mais liberdade radiofónica".
quinta-feira, 14 de dezembro de 2017
A Guerra dos Mundos em Braga (1988)
A minha primeira tese é a do jornalismo atender ao facto e não à problemática. Explico melhor, a partir de duas notícias publicadas no Jornal de Notícias (30 e 31 de outubro de 1988). O episódio radiofónico emitido por Orson Welles ocorrera cinquenta anos, pelo que o jornal o recordou. No primeiro daqueles dias, o jornalista deu o destaque ao episódio e, em texto pequeno, informou a realização de uma evocação em rádio pirata. 1988 foi um ano muito rico em experiências radiofónicas e nada melhor do que experimentar a guerra dos mundos.
O texto do segundo dia tem título, antetítulo e pós-título bem expressivos. A homenagem voltara a assustar uma população e a polícia teve de intervir (e proteger os animadores da rádio). Os dois telefones da rádio não pararam de tocar nessa tarde. Brincadeira de mau gosto e ameaça de bomba nos estúdios da rádio foram consequências não previstas. Por isso, um dirigente da estação de Braga prestou declarações ao jornal mas manteve o anonimato. O medo voltara-se contra ele.
A minha segunda tese sobre o jornalismo é a ausência de memória cultural. Em 1958, o então jovem realizador José Matos Maia, levado pela leitura de revistas e fanzines, descobrira Welles e produzira o episódio para a Rádio Renascença. O episódio não chegou ao fim, porque as linhas de telefone da polícia estavam "entupidas", com ouvintes muito amedrontados, e agentes da polícia entraram na estação e puseram cobro à aventura estética. Nos dias seguintes, Matos Maia foi responder a um inquérito na polícia política. Se repetisse um pânico semelhante, ficaria preso.
O jornalista não fez qualquer alusão a essa história. No caso de 1958, esteve em causa a ausência de liberdade e a presença constante da vigilância e da censura. Em 1988, o episódio português era já conhecido e o realizador voltaria a repeti-lo, agora em situação de liberdade de expressão e com igual medo coletivo, o que indica o impacto dos media. A rádio talvez tenha maior peso que a televisão, porque falta a imagem e o ouvinte obriga-se a reconstruir o que ouve para o tornar mais real ou inteligível.
A meu ver, houve preguiça - é mais fácil retirar a informação oriunda de uma agência, ou hoje de um sítio da internet, do que procurar divulgar o que aconteceu no país.
O texto do segundo dia tem título, antetítulo e pós-título bem expressivos. A homenagem voltara a assustar uma população e a polícia teve de intervir (e proteger os animadores da rádio). Os dois telefones da rádio não pararam de tocar nessa tarde. Brincadeira de mau gosto e ameaça de bomba nos estúdios da rádio foram consequências não previstas. Por isso, um dirigente da estação de Braga prestou declarações ao jornal mas manteve o anonimato. O medo voltara-se contra ele.
A minha segunda tese sobre o jornalismo é a ausência de memória cultural. Em 1958, o então jovem realizador José Matos Maia, levado pela leitura de revistas e fanzines, descobrira Welles e produzira o episódio para a Rádio Renascença. O episódio não chegou ao fim, porque as linhas de telefone da polícia estavam "entupidas", com ouvintes muito amedrontados, e agentes da polícia entraram na estação e puseram cobro à aventura estética. Nos dias seguintes, Matos Maia foi responder a um inquérito na polícia política. Se repetisse um pânico semelhante, ficaria preso.
O jornalista não fez qualquer alusão a essa história. No caso de 1958, esteve em causa a ausência de liberdade e a presença constante da vigilância e da censura. Em 1988, o episódio português era já conhecido e o realizador voltaria a repeti-lo, agora em situação de liberdade de expressão e com igual medo coletivo, o que indica o impacto dos media. A rádio talvez tenha maior peso que a televisão, porque falta a imagem e o ouvinte obriga-se a reconstruir o que ouve para o tornar mais real ou inteligível.
A meu ver, houve preguiça - é mais fácil retirar a informação oriunda de uma agência, ou hoje de um sítio da internet, do que procurar divulgar o que aconteceu no país.
terça-feira, 12 de dezembro de 2017
O fim das rádios livres (dezembro de 1988)
As rádios piratas ou livres fecharam a emissão na noite de 23 de dezembro de 1988. Uma comissão nomeada pelo governo iria estudar condições económicas e técnicas para atribuir as cerca de 400 alvarás de emissão e precisava de silêncio no éter. Uma condição de preferência era um projeto de estação incluir profissionais da comunicação social.
Nesse mesmo dia, o Jornal de Notícias (Porto) editava uma página completa ao tema. O sugestivo título era Rádios locais. Agora é o som do dinheiro. Da página, retive dois textos assinados por dois radialistas piratas, que tinham estado na Rádio Caos (e ainda na Rádio Delírio), as duas estações mais ousadas ou dessintonizadas do Porto.
No dia seguinte, o jornal voltaria a dar destaque ao tema, com entrevista ao ministro António Couto dos Santos, que esperava que a comissão governamental concluísse o seu trabalho em dois meses. Uma nota do governo, colocada em destaque nessa página, concluía que era forçoso acabar com a anarquia das ondas radioelétricas.
sábado, 9 de dezembro de 2017
Escutam a Rádio Caos em 102 MHz
Daniel Guerra (Expresso, 2 de julho de 1983), falou com Krenox, Oliveira, Silveira, Goldstein e Hermenegildo [vários colaboradores ou um e seus heterónimos?]:
“A Caos tem já ouvintes fieis, que sabem de cor os dias e as horas em que é preciso procurar, na frequência conhecida boca a boca, a informação alternativa, a discussão de problemas que raramente encontram debatidos nas emissoras com alvará e programa anunciado nos jornais”. O animador António da Silva Oliveira diria: “O que queremos acima de tudo é comunicar, estabelecer uma comunicação de rutura perante as exigências de integração num espírito novo. Tudo isto tendo em vista a proposta de uma alternativa aos modelos tradicionais de fazer rádio. […] A Caos não é um sítio de emoções fracas, nenhum dancing, nenhum centro de repouso. É assumidamente um lugar de prazer, um espaço de interpelação”.
Sob o tema geral “Os Binários do Planeta em Vigor”, o jornalista, também colaborador da Rádio Caos, registou rubricas como “O Crepitar da Pipoca”, “Leite, Literatura e Assassinos”, “Os Cogumelos da Masmorra” e “Jazigo de Família”. Naquele momento, um grupo estava a reestruturar a secção de noticiário e reportagem, para dar importância ao setor. Objetivo: lutar contra a “massificação desregrada da produção cultural”. Em montagem nessa data uma entrevista com elementos da FDR (El Salvador) e Comissão Justiça e Paz (Guatemala). A Caos daria voz aos presos do PRP, levando em direto os pontos de vista de Isabel do Carmo. O microfone da estação assentava em cima de dois tomos das obras completas de Lenine!
Como as outras rádios piratas, a Caos encerrou em 24 de dezembro de 1988. Ainda concorreu a uma licença mas ficaria fora dos lugares elegíveis.
“A Caos tem já ouvintes fieis, que sabem de cor os dias e as horas em que é preciso procurar, na frequência conhecida boca a boca, a informação alternativa, a discussão de problemas que raramente encontram debatidos nas emissoras com alvará e programa anunciado nos jornais”. O animador António da Silva Oliveira diria: “O que queremos acima de tudo é comunicar, estabelecer uma comunicação de rutura perante as exigências de integração num espírito novo. Tudo isto tendo em vista a proposta de uma alternativa aos modelos tradicionais de fazer rádio. […] A Caos não é um sítio de emoções fracas, nenhum dancing, nenhum centro de repouso. É assumidamente um lugar de prazer, um espaço de interpelação”.
Sob o tema geral “Os Binários do Planeta em Vigor”, o jornalista, também colaborador da Rádio Caos, registou rubricas como “O Crepitar da Pipoca”, “Leite, Literatura e Assassinos”, “Os Cogumelos da Masmorra” e “Jazigo de Família”. Naquele momento, um grupo estava a reestruturar a secção de noticiário e reportagem, para dar importância ao setor. Objetivo: lutar contra a “massificação desregrada da produção cultural”. Em montagem nessa data uma entrevista com elementos da FDR (El Salvador) e Comissão Justiça e Paz (Guatemala). A Caos daria voz aos presos do PRP, levando em direto os pontos de vista de Isabel do Carmo. O microfone da estação assentava em cima de dois tomos das obras completas de Lenine!
Como as outras rádios piratas, a Caos encerrou em 24 de dezembro de 1988. Ainda concorreu a uma licença mas ficaria fora dos lugares elegíveis.
sábado, 18 de novembro de 2017
A Emissora Nacional no período 1968-1975
Este livro analisa a história da Emissora Nacional durante o período de 1968 a 1975, compreendendo os tempos do governo de Marcelo Caetano e os dezoito meses de revolução política (abril de 1974 a novembro de 1975). O estudo incide sobre a programação, os objetivos ideológicos, estéticos e culturais da rádio pública e a mudança de geração de dirigentes, profissionais e orientações radiofónicas. [nº 5 da Colecção Comunicação História e Memória, dirigida pela Prof. Doutora Isabel Nobre Vargues].
Lançamento em Coimbra a 24 de novembro de 2017.
terça-feira, 5 de setembro de 2017
Concurso de cantadeiras do Porto
Em 1949, duas entidades juntaram-se para realizar o concurso da rainha das cantadeiras do fado das freguesias do Porto: Portuense Rádio Clube e Jornal de Notícias. O objetivo principal era encontrar novos valores musicais para a rádio e o teatro. Publicitado em agosto, o concurso terminaria em novembro, com a vitória de Maria Rosa Rodrigues, de Ramalde, que teve uma curta carreira profissional e editou alguns discos com a etiqueta Alvorada, da Rádio Triunfo (Porto).
A notícia do Jornal de Notícias de 5 de setembro de 1949 (faz hoje 68 anos) dá conta de 400 jovens já inscritas, prontas a ensaiar, de segunda a sexta-feira nos horários 18:00-20:00 e 21:30-24:00, no salão da estação, à avenida Rodrigues de Freitas, para afinarem tons de voz e se adaptarem a público, além da gravação de discos. A etapa seguinte seria a das eliminatórias, inicialmente previstas para decorrerem em palcos de coletividades locais, levando Portuense Rádio Clube microfones para transmissão em programas de rádio. O espetáculo final decorreu no Coliseu do Porto. Uma notícia falaria em três mil espectadores. Os dois principais prémios eram uma máquina de costura (Oliva) e um recetor de rádio (Philips). Tudo isto implicou uma grande logística e o esforço de muitas pessoas, dos músicos aos ensaiadores. O homem da ideia foi João Pereira de Lima, presidente da estação de rádio e proprietário da tabacaria Tivoli, onde também se vendia lotaria, na praça da Liberdade, 33, Porto (hoje, ocupado parcialmente pela farmácia Vitália, quase na esquina com o Largo dos Lóios). Domingos Vieira, mais conhecido por Domingos Parker, seria o realizador por detrás do evento, repetindo o feito nos concursos seguintes de 1952 e 1955, agora ao serviço de duas outras estações de rádio portuense (Rádio Clube do Norte e Ideal Rádio).
Portuense Rádio Clube teve condições para ser uma grande estação. Fundada em 1937, foi a centralizadora no período inicial da II Guerra Mundial (todas as estações locais usavam a sua antena para emissão, pagando um valor pela sua utilização) e tinha uma frequência própria (ao contrário das outras estações portuenses, agrupadas no começo da década de 1950 nos Emissores do Norte Reunidos). Era uma estação e um clube. Durante a semana, funcionava como espaço de convívio. Aos fins-de-semana, havia bailes.
Mas a estação teve azares e erros de estratégia. Por exemplo, comprou um emissor, que chegou avariado ao Porto. Tal levou a nova encomenda, que não chegou a tempo do legalmente imposto e a licença de emissão foi cassada. A posição majestática e inflexível dos CTT, entidade que passava as autorizações de emissão à época, levou ao desaparecimento da estação, mesmo que as forças políticas do Porto lutassem pela manutenção da rádio. Em 1954, o terreno no Monte da Virgem (Gaia) para instalar o novo emissor foi vendido à Emissora Nacional, que o usou para emitir FM e ainda em onda média. Os seus principais animadores como Júlio Guimarães, Domingos Parker e Carlos Silva saíam para outras estações, o mesmo acontecendo a programas emblemáticos (A Voz dos Ridículos) e espetáculos (Parada da Alegria, no velho Palácio de Cristal, desaparecido em finais de 1951).
Sobre o concurso das cantadeiras, espero escrever com mais profundidade um dia.
A notícia do Jornal de Notícias de 5 de setembro de 1949 (faz hoje 68 anos) dá conta de 400 jovens já inscritas, prontas a ensaiar, de segunda a sexta-feira nos horários 18:00-20:00 e 21:30-24:00, no salão da estação, à avenida Rodrigues de Freitas, para afinarem tons de voz e se adaptarem a público, além da gravação de discos. A etapa seguinte seria a das eliminatórias, inicialmente previstas para decorrerem em palcos de coletividades locais, levando Portuense Rádio Clube microfones para transmissão em programas de rádio. O espetáculo final decorreu no Coliseu do Porto. Uma notícia falaria em três mil espectadores. Os dois principais prémios eram uma máquina de costura (Oliva) e um recetor de rádio (Philips). Tudo isto implicou uma grande logística e o esforço de muitas pessoas, dos músicos aos ensaiadores. O homem da ideia foi João Pereira de Lima, presidente da estação de rádio e proprietário da tabacaria Tivoli, onde também se vendia lotaria, na praça da Liberdade, 33, Porto (hoje, ocupado parcialmente pela farmácia Vitália, quase na esquina com o Largo dos Lóios). Domingos Vieira, mais conhecido por Domingos Parker, seria o realizador por detrás do evento, repetindo o feito nos concursos seguintes de 1952 e 1955, agora ao serviço de duas outras estações de rádio portuense (Rádio Clube do Norte e Ideal Rádio).
Portuense Rádio Clube teve condições para ser uma grande estação. Fundada em 1937, foi a centralizadora no período inicial da II Guerra Mundial (todas as estações locais usavam a sua antena para emissão, pagando um valor pela sua utilização) e tinha uma frequência própria (ao contrário das outras estações portuenses, agrupadas no começo da década de 1950 nos Emissores do Norte Reunidos). Era uma estação e um clube. Durante a semana, funcionava como espaço de convívio. Aos fins-de-semana, havia bailes.
Mas a estação teve azares e erros de estratégia. Por exemplo, comprou um emissor, que chegou avariado ao Porto. Tal levou a nova encomenda, que não chegou a tempo do legalmente imposto e a licença de emissão foi cassada. A posição majestática e inflexível dos CTT, entidade que passava as autorizações de emissão à época, levou ao desaparecimento da estação, mesmo que as forças políticas do Porto lutassem pela manutenção da rádio. Em 1954, o terreno no Monte da Virgem (Gaia) para instalar o novo emissor foi vendido à Emissora Nacional, que o usou para emitir FM e ainda em onda média. Os seus principais animadores como Júlio Guimarães, Domingos Parker e Carlos Silva saíam para outras estações, o mesmo acontecendo a programas emblemáticos (A Voz dos Ridículos) e espetáculos (Parada da Alegria, no velho Palácio de Cristal, desaparecido em finais de 1951).
Sobre o concurso das cantadeiras, espero escrever com mais profundidade um dia.
domingo, 11 de junho de 2017
Estudos da rádio em Portugal
Ontem, dia 10 de junho, o meu livro Estudos da rádio em Portugal foi lançado. Editado pela Universidade Católica Portuguesa. Obrigado a Adelino Gomes, José Manuel Nunes e Nelson Ribeiro pela mesa redonda e pelos temas que ali afluíram [imagem da Feira do Livro de Lisboa de Gonçalo Pereira Rosa]. Obrigado ainda a Anabela Antunes, da editora, e Peter Hanenberg, do Centro de Comunicação e Cultura da UCP, pela possibilidade de edição. O livro tem edição em papel e em ebook.
quinta-feira, 8 de junho de 2017
Interrupção
Por algum tempo, o blogue fica sem atualização. A carga de trabalho de investigação obriga a uma concentração de esforços num só sentido e conduz a esta paragem. Obrigado pela preferência manifestada desde 2003.
sábado, 3 de junho de 2017
O inspetor da PIDE que morreu duas vezes e outras histórias
O Inspector da PIDE que Morreu Duas Vezes é o novo livro de Gonçalo Pereira Rosa, em edição da Planeta. Contém episódios do jornalismo português do século XX, continuando o que publicou em 2015 com Parem as Máquinas!, apoiado em pesquisa nos acervos da censura, da polícia política e das coleções de jornais.
O autor do livro - nas livrarias já no começo da próxima semana - organiza uma sessão de autógrafos na Feira do Livro de Lisboa no domingo, dia 11, pelas 16:00 (Pavilhão Planeta, no início da terceira fila da Feira para quem está de frente para a estátua do Marquês de Pombal).
O autor do livro - nas livrarias já no começo da próxima semana - organiza uma sessão de autógrafos na Feira do Livro de Lisboa no domingo, dia 11, pelas 16:00 (Pavilhão Planeta, no início da terceira fila da Feira para quem está de frente para a estátua do Marquês de Pombal).
quinta-feira, 1 de junho de 2017
Teatro Bocage
E se Fosse… Absurdo?!, no Teatro Bocage de hoje a 24 Junho, às quintas, sextas e sábados às 21:30.
A peça é um texto inédito de Marco Mascarenhas que fala sobre o teatro e a vida dos atores, durante o processo criativo, em detrimento da subsistência como indivíduos nas atuais circunstâncias globalizadas que influenciam o modo de vida do país.
Trata-se de uma comédia que mostra a vida dos atores do ponto de vista dos espetadores que são diretamente influenciados pelo meios de comunicação inerentes aos padrões socialmente estabelecidos. Esse "reflexo" do mundo dos atores nos "não atores", coloca-os diante de conflitos que são geridos com sinceridade e alguma ingenuidade pelos atores na busca incessante de soluções, muitas vezes encontradas, de maneira surpreendente para todos. O espectáculo é concebido, à partida, dentro de uma linguagem cénica naturalista que serve de "pano de fundo" para outras linguagens simbólicas, expressionistas e absurdas. Explorando, assim, todas as vertentes interpretativas numa farsa, as incertezas humanas dentro de um sistema social e dos poderes em geral [texto da entidade organizadora].
Encenação de Marco Mascarenhas, elenco com Manuela Gomes, Onivaldo Dutra e Marco Mascarenhas, cenografia e design gráfico de Marco Mascarenhas e Carlos Alves, figurinos (criação e execução) de Paulo Miranda e maquilhagens de Manuela Gomes.
O Teatro Bocage fica na rua D. Manuel Soares Guedes, 13 A (à rua Damasceno Monteiro), em Lisboa.
A peça é um texto inédito de Marco Mascarenhas que fala sobre o teatro e a vida dos atores, durante o processo criativo, em detrimento da subsistência como indivíduos nas atuais circunstâncias globalizadas que influenciam o modo de vida do país.
Trata-se de uma comédia que mostra a vida dos atores do ponto de vista dos espetadores que são diretamente influenciados pelo meios de comunicação inerentes aos padrões socialmente estabelecidos. Esse "reflexo" do mundo dos atores nos "não atores", coloca-os diante de conflitos que são geridos com sinceridade e alguma ingenuidade pelos atores na busca incessante de soluções, muitas vezes encontradas, de maneira surpreendente para todos. O espectáculo é concebido, à partida, dentro de uma linguagem cénica naturalista que serve de "pano de fundo" para outras linguagens simbólicas, expressionistas e absurdas. Explorando, assim, todas as vertentes interpretativas numa farsa, as incertezas humanas dentro de um sistema social e dos poderes em geral [texto da entidade organizadora].
Encenação de Marco Mascarenhas, elenco com Manuela Gomes, Onivaldo Dutra e Marco Mascarenhas, cenografia e design gráfico de Marco Mascarenhas e Carlos Alves, figurinos (criação e execução) de Paulo Miranda e maquilhagens de Manuela Gomes.
O Teatro Bocage fica na rua D. Manuel Soares Guedes, 13 A (à rua Damasceno Monteiro), em Lisboa.
Proibido permanecer
Nunca vira tal aviso: "Proibido Permanecer" (Porto). Qual a intenção? Lembrei-me logo daqueles sistemas de picos de arame para afastar pombas de telhados e beirais.
quarta-feira, 31 de maio de 2017
Marionetas
Só agora dou relevo ao X Encontro Internacional de Marionetas de Montemor-o-Novo. Ainda há espetáculos ou encontros até 3 de junho.
terça-feira, 30 de maio de 2017
A Rádio e o fim do regime (Estado Novo)
Debate A Rádio e o Fim do Regime, organizado pela Universidade Católica Editora, no dia 10 de junho de 2017, na Feira do Livro de Lisboa (Praça Laranja), com moderação de Nelson Ribeiro e presença de Rogério Santos, Adelino Gomes e José Manuel Nunes. Lançamento do livro Estudos da Rádio em Portugal.
sábado, 27 de maio de 2017
IX Feira Medieval em Linda-a-Velha
O Agrupamento 626 de Linda-a-Velha, do Corpo Nacional de Escutas, organiza nos dias 24 e 25 de junho - sábado e domingo - a IX edição da Feira Medieval de Linda-a-Velha, no Jardim das Amendoeiras do Palácio dos Aciprestes. Trata-se de uma recriação histórica, com intervenientes trajados à época, demonstrações de mesteres, torneios, jogos e danças tradicionais e outras atrações, que todos os anos leva cerca de 4000 pessoas à freguesia. O evento tem início no sábado, dia 24, pelas 16:00, com um cortejo pelas ruas de Linda-a-Velha a anunciar a abertura da feira e a convidar todo o povo, e termina no domingo, dia 25, pelas 20:00. A organização e preparação da feira resultado do trabalho dos voluntários que integram o Agrupamento (com o apoio da União das Freguesias de Algés, Linda-a-Velha e Cruz Quebrada/Dafundo, da Fundação Marquês de Pombal e da associação Companhia Livre). Para esclarecimentos, utilizar o endereço cne.agr626@gmail.com [informação da entidade organizadora].
segunda-feira, 22 de maio de 2017
Folhetim radiofónico visto por João Gaspar Simões
No Jornal de Notícias (10 de agosto de 1958), o crítico literário João Gaspar Simões escreveu o texto Na Era do Folhetim Radiofónico. Para ele, o folhetim era o mais sério rival do romance. Como não se sabe a fronteira entre um e outro, na obra de grandes romancistas há elementos folhetinescos e nos folhetinistas elementos romanescos. Balzac associou os dois, Camilo (Os Mistérios de Lisboa) mostrou o domínio do folhetim.
João Gaspar Simões conclui que, possivelmente, no romance a história serve as personagens e no folhetim as personagens servem a história. Com a rádio e a possibilidade de as personagens encarnarem em vozes próprias, o que alarga a verosimilhança, o folhetinista cerze uma manta de retalhos de episódios anódinos para encontrar no ouvinte o eco que não encontraria no leitor.
Embora o passo não seja muito bem explicado no texto jornalístico, para o crítico literário, na audição, aceitam-se mais facilmente as incongruências. Grande parte do texto está dedicado à literatura e apenas uma pequena parte do texto mergulha no folhetim radiofónico. Era o tempo do rescaldo do folhetim da coxinha do Tide na Rádio Graça e do programa de ficção científica de H. G. Welles (A Guerra dos Mundos), que José Matos Maia adaptara para a Rádio Renascença e provocou pânico e escândalo e a interrupção forçada do programa. Não esquecer ainda que, em junho de 1958, Humberto Delgado ameaçara o regime ao concorrer às eleições presidenciais. Logo depois, foi demitido do cargo de diretor-geral da Aeronáutica Civil, a que se seguiu o pedido de asilo na embaixada do Brasil e a saída forçada para o exílio naquele país (abril de 1959).
João Gaspar Simões conclui que, possivelmente, no romance a história serve as personagens e no folhetim as personagens servem a história. Com a rádio e a possibilidade de as personagens encarnarem em vozes próprias, o que alarga a verosimilhança, o folhetinista cerze uma manta de retalhos de episódios anódinos para encontrar no ouvinte o eco que não encontraria no leitor.
Embora o passo não seja muito bem explicado no texto jornalístico, para o crítico literário, na audição, aceitam-se mais facilmente as incongruências. Grande parte do texto está dedicado à literatura e apenas uma pequena parte do texto mergulha no folhetim radiofónico. Era o tempo do rescaldo do folhetim da coxinha do Tide na Rádio Graça e do programa de ficção científica de H. G. Welles (A Guerra dos Mundos), que José Matos Maia adaptara para a Rádio Renascença e provocou pânico e escândalo e a interrupção forçada do programa. Não esquecer ainda que, em junho de 1958, Humberto Delgado ameaçara o regime ao concorrer às eleições presidenciais. Logo depois, foi demitido do cargo de diretor-geral da Aeronáutica Civil, a que se seguiu o pedido de asilo na embaixada do Brasil e a saída forçada para o exílio naquele país (abril de 1959).
domingo, 21 de maio de 2017
Acervos musicais e património local: memória e identidade
27 de maio (sábado) às 17:00, no Arquivo Municipal de Loulé. O caso da Sociedade Filarmónica União Marçal Pacheco, com a drª Maria Clara Assunção.
sábado, 20 de maio de 2017
Obra de Mário-Henrique Leiria
Obra completa de Mário-Henrique Leiria apresentada no Centro de Arte Manuel Brito (Algés) por João Morales (jornalista da Time Out) e Tania Martuscelli, especialista na obra do autor e responsável pela presente edição. Dia 24, às 18:30, no Palácio dos Anjos.
quinta-feira, 18 de maio de 2017
Crónicas Marcianas, por Hélio Cunha
O escritor americano Ray Douglas Bradbury (1920-2012) notabilizou-se na ficção científica. O seu trabalho mais conhecido é Fahrenheit 451 (1953), depois transformado em filme. Ele escreveu também Crónicas Marcianas (1950), agora passada a um conjunto de desenhos de Hélio Cunha, a acompanhar aqui: https://www.facebook.com/heliocunhapintura?hc_ref=NEWSFEED&fref=nf.
quarta-feira, 17 de maio de 2017
Pintura de António Carmo em exposição
Foi ontem que António Carmo inaugurou a exposição Viagem, 50 Anos de Pintura, na Biblioteca Nacional de Portugal. Natural de Lisboa (1949), estudou na Escola de Artes Decorativas António Arroio, onde tirou pintura, e fez parte do grupo de bailado Verde Gaio. Desde 1968 que apresenta os seus trabalhos em exposições individuais e coletivas. Das exposições em que participou, para além de Portugal, apresentou quadros em Inglaterra, Espanha, Holanda, Alemanha, União Soviética (atual Rússia), Japão, Estados Unidos, Canadá e Brasil, entre outros países. Ele começou pelo desenho e depois passou para o guache e o óleo, admirador de pintores como Léger, Chagall, Mondrian, Pablo Picasso, Amadeu Sousa Cardoso e Eduardo Viana. Fez desenho de intervenção, ilustrou livros e o suplemento cultural do jornal O Diário. Em 1970, uma exposição sua, apadrinhada por João Hogan e Jorge Barradas, teve um grande sucesso na época mas sofreu a "visita" da polícia política do regime.
Cores vivas, quase primárias, que privilegiam o espaço da tela, são um dos elementos que atraem quando se olha a sua obra. Num comentário à exposição, escrito por Manuel da Silva Ramos, critica-se a rara existência de críticos de pintura, a pouca divulgação das exposições nos media (jornais) e a raridade de galerias em atividade. Por isso, aconselha-se uma visita até à Biblioteca Nacional, ao Campo Grande (Lisboa).
Cores vivas, quase primárias, que privilegiam o espaço da tela, são um dos elementos que atraem quando se olha a sua obra. Num comentário à exposição, escrito por Manuel da Silva Ramos, critica-se a rara existência de críticos de pintura, a pouca divulgação das exposições nos media (jornais) e a raridade de galerias em atividade. Por isso, aconselha-se uma visita até à Biblioteca Nacional, ao Campo Grande (Lisboa).
domingo, 14 de maio de 2017
Jornalismo iconográfico em livro de Jorge Pedro Sousa
Veja! Nas Origens do Jornalismo Iconográfico em Portugal: um Contributo para uma História das Revistas Portuguesas (1835-1914), livro de Jorge Pedro Sousa e editado pela Media XXI, foi ontem lançado na Universidade Fernando Pessoa (Porto) [ver abaixo depoimento do autor em vídeo].
Na mesa, para além do autor, de Ricardo Jorge Pinto, o editor João Paulo Faustino, João Lourival da Silva, a apresentação principal coube a Helena Lima (Universidade do Porto). Para esta investigadora, a obra agora conhecida é densa e resulta de trabalho meticuloso e sistemático, referindo que o tema - história do jornalismo - não é uma área moderna e popular. Ela destacou ainda o prazer da leitura da obra, pois constitui uma aprendizagem da história dos media e, por isso, útil para os investigadores. Ao olhar para as sucessivas imagens que acompanham o livro, torna-se possível ver a transformação do jornalismo e dos seus públicos, que evoluíram de um público de elite para uma massificação de leitores. Uma das vantagens expostas pela imprensa ilustrada é que mesmo os que não sabem ler conseguem entender o significado das imagens.
Como objetivos principais do livro, Jorge Pedro Sousa destaca: elaborar um inventário das principais revistas ilustradas portuguesas (entre 1835, ano da primeira revista, e 1914, começo da I Guerra Mundial), papel das revistas ilustradas na transformação do jornalismo em Portugal na viragem do século XIX para o seguinte, identificar e mapear o contributo de fotógrafos e outros profissionais ligados à ilustração (com um valioso apêndice com os nomes e funções), compreender que imagem as revistas ilustradas deram da sociedade do seu tempo e que valores, ver semelhanças e divergências entre o jornalismo gráfico nacional e o internacional. Trabalho ambicioso, pois, alicerçado por uma metodologia rigorosa. Ainda na introdução, o autor desenvolve o referencial teórico, apresentando muita bibliografia nova sobre o tema do jornalismo iconográfico, que interessa a quem estuda a matéria.
Os capítulos 2 a 4 detalham as três gerações de revistas ilustradas, de acordo com a datação proposta por Jorge Pedro Sousa. A primeira é constituída por revistas enciclopédicas ilustradas pós século XVIII, enquanto a segunda não abandona a característica cultural generalista mas propõe também a atualidade, como os acontecimentos, e a terceira, mais para o final do século XIX, em que há uma grande preponderância da imagem, indo da gravura à fotografia. Aqui, começa o fotojornalismo, um dos temas mais estudados pelo autor e objeto de publicação em anos anteriores.
sábado, 13 de maio de 2017
Museu Guerra Junqueiro
A traça do edifício está atribuída a Nicolau Nazoni, o arquiteto italiano responsável pela Torre dos Clérigos e outros edifícios simbólicos do Porto barroco. Fica junto à catedral da cidade, na rua de D. Hugo, 32. Doado pela família do escritor em 1940 à câmara municipal da cidade, com o espólio do poeta e com a condição de exposição das peças que ele reuniu em várias viagens que fez: arte sacra, faiança de Viana do Castelo, pratos de Nuremberga, cerâmica e mobiliário. Ressalto a sala de estar e a sala de jantar. O edifício está muito bem conservado, embora, a meu ver, algumas peças devessem ter mais destaque (com redução do exposto). Por exemplo, uma Senhora do Leite está no chão, sob outra peça, o que retira o relevo que merece. A condução da visita foi soberana. Muito obrigado.
Ao mesmo tempo, em exposição temporária, uma mostra de bibliografia e pintura amadora do escritor Raul Brandão, nos seus 150 anos de nascimento e cem anos da obra Húmus.
sexta-feira, 12 de maio de 2017
Desenhos
Os desenhos estão longe de ter boa qualidade e nem sempre a mensagem é clara, mas envolve a atividade da telefonista. Todos foram editados no Jornal de Notícias (Porto) (14 de janeiro e 27 de abril de 1950 e 31 de janeiro de 1951).
quinta-feira, 11 de maio de 2017
Quem Tem Medo de Virginia Wolf no Trindade
Quem Tem Medo de Virginia Wolf, de Edward Albee (1962), está em cena no Teatro da Trindade. Junta Diogo Infante (George, professor universitário) e Alexandra Lencastre (Martha, a sua mulher e filha do reitor da universidade) [fotografia da produção do teatro] e ainda José Pimentão (novo docente) e Lia Carvalho (a sua mulher).
O casal mais jovem é convidado por Martha. Há uma reação inicial de desconforto, em especial pelas atitudes de George. Compreende-se que este professor de História, cuja carreira está em grande decadência, e a mulher têm atitudes permanentes de briga. No meio, o pai de Martha e o filho de ambos são identificados, mas nunca aparecem fisicamente. Quando a noite avança, o álcool bebido descontrola os dois casais mas iniciam-se as confissões. Martha, a devoradora, atira-se ao jovem professor; George chama "fuinha" à jovem mulher e trata-a mal. É uma noite de jogos e brincadeiras tumultuosas a partir da discussão dos anfitriões. O filho entre George e Martha morrera quando nasceu, mas o casal falava como se ele fosse adulto, a fazer anos amanhã. Tudo se repercutiu nos convidados: ela a vomitar, ele a querer afastar-se.
Gostei muito do desempenho de Alexandra Lencastre. Achei o palco com adereços a mais. No dia em que assisti, um corte geral de eletricidade, quase no início da representação, permitiu um pequeno extra da peça. Versão de João Perry, a partir da tradução de Ana Luísa Guimarães e de Miguel Granja. Direção de Diogo Infante, assistência de encenação de Leonor Buescu e cenografia de Catarina Amaro.
O casal mais jovem é convidado por Martha. Há uma reação inicial de desconforto, em especial pelas atitudes de George. Compreende-se que este professor de História, cuja carreira está em grande decadência, e a mulher têm atitudes permanentes de briga. No meio, o pai de Martha e o filho de ambos são identificados, mas nunca aparecem fisicamente. Quando a noite avança, o álcool bebido descontrola os dois casais mas iniciam-se as confissões. Martha, a devoradora, atira-se ao jovem professor; George chama "fuinha" à jovem mulher e trata-a mal. É uma noite de jogos e brincadeiras tumultuosas a partir da discussão dos anfitriões. O filho entre George e Martha morrera quando nasceu, mas o casal falava como se ele fosse adulto, a fazer anos amanhã. Tudo se repercutiu nos convidados: ela a vomitar, ele a querer afastar-se.
Gostei muito do desempenho de Alexandra Lencastre. Achei o palco com adereços a mais. No dia em que assisti, um corte geral de eletricidade, quase no início da representação, permitiu um pequeno extra da peça. Versão de João Perry, a partir da tradução de Ana Luísa Guimarães e de Miguel Granja. Direção de Diogo Infante, assistência de encenação de Leonor Buescu e cenografia de Catarina Amaro.
quarta-feira, 10 de maio de 2017
Vidago Palace
Foi uma série de seis episódios na RTP, exibida entre final de março e começo de maio. De início, li críticas violentas sobre enredo e interpretação. Fui-me deixando ver, num misto entre curiosidade e análise. Sim, não foi uma obra prima mas também não foi assim tão mau como li. Havia uma espécie de luta de classes cilindrada pela paixão romântica entre a filha dos condes e o filho do empregado de receção do hotel. O rapaz estudava ou ainda estudava arquitetura, os condes estavam falidos, procurando que a filha casasse com o filho dos "brasileiros", tão enriquecidos como pacóvios. Aqueles aspiravam a manter o estatuto, estes subiam à nobreza do século XX a assistir à guerra civil espanhola e a galgar para a II Guerra Mundial, com o negócio do volfrâmio também como pano de fundo e a disputa entre um alemão e um inglês para comprar o metal.
O rapaz aderiu à causa republicana espanhola, logo em 1936, ao descobrir que a sua amada condessa ia casar com o "brasileiro", transitando e apoiando entre Vidago e Verín (do outro lado da fronteira). A Guarda Nacional Republicana e a polícia política não deram tréguas e eliminaram os republicanos espanhóis, mas o rapaz ficou salvo, depois de preso e quase assassinado. Talvez aqui as debilidades do guião da série sejam mais fortes. Num dos episódios, há um contraponto entre o baile no hotel e a fuga dos republicanos para o lado de cá da fronteira. Mas esse contraste esbate-se nos episódios. Sei que outros pares da narrativa, como as irmãs solteiras e que sabiam sempre dos últimos boatos e a espanhola viúva, soltavam a história para outros pontos, que uma série tão pequena em duração não permitiu ser explorada se houvesse mais episódios. Ou o par do jovem tenista e da filha dos "brasileiros", tão distinta dos pais bacocos e do irmão ordinário, quadro por demais inverosímil.
Atores: António Cordeiro, Pedro Barroso, Mikaela Lupu (nascida na Moldávia), Beatriz Barosa, Margarida Marinho, Anabela Teixeira, Custódia Gallego, Jacob Jan de Graaf, Pedro Roquette, Marcantónio Del Carlo e João Didelet. Autor e realizador: Henrique Oliveira. Série realizada em 2015.
Não sei se o facto de a série se passar numa região menos explorada turisticamente possa contribuir para a sua descoberta. Mas vale a pena explorar e ver o rio Tâmega do lado espanhol.
O rapaz aderiu à causa republicana espanhola, logo em 1936, ao descobrir que a sua amada condessa ia casar com o "brasileiro", transitando e apoiando entre Vidago e Verín (do outro lado da fronteira). A Guarda Nacional Republicana e a polícia política não deram tréguas e eliminaram os republicanos espanhóis, mas o rapaz ficou salvo, depois de preso e quase assassinado. Talvez aqui as debilidades do guião da série sejam mais fortes. Num dos episódios, há um contraponto entre o baile no hotel e a fuga dos republicanos para o lado de cá da fronteira. Mas esse contraste esbate-se nos episódios. Sei que outros pares da narrativa, como as irmãs solteiras e que sabiam sempre dos últimos boatos e a espanhola viúva, soltavam a história para outros pontos, que uma série tão pequena em duração não permitiu ser explorada se houvesse mais episódios. Ou o par do jovem tenista e da filha dos "brasileiros", tão distinta dos pais bacocos e do irmão ordinário, quadro por demais inverosímil.
Atores: António Cordeiro, Pedro Barroso, Mikaela Lupu (nascida na Moldávia), Beatriz Barosa, Margarida Marinho, Anabela Teixeira, Custódia Gallego, Jacob Jan de Graaf, Pedro Roquette, Marcantónio Del Carlo e João Didelet. Autor e realizador: Henrique Oliveira. Série realizada em 2015.
Não sei se o facto de a série se passar numa região menos explorada turisticamente possa contribuir para a sua descoberta. Mas vale a pena explorar e ver o rio Tâmega do lado espanhol.
segunda-feira, 8 de maio de 2017
O improviso sem nada de improviso
Em Portugal, como em França, a rádio começava a ser um meio muito importante em termos de comunicação e informação, alargando géneros e horários. O cartune publicado reflete essa novidade, caso do improviso bem organizado. Ora, a rádio como meio não visual, permite a observação presente. Depois, a televisão, meio visual de comunicação, criou o teleponto, acalentando de novo a ideia do improviso (Jornal de Notícias, 27 de abril de 1950).
sábado, 6 de maio de 2017
Modernistas de finais do século XIX e começo do século XX
Durante muitos anos, não gostei da pintura do século XIX por oposição às correntes do século XX, do impressionismo até à pop art. Mais recentemente, valorizei Silva Porto e Marques de Oliveira.
Numa visita lenta ao Museu Soares dos Reis (Porto), também redescobri Artur Loureiro. Eu não gosto das cores de uma das pinturas em que a sua mulher Marie Huybers, quase de perfil, aparece a descansar de uma pintura em que estava envolvida. As cores não parecem corresponder à iluminação. Mas outros quadros dele chamaram-me a atenção. Henrique Pousão, José Malhoa e Aurélia de Sousa despertaram ainda a minha compreensão.
Ao percorrer demoradamente a exposição patente no Museu de Arte Contemporânea (Chiado, Lisboa), reforcei a minha admiração pelos pintores do grupo do Leão, como Silva Porto, Cipriano Martins, e pelo grupo do Salon (1880-1882), com estes pintores e Marques de Oliveira e Artur Loureiro (depois partido para a Austrália até regressar ao Porto).
Ficam aqui Artur Loureiro (1878), Campina Romana e Marques de Oliveira (1884), Praia de Banhos, Póvoa de Varzim, em exposição no Chiado.
De Marques de Oliveira, referi já Interior (Costureiras Trabalhando) aqui, óleo sobre tela de 1884, "cena que representa uma pacata vida familiar, com três mulheres em casa, costurando e bordando, no silêncio da sala de trabalho. À falta de um terceiro modelo, a mulher de Marques de Oliveira é pintada duas vezes, em posições distintas e com outro vestuário, e na casa do próprio artista. Há igualmente uma pintura sobre a pintura, pois o centro da tela mostra uma paisagem através de uma porta aberta de par em par: um jardim com árvores em dia brilhante. O sol entra do lado esquerdo da pintura, iluminando mais a mulher que se senta naquele lado, projetando-se num jarro com água, com uma sombra esbatida na parede. Essa mulher à esquerda, de costas, debruça-se sobre o trabalho numa máquina de costura, à época da pintura um objeto muito moderno. Ainda deste lado, alguns quadros na parede indicam a casa de uma família com algumas posses. Um pormenor: um dos quadros não tem moldura, o que permite a seguinte interpretação: só um artista aceita colocar na parede uma pintura sem moldura. Do lado direito, em penumbra, como quem entra num espaço às escuras, vislumbram-se peças de mobiliário e algumas roupas".
Mas da exposição permanente no Museu Soares dos Reis e na temporária do Museu do Chiado elejo Dórdio Gomes (1935, O Barredo) e Miguel Ângelo Lupi (1879, Os Pretos de Serpa Pinto). Daquele, o mais recente dos quadros (e curiosamente pertença da coleção do museu do Chiado), noto influências do fauvismo e do expressionismo, paisagem do Porto ribeirinho captada da margem sul do rio Douro, com as casas estreitas coloridas a lembrar as ruas dos canais de Amsterdão, também vocacionadas para armazenar cereais e mercadorias chegadas do rio, onde um vapor está quase encostado a Gaia, com o seu guindaste e chaminé em primeiro plano. Da pintura de Lupi, relevam-se os negros Catraio e Mariana, que acompanharam Silva Porto na expedição ao centro africano até Moçambique, após a separação de Hermenegildo Capelo e Roberto Ivens, que discordaram dos percursos a tomar.
Numa visita lenta ao Museu Soares dos Reis (Porto), também redescobri Artur Loureiro. Eu não gosto das cores de uma das pinturas em que a sua mulher Marie Huybers, quase de perfil, aparece a descansar de uma pintura em que estava envolvida. As cores não parecem corresponder à iluminação. Mas outros quadros dele chamaram-me a atenção. Henrique Pousão, José Malhoa e Aurélia de Sousa despertaram ainda a minha compreensão.
Ao percorrer demoradamente a exposição patente no Museu de Arte Contemporânea (Chiado, Lisboa), reforcei a minha admiração pelos pintores do grupo do Leão, como Silva Porto, Cipriano Martins, e pelo grupo do Salon (1880-1882), com estes pintores e Marques de Oliveira e Artur Loureiro (depois partido para a Austrália até regressar ao Porto).
Ficam aqui Artur Loureiro (1878), Campina Romana e Marques de Oliveira (1884), Praia de Banhos, Póvoa de Varzim, em exposição no Chiado.
De Marques de Oliveira, referi já Interior (Costureiras Trabalhando) aqui, óleo sobre tela de 1884, "cena que representa uma pacata vida familiar, com três mulheres em casa, costurando e bordando, no silêncio da sala de trabalho. À falta de um terceiro modelo, a mulher de Marques de Oliveira é pintada duas vezes, em posições distintas e com outro vestuário, e na casa do próprio artista. Há igualmente uma pintura sobre a pintura, pois o centro da tela mostra uma paisagem através de uma porta aberta de par em par: um jardim com árvores em dia brilhante. O sol entra do lado esquerdo da pintura, iluminando mais a mulher que se senta naquele lado, projetando-se num jarro com água, com uma sombra esbatida na parede. Essa mulher à esquerda, de costas, debruça-se sobre o trabalho numa máquina de costura, à época da pintura um objeto muito moderno. Ainda deste lado, alguns quadros na parede indicam a casa de uma família com algumas posses. Um pormenor: um dos quadros não tem moldura, o que permite a seguinte interpretação: só um artista aceita colocar na parede uma pintura sem moldura. Do lado direito, em penumbra, como quem entra num espaço às escuras, vislumbram-se peças de mobiliário e algumas roupas".
Mas da exposição permanente no Museu Soares dos Reis e na temporária do Museu do Chiado elejo Dórdio Gomes (1935, O Barredo) e Miguel Ângelo Lupi (1879, Os Pretos de Serpa Pinto). Daquele, o mais recente dos quadros (e curiosamente pertença da coleção do museu do Chiado), noto influências do fauvismo e do expressionismo, paisagem do Porto ribeirinho captada da margem sul do rio Douro, com as casas estreitas coloridas a lembrar as ruas dos canais de Amsterdão, também vocacionadas para armazenar cereais e mercadorias chegadas do rio, onde um vapor está quase encostado a Gaia, com o seu guindaste e chaminé em primeiro plano. Da pintura de Lupi, relevam-se os negros Catraio e Mariana, que acompanharam Silva Porto na expedição ao centro africano até Moçambique, após a separação de Hermenegildo Capelo e Roberto Ivens, que discordaram dos percursos a tomar.
sexta-feira, 5 de maio de 2017
As Lições do Avozinho, de novo
"Um novo comentário no post Rádio, programas infantis e propaganda [29 de novembro de 2009] espera a sua aprovação [4 de maio de 2017]:
"Autor: Marina Frazão
"Email: mpfrazao@uol.com.br
"Comentário:
"Rogério, não imagina a minha surpresa quando encontrei este comentário sobre Lições do Avozinho. Valeriano Machado era meu pai e eu sou a Naninha da história, hoje uma senhora de 84 anos. Tenho comigo uns poucos exemplares das Lições, um de Cinzas e um de poesias dedicadas à minha mãe, sua esposa. Vivo no Brasil, embora tenha ido algumas vezes a Portugal. Há pouco escrevi uma biografia do meu marido onde, nos agradecimentos, cito o meu pai que me ensinou, com seus poemas, a amar a poesia.
"Assino aqui com meu nome de casada.
"Marina Frazão
Observação minha: Valeriano Machado publicara em 1940 o texto Lições do Avôzinho, conversas que ele transmitiu em duas emissoras de Lisboa, a Rádio Hertz e a Rádio Graça. Uma das personagens da história era a filha que, agora, descobriu a mensagem que eu escrevi sobre aquele livro, já em novembro de 2009. Eu comprara o volume numa feira do livro por causa da relação com a rádio. Para mim, foi uma grande alegria ao receber esta mensagem.
"Autor: Marina Frazão
"Email: mpfrazao@uol.com.br
"Comentário:
"Rogério, não imagina a minha surpresa quando encontrei este comentário sobre Lições do Avozinho. Valeriano Machado era meu pai e eu sou a Naninha da história, hoje uma senhora de 84 anos. Tenho comigo uns poucos exemplares das Lições, um de Cinzas e um de poesias dedicadas à minha mãe, sua esposa. Vivo no Brasil, embora tenha ido algumas vezes a Portugal. Há pouco escrevi uma biografia do meu marido onde, nos agradecimentos, cito o meu pai que me ensinou, com seus poemas, a amar a poesia.
"Assino aqui com meu nome de casada.
"Marina Frazão
Observação minha: Valeriano Machado publicara em 1940 o texto Lições do Avôzinho, conversas que ele transmitiu em duas emissoras de Lisboa, a Rádio Hertz e a Rádio Graça. Uma das personagens da história era a filha que, agora, descobriu a mensagem que eu escrevi sobre aquele livro, já em novembro de 2009. Eu comprara o volume numa feira do livro por causa da relação com a rádio. Para mim, foi uma grande alegria ao receber esta mensagem.
quinta-feira, 4 de maio de 2017
A exposição de discos Orfeu em Matosinhos
Hoje, na Casa do Design (Matosinhos), foi inaugurada a exposição Discos Orfeu, 1956-1983. Imagens / Palavras / Sons, uma homenagem ao grande editor discográfico Arnaldo Trindade (Porto, 1934) [ver vídeo abaixo]. Segundo a organização do evento, trata-se da primeira grande exposição sobre uma editora portuguesa. Comissariada por José Bártolo [ver vídeo abaixo], que assina um texto no pequeno catálogo, na exposição há uma mostra grande de capas de discos, que pertencem ao dono da Orfeu mas também a diversos colecionistas.
A editora Orfeu, que teve desde início o lema Disco é Cultura, publicou discos de cantores de intervenção como Adriano Correia de Oliveira, José Afonso, Fausto e Sérgio Godinho, conjuntos populares como Maria Albertina e António Mafra e rock dos Titãs e Pop Five Music Incorporated. Um dos discos emblemáticos foi o de José Cid 10000 Anos Depois Entre Vénus e Marte, que o cantor apresentou na Aula Magna da Universidade de Lisboa no começo desta semana, e cuja capa foi desenhada por Isabel Nabo. O catálogo Orfeu inclui discos de poesia de Aquilino Ribeiro, José Rodrigues Miguéis, Daniel Filipe, Agustina Bessa Luís, Miguel Torga, José Régio e Alberto Serpa. Nomes do design gráfico como Moreira Azevedo, José Santa-Bárbara, José Brandão, José Luís Tinoco e Alberto Lopes e fotógrafos como Fernando Aroso, Eduardo Gageiro e Patrick Ullmann encontram-se também associados à Orfeu.
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