domingo, 24 de julho de 2005

AUDIÊNCIAS BAIXAS ACONSELHAM FÉRIAS

As audiências do blogue andam muito baixas. Isto aconselha o blogueiro a meter férias para descansar e encontrar temas que atraiam os(as) leitores(as). Assim, nas próximas três semanas, o blogueiro estará poucos dias em Lisboa e procurará outras paragens, da praia à montanha e à descoberta urbana (mix difícil de conseguir), quase sempre para nordeste, a beber ou não as marcas assinaladas nos mupis. Ou apenas uma cerveja acompanhada por um prato de caracóis, ali no bar da esquina. Mas sem voltar a ver passar um qualquer porta-aviões.

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A TODOS, UM GRANDE DESEJO DE BOAS FÉRIAS!
MORTE DE BLOGUES

O Verão é a estação do ano em que morrem mais blogues. Penso que seja do calor e da falta de férias oxigenadas. No obituário, registam-se os seguintes desaparecimentos este mês: Quartzo, Feldspato & Mica e Este blog termina aqui.

sábado, 23 de julho de 2005

A SUBTILEZA DAS NOTÍCIAS

Ontem, dava conta da notícia sobre audiências de jornais publicada no Diário de Notícias e expressava um comentário sobre ausência de idêntica informação no Público. Hoje, ela aparece neste último, mas com muito menor destaque. Devo escrever já que as subtilezas nas peças dos dois jornais não são boas para os leitores, pois estes são tomados por tontos.

O primeiro parágrafo da peça de ontem do Diário de Notícias dizia: "O DN recuperou no segundo trimestre do ano 25 mil leitores, no segmento dos diários generalistas em que todos subiram, à excepção do jornal Público". No quarto parágrafo da mesma peça, lê-se: "Relativamente ao primeiro trimestre do ano, o DN também subiu, concretamente de uma audiência de 3,4% para 4,2%. O Público também cresceu, de forma ligeira, de 5% para 5,3% entre trimestres". Comentário 1: é preciso ler com atenção - no primeiro parágrafo, comparava-se o segundo trimestre do ano com o período homólogo do ano anterior; no segundo parágrafo, comparava-se o segundo com o primeiro trimestre. Comentário 2: a posição do Público é melhor que a do Diário de Notícias no segundo trimestre, pois o nível de audiência é maior, apesar do aumento ser mais reduzido. A jornalista Paula Brito podia ser mais cuidadosa: é que se retém mais facilmente o primeiro parágrafo que o quarto.

Como eu imaginara, o Público coloca a informação hoje, numa notícia a uma coluna e 28 linhas. Retenho a penúltima frase do texto não assinado: "O PÚBLICO passou de 5,0 para 5,3 no trimestre - quase ao nível do seu melhor de sempre, 5,4 há um ano -, o Diário de Notícias atingiu os 4,2 (estava em 3,4) e o 24 Horas os 3,5 (tinha 3,3)". Comentário 1: não há qualquer comparação com o período homólogo do ano passado, penalizador para o jornal. Comentário 2: à "bicada" de ontem do Diário de Notícias, que destaca logo pela excepção o comportamento em termos de audiência do jornal concorrente, a notícia do Público faz uma espécie de ranking em que se vê a distância que existe entre ele e os jornais da Lusomundo (agora Controlinveste). E esta "bicada" de resposta é acentuada mais acima na curta notícia do Público quando se lê: "Os números de circulação apontam, porém, para o Correio da Manhã 119.243 exemplares e 98.197 para o JN" [o JN faz parte do grupo do Diário de Notícias].

Ambas as notícias ostentam uma verdade parcial mas não são totalmente isentas na sua análise. Sei que os jornais e os media em geral se dão mal com notícias sobre si próprios. Mas não posso deixar de perguntar: se é assim com os negócios domésticos, podemos aceitar a credibilidade e distanciamento objectivo no tratamento das notícias em geral?

sexta-feira, 22 de julho de 2005

REGULADOR BRASILEIRO FECHA 1199 ESTAÇÕES DE RÁDIO ILEGAIS

Segundo escreve hoje o blogue Media Network Weblog, a Agência Nacional de Telecomunicações do Brasil (Anatel) tem prosseguido a política de encerrar estações de rádio ilegais. Este ano já fechou 1199, o que dá uma média de quase 200 por mês. Em 2004, haviam sido fechadas 1807. A Anatel estima haver quase 4500 estações piratas em todo o país. Edilson Ribeiro dos Santos, um responsável da Anatel, entende que as rádios ilegais interferem nas frequências das estações legais e das comunicações aéreas.

A notícia não contextualiza o fenómeno das rádios ilegais no Brasil. Alguém sabe quais as razões de uma tão grande quantidade de estações não legais? Trata-se de um fenómeno de rádios comunitárias sem recursos financeiros? Ou são experiências de grupos de jovens? Surgem rádios criativas com sons, programas e uma atenção à realidade social distintos das rádios já instaladas?
LUGAR AO SUL

Já aqui referi o programa Lugar ao sul, da Antena 1. Ouvia-o regularmente, numa altura em que Judite Lima tinha o seu programa na Antena 2, Jardim da música, também nas manhãs do fim-de-semana. Ora sintonizava um ora outro, num enorme prazer de escuta.

O programa de Rafael Correia mudou para um horário mais madrugador, o que me inibe de o ouvir. Álvaro José Ferreira é um dos que defendem o regresso do programa à grelha anterior. Hoje, deixou-me um conjunto de textos provando a qualidade do programa. Eu seleccionei um deles, fazendo um corte para tornar a mensagem mais leve. Trata-se de um texto de Manuel Pinto, professor da Universidade do Minho, lido na Rádio Universitária do Minho (15 de Abril de 2002) e publicado no Diário do Minho:

"O nome de Rafael Correia não dirá provavelmente muito a um bom número de leitores. Se lhe disser que ele é o autor de um programa que dá pelo nome de Lugar ao Sul, que resiste há mais de vinte anos na grelha da Antena Um da RDP, não sei se esse nome lhe dirá mais qualquer coisa. Para mim, é esse programa que há muito pontua e pontifica em parte das minhas manhãs de sábado.

"A rádio continua a ser um meio de comunicação fascinante. Tem, apesar de tudo, conseguido resistir com imaginação às mudanças vertiginosas do panorama mediático. O transístor e a miniaturização deram-lhe flexibilidade e levaram-na aos lugares mais inesperados do planeta. Adaptou-se a novas formas de vida e está, agora, a entrar em cheio na era digital. Tenho, contudo, para mim que aquilo que faz o sucesso da rádio é a interioridade que alimenta e promove.

"A história ensina que um novo meio de comunicação não elimina o mais antigo, antes conquista e desenha o seu espaço e o seu modo próprio de existir, reconfigurando o conjunto com novas combinações e características. Ora, num universo cultural alicerçado no que é visível e na exterioridade e, portanto, no sentido da visão, o meio rádio permite ao ouvinte a criação de um mundo de ideias, sentimentos e imagens muito particulares, tendo por base o som (música, palavra, ruído) e o silêncio.

"E é assim que eu, sem nunca ter visto Rafael Correia, me sinto quase um seu amigo de longa data, imaginando a sua figura e o seu deambular semanal pelas terras do sul de Portugal [...]".

O meu apelo é que se passe a ouvir o programa a uma hora menos madrugadora, em favor da cultura portuguesa em geral e alentejana em particular!
CARRINHOS DE COMPRAS NOS MEDIA

O mês de Julho está a ser promissor quanto a notícias em termos de vendas nos media. Confirmada a compra do grupo Lusomundo pela Controlinveste, de Joaquim Oliveira, o destaque vai agora para a compra de parte da Media Capital pelo grupo espanhol Prisa.

Sobre a Lusomundo, o Público é mais sucinto, com texto escrito por jornalistas da economia (conquanto na página dos media). O recorte da peça é feito a partir de comunicado da PT, ainda detentora dos media da Lusomundo, ontem à noite. Já o Diário de Notícias, um dos meios mais importantes da Lusomundo, dá um destaque acrescido. Comum aos dois jornais é a ênfase na deliberação da Autoridade da Concorrência, onde a questão de aquisição se decidiu: "tal operação não é susceptível de criar ou reforçar uma posição dominante da qual possam vir a resultar entraves significativos à concorrência no mercado relevante em causa". O processo de venda começou em 14 de Janeiro deste ano, há seis meses, portanto. Durante este período, falou-se da necessidade do novo comprador se desfazer do jornal desportivo O Jogo e não comprar o Jornal de Notícias. Também se referiu a vontade do grupo espanhol Prisa entrar na compra deste último jornal.

Apesar de ainda haver um período de dez dias de pronúncia por parte dos interessados perdedores (em que se inclui a Prisa), o negócio parece encerrado. Assim, Joaquim Oliveira, da Controlinveste, para além da posse anterior de O Jogo e de 50% do canal por cabo Sport TV, passa a ter no seu portfólio os seguintes media escritos: jornais diários e semanários como Diário de Notícias, Jornal de Notícias, 24 Horas, Tal & Qual, Ocasião, Diário de Notícias da Madeira, Açoriano Oriental, Jornal do Fundão, revistas como a National Geographic, Notícias Magazine e Grande Reportagem, rádio TSF e posições nas gráficas Naveprinter e Funchalense e nas distribuidoras Notícias Direct e Vasp.

As últimas sobre a Media Capital

Mas o que alimenta a curiosidade hoje é a Prisa (que edita o El Pais) ter comprado parte do capital da Media Capital, em que o activo mais vistoso é o canal de televisão TVI. Os jornais de hoje seguem uma pista publicada ontem pelo Jornal de Negócios Online. Sigo a notícia por este meio digital produzida às 13:18 de hoje [mais à frente actualizo com informação do El País]. Pedro Carvalho, daquele meio, escreve que "Uma OPA da Prisa sobre a Media Capital vai depender da interpretação sobre a partir de que altura se vai considerar que a Prisa detém direitos de voto superiores a 33%". Aqui entram as interpretações dos bancos: para o BCP, o preço da OPA pode oscilar entre €7,03 e €8,41; para o BPI, a RTL poderá "ter ainda uma palavra a dizer". Isto porque a Bertelsmann (RTL) comprou recentemente uma parte do capital da Media Capital.

Retiro ainda da notícia que me serve de suporte o seguinte: "Miguel Pais do Amaral, Nicolas Berggruen e Courical Holding, Berggruen Holdings, Partrouge e o grupo de media espanhol Prisa celebraram um acordo através do qual, os três primeiros atribuem à empresa espanhola um direito de preferência relativo às acções da Vertix, detentora de uma participação de 28,48% do capital social da Media Capital".

Recordo que a Media Capital, para além da TVI, tem muitos activos na rádio (Comercial, Cidade FM, Rádio Clube Português, Nacional, Romântica FM, Mix, Best Rock FM), para além do canal de internet Cotonete, revistas (Maxmen e Lux), produtora NBP e publicidade de exteriores. Este ano as acções da Media Capital subiram de cerca de €5,4 para perto de €6,6 ontem [actualização: €6,80 às 15:32]. O grupo Prisa, para além do El Pais, tem o desportivo Ás, o financeiro Cinco Dias, diários regionais, a estação de rádio Cadena SER e participação na televisão por cabo. Segundo uma notícia de hoje (12:20), que se pode ler no El Pais digital, o grupo Prisa teve um lucro líquido de €73,13 milhões, no primeiro semestre do ano, o que representa um aumento de 32%. Cadena SER (+13,3%) e El País (+10,5%) foram as jóias da coroa nesse aumento.

A notícia do El Pais confirma a compra de capital da Media Capital. Retiro do comunicado do jornal electrónico espanhol citado: "La venta de la totalidad de Vertix a PRISA representa para los propietarios de Media Capital un ingreso de 189,5 millones de euros y participaciones representativas del 24 por ciento en el capital social de Prisa Internacional, que agrupa las inversiones del grupo español en medios de ámbito internacional".
DN GANHA 25 MIL LEITORES NO TRIMESTRE

O título, cuja peça ocupa grande parte da página 39 da edição de hoje do Diário de Notícias, é bonito mas falacioso. Escreve-se ali que, exceptuando o Público, todos os jornais registaram novos leitores no primeiro trimestre.

Uma primeira questão é a da vizinhança, a da rivalidade com o outro jornal de referência. Parece quase acintoso. Se o vizinho compra um carro, eu tenho de comprar um melhor, para provar não sei bem o quê. Quando se comparam performances entre jornais devia colocar-se um aviso acerca dos tiques tendenciosos. Eu, enquanto leitor dos dois jornais em papel, não ganho nada com este tipo de informação. O Público não traz qualquer referência - ou porque anda distraído ou porque está a preparar uma resposta.

Uma segunda questão - e que parece relevante - é a distinção entre audiência e venda de exemplares. Para mim, o fenómeno das audiências em televisão e imprensa é diferente. Na televisão, a audiência vende-se ao anunciante para este vender publicidade aquela. No jornal, há um outro tipo de refinamento. Na televisão, o anúncio é visto em simultâneo: na família, em cada lar. Há uma influência num dado momento que alcança todos. No jornal, não existe essa emulação, esse estímulo simultâneo. Por outros conceitos, poderia falar de notoriedade (ler ou falar de um jornal) e de frequência (comprar um jornal). É evidente que, aqui, a frequência é mais importante que a notoriedade. A verdadeira mensuração do jornal é o número de exemplares que vende, pois isso é palpável, materialidade que não existe na televisão. E os jornais do grupo Lusomundo, agora Controlinveste, têm baixado muito em termos de vendas.

Terceira questão, extra Diário de Notícias e que é positiva, é o facto dos resultados do estudo da Marktest, base desta informação, terem apontado para um aumento da leitura de jornais. Pena que não haja informação sobre faixas etárias e rendimentos de quem passou a ler os jornais, elementos fulcrais para a compreensão do analisado, para ver se é uma nova tendência ou se não passa de um fenómeno temporário.

quarta-feira, 20 de julho de 2005

UMA OBRA DE JOSÉ TENGARRINHA

Contaram-me hoje que o professor José Manuel Tengarrinha, catedrático da Universidade de Lisboa, tem um texto intitulado Imprensa e opinião pública em Portugal a aguardar publicação desde Outubro do ano passado, numa editora que pediu um incentivo à edição ao Instituto da Comunicação Social.

Perguntas: a editora não quer arriscar a publicar o livro sem apoio? Não conhece o valor do autor - escritor da única história da imprensa em Portugal, com quarenta anos de edição -, que venderia a obra num ano lectivo, mau grado as fotocópias de alunos menos bem intencionados?
TESE "IMPRENSA E PODER NO PERÍODO MARCELISTA (1968-1974)"

Com nota máxima, Ana Cabrera concluiu o seu doutoramento na Universidade Nova de Lisboa com uma tese sobre jornalismo no consulado de Marcelo Caetano, primeiro-ministro português nesse período. Ela procurou compreender a imprensa da época através do posicionamento do poder político, da organização da imprensa e dos jornalistas no contexto das organizações.

anacabrera.JPGComo base empírica, fez 20 entrevistas a jornalistas que trabalharam nos anos em investigação e estudou oito jornais de informação geral (Diário de Notícias, Diário da Manhã, Época, Diário de Lisboa, Diário Popular, A Capital, República e Expresso) - uma espécie de análise morfológica dos jornais: primeira página, secções e suplementos. Observou a imprensa a partir de quatro ângulos: poder político, poder económico, jornalistas e jornais.

Marcelo Caetano conhecia bem os media: trabalhara como jornalista e estivera no lançamento de jornais e da televisão pública. Escreveu textos sobre a importância da opinião pública na sociedade moderna, não se conhecendo outros políticos do Estado Novo que tenham reflectido sobre essa matéria (à excepção de António Ferro). Daí que, quando assumiu o poder, tivesse ideias claras sobre o que deveria ser uma Lei de Imprensa (aprovada em Junho de 1972). Para Ana Cabrera, o político, ao executar essa lei, tinha em mente preservar a censura, que já vinha do começo do regime (1927).

Importantes ideias no trabalho hoje defendido prendem-se com a situação económica dos jornais (que transitaram de um modelo familiar para um modelo de grupos económicos) e o crescimento e transformação dos jornalistas. Estes, que eram pouco mais de 300 em 1960, passariam a mais de 700 em 1974. A investigadora explica esse crescimento pela maior demanda de jornais, com mais páginas e suplementos. Como os jornais exigiam maiores habilitações aos seus profissionais, entraram jovens oriundos das universidades, onde haviam acompanhado as lutas estudantis. Tal alterou o perfil político dominante no jornalismo e levou a que o sindicato dos jornalistas elegesse uma direcção, em 1970, não afecta ao regime. As eleições de 1969 acabariam por tornar mais maleáveis os mecanismos censórios (apesar de um forte retrocesso neste aparente liberalismo, e que esteve por detrás do descontentamento generalizado e que acabou com o regime político em 1974).
JORNALISMO EM TESE DE DOUTORAMENTO

Ana Cabrera defende hoje tese com o título Imprensa e poder no período marcelista. Às 15:00, na Universidade Nova de Lisboa, na Av. de Berna, anfiteatro 1.
HELENA SOUSA NO EUROMEDIA RESEARCH GROUP

Lera na passada quarta-feira no blogue Jornalismo e Comunicação, mas só hoje dou conta aqui no I.C.

Helena Sousa, docente e investigadora da Universidade do Minho e membro da equipa do blogue Jornalismo e Comunicação, foi convidada a integrar, como "full member", o Euromedia Research Group, grupo internacional de investigação que tem sede na Universidade de Zurique e que "reúne alguns dos mais prestigiados investigadores europeus em políticas da comunicação e dos media". Parabéns à Helena!
O ENSINO E A INVESTIGAÇÃO DO JORNALISMO EM PORTUGAL (I)

[texto lido na Universidade do Porto, a 24 de Maio de 2005, nas 1ª Jornadas da Licenciatura em Jornalismo e Ciências da Comunicação da U. Porto (jLJCC'05)]

O que me proponho nesta apresentação é reflectir em alguns elementos, tais como: 1) matriz de alguns cursos, 2) importância dos mestrados como espaço para investigação e produção científica, 3) papel das associações e realização de congressos enquanto meios de partilha de conhecimentos, 4) importância das revistas, de colecções de livros e de sítios na internet, 5) apontar áreas e temas de investigação já desenvolvidos, a desenvolver ou que carecem de arranque.

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1) O ensino da matéria de jornalismo começou em finais da década de 1970, primeiro na Universidade Nova de Lisboa, a seguir no ISCSP (antes de 1974, houve um curso de comunicação social numa escola privada mas a mudança de regime acabou com a proposta, existindo muito pouca informação sobre ela).

Cada escola tinha uma filosofia ou carta de princípios. O curso da Nova ficou marcado pela influência das semióticas e linguísticas, ainda hoje detectável, enquanto o do ISCSP abraçou uma componente sociológica associada com a visão antropológica matriz de origem da escola. Os cursos das outras universidades chamadas novas, como o Minho e a Beira Interior, deram espaço a outros saberes e influências: a economia naquela, as tecnologias digitais nesta. Chamo a atenção para quatro outras escolas: a Católica, onde trabalho, com uma preocupação de ordem cultural, a de Aveiro e a do Porto, com uma combinação entre comunicação e tecnologias digitais que se afastam da da Beira Interior, pois esta, apesar do apelo às tecnologias, acaba por ter uma sólida componente sociológica e filosófica, a de Coimbra com uma orientação decisiva para o jornalismo. Esta última traz a pureza da designação: Jornalismo, numa mistura que se pretende equilibrada entre meios tradicionais e novos media. De fora ficam muitas; peço desculpa por não as elencar.

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Se olhássemos as universidades numa estrita perspectiva empresarial faríamos uma análise SWOT, com os seus pontos fortes e pontos fracos. Não quero estender-me por aí, mas pretendo apenas chamar a atenção para a necessidade de se dosear um saber teórico, alicerçado em décadas de investigação, mormente nos Estados Unidos, e uma aplicação prática. Sabemos – e a comissão de avaliação de cursos da área produzirá um próximo relatório sobre as universidades visitadas – que há cursos mais práticos e outros mais teóricos. Tal imbrica também na próxima aplicação do processo de Bolonha, onde se pretende que, no primeiro ciclo (licenciatura), os cursos forneçam ferramentas traduzíveis numa maior empregabilidade, ficando para os dois outros ciclos uma formação mais teórica e de investigação. Eu, confesso, fui sempre adepto de uma teorização mais forte, talvez porque venho de uma outra área das ciências sociais e humanas onde se não colocava a imediatez da reportagem ou da feitura do lead para a edição de hoje.

[continua]

terça-feira, 19 de julho de 2005

A ATENÇÃO AO CINEMA

Entre o Público e o Diário de Notícias de hoje, é este que dá muito mais atenção à quebra de espectadores do cinema em Portugal. O Público dedica-lhe 24 linhas na secção de "Curtas", o Diário de Notícias uma página e um título mais significativo: "Cinema continua em queda".

O Público apenas seguiu a informação do presidente do ICAM, o Diário de Notícias ouviu também a responsável de comunicação da Lusomundo. Claro que se pode dizer que a Lusomundo tem interesses directos no cinema e daí lhe prestar mais atenção.

E o que dizem os números? No primeiro semestre deste ano, houve menos 865 mil espectadores que em igual período do ano passado. Segundo o ICAM, entre Janeiro e Junho venderam-se 7,18 milhões de bilhetes (no semestre homólogo do ano transacto, o valor fora de 8,05 milhões), com um resultado bruto de €31 milhões (menos €1,5 milhões que no perído de comparação). Elísio de Oliveira, presidente do ICAM, considera que as responsabilidades se repartem entre a concorrência do DVD (ver cinema em casa ou pelo sistema pay-per-view) e a alteração do ciclo de estreias nos Estados Unidos e a sua repercussão na Europa, com estreias múltiplas. Dantes, as grandes estreias ocorriam no começo do ano, agora repartem-se entre o Verão e o Natal. A jornalista do Diário de Notícias pergunta com razão: "mas não era assim já em 2004"?

O Diário de Notícias, com uma infografia em que surgem as "estrelas" de Madagascar, conclui que este filme de animação digital não está a ter sucesso. Eu próprio verifiquei: o filme estreou na sala maior do Londres (onde o vi), passando para a mais pequena quando estreou a Guerra dos mundos (aliás foi na mais pequena que eu vira os Incredibles e o Finding Nemo nos dois últimos Natais, o que demonstra o erro de programação, pois não há a concorrência das férias do fim-de-ano).

Ainda segundo o Diário de Notícias, a crise de bilheteira dos cinemas é um fenómeno que se repete em países como Alemanha, Espanha e Itália. Claro que a análise não entra em linha de conta com a alteração em todos os passos da cadeia de valor do audiovisual. E distinguir cinema do audiovisual, como parece ser a linha agora dominante em Portugal, é esquecer que, nos Estados Unidos, o principal produtor de cinema, os filmes são pensados não tanto para as salas mas para o DVD e a televisão. Começam ali mas financeiramente ganham mais nos passos seguintes, associados ainda ao merchandising. É isso que a peça do Diário de Notícias não explica.

Nota acrescentada a 20 de Julho: o Público dedicou uma página ao assunto, pelo que o que escrevi no começo da mensagem é parcialmente injusto. Um dia depois do espaço dado pelo Diário de Notícias, o Público fazia o mesmo.
PROCESSO DE BOLONHA

José Lopes da Silva, recentemente eleito presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP), em entrevista ao Público de hoje, fala sobre o processo de Bolonha.

Diz ele que a instituição a que agora preside "fez um estudo sobre o que se passa na Europa, em termos curriculares, no ensino não superior e verificou que a grande maioria - a excepção são uns seis países - tem 13 anos de ensino, com entrada aos seis no sistema escolar. Isso é importante não só para a preparação dos alunos como para a questão dos ciclos a implementar com Bolonha". O ensino secundário português tem 12 anos no seu total. Daí se ponderar um primeiro ciclo mais longo na universidade (o que leva a que as licenciaturas tenham quatro e não três anos, como se chegou a pensar na Primavera).
PÚBLICOS DE CIÊNCIA

publico1272005.jpgNo Público do passado dia 12, a estória que ocupava as páginas 22 e 23 dizia respeito a públicos de ciência e ao resultado de recente inquérito aos europeus sobre a sua relação com a ciência e tecnologia. Apoio-me numa das peças escritas por Clara Barata [quadro retirado da mesma edição do jornal].

Segundo o texto, apenas 30% se dizem "muito interessados" em novas invenções e descobertas científicas (em 1992, esse número era de 38%). Não compreender (32%) ou simples falta de interesse (31%) são os argumentos principais apresentados pelos europeus, apanhando sobretudo: 1) mulheres com mais de 55 anos, 2) reformados, 3) trabalhadores manuais, 4) donas de casa e 5) níveis baixos de educação escolar. Mas também os jovens mostram um desinteresse preocupante, conclui Clara Barata, em especial os de idades entre 15 e 24 anos (38%). Portugal, no conjunto de países, é dos menos interessados pelos avanços da ciência: só 18% admite entusiasmar-se com o assunto.

pubciencia.jpgHá três anos, António Firmino da Costa, Patrícia Ávila e Sandra Mateus publicaram um livro designado Públicos da ciência em Portugal (Gradiva), onde se debruçaram sobre essa mesma problemática. Entrevistaram 2057 pessoas sobre o acesso e interesse em ler revistas de ciência, em 2001. A principal variável foi o nível de escolaridade.

Tendencialmente, quanto mais elevado o nível de escolaridade, maiores os conhecimentos científicos e mais positiva a atitude face à ciência (p. 57). Mas nem sempre um maior nível académico significa mais atenção à ciência.

Os autores encontrariam na sociedade nacional sete modos distintos de relação com a ciência, indo de um maior para um menor compromisso com ela: envolvidos, consolidados, iniciados, autodidactas, indiferentes, benevolentes e retraídos. Se os envolvidos tendem a frequentar ou a ter um grau académico universitário, idades relativamente jovens (e maioritariamente do sexo feminino) e exercem actividades de elevada qualificação, os retraídos são, dos grupos estudados, os mais velhos e com menores habilitações. Se aqueles representam apenas 2%, estes totalizam 28%.

Claro que entre uns e outros há cinco grupos que representam 70%, pelo que eu aconselho a leitura a quem gostar do tema. E o que se aplica a públicos de ciência também se ajusta ao estudo dos públicos da cultura e públicos das indústrias culturais.

segunda-feira, 18 de julho de 2005

TRIUNFO DIGITAL

triunfo.jpgLi agora no blogue galego Brétemas que está a ser digitalizada a revista espanhola Triunfo (1962-1982). Lê-se naquele blogue: "lendo esta revista, nacida como un noticiario cinematográfico e que, logo, se converteu en referente indiscutible da loita polas liberdades no Tardofranquismo e nos días da Reforma Política". O trabalho de digitalização é realizado com a colaboração da Universidade de Salamanca.
DE PONTA CABEÇA

Conheci agora o blogue De Ponta Cabeça, de Christiani Rodrigues. Ela é carioca (Rio de Janeiro), já plantou quatro árvores, tem dois filhos e só falta o livro (diz que já está no forno). Trabalha em assessoria de comunicação e espera terminar a graduação em jornalismo no próximo mês de Dezembro. Confessa uma fraqueza: sapatos bonitos (eu não a conhecia, se não tinha-lhe dedicado o meu post de 18 de Junho, que ainda pode ser visto se descer um bocado o "elevador").

Ela entende que "A idéia do De Ponta Cabeça surgiu porque, além de gostar desse universo, servirá de pesquisa para a minha monografia de final de curso, agora em dezembro, cujo tema é «Presente e perspectivas dos weblogs e seu impacto no jornalismo on line e cotidiano». Também tenho idéia de aproveitar o espaço para escrever de tudo um pouco e tentar mostrar um diferencial profissional na hora de uma contratação. Estou levando tudo muito a sério".

Espero que a Christiani nos dê a conhecer, em breve, o seu trabalho sobre blogues e como eles têm impacto no nosso dia-a-dia.
CIBERMODA EM TESE DE MESTRADO

Foi hoje defendida uma tese de mestrado, no ISCTE, com o título de Cibermoda. A influência das novas tecnologias na moda em Portugal, de Rita Coutinho.

Do resumo do trabalho, extraio o seguinte: "Nos últimos anos, as referências à evolução dos media electrónicos por parte de autores e investigadores das ciências sociais sublinham a extrema velocidade a que estes avanços se processam, acarretando uma série de transformações sociais e culturais, onde se definem novos estilos de vida. É neste contexto que surge uma nova cultura visual e se desenvolve uma estética que tem por base um imaginário "ciber", composto por figuras virtuais, cyborgs, imagens digitais, entre outros".

Cultura electrónica, urbana e juvenil seriam estudadas numa tese concisa mas de grande maleabilidade em termos de estrutura narrativa. Nela, encontra-se uma grande vantagem: cada página é como uma ficha de trabalho sobre um subtema, com resumo do objecto em análise (poderiam transformar-se em links e hipertexto se o trabalho tivesse sido entregue em formato digital). Por outro lado, há uma elegância no modo como o trabalho se vai desenrolando, a que não é estranho o tema: a moda. Além do mais, trata-se de um assunto actual, a que a bibliografia condizente com o objecto da tese empresta maior rigor, uma tese que deambula entre os territórios da sociologia e da antropologia, áreas das ciências sociais que eu aprecio em especial.

Apesar de ainda incerto o futuro da cibermoda, Rita Coutinho defendeu que a evolução das tecnologias digitais e dos media em geral (cinema, banda desenhada, em especial a japonesa manga) marcam inevitavelmente o nosso universo cultural [as imagens seguintes - retiradas respectivamente de Trunks the Swordsman's DBZ RPG, representando uma figura da banda japonesa manga, e Canoe Lifewise, da modelo canadiana Anna Pacitto-Merlo, em fotografia de Peter Morneau - permitem reflectir sobre essa influência dos media na moda].

1001 MENSAGENS

velas.jpgEsta é a 1001ª mensagem do blogue, trabalho que venho fazendo desde 17 de Março de 2003, ou seja, desde há 854 dias. A média de posts/dia é de 1,17 [imagem retirada do sítio Postais.de].

Desde o começo do blogue, houve 93998 visitantes, que viram 110914 páginas. O mês de maior número de visitantes foi em Maio último, quando cheguei a ter perto de 600 visitantes por dia. Nunca atingira tal pico, excepto em duas ocasiões em que o blogue Abrupto aconselhara o I. C.

A hora mais visitada é entre as 15:00 e as 16:00 e o dia mais frequentado é a segunda-feira (o menos é ao sábado). 57,5% dos endereços vem de Portugal, seguindo-se o Brasil com 32,6%. Chegam ao meu blogue 58,7% através de motor de busca (Google) e pelo sítio do blogue 41,3%. As palavras mais procuradas são Indústrias (1º) e Leonor (2º) [de Leonor Sousa - uma intérprete de um recente reality-show]. Os blogues mais ligados ao meu são Abrupto, Jornalismo e Comunicação, Blogouve-se, seta despedida, Guilhermina Suggia e A Rádio em Portugal. A seguir vêm dois blogues criados por mim, mas não actualizados há muito: Media, Públicos e Audiências e Teorias da Comunicação.
UMA PROPOSTA PARA CLASSIFICAR OS BLOGUES [continuação do post de ontem]

Os primeiros dez classificados segundo a proposta da leitora M. J. Rodrigues, seguindo o post de ontem, são os seguintes:

1) Almocreve das Petas (Lisboa)



categoria – S - "Estados d'alma, bom senso político e económico, espreitador literário ... ferros curtos" - crítica da actualidade; política; literatura; poesia; arte; cultura.
periodicidade dos posts - 1 a 2 post/dia
grafismo – bom; medianamente legível; template-desenhado; fundo cinza; margem esquerda apelativa com informação actualizada sobre livros e eventos culturais diversificados.
informação – conteúdos actuais com tratamento muito bem elaborado utilizando número de caracteres adaptado a cada tema, mas em número uniforme/post; banda de imagens adaptada/tema.
comentários – não permite; existe feedback/autor (em posts no blogue) ou por email disponível.
classificação - ● ● ● ●

2) Abrupto (Lisboa)



categoria – S - crítica da actualidade; política; cultura; literatura; poesia; arte; astronomia.
periodicidade dos posts - 1 a 2 post/dia
grafismo – excelente; muito legível; template-tipo; fundo branco; imagens de fotografia, "pintura", desenho ou adaptadas/post, margem esquerda minimal.
informação – conteúdos actuais com tratamento muito bem elaborado, incluindo diverso material fotográfico e de desenho e utilizando número de caracteres quase uniforme para cada tema.
comentários – não permite; existe feedback/autor (em posts no blogue) ou por email disponível.
classificação - ● ● ● ●

3) A barriga de um arquitecto (Lisboa)



categoria – S - arquitectura, urbanismo; estética; filosofia; comunicação.
periodicidade dos posts - 1 a 2 post/semana
grafismo – excelente; muito legível; template-desenhado; fundo cinza+bege; margem direita inclui apenas informação sobre blogues; inclui imagens de fotografia e desenho; arquivo incluído em caixa de pesquisa; pesquisa de temas pelo Google e pelo autor.
informação – conteúdos actuais com tratamento muito bem elaborado, incluindo diverso material fotográfico e de desenho e utilizando número de caracteres quase uniforme para cada tema.
comentários – média (de 0 a 5/post) – atento e completo feedback/autor - email disponível
classificação - ● ● ● ●

4) BonaMúsica (Lisboa)



categoria – C - "passeios pelo interior da música" - divulgação e crítica de música.
periodicidade dos posts - 1 a 3 post/semana
grafismo – excelente; muito legível; template-desenhado; fundo branco; inclui fotos; margem direita apelativa com informação actualizada sobre livros e eventos culturais diversificados.
informação – conteúdos actuais com tratamento muito bem elaborado utilizando número de caracteres quase uniforme para cada tema e inserindo banda musical adaptada a cada post.
comentários – média (de 5 a 10/post) – atento e completo feedback/autor - email disponível
classificação - ● ● ● ●

5) Rua da Judiaria (Lisboa)



categoria – S - "Quem é sábio? Aquele que aprende com todos" (Bem Zoma) - cultura judaica; política; jornalismo, comunicação; actualidade.
periodicidade dos posts - 1 a 3 post/semana
grafismo – excelente; muito legível; template-desenhado; fundo branco; inclui fotos; margem direita apelativa com informação actualizada sobre livros e eventos culturais diversificados.
informação – conteúdos actuais com tratamento muito bem elaborado, incluindo fotografia e utilizando número de caracteres quase uniforme para cada tema.
comentários – não permite – sem feedback/autor - email disponível
classificação - ● ● ● ●

6) Causa Nossa (Portugal)



Blogue publicado por Ana Gomes (AG), Jorge Wemans (JW), Luís Filipe Borges (LFB), Luís Nazaré (LN), Luís Osório (LO), Maria Manuel Leitão Marques (MMLM), Vicente Jorge Silva (VJS) e Vital Moreira (VM)
categoria – C - comentário politico; jornalismo; comunicação; sociedade.
periodicidade dos posts - 1 a 5 post/semana
grafismo – excelente; muito legível; template-tipo; fundo branco; margem direita com arquivo, contactos e links para blogues.
informação – conteúdos actuais com tratamento muito bem elaborado utilizando diversificado número de caracteres /tema.
comentários – email dos autores disponível
classificação - ● ● ● ●

7) Aviz (Portugal e Brasil)



categoria – S - "We have no more beginnings" (George Steiner) - política; cultura; jornalismo; comunicação; actualidade.
periodicidade dos posts - 1 a 3 post/semana
grafismo – bom; muito legível; template-tipo; fundo com cor neutra; margem direita apelativa com informação actualizada sobre livros e eventos culturais diversificados e links diversos.
informação – conteúdos actuais com tratamento muito bem elaborado utilizando número de caracteres quase uniforme para cada tema.
comentários – permite recentemente; email disponível
classificação - ● ● ●

8) Dias com árvores (Porto)



categoria– C - divulgação e crítica de política ambiental e paisagística.
periodicidade dos posts - 1 a 3 post/semana
grafismo – bom; muito legível; template-tipo; fundo com cor neutra; margem esquerda apelativa com informação actualizada sobre livros e eventos culturais diversificados e links diversos.
informação – conteúdos actuais com tratamento muito bem elaborado utilizando fotografia e desenho e número de caracteres quase uniforme para cada tema.
comentários – média (de 0 a 5/post) – atento e completo feedback/autor - email disponível
classificação - ● ● ●

9) Bloguítica (Portugal)



categoria – S - comentário politico; jornalismo; comunicação; sociedade.
periodicidade dos posts - 1 a 8 post/dia
grafismo – bom; muito legível; template-tipo; fundo branco, margem esquerda minimal com informação sobre arquivo e links.
informação – conteúdos actuais com tratamento muito bem elaborado utilizando número de caracteres quase uniforme para cada tema.
comentários – email do autor disponível
classificação - ● ● ●

10) Murcon (Porto)



categoria – S - "Às vezes apetece-me escrever. Por que diabo não hei-de partilhar as minhas ruminações convosco"? - sexologia, filosofia, literatura, debate
periodicidade dos posts - 0 a 2 post/dia
grafismo – bom; muito legível; template-desenhado; fundo branco; margem direita informação sobre arquivo.
informação – conteúdos actuais com tratamento muito bem elaborado utilizando número de caracteres quase uniforme para cada tema.
comentários – média (de 5 a 200/post) – atento e completo feedback/autor/mail - email disponível
classificação - ● ● ●

domingo, 17 de julho de 2005

UMA PROPOSTA PARA CLASSIFICAR OS BLOGUES

[Esta é a 999ª mensagem do blogue Indústrias Culturais]

Uma leitora atenta do meu blogue, M. J. Rodrigues, 60 anos, arquitecta, enviou-me uma proposta de classificação de blogues segundo um conjunto de critérios que acho valiosos para quem quiser aprofundar a matéria. Ela fê-lo para 25 blogues portugueses e igual número de blogues internacionais [trabalho aqui apenas 20 blogues nacionais, por ordem inversa: hoje, os últimos dez classificados; amanhã, os dez primeiros].

Aproveito o trabalho dela (omitindo a apreciação que fez a este I. C.), agradecendo profundamente a observação cuidadosa enquanto leitora, ou metablogueira. Os elementos de classificação incluem categoria e qualidade do grafismo e da informação ordenado por preferência e assiduidade no acesso (Janeiro a Julho de 2005). A classificação vai de ● (médio) a ●● (bom), ●●● (muito bom) e ●●●● (exemplar), distinguindo-os entre S (singular) e C (colectivo), se tem ou não comentários, links, pesquisa, direitos de autor, fundo musical, interactividade e inquéritos/jogos. Não incluí alguns outros elementos por ela propostos, nomeadamente visuais, por falta de competência minha para transpor do processador de texto para linguagem HTML.

Espero que os(as) blogueiros(as) aqui representados(as) reconheçam o esforço de classificação que fez, independentemente do lugar na classificação, pois trata-se apenas de um juízo de gostos pessoais. Como podem ler na coluna da direita, os meus gostos são diferentes (blogues preferidos), pelo que a classificação deve ser apenas levada como hipótese séria de trabalho. Dos blogues aqui elencados, havia um conjunto deles que eu nem sequer conhecia.

11) Um buraco na sombra (Lisboa)



categoria – S – literatura; poesia; fotografia, arte, filosofia.
periodicidade dos posts - 1 a 3 post/semana
grafismo – excelente; muito legível; template-desenhado; fundo branco+cinza; classificação temática na margem esquerda; imagens e texto muito bem elaborados sobre temas e eventos culturais diversificados.
informação – conteúdos actuais com tratamento muito bem elaborado utilizando número de caracteres quase uniforme para cada tema.
comentários – admite colaboração; atento e completo feedback/autor/mail; email disponível
classificação - ● ● ●

12) lisbonlab (Lisboa)



categoria – S - laboratório de ideias, estudos, experiências e reflexões; jornalismo; comunicação.
periodicidade dos posts - 1 a 3 post/semana
grafismo – bom; muito legível; template-desenhado; fundo branco; inclui inúmero material fotográfico; margem direita com links e informações culturais diversificadas.
informação – conteúdos actuais com tratamento muito bem elaborado utilizando número de caracteres quase uniforme para cada tema.
comentários – média (de 0 a 3/post) – sem feedback/autor - email disponível
classificação - ● ● ●

13) A cidade surpreendente (Porto)



categoria – S - "Um blogue de imagens e algumas palavras sobre o Porto, permeado de incursões ligeiras a territórios exteriores" - laboratório de ideias, estudos, experiências e reflexões; jornalismo; comunicação.
periodicidade dos posts - 1 a 3 post/semana
grafismo – bom; muito legível; template-desenhado; fundo branco; inclui inúmero material fotográfico; margem direita com links e informações culturais diversificadas.
informação – conteúdos actuais com tratamento muito bem elaborado utilizando número de caracteres quase uniforme para cada tema.
comentários – média (de 0 a 3/post) – sem feedback/autor - email disponível
classificação - ● ● ●

14) Grande loja do queijo limiano (Portugal)



categoria – C - "Não deixe que a Verdade estrague uma boa história" - comentário e debate de política; jornalismo; comunicação; sociedade.
periodicidade dos posts - 1 a 3 post/dia
grafismo – bom; muito legível; template-tipo; fundo com cor branca; margem esquerda com arquivo e links para blogs.
informação – conteúdos actuais com tratamento bem elaborado, incluindo fotografia, desenho e utilizando número de caracteres variável por tema.
comentários – média (de 5 a 10/post) – mediano feedback/autores - email disponível
classificação - ● ● ●

15) Muita letra (Porto)



categoria – S – divulgação e crítica de literatura e poesia: jornalismo; comunicação.
periodicidade dos posts - 1 a 3 post/semana
grafismo – excelente; muito legível; template-desenhado; fundo cinza; inclui fotos; margem direita apelativa com informação actualizada sobre livros e eventos culturais diversificados.
informação – conteúdos actuais com tratamento muito bem elaborado utilizando número de caracteres quase uniforme para cada tema.
comentários – média (de 0 a 3/post) - email disponível
classificação - ● ●

16) avatares de um desejo (Portugal)



categoria – S - Registos confessionais, pseudo-antropologicos e quasi-antropologicos Bruno Sena Martins; jornalismo, comunicação
periodicidade dos posts - 1 a 3 post/semana
grafismo – excelente; muito legível; template-desenhado; fundo cor neutra; margem direita apelativa com informação actualizada sobre livros e eventos culturais diversificados.
informação – conteúdos actuais com tratamento muito bem elaborado utilizando número de caracteres quase uniforme para cada tema.
comentários – média (de 2 a 10/post) - email disponível
classificação - ● ●

17) geografismos (Portugal)



categoria – S – "diário de campo on-line para alunos de Geografia" - geografia e vida escolar; blogue de professores.
periodicidade dos posts - 1 a 3 post/semana
grafismo – excelente; muito legível; template-desenhado; fundo branco; imagens centradas, margem direita com indicação de blogues e links de interesse; link para site pessoal; notas para aulas de geografia.
informação – conteúdos com tratamento bem elaborado utilizando número de caracteres quase uniforme para cada tema; intimista e coloquial.
comentários – média (de 0 a 5/post) – atento e completo feedback/autor - email disponível
classificação - ● ●

18) O século prodigioso (Lisboa)



categoria – S - divulgação de arte do século XX.
periodicidade dos posts - 1 a 3 post/semana
grafismo – bom; muito legível; template-tipo, fundo branco, imagens centradas.
informação – conteúdos com tratamento bem elaborado utilizando fotografia e desenho e número de caracteres quase uniforme para cada tema.
comentários – média (de 0 a 5/post) – tem feedback/autor - email disponível
classificação - ● ●

19) A Razão tem sempre cliente (Lisboa)



categoria – S - Este é um blogue exclusivamente dedicado à Razão, esse conceito abstracto que nos distingue (conceptualmente, pois claro) dos animais e que muitas vezes nos torna verdadeiras bestas. Para todos os mamíferos que gostariam uma vez ou outra de ter Razão, ecce il blog; humor; sociedade; jornalismo.
periodicidade dos posts - diária
grafismo – bom; muito legível; template-desenhado; fundo com cor sóbria, margem direita apelativa com informação actualizada sobre eventos culturais diversificados, links e arquivo.
informação – conteúdos actuais com tratamento muito bem elaborado utilizando número de caracteres quase uniforme para cada tema. Inclui participação/inquérito.
comentários – média (de 5 a 10/post) – atento e completo feedback/autor - email disponível
classificação - ● ●

20) Maquiavélico (Lisboa)



categoria – C – política, história
periodicidade dos posts - 1 a 3 post/semana
grafismo – bom; discreto; legível; textos e imagens centrados; template-tipo; fundo branco; margem direita com links e arquivo.
informação – conteúdos actuais com tratamento bem elaborado utilizando número de caracteres quase uniforme para cada tema.
comentários – média (de 0 a 3/post) – atento e completo feedback/autor – 3 email disponíveis
classificação - ● ●

[continua]

sexta-feira, 15 de julho de 2005

A GUERRA DOS MUNDOS

Leio com prazer o que Nuno Galopim escreve no DNA de hoje (Diário de Notícias) sobre o filme de Spielberg. Começa o texto assim: "Steven Spielberg optou sempre pela diplomacia, curiosidade científica e desejo de comunicar". Quem viu, por exemplo, Encontros imediatos de terceiro grau (1975) e E.T.: O Extra Terrestre (1982) lembra-se dessa curiosidade e simpatia recíproca entre visitantes e terrestres. Agora, e seguindo o livro de Wells, os extra-terrestres de A guerra dos mundos são assassinos implacáveis.

wells1.jpgwells3.jpg

wells2.jpgDezenas de filmes, discos e romances depois, Spielberg mostra-nos a história de gente comum, aterrorizada, sem solução prevista. A sorte, porém, estava nos micro-organismos, com quem nós vamos estabelecendo relações mais ou menos amigáveis ao longo da vida (debelando doenças ou controlando epidemias), e que atacaram esses visitantes não desejados pelos terrestres.

[imagens retiradas do jornal de hoje]
ESPELHO MEU

É o título da exposição patente no CCB sobre Portugal visto pelos fotógrafos da Magnum. Lê-se: "Em 2001, ao percorrer os arquivos da Magnum, encontrámos mais de 1000 imagens sobre Portugal, a maioria das quais nunca tinha sido objecto de qualquer mostra ou publicação".



Percorre-se a exposição com um frémito de reconhecer a História através de fotografias avulsas relativamente aos acontecimentos mais marcantes. Sem contudo os ver todos, no fundo das imagens descobrimos um país que mudou muito desde os anos 1950 até hoje. Onde havia ordem reprimida (visível no vestuário, no olhar desconfiado mas em simultâneo subserviente perante a câmara) há variedade (o casamento de ciganos, com as raparigas "produzidas" para a cerimónia, decotadas e de olhos pintados, certamente a cheirarem bem, por oposição à cena de casamento popular em 1964, em que os noivos parecem tristes e arrependidos, e ainda não sairam da mesa da boda, foto feita por Thomas Hoepker). Henri Cartier-Bresson, das muitas imagens que já foi possível ver dele, deixa-nos uma fotografia de 1955, tirada em Viana do Castelo.

Num televisor, passa um filme sobre a reforma agrária, onde se conta a história de franceses que vieram em excursão ver o que se passava nesse ano de 1975. Logo numa das fotografias não muito distantes do televisor, vêem-se jovens descendo a rua no pós-25 de Abril de 1974. Eles parecem-me quase anões e, se não estivesse indicado na legenda da fotografia, parecia-me não uma manifestação urbana mas rural, sinal de que, afinal, não mudámos tanto como escrevi acima. Para além de uma curiosa procissão no meio da praia, juntando crentes e veraneantes, a actualidade remete-nos para a Cova da Moura e para a segunda ou terceira geração de cabo-verdianos, fotografados por Susan Meiselas.

No desdobrável da exposição, cujas comissárias são Alexandra Fonseca Pinto e Andréa Holzherr (da Magnum Photos Paris), lê-se que "o rapaz da Mocidade Portuguesa [imagem de Thomas Hoepker] tinha sido substituida por mulheres de lenço na cabeça e punho erguido". Há uma imagem curiosa de Guy Le Querrec, a de reunião de pescadores, cujo local de encontro foi o pavilhão escolar local, todos juntos a um cesto de basquetebol, como se estivessem discutindo se a bola tinha ou não entrado.

Na retina, ficou-me a imagem de Josef Koudelka, em Braga, o ano passado. Vê-se uma ramada de videira, em que esta cresce da esquerda para a direita. Os pilares de granito que suportam a estrutura estão levemente inclinados; a árvore está a "rebentar", o que significa Primavera. A neblina que se vislumbra do lado esquerdo recorda o ar calmo e fresco das manhãs. Sem saber porquê, lembrei-me do filme A guerra dos mundos, de Spielberg, quando os invasores extra-terrestres acabam com a pasmaceira do dia a dia das populações e deitam-se a destruir tudo que vêm à frente. Certamente, porque as imagens do filme ainda estão muito presentes em mim, pois não se vislumbram semelhanças.

A não ser a comparação das paisagens ainda rurais das fotografias de Josef Koudelka com a falta de conservação dos edifícios das nossas cidades (imagens que fiz nas duas últimas semanas em Lisboa e Porto).

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quinta-feira, 14 de julho de 2005

A "INFORMAÇÃO"

Paulo Sousa, aluno da licenciatura em Ciência da Informação, ministrada em cooperação entre a Faculdade de Letras e a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, e a trabalhar na biblioteca da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, criou um blogue com o título acima indicado.

"Conhecemo-nos", porque ele pediu permissão para republicar um texto que editei aqui no blogue, pelo que segui o seu rasto. Aconselho uma visita ao seu A "INFORMAÇÃO", iniciado em 2 de Junho, em especial a coluna da direita, onde remete para alguns documentos e sítios importantes na área de trabalho e investigação de Paulo Sousa.
FESTIVAL DE MONTEMOR-O-VELHO COM TELEVISÃO NA INTERNET

O 27º Festival de Montemor-o-Velho (Citemor) começará a 24 de Julho com uma emissão experimental de televisão, segundo um comunicado que recebi hoje ao começo da tarde. A emissão estará igualmente disponível na internet, em http://www.citemor.tv/ [em actualização], da Neokink TV.

A entidade promotora passará o vídeo de Diana Andringa sobre a ocorrência na praia de Carcavelos de 10 de Junho passado, eraumavezumarrastao, que também assinala o início do festival. Este - a decorrer até 13 de Agosto -, inclui os filmes Stalker, de Andrei Tarkovsky (dia 25), Underground, de Emir Kusturica (dia 1) e Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick (dia 8) [escolha subjectiva minha de entre as ofertas do festival]. Castelo, teatro Esther de Carvalho, igreja de Santo António e convento de Santa Maria dos Anjos são locais onde decorrerão sessões (pela variedade dos espaços depreendo que sejam manifestações culturais distintas, para além do cinema).

Ainda segundo o documento que me chegou, a "NEOKINOK TV é uma proposta artística de televisão experimental que actua promovendo a criação de canais não convencionais, de baixo custo, interactivos, livres de critérios ideológicos ou comerciais", dentro do modelo de televisão comunitário. O comunicado indica ainda que, "Sendo um espaço livre, o canal segue uma política de Copyleft (que traduzido literalmente significa «deixamos copiar») permitindo a partilha de conteúdos por todos os usuários e opondo-se claramente à tradicional protecção dos direitos de propriedade intelectual".

Durante todo o período do festival, a Citemor TV propõe-se realizar emissões em directo, além de "transmitir filmagens dos ensaios, reportagens com os artistas e os públicos e produções próprias. Quem morar fora da vila pode aceder à emissão", desde 24 de Julho, através do sítio http://www.citemor.tv/ [em actualização].
OS LEITORES COM ESPAÇO PRÓPRIO

O blogue Terras do Nunca, de João Morgado Fernandes, tem uma rubrica hilariante, chamada Os leitores com espaço próprio. Nestes últimos dias, ele tem andado à procura de leitores de cartas aos directores e descobriu que alguns deles publicam em tudo o que é jornal. Alguns são mesmo "profissionais" dos media, dada a regularidade com que são editados! Mas deixemos funcionar o discurso directo do blogueiro (que me autorizou a reproduzir o seu trabalho, distribuído ao longo dos dias, aqui assinalados):

“As cartas dos leitores são uma das secções mais menosprezadas dos jornais. Em alguns casos, como nos semanários que saem ao sábado, são muito lidas simplesmente porque desmentem as notícias mais interessantes da semana anterior. No resto dos casos, são lidas pelos próprios e pouco mais. Outra das curiosidades é que aquele espaço é uma espécie de Opinião 2, onde escrevem sempre mais ou menos os mesmos. Por exemplo, este fim-de-semana, lá vinha o A. João Soares, de Cascais, num semanário e num diário. Para a semana, quem sabe?, será a vez do Carlos Esperança, de Coimbra. Se calhar, também têm blogues”. (4 de Julho)

II - "O Cibertulia seguiu o rasto a Carlos Esperança. E o A. João Soares (Cascais), por onde andará ele"? (5 de Julho)
III – "O Carlos Esperança (Coimbra) tem hoje uma carta no DN. O Hugo Daniel Oliveira (Lisboa), que já chegou a ter uma coluna no DN (!), tem hoje mais uma (!) carta no Público". (5 de Julho)
IV – "O A. João Soares (Cascais) escreve hoje no Público. Onde escreverá ele amanhã"? (6 de Julho)
V – "E continua. O A. João Soares (de Cascais), hoje, escreve na Capital. E amanhã"? (7 de Julho)
VI – "A. João Soares (Cascais) escreve hoje na secção de cartas do Independente. E amanhã"? (9 de Julho)
VII – "A. João Soares (Cascais) escreve, hoje, no Público, sobre impostos e tabaco, e no Diário de Notícias, sobre a ajuda a África. Este homem é um poço de opiniões". (10 de Julho)
VIII – "O A. João Soares (de Cascais), que no domingo escrevia nas secções de cartas do Público e do Diário de Notícias, escrevera na Capital, no sábado". (11 de Julho)
IX – "O Carlos Esperança (Coimbra), hoje escreve no Diário de Notícias". (11 de Julho)
X – "O C. Medina Ribeiro (Lisboa), publica hoje uma carta no Diário de Notícias. A mesma que publicara sábado na Capital". (11 de Julho)
XI – "Isto hoje está calmo - é só desconhecidos. Sugere-se, porém, ao senhor Esperança (de Coimbra) e ao senhor Soares (de Cascais) que ataquem o Jornal de Notícias. Tem uma página inteira só com cartas de Rio Tinto, Feira e São Mamede de Infesta (!). Um desperdício". (12 de Julho)

Acrescento meu às 17:07 com base na leitura de hoje do blogue Terras do Nunca: XII - "A. João Soares (de Cascais) publica hoje uma carta na Visão e outra no 24 Horas. Outra, não. É a mesma. Curiosamente a mesma que já publicara, esta semana, salvo erro, na Capital.Curioso é o tema: os impostos e os motoristas do ministro da Justiça, um tema que foi manchete no Correio da Manhã e que o próprio jornal desmentiu, de forma oblíqua, no dia seguinte". (14 de Julho)

Observação escrita à mesma hora do acrescento: agradeço os comentários, em especial o de Manuel Pinto, que sabe do que escreve, ele que é o provedor do leitor do Jornal de Notícias.

quarta-feira, 13 de julho de 2005

A INDÚSTRIA CULTURAL TELEVISIVA COMO FONTE MEDIADORA DE PROCESSOS DE HIBRIDAÇÃO CULTURAL: ESTUDO DE RECEPÇÃO DA TELENOVELA BRASILEIRA O CLONE.

Com este título, defendeu tese de mestrado a aluna Ana Catarina Valdigem, hoje de manhã na Universidade Católica.

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Como ponto de partida, ela procurou identificar os processos de reconstrução cultural de grupos diferenciados, tendo como objecto a recepção da telenovela brasileira O clone (que passou na televisão portuguesa há cerca de dois anos). Este produto televisivo representa confrontos culturais (marroquinos e muçulmanos, com peso profundo e complexo na identificação da religião) e sua reconstrução em termos de sentido de identidade ao nível do Eu e do Outro. Quanto a trabalho de campo, Catarina Valdigem escolheu a comunidade religiosa centrada na mesquita de Lisboa e uma comunidade de Palmela (que ela identificou como não sendo muçulmana), para compreender as redes de sociabilidade e de que modo o género, a ocupação profissional e a escolaridade, entre outras variáveis, são determinantes no processo de recepção da telenovela.

Em termos teóricos, apoiou-se nas teorias da comunicação (nomeadamente Stuart Hall, no seu texto de codificação-descodificação) e nas teorias da cultura. Já nas metodologias aplicadas, usou textos de produção (fotografias e vídeo de promoção da novela O clone) e fez análise de recepção (observação participante e não participante, entrevista semi-directiva e inquérito por questionário). Dos inquiridos, distinguiu a origem das naturalidades, como Moçambique, Brasil, Marrocos e Angola.

Como resultados, a nova mestre apresentou os seguintes: 1) a telenovela é um produto da cultura de massas e de uso doméstico e privado, 2) em termos de percepções, há contaminação de géneros (telenovela e informação) e entendimento da agenda mediática do Islão, 3) formação de discursos de identidade (círculos de identidade relacional, presença entre os que se identificam connosco - Nós - e os Outros). Enquanto pistas de reflexão, Catarina Valdigem apontou para: 1) relação da comunidade islâmica com os media, 2) representações e esclarecimento de apropriações (culturais e de identidade), 3) marginalização das mulheres islâmicas em termos de conhecimento público, 3) interesse em estudar os jovens muçulmanos sunitas de 2ª e 3ª gerações para compreender as suas identidades, 4) necessidade de descontruir as imagens do Ocidente e do Oriente, como se houvesse barreiras visíveis entre um e outro.

Arguência (de grande rigor científico): António Firmino da Costa (ISCTE); orientadora da tese: Isabel Ferin (Universidade de Coimbra); nota atribuída: máxima.

terça-feira, 12 de julho de 2005

NORBERT WIENER E A CIBERNÉTICA

No livro Cibernética e sociedade. O uso humano de seres humanos, Wiener descreve máquinas que se sucederam ao longo da actividade industrial do homem: máquina a vapor, barco fluvial a vapor, máquinas das fábricas de têxteis, motor eléctrico, válvula electrónica, radar e computador. Chama a atenção para máquinas mais recentes: "as instruções para tal máquina são dadas pelo que chamamos uma fita gravada. As ordens dadas à máquina são nelas introduzidas por uma fita gravada que é completamente predeterminada" (Wiener, 1993: 152).

O programa de Wiener seria vasto e ousado: trabalhou, desde o fim da II Guerra Mundial, na teoria das mensagens. Além da teoria da transmissão das mensagens de engenharia eléctrica, ocupou-se de temas como o estudo da linguagem e das mensagens para dirigir a maquinaria e a sociedade, o desenvolvimento de computadores e outros autómatos, reflexões sobre a psicologia e o sistema nervoso, e uma nova teoria conjectural do método científico (1993: 15). Nessa época, Wiener seguira com atenção a aviação germânica e a artilharia anti-aérea inglesa. Era notório que os sistemas de defesa anti-aéreas estavam obsoletos, dada a velocidade de deslocação dos aviões. Wiener e outros cientistas, para preverem a posição curvilinear do avião, concluíram pela importância da aplicação do conceito de retroacção, já usado pelos engenheiros de controlo.

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A investigação concentrou-se na parte eléctrica do equipamento e na mensagem, fosse ela eléctrica, mecânica ou nervosa. A mensagem é uma sequência discreta ou contínua de acontecimentos mensuráveis distribuídos no tempo. A noção do conjunto de informação contida numa mensagem liga-se à noção clássica da mecânica estatística, a entropia. Num sistema, a informação é uma medida do seu grau de informação, do mesmo modo que a entropia é uma medida do seu grau de desorganização.

Wiener comparou o organismo vivo à máquina, pois ambos podem exemplificar processos anti-entrópicos. Nas máquinas/autómatos, há características gerais: 1) para realizar tarefas, as máquinas devem possuir órgãos motores semelhantes aos braços e pernas dos seres humanos, 2) estar em relação com o mundo exterior através de meios sensoriais, capazes de registar o desempenho ou ausência de desempenho das suas tarefas, a realimentação (ou retroacção) – a capacidade de se ajustar a uma conduta futura (Wiener, 1993: 33).

Quando se publicou a primeira edição de Cybernetics or control and communication in the animal and the machine, as principais novidades eram a informação estatística, a teoria do controlo e a automação. A nova ciência, a cibernética, associava a informação e a medida de transmitir a informação.

Cibernética, palavra derivada do grego kubernetike (piloto), que também significa governar, é, pois, a ciência que se ocupa dos processos de direcção nos sistemas dinâmicos complexos e comunicação e da sua aplicação na técnica, na sociedade humana e nos organismos vivos. Tem como fundamentos teóricos a matemática e a lógica, assim como o emprego da automação, especialmente computadores e máquinas de controlo e lógico-informativas. Para Jramoi (1972: 13), a cibernética decompõe-se em: 1) teórica (ocupa-se dos fundamentos matemático-lógicos e filosóficos), 2) técnica (construção e exploração de meios técnicos usados em mecanismos de direcção e cálculo), 3) aplicada (solução de problemas relacionados com sistemas concretos: indústria, transportes, comunicações).

Wiener procurou aplicar teoricamente o seu modelo de comunicação e controlo à sociedade em geral e aos meios de comunicação em particular. Dado que a sociedade estabelece contactos directos com os seus membros, dá-se um relevo significativo à imprensa, rádio, telefones, correios, livros, teatro, cinema, escolas e Igreja. Ele distinguia ainda funções importantes e secundárias; no caso de um jornal, este é veículo de informação e publicidade e também um instrumento de lucro para o seu proprietário.

Filho de um filólogo que ensinava línguas eslavas na Universidade de Harvard, Wiener dedicou ao seu pai o livro Cibernética e sociedade. O uso humano de seres humanos. Wiener foi professor de matemática no MIT (Massachusetts Institute of Technology), desde 1920. Tinha também interesses na física.

Leituras: Norbert Wiener (1961). Cybernetics or control and communication in the animal and the machine. Nova Iorque e Londres: The MIT Press e John Wiley & Sons (original de 1948)
[tradução em português] Norbert Wiener (1993). Cibernética e sociedade. O uso humano de seres humanos. S. Paulo: Cultrix (original de 1950)
A. V. Jramoi (1972). Introdução e história da cibernética. Venda Nova: M. Rodrigues Xavier

segunda-feira, 11 de julho de 2005

DEZ ANOS DE CIBERJORNALISMO EM PORTUGAL

Apesar de tardio, anoto o comentário de Ramon Salaverria, no seu blogue e-periodistas, sobre o encontro de Braga no passado mês de Junho.
À PROCURA DO PAÍS DE THOMAS MORE

O escritor do blogue Viagem, no meio de muitos outros blogues, colocou o IC no conjunto do seu público-alvo. Daí uma referência minha ao blogue do Joaquim Queroacre (pseudónimo?), que começou agora a blogar. Ele conta histórias fantásticas como a de alugar um quarto por 60 escudos [€0,30]. Não diz o ano em que isso aconteceu.

Segundo o cabeçalho, o blogue Viagem conta a história de uma boleia para o país de Thomas More e já vai no quinto dia. A continuar a ler o blogue, cujo autor pode vir de um sítio entre Castelo Branco e Portalegre. Ou é de Évora?
TEORIA DA INFORMAÇÃO

Shannon, Weaver e Wiener, nas suas investigações, tinham um objectivo instrumental – conseguir a máxima economia de tempo, energia e dinheiro no desenho dos sinais e canais técnicos de transmissão (Abril, 1997: 16; ver Dion, 1997: 11). Isto quer dizer: 1) problemas técnicos da transmissão; 2) semânticos – que significados se transmitem; 3) influência – o que afecta a mensagem no receptor. Contudo, o destaque da teoria da informação foi para as questões técnicas, sendo a primeira teoria a separar nitidamente a informação da significação.

A teoria da informação (TI) situa-se dentro da cibernética – a teoria do controlo e da comunicação na máquina e no animal, em que a informação se mostra como medida probabilística. A teoria da informação interessa-se pelo funcionamento dos sinais, pelas transformações energéticas mediante a codificação da mensagem e sua descodificação – e não pelos signos (significado/significante). Opera com os seguintes conceitos: 1) ruído; 2) redundância; 3) entropia; 4) imprevisibilidade.

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Dion (1997: 135) considera que a noção de entropia se revelaria imediatamente apta para estudar as línguas. A teoria da informação não estuda uma língua pelo número de símbolos alfabéticos que a compõem, mas também pela análise à redundância na língua (o inverso da entropia é a redundância, ou neguentropia, enquanto caminho para a ordem). Uma língua entrópica dispõe de um vocabulário rico, com palavras diferenciadas, que mostram o poder das combinatórias; uma língua pouco entrópica é pobre e repetitiva.

A informação é uma medida (estatística) da probabilidade de ocorrência = grau de novidade ou imprevisibilidade (Abril, 1997: 17). O bit (binary digit) é a unidade base de medida da informação entre duas alternativas igualmente prováveis. Exemplo: amanhã vai fazer sol/amanhã vai chover ↔ um bit de informação: sim/não.

Escreve Umberto Eco (A estrutura ausente, 1976: 10-11): "Quando, entre dois eventos, sabemos qual deles irá acontecer, temos uma informação. (...) Se jogo para o alto uma moeda (e aposto cara ou coroa) tenho uma probabilidade de 1/2 para cada lado da moeda. No caso do dado e suas seis faces, tenho para cada face uma probabilidade de 1/6. (no xadrez, há) 64 probabilidade de diferentes realizações (por exemplo: qual das casas do tabuleiro de xadrez será a escolhida?) (...) para identificar, por exemplo, o evento número 5, são necessárias três escolhas binárias (...) A teoria da informação chama unidade de informação ou bit (de «binary digit», isto é, «sinal binário») à unidade de disjunção binária que serve para individualizar uma alternativa. Dir-se-á então que, no caso da individualização de um entre oito elementos, recebi 3 bits de informação; no caso de sessenta e quatro elementos, eu recebera 6 bits".

Por seu lado, escreve Dion: "os acontecimentos e as mensagens surpreendentes são mais ricas de informação que os acontecimentos e as mensagens de rotina" (1997: 93). Ao mesmo tempo, Dion refere a informação como medida de redução da incerteza, como medida da complexidade, como integrada na problemática da ordem e da desordem (a partir da segunda lei da termodinâmica).

O título de um livrinho de Daniel Bougnoux (1995) é elucidativo: a comunicação contra a informação. Diz Bougnoux que a comunicação implica informação e que uma informação não comunicada vai desaparecer progressivamente. A comunicação contém um conteúdo cognitivo mais ou menos importante, a informação. A comunicação é um processo em que a informação é o conteúdo. Logo, uma não pode estar isolada da outra; o estudo de uma e de outra é o mesmo. Mas informação e comunicação recobrem duas culturas, duas lógicas e mesmo duas actividades profissionais distintas no campo mediático. Bougnoux explica melhor: a informação é um camaleão intelectual pois designa quer as notícias (news), os dados (data) e o conhecimento em geral (knowledge). O desejo de reconhecimento (comunicação) precede muito a vontade de conhecimento (informação).

Leituras: Gonzalo Abril (1997). Teoría general de la información. Madrid: Catedra
Daniel Bougnoux (1995). La communication contre l’information. Baumes-les-Dames: Hachette
Emmanuel Dion (1997). Invitation à la théorie de l’information. Paris: Seuil
Umberto Eco (1976). A estrutura ausente. S. Paulo: Perspectiva
John Fiske (1993). Introdução ao estudo da comunicação. Porto: Asa

domingo, 10 de julho de 2005

APAGÕES

Ontem, o Expresso dava conta da possibilidade de apagões de energia eléctrica durante o Verão, como resultado da escassez de água para refrigerar os motores das turbinas geradoras de electricidade, nomeadamente nas barragens do rio Douro. Catastrofismo?

Hoje, o El Pais descreve outro tipo de apagão, o telefónico. Lê-se logo na primeira página, em destaque para página do interior, que a saturação nas redes dos celulares das principais zonas costeiras de Espanha, devido ao fluxo de turistas em demanda de sol, está a provocar problemas de cobertura e deficiente qualidade em mais de 70 municípios. O aumento de tráfego chega a multiplicar-se por cinco - e sabemos que as redes telefónicas e o número de antenas estão desenhados para valores médios.

Recordo-me de, há dois ou três Natais atrás, quando começou a febre dos SMS de boas festas, também se terem verificado apagões do género. Aqui é o consumismo a imperar.
AFINAL, O TERRORISMO NÃO ESCOLHEU NACIONALIDADES

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Basta ver os nomes dos desaparecidos ou mortos nos ataques terroristas no dia 7 em Londres. Monika Suchocka, Ojara Ikeagwo, Shahera Akther Islam, Chung For Yuen, Behnaz Mozakka e Gladys Wundowa têm nomes ou apelidos familiares que não são britânicos, conforme as páginas de hoje do Sunday Times. Possivelmente, entre eles havia crentes no Islão.
ARRASTINHO *

O título do tema do provedor do leitor do Jornal de Notícias de hoje é: "Era uma vez um arrastão". Manuel Pinto retoma no jornal um assunto que já debatera no blogue Jornalismo e Comunicação e que foi o grande assunto do dia faz precisamente agora um mês. Recorda o professor universitário: "Políticos e autarcas apareceram de imediato com ar de catástrofe, chamando a atenção para o facto da criminalidade ter, com este caso, e por assim dizer, ascendido à primeira divisão". Com os dias, continua a ler-se no jornal de hoje, o balanço feito apontava para praticamente não haver vítimas do arrastão. Manuel Pinto critica, perante as dúvidas, os media de não terem batido "porta a porta, a interrogar fontes diversas, a recolher depoimentos, a reconstituir os factos".

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Em texto à parte, Manuel Pinto chama a atenção para a actuação de Vozes que não se ouvem nem lêem nos media. Escreve: "Na Internet, além do acesso a este vídeo (eraumavezumarrastao.net), é possível encontrar, nomeadamente nos weblogues, uma diversidade de contributos para a reflexão deste caso, que não foi possível encontrar nos grandes media. Quem visitar sítios como O céu sobre Lisboa, Blougouve-se, Indústrias Culturais ou Da Literatura, entre outros, não encontrará certamente factos novos, até porque a esmagadora maioria destes espaços de expressão dos cidadãos não são de profissionais e os seus autores não dispõem do tempo (e, em muitos casos, da competência) para procurar e investigar. Mas confronta-se com interrogações, relacionamento de factos, análises e sugestões que os jornalistas profissionais não perdiam nada em considerar mais".

O que escreveram os outros jornais

O Expresso de ontem deu título na primeira página à revisão da perspectiva do incidente de 10 de Junho. O Público de hoje dá-lhe um destaque em página interior (p. 29). Se é certo que foi o texto de Adelino Gomes, do mesmo jornal, a dar conta do vídeo de Diana Andringa - e que levou Manuel Pinto a interrogar-se no seu blogue e a servir de núcleo para a discussão que agora se repercute nos jornais - o Público segue a ideia do Expresso de ontem. O título do diário de hoje é Comandante da PSP diz que não houve arrastão. O mesmo responsável policial admite ter sido pressionado pelos media e considera a designação arrastão, usada no comunicado da polícia, como infeliz.

Importa aqui ver o nível da importância das notícias segundo a página em que elas se inserem. Claro que uma notícia na primeira página chama mais a atenção, destina-se a vender. Quando um acontecimento deixa a primeira página e passa para uma página interior isso quer dizer que perdeu o impacto. Mas, certamente neste caso, a notícia de hoje merecia igual destaque que o dado no dia 11 de Junho. Constituiriam tipo de prova e contra-prova. O texto de hoje, ainda por cima "esmagado" por publicidade de duas universidades, não tem o impacto dado pelo Expresso de ontem ou pelas notícias que sairam na altura do ocorrido.

Considero aqui uma outra coisa: se há circularidade da informação e das perspectivas entre os media - a notícia de ontem do Expresso marcou a de hoje do Público -, essa ideia de circularidade (e de influência ou reflexão) marca também o trabalho dos blogues (como Manuel Pinto deixa implícito no seu trabalho).

* arrastinho foi a designação original de Manuel Pinto dada à ocorrência, no seu blogue Jornalismo e Comunicação.

[texto concluído às 19:19]